Minha Prioridade escrita por Katerine Grinaldi


Capítulo 1
Capítulo 1 - O Corredor


Notas iniciais do capítulo

Pretendo postar um captulo por dia! :D
Espero que gostem.



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Segunda-feira, 15 de fevereiro de 2013: entrevista no gabinete do prefeito às 10 horas da manhã.

Desativei o alarme do meu celular e o guardei dentro da bolsa. Estava tudo certo para a entrevista de estágio e não me sentia nem um pouco nervosa.

Sophie, sua mentirosa!

Mentir de frente para o espelho é muito mais difícil. Já era a terceira vez que eu repetia que não estava nervosa. Se nem eu mesma conseguia acreditar, quem o faria?

O nervosismo não era por causa do salário em jogo, afinal, por causa das minhas boas notas no colegial, ganhei uma bolsa integral que custeava meu curso de Ciências Sociais desde o primeiro período. E o meu lema sempre foi não estudar e trabalhar ao mesmo tempo (não dá para ser perfeito em tudo) e os estudos sempre foram minha prioridade. Com eles eu teria meu futuro. Portanto, acho que já deu para perceber que se dependesse única e exclusivamente da minha vontade jamais teria me inscrito para aquela entrevista.

Entretanto, a coordenação do curso não compactuava com a minha ideia de que trabalho e estudo não caminham juntos e, por isso, a base para o TCC (trabalho de conclusão de curso, aquele sem o qual você não recebe o diploma) tinha que ser prática.

Preciso acrescentar mais um ingrediente ao meu nervosismo e à minha necessidade em arranjar um estágio! Havia um projeto de pesquisa com um dos melhores professores da graduação e só poderiam participar os alunos que obtivessem as melhores notas em seu TCC. E eu queria muito isso! Consequentemente eu queria muito o estágio!

Além do que, era o gabinete do prefeito. Quanta coisa eu não poderia aprender lá?

— Querida? Seu pai está esperando.

Mamãe abriu a porta do quarto para lembrar-me da carona do papai. Talvez eles achassem que eu estava nervosa o suficiente para me perder no centro da cidade, mas utilizaram uma justificava bem plausível: o trabalho dele ficava a uns quinze minutos da prefeitura e não custava nada levar a filha na primeira entrevista de emprego. E eu sempre tinha que corrigi-los: “estágio não é emprego”.

— Boa sorte! Sabe que não precisa ficar nervosa. O que tiver que ser será. – ela passou a mão pelos meus cabelos ruivos. — Tome cuidado. Onde há muito dinheiro há muita sujeira.

Certo! Acho que já tinha muitas coisas para me preocupar e não queria acrescentar a sujeira com a qual mamãe se importava.

Antes de sair passei um pouco de blush em minhas bochechas para esconder possíveis rubores. Nunca pude exagerar nesse quesito por causa dos meus cabelos ruivos e da minha pele tão branca. Não queria ser chamada de “camarão” ou qualquer outra coisa do tipo. Não que fosse levar desaforo para casa. Era apenas porque não queria ter que responder a Deus e o mundo.

***

O sinal mais próximo à prefeitura ficou vermelho e aproveitei a oportunidade para pedir que papai me deixasse ali mesmo. Do modo como eu o conheço se o deixasse estacionar o carro, com certeza, iria querer me levar até o andar da entrevista.

Sua única filha, que ele julgava muito mais bonita do que os homens ao redor realmente achavam, e que ele precisava proteger com todas suas forças. Não era necessário! Os homens não me assediavam da maneira que papai pensava...

Digamos que não ‘pedi’ para sair. Apenas avisei e segui na direção do prédio monumental da prefeitura. Devia ter uns oito andares, com uma fachada incrivelmente bonita e uma grande escadaria até a porta de entrada.

Peguei um crachá de visitante e subi para o terceiro andar. Dei três batidas na porta de correr de madeira e praticamente não aguardei para que a puxassem para mim. Segui até uma mesa onde estavam duas recepcionistas e preenchi alguns dados.

— Peço que a senhorita aguarde que, em breve, será chamada. – a recepcionista loira e muito bem arrumada naquela roupa elegante disse.

Provavelmente a entrevista atrasaria. Faltava apenas dez minutos para as dez e eles sempre estão muito ocupados para nos atender no horário marcado.

Diga a uma pessoa ansiosíssima para esperar. Isso é péssimo! Quanto mais aguardo, mais fico nervosa. Sentei-me em uma das poltronas pomposas do gabinete e analisei o ambiente. Havia várias portas ali dentro. Uma direcionava para a copiadora, outra para o refeitório, mais uma para o banheiro e mais duas sem placas identificadoras.

Abri minha bolsa (que costuma ser grande para caber tudo que preciso) e peguei meu livro sobre a história das sociedades brasileiras, suas dificuldades sociais e o modo como foram superadas.

Estava concentrada, já tinha lido um capítulo inteiro, até que ELE abriu a porta e acabou com todo o meu foco. Não tinha como não nota-lo por dois motivos: entrara cumprimentando alegremente as recepcionistas e porque era LINDO.

Terno alinhado, preto e impecavelmente limpo. Elegante, tão elegante que chegava a ser superficial. Isso estava longe de ter sido uma crítica, apenas quero dizer que nem ELE parecia confortável com toda aquela pompa. O jeito descontraído com que entrara no aposento contrastou completamente com toda sua aparência externa. E tenho que confessar que o interior chamou-me mais a atenção. Aquele sorriso bobo que brilhava, iluminando não apenas seus lábios, mais também seus olhos que pareciam castanhos do mesmo tom de seus cabelos lisos. E seus fios pareciam insistir em sair do lugar, ou da armadura, parecendo tão insatisfeitos como seu dono.

E no auge da minha admiração boba e infantil percebi que seus olhos pararam em mim assim que se aproximou da bancada da recepção. Provavelmente notou que eu o olhava, embora tenha tido a impressão de que ELE demorara mais do que o necessário me olhando.

Entrou em uma das salas sem identificação e não demorou nem cinco minutos para sair. Ótimo! Seria péssimo ser entrevistada por ele. Seria mais um ingrediente para o meu nervosismo.

***

A entrevista só começou às onze e meia, ou seja, uma hora e meia de atraso! Imaginava que atrasariam, mas não tanto. Uma funcionária chamada Lucy me entrevistou na segunda sala sem identificação. Era a responsável pela parte burocrática do setor (comunicação com as demais secretarias acerca dos projetos elaborados pelo assessor daquele setor, entre outras coisas) e reforcei que precisava muito fazer levantamentos a respeito das carências, dos tipos de projetos feitos e tudo mais.

Terminamos de conversar após trinta minutos e Lucy disse que ligaria até o final do dia para informar se tinha ou não sido contratada. Saí do gabinete e caminhei pelo corredor à procura de um banheiro. Segui as placas presas em quadros nas paredes e cheguei a um obstáculo.

Havia um grupo de pessoas conversando no corredor e parecendo nem se importar com quem quisesse passar (eu, a única a querer passar naquele momento). Pedi licença e ninguém pareceu notar. Não tinha falado baixo. Sei que poderiam muito bem ter ouvido se parassem de se importar exclusivamente com seus umbigos.

— Compraram o corredor?!

Cruzei os braços sobre o peito e fiz esta linda pergunta. Em questão de segundos pelo menos cinco pares de olhos viraram na minha direção e todos pareciam possuir o mesmo sentimento: surpresa misturada a certo horror pela minha tremenda falta de educação. Ah! Convenhamos! Eram eles os mal-educados. E percebi que o sexto par de olhos pertencia a ELE, entretanto, não parecia haver tanto horror como nos outros.

Passei por eles e não foi difícil perceber que as mulheres estavam insinuando-se para ELE e o outro rapaz no grupo. Quatro mulheres para dois homens. É! A horta estava bem regada para aqueles rapazes! A atração física entre eles devia basear-se exclusivamente na linda educação que tiveram em suas casas. ELE podia ser lindo, mas tinha se tornado desprezível. Só porque trabalha no gabinete do prefeito acha que pode monopolizar o corredor?!


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