Cúmplices escrita por ro_dollores


Capítulo 2
Capítulo 2




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Assim que tocou a campainha, seu sangue gelou. Parecia tão mais corajoso quanto decidiu que precisavam conversar fora do ambiente de trabalho. E se ela pensasse que ele queria apenas se aproveitar de sua fragilidade? Não! Ela não era assim, ele sabia!

Sara se levantou rapidamente dando uma última olhada no ambiente. Agradável e aconchegante. Ajeitou sua saia cáqui que combinava com a blusa imaculadamente branca e pequenos detalhes em renda no busto.

Ao abrir a porta, ambos ficaram surpresos.

Ele estava encantador com uma calça cáqui em um tom abaixo de sua saia e uma camisa também branca com as mangas enroladas. A troca de olhares foi divertida e logo depois sem nenhuma palavra, a risada gostosa de ambos pela feliz coincidência.

_Isso foi combinado?

Ele apontou para os dois e entrou com seu andar instável.

A dor em seu joelho havia melhorado consideravelmente, e isso lhe trouxe um pouco mais de tranquilidade.

_Entre, por favor.

Aquele cheiro de novo, agora tão mais intenso e inebriante. Ele precisava parar a sensação de querer tomá-la nos braços e tornar real todas as dezenas de fantasias que vinham povoando sua mente com uma frequência assustadora.

Em um gesto involuntário, ele aspirou profundamente e entrou, deixando uma Sara totalmente aparvalhada. Aquilo tinha sido uma aprovação ao seu cheiro? Seu coração quase saiu pela boca, enquanto fechava a porta e o assistia se virar para ela, com as mãos nos bolsos.

_Quer uma bebida? Cerveja, refrigerante, água?

_Apenas água, por favor.

Ele foi até o sofá e se sentou, olhando o ambiente pequeno, mas muito agradável, cheirando a limpeza.

De frente um para o outro, ele apenas inclinou a cabeça e estendeu a mão, num gesto mudo "primeiro às damas, sou todo ouvidos"!

_Não conheci meus pais, vivi em orfanatos até minha adolescência, quando entrei para a faculdade. - Ele sabia que instituições como aquelas tinham limites de tempo, e rodízios, para que pudessem socializar com outras crianças. O que ele achava um erro, já que a ideia de família, era justamente o contrário. _Sempre quis saber quem seria minha mãe e, nunca me importei com o motivo que a levou a me entregar para adoção. Era uma coisa que eu precisava fazer. Minhas buscas foram todas infrutíferas, acabei desistindo de procurar sozinha e há dois anos, contratei uma agência especializada. Esta manhã recebi um telefonema que ela está "morando" em uma base do hospital militar de São Francisco e está à beira da morte.

Grissom ouvia atentamente, imaginando o quanto devia ter sido difícil enfrentar tantas barreiras sozinha.

_Você faz ideia de ... como ela foi parar em um lugar como este?

_Eles me disseram que foi uma tarefa bastante difícil. Ela teve várias identidades, morou em diferentes cidades por um longo tempo, e eles só conseguiram saber que ela participava de um programa de proteção à testemunha, porque um dos advogados desta empresa entrou com uma liminar, seguindo uma pista quente. Ele tem contatos com o comando da base aérea.

_Proteção contra quem?

Ela respirou profundamente e encarou os belos olhos azuis. Ele parecia hipnotizado pela história e esperava a resposta com um certo temor.

_Meu pai! Ele morreu o mês passado de uma doença cardíaca.

_Por isso eles conseguiram a liberação desta informação. Este programa não deve ser exposto a outras pessoas, mesmo que sejam da família e, as próprias testemunhas, precisam autorizar que sejam passadas informações. Você sabe que é bastante complexo, por isso teve tantas dificuldades!

_Sim! Estes são os dados que tenho acesso, devo ter algo mais abrangente quando me encontrar com eles depois de amanhã.

_Depois de amanhã? Você ... vai sozinha, Sara?

_Sim ... não tenho parentes, como deve saber!

Houve um longo silêncio, apenas o barulho distante do trânsito e o ar condicionado.

Grissom se levantou e se sentou ao lado dela, segurando com certo receio em suas mãos.

_Quero que saiba que farei o que for necessário para que resolva tudo com tranquilidade. Você terá o tempo que for preciso.

_Vou tentar que seja o mais breve possível.

_Não se preocupe com isso agora, está bem?

Ela balançou a cabeça e piscou repetidas vezes, parecendo uma menina desprotegida. Deus, como ele queria segurá-la em seus braços e dizer que tudo ficaria bem, malditas regras que o impediam de estar ao lado dela onde quer fosse.

_Você ... precisa de um adiantamento? Sei que é estranho, mas tenho que saber ..., como está ... financeiramente?

_Tudo bem ... eu entendo. Não tenho problemas com dinheiro, você sabe ... quase não tenho vida social e minhas despesas são mínimas. Tenho uma reserva considerável e algumas aplicações possibilitaram que tivesse uma renda extra. Tenho o bastante para despesas e surpresas! Mas agradeço sua preocupação.

_Bem .... eu ... tenho que ir ... - Ele se levantou rapidamente, soltando suas mãos, caminhando para a porta.

_Não quer um café? Você foi para casa?

_Não ... - Ela viu o quanto ele parecia exausto e imaginou que devia ter usado o chuveiro do laboratório, sempre tinham roupas extras em seus armários. _Mas eu agradeço, tenho algumas coisas para fazer, depois preciso tratar de sua papelada, motivos pessoais fazem a burocracia ser mais ágil. Eu ... falo com você mais tarde, ok?

Ela sorriu docemente, ele parecia realmente precisar de descanso e estava com todo aquele trabalho só por causa dela.

_Não sei como posso te agradecer, isto está além de meu controle e, eu sinto muito pela equipe.

_A equipe ficará bem, eu ... sei que faria a mesma coisa por nós!

Sara assentiu e sem que pensasse muito, beijou sua bochecha, sentindo os pelos macios fazendo cócegas em seu nariz. Mas que diabo de homem com cheiro bom era ele!

~♥~♥~♥~

Bem mais tarde, quando estava fazendo as malas, ela ouviu seu telefone tilintando em cima da cama.

_Alô.

_Oi ... sou eu! Você está ocupada?

A voz dele estava baixa e um tanto cuidadosa, parecia prestes a lhe contar um segredo. Ela o conhecia mesmo tão bem que detalhes como aqueles, nunca lhe passava despercebido.

_Não ... apenas terminando minha mala.

Ele ouviu o barulho do zíper sendo fechado e respirou fundo para aplacar aquela coisa maluca que lhe ia no peito. Precisava ser prático e não um homem à beira de uma crise de nervos!

_Consegui sua liberação, você tem muitas horas extras e férias vencidas, além da licença amparada pelas normas do laboratório. Não encontrei dificuldades para lhe dar o tempo que for necessário, Sara. - Ela trabalhava demais, quase não tirava férias, sempre cobria as folgas de seus colegas e nunca se preocupava com suas próprias. Ele ainda não sabia como não havia recebido uma advertência por sua negligência em não ter o controle sobre sua rotina, sempre protelava quando abria a pasta de seu histórico de horários.

_Isso é mais que suficiente. - Ela pensou nas palavras do detetive que contratara, que sua mãe realmente estava a um fio de partir. _Talvez eu não me demore mesmo.

_Ok ... - De novo o silêncio constrangedor. Ele havia frequentado sua casa, ela havia aberto sua vida particular, e ainda assim, ele parecia um estranho, em certos momentos.

_Quer que eu vá até aí para assinar alguma coisa?

_Não é necessário, podemos fazer isso por e-mail, já é o bastante ... e ... Sara?

_Sim ...

_Você vai mesmo estar sozinha?

_Vou ... já me acostumei com isso, não se preocupe.

_Mas seria bom que alguém pudesse estar com você, ou você acha que isso seria ... desnecessário?

Onde ele queria chegar? Ela não tinha parentes, o mais próximo de uma família que ela tinha, eram seus colegas de trabalho e estariam a todo vapor compensando a falta dela na equipe.

_Bem ... para dizer a verdade, isso parece uma coisa muito boa, mas um pouco distante da minha realidade.

_Eu ... gostaria ... de estar com você .... - Ela estatelou, se isso pudesse mesmo se realizar, ele não fazia ideia o quão espetaculoso seria para ela! _Você acha que ... que ... se você achar que não concorda ... por favor ... eu apenas gostaria ... - Ela segurava o telefone com tanta força que um pouco mais de pressão quebraria seus dedos! _Que aceitasse minha companhia!

Pronto! Ele havia disparado suas palavras que pareciam fogo queimando sua mente ... era sempre uma tortura quando ela estava em causa!

_Você?! - Deus, ela queria pular o mais alto que pudesse naquele quarto, mas além da emoção, havia a razão. Isso parecia impossível pelo desfalque que seria sua ausência para a equipe. Sem contar que como se explicaria a falta dos dois ao mesmo tempo? _Mas e seu trabalho? Ecklie e toda essa coisa ... - Ela podia entender que ele estava fazendo tudo aquilo para ajudá-la, assim como faria por qualquer um deles. Assim como fez com Warrick, na perda de sua avó. Ou quando Eddie havia morrido naquele terrível acidente nas águas que abalara Cath, e tantas outras situações envolvendo seus colegas. Com certeza, era sua porção supervisor preocupado que falava mais alto. _Não posso permitir que se prejudique por minha causa, ficarei bem Grissom!

_Tudo está resolvido por aqui e, preciso resolver algumas coisas em São Francisco. Estava apenas protelando, agora seria uma oportunidade perfeita!

_Hum ... diante disso, acho que uma recusa pode ser muita indelicadeza!

Ela ouviu ele dar uma risadinha e quis atravessar aquele aparelho para poder olhar para ele com os olhos do amor!

~♥~♥~♥~

_Como ... conseguiu conciliar a equipe?

_Pedi ao Ecklie para cobrir minha falta, e liberei o Hodges. Disse a ele que não poderia perder o convite da Universidade para a inauguração da ala forense, exclusiva para alunos mais avançados.

_Oh ... - Parecia uma grande coincidência ... ou não?! Se bem que, se aquilo tudo tinha sido apenas um arranjo para estar com ela quando precisava tanto, ela pouco se importava. O que valia mesmo era que, naquele final de tarde, estavam sentados lado a lado em um avião a caminho de São Francisco. Há três horas, ele havia aparecido em sua porta, avisando que o táxi os esperava. Ele mesmo havia providenciado os detalhes do voo e as reservas no hotel.

_Está ansiosa?

_Um pouco, eu ... consegui falar com o detetive e também com o hospital ontem à noite, eles estão me aguardando e ... confirmaram que ela está muito mal!

_Eu sinto muito!

_Sabe ... Gris ... eu não sei ao certo a sensação que carrego. - Ele se virou para ela, parecia muito importante que ela conseguisse abrir um pouco mais seus sentimentos, era tão raro de acontecer, assim como ele também tinha suas dificuldades em se abrir. _Não tenho rancor, não quero que pense que vou julgá-la. Isso não me afeta mais, ela deve ter tido bons motivos para de fato me entregar para a adoção. Agora vejo que por, uma razão inexplicável, nunca consegui odiá-la por isso.

Um suspiro aliviado e apenas uma concordância com a cabeça, deu a ela a certeza de que ele havia compreendido muito bem seus motivos.


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