Cúmplices escrita por ro_dollores


Capítulo 1
Capítulo 1




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Sara caminhou devagar pelo quarto, ainda na penumbra, os pés descalços, vestindo apenas seu robe branco. Se sentou com cuidado no canto esquerdo da cama e olhou com carinho para a imagem estendida sobre os lençóis macios. Sem perceber, mordeu os lábios e suspirou.

Grissom remexeu levemente e virou o rosto no travesseiro, ainda em sono profundo.

Ela sorriu, reparando em suas feições tranquilas, rememorando seus gemidos que avançaram a longa madrugada.

Uma brisa soprou entre as cortinas, a luz tênue da manhã, iluminou graciosamente toda a cama, revelando ainda mais os contornos do corpo firme estirado de bruços.

Uma olhadela no relógio da cabeceira e ela se surpreendeu com a lentidão do tempo. Ainda era tão cedo!

O cheiro do amor ainda estava impregnado por todo o quarto, trazendo outra recordação recente, e agradavelmente surpreendente!

Eles tinham sido protagonistas de tórridas cenas de amor e luxúria.

~♥ ~♥~♥~

TRÊS DIAS ANTES

_Hei Gil, quer ver algo muito estranho?

_Hã … o que quer dizer, Jim?

_Venha agora para a delegacia, mas por favor, seja discreto!

Ele ouvir o clic e olhou para o aparelho com estranheza. Discreto? E desde quando ele era dado a rompantes?

Com uma certa dificuldade, ele caminhou pelos corredores. Seu castigado joelho esquerdo ainda sentia o turno triplo que ele havia puxado nas noites anteriores, andando pelo deserto em busca de provas que acabaram infrutíferas. Em dado momento, em meio à quase escuridão, ele havia encontrado um buraco inóspito e caíra de joelhos, batendo com força em uma pedra. Sara havia o ajudado e, mesmo depois de alguns cuidados com gelo e medicamentos específicos, a dor ainda era quase insuportável. Quando jovem sofrera uma delicada cirurgia após uma entrada violenta do zagueiro adversário em uma das partidas do campeonato estadual de futebol de sua categoria. Se ele ainda tivesse a intenção de seguir uma carreira, ela havia sido interrompida ali. Gostava de esportes, mas não eram sua prioridade.

Ao chegar até a porta do capitão, ouviu um barulho estranho, bateu e esperou pela resposta.

_Entre!

Com cuidado espiou para dentro e entendeu perfeitamente o que ele quis dizer com “seja discreto”.

Uma mulher se insinuava para o capitão indiscretamente. O vestido agarrado ao seu corpo cheio de curvas. Ao se virar, ele viu que a dama, na verdade, era um homem, escondido atrás de uma pesada maquiagem!

_Oi bonitão, você vale mais que uma plateia inteira!

Jim se levantou e o fez se sentar de volta em sua cadeira, enquanto Grissom arqueava apenas uma sobrancelha, surpreso!

_Pare com isso, Walter.

_Me chame de Lolita!

Grissom balançou a cabeça e imaginou que ia ser mais uma longa noite!

Jim havia o chamado apenas para obedecer a um pedido do réu confesso, de ter uma plateia à sua volta. Com muito tato, o capitão conseguiu que fosse pelo menos mais um!

Depois de ouvir de “Lolita” que havia atirado em seu marido, depois de sua traição com uma dançarina de segunda, ele havia retornado à sua sala.

Com o nariz enfiado em uma montanha de papéis, ele ouviu um toque à porta.

_Entre!

Ainda de cabeça baixa, ele sentiu o perfume dela. O reconheceria até mesmo no meio de um depósito de lixo. Ela tinha aquela coisa de cheiro delicioso que ele nunca havia notado em mulher alguma. A maioria, ou era forte demais, ou apenas um cheiro comum, que passaria despercebido com facilidade.

_Eu ... posso falar com você?

Ele a olhou por debaixo de seus óculos e balançou a cabeça devagar, imaginando que talvez ela pudesse estar com algum problema, sua expressão parecia preocupada.

_Sim ... sente-se.

Ela se acomodou de frente à ele e olhou para suas próprias mãos, elas tremiam.

_Sara, o que houve? Algum problema?

Ela levantou os olhos para ele. Estava chorando, discretas lágrimas que faziam seus olhos brilharem ainda mais.

Imediatamente, ele olhou ao redor, através das paredes de vidro, se levantou e fechou as cortinas, puxou outra cadeira para perto dela e a encarou, com os braços apoiados em suas próprias coxas.

_Me conte, o que está acontecendo?

_Eu ... não sei como dizer isso, sem ... sem ... parecer estranho .... - Ela tocou com as pontas dos dedos no canto de seus olhos, interrompendo novas lágrimas.

_Não importa o que possa parecer, apenas me conte!

_Eu preciso de uns dias ... uma semana talvez ... tenho que voltar à São Francisco ... para ... para ... talvez os últimos dias de ... minha mãe!

Ele paralisou, nem ao menos imaginava que ela tivesse uma mãe, nem mesmo quando a conheceu há alguns anos atrás. Até onde ele sabia, ela era uma garota solitária, sem família, com alguns poucos amigos!

_Sua ... o quê?

_Minha mãe, Grissom .... eu tenho a procurado por anos!

Seu corpo convulsionou e ele a abraçou imediatamente, ainda estavam sentados, mas ele tinha que fazer algo que a fizesse saber que estava ali por ela.

Ele esperou pacientemente que ela se acalmasse, depois com cuidado, segurou em suas mãos finas.

_Vá para casa, Sara. Temos menos de duas horas de expediente, e assim que me livrar desses papéis, posso ir até você?

Ela demorou alguns segundos para assimilar suas palavras e deu um pequeno sorriso triste e envergonhado.

_Sim ... claro! Alphaville Seven, 41 - 4B

Ele sabia onde ela morava, havia passado tantas vezes pelo seu prédio, mas sempre lhe faltou coragem!

_Só preciso de mais detalhes, para saber o que podemos fazer, sem que ninguém nos interrompa, ok?

Ela concordou novamente e se levantou, ainda sem jeito. Antes de tocar a maçaneta, se virou.

_Obrigada, Gris!

_Estarei lá, assim que puder.

~♥~♥~♥~

Sara estava se sentindo melhor depois de ter seu segredo revelado, mesmo que em uma pequena fração.

Ela sempre tivera uma vida solitária, assim que deixou o orfanato para seus estudos. Se empenhara ao extremo para se realizar profissionalmente. Os estudos, sempre a faziam se sentir bem, viva e útil.

Contudo, aquela dúvida que jamais a abandonara a fez querer saber, quem seria sua mãe biológica. Talvez houvesse sim o medo do porquê, mas nunca houve qualquer receio em saber quem.

Em tempos remotos, ela conhecera Gilbert Grissom. Por alguns dias eles tiveram contato, mas não tão profundo que ela pudesse contar detalhes de sua vida. Ela sempre fora discreta e um tanto misteriosa. Sua vida pessoal era guardada a sete chaves, por pura questão de preservação.

Morara em orfanatos desde que se lembrava por gente. Sempre muito quieta e introspecta, via suas amigas e amigos serem adotados aos montes. Nunca se mostrava em horários de visitas, por achar que se estava em um lugar como aquele, era porque não merecia ter uma família. Sua culpa, a deixava impotente e retraída. Incutir qualquer ideia em sua mente infantil, sempre fora uma tarefa árdua para os profissionais que atuavam nas instituições em que passara.

Quando entrou para a faculdade, conhecera alguns garotos, em sua maioria narcisistas e cabeças ocas. Teve um namorado que a princípio parecera ser um bom rapaz, porém, o tempo havia lhe mostrado sua outra face. Ele era violento, egoísta e machista. Durou pouco, porém havia sido muito marcante. Erik havia se mudado para Boston, assim que terminara seu curso de geologia. Um tempo depois, ela havia se encantado por Grissom, mas havia sido apenas platônico, jamais imaginou que eles pudessem ter uma chance, ela nunca seria o bastante para um homem tão acima da média feito ele. Sua surpresa foi imensa quando recebeu o convite para trabalhar com ele. Duvidava de sua capacidade em relação à sentimentos amorosos, mas jamais de sua competência profissional. E era apenas este lado que ele havia levado em conta, ela tinha todas as suas cartas naquela certeza.

O jato de água acalmou seus nervos tensos e ela pôde respirar com mais facilidade.

Só precisava ter calma e colocar seus pensamentos em ordem, talvez pudesse até mesmo se sentir mais confiante depois da conversa com seu supervisor!

~♥~♥~♥~

Grissom saiu alguns minutos antes de seu horário habitual, havia tomado uma boa ducha no laboratório e estava se esforçando para combater a ansiedade que parecia ter se agarrado a ele feito um parasita.

Há um tempo, por alguma razão que ele desconhecia, seus dias reclusos estavam o incomodando em demasia. Cada vez que sentia a aproximação dela, alguma coisa nele sempre mudava. Se ele não fosse tão cético, acreditaria na possibilidade de uma ligação cósmica que o fazia querer estar ao lado dela o maior tempo que pudesse conseguir. Talvez de alguma maneira, o universo o aproximava dela no momento em que ela mais precisava de alguém. Se isso existisse de verdade, ele estava agradecido aos céus por ele ter sido o escolhido. Imaginar alguém ao lado dela, que não fosse ele, o incomodava demais. E aquela sensação parecia crescer dia após dia.

Ele levou as mãos ao rosto antes de girar a chave de ignição da Denali, tentando afastar tantos pensamentos desencontrados. Ele era um homem da ciência, pelo amor de Deus! Se seus pensamentos continuassem tomando aquela linha inesperada e fantasiosa, ia acabar acreditando em duendes e seres alienígenas.

_Vamos lá, você tem um missão a cumprir, Gilbert Grissom!


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Notas finais do capítulo

Ao longo do dia de hoje, mais capítulos virão.
Estão gostando até aqui ?
Bjs Loh e Ro.



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