Distance.

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— Eu estou indo embora amanhã.

Quando Temari disse isso, Shikamaru a princípio ficou surpreso, visto que ele ainda teria uma semana de “férias forçadas” pela frente naquele País da Grama. Mas logo o sentimento de compreensão tomou conta.

Temari precisava retornar para a vila dela, afinal. Ela era uma pessoa importante em Suna, a Embaixadora, então certamente seus serviços estariam sendo necessários naquele momento em que as vilas tentavam se reerguer após a guerra e as inúmeras perdas que todos haviam sofrido.

Mais do que isso, o Kazekage, irmão mais novo de Temari, precisava dela.

E Shikamaru sabia mais do que ninguém que aquela mulher nunca ficaria presa em uma pousada quando poderia muito bem estar ajudando Gaara em seu trabalho.

No entanto, mesmo assim o fato de Temari estar partindo continuava causando-lhe um sabor amargo nos lábios e um sentimento ruim, como se algo em seu peito estivesse sendo comprimido. A saudade já chegava de uma forma antecipada e Shikamaru odiava cada pedacinho daquele sentimento.

De qualquer forma, não é como se ele pudesse fazer algo a respeito para resolver aquela questão.

Distância sempre foi e sempre seria a maior dificuldade em seu relacionamento.

Bem, Shikamaru tinha que supor que não seria fácil mesmo quando se apaixonou por ela. Tudo em torno daquela mulher era problemático.

Então, escondendo a surpresa e a expressão descontente, ele se limitou somente a murmurar algo em resposta para a loira que estava sentada a sua frente na mesa do restaurante daquele lugar.

— Entendo. — E então voltou sua atenção para a comida, por simplesmente não saber mais o que dizer.

Era sempre assim.

Ambos nunca sabiam o que dizer quando o dia de se separar se aproximava. Quando um tinha que ir embora e se despedir do outro que ficaria.

E quando não sabiam o que dizer, o risco de dizer algo errado era maior do que nunca.

— Suponho que nos veremos de novo durante o exame chunnin. — Shikamaru comentou, sem fita-la.

— Sim. — Foi o que Temari respondeu, engolindo em seco.

Eles sabiam que não havia nem ao menos uma data prevista para o próximo exame chunnin, poderia ocorrer somente dali a um ano ou mais, visto que todas as vilas estavam se reconstruindo ainda (especialmente Konoha que nem havia se recuperado completamente do ataque da Akatsuki), fora que todos haviam perdido um número considerável de ninjas, o que com certeza prejudicaria em uma organização de um exame tão importante quanto aquele.

— Você... poderia visitar Konoha antes do exame, você sabe, para ajudar em algo ou até mesmo me visitar. — Shikamaru disse sem pensar e logo se arrependeu de suas palavras, porque afinal de contas, ele sabia qual seria a resposta de Temari.

Ela suspirou e ergueu o olhar para ele, fitando-o com uma expressão de dor.

— Não diga esse tipo de coisa para mim, você sabe que eu não posso fazer isso. — disse em um tom de voz baixo e o moreno nem se deu ao trabalho de comentar mais nada, mantendo a boca bastante selada e seus pensamentos guardados somente para si.

Mas de certa forma, ele sabia que a lealdade de Temari estava em Suna, em sua vila, ela não poderia sair de lá dessa forma.

Shikamaru não soube por que, mas pensar sobre isso realmente o deixava bastante deprimido.

Talvez devesse olhar as nuvens mais tarde, isso o acalmaria um pouco...

As desavenças entre Shikamaru e Temari não eram tão frequentes quanto parecia à primeira vista, já que a maioria era apenas feita em pura brincadeira e sem ser levada para algo mais sério, todavia quando isso acontecia, era algo que deixava ambos os lados com um enorme pesar, como se algo estivesse errado e precisava ser consertado.

Embora eles fossem orgulhosos demais para tal coisa.

Na manhã seguinte enquanto Temari e seus irmãos se encaminhavam para o exterior da pousada, Kankuro foi logo deixando uma pergunta no ar, justamente a pergunta que pairava na mente da loira naquele momento.

— Onde está aquele Nara preguiçoso que sempre nos acompanha até a saída e se despede de nós?

Ele não havia perguntado diretamente para ela, mas estava claro que a única mais próxima de Shikamaru era Temari e se alguém pudesse responder, logicamente seria ela.

No entanto, ela também não sabia.

— Preguiçoso como é, só pode estar dormindo. — murmurou para o irmão que deu uma risada.

Mas a verdade é que Temari não se surpreendia dele não ter aparecido.

É verdade que os dois não chegaram exatamente a discutir no dia anterior, mas o clima pesado pairou entre eles até o momento em que cada um foi para o seu quarto. Temari não havia dito exatamente nada para magoar Shikamaru, mas ela sabia como ele odiava aquela situação de distância tanto quanto ela... e assim como sabia que ela não abandonaria a vila dela dessa forma.

Temari tinha que admitir: aquilo era algo realmente problemático.

Mas ela infelizmente não poderia ficar ali esperando por ele somente para se despedir. Precisava partir.

E foi isso que fez, juntamente com os dois irmãos. Gaara havia terminado de se despedir de Naruto, que abria um enorme sorriso e dizia que esperava vê-los em breve.

O Kazekage, embora tão novo, infelizmente mal pode aproveitar o curto tempo de recesso longe do trabalho. Mas ele tinha plena consciência de que não poderia se ausentar, e então quando o dever lhe chamou, não fez nenhuma questão de adiar ou ignorar, isso não era de seu feitio, afinal. Ainda havia muita coisa para ser feita.

Portanto, não demorou muito para os três ninjas já estarem a caminho do País do Vento.

Os três irmãos pulavam de galho em galho da floresta que os rodeavam, mantendo um ritmo bom e tranquilo. Apesar de precisarem do Kazekage em sua vila, não havia motivos para se apressarem. O mundo estava em paz, afinal de contas.

— Temari, você está me assustando de tão quieta. — Kankuro cortou o enorme silêncio que se estendia entre eles desde que saíram da pousada. Faltava ainda cerca de um dia até cruzarem a fronteira do País da Grama.

— E você está me assustando com a sua cara feia. — Ela retrucou parecendo despertar de seus devaneios. — mas nem por isso eu saio comentando por aí.

Kankuro assobiou.

— O que diabos deu nela? — ele questionou o irmão mais novo dessa vez, falando em um tom de voz baixo, mas que ainda assim alcançou os ouvidos de Temari.

A loira suspirou e decidiu ignorar, se focando no caminho a sua frente, seus pés se movendo de maneira automática por entre as árvores.

Gaara também não disse nada, mas lançou um olhar preocupado em direção à irmã mais velha. Kankuro poderia não perceber, mas ele já tinha uma mera noção do que se passava com Temari.

Durante os dias que se seguiram de viagem a caminho de Sunagakure, Temari soube esconder bem o que lhe incomodava, fazendo algum comentário vez ou outra com os irmãos a respeito dos trabalhos a serem feitos em Suna e sobre os acontecimentos mais recentes que enfrentaram durante a Grande Guerra.

Mas a verdade é que lá no fundo ela não estava tão bem assim. Seu relacionamento com Shikamaru sempre foi complicado e ela sabia disso desde que começaram a se envolver, a serem mais do que simples amigos. Mas no fim, seus sentimentos falaram mais alto e ela simplesmente resolveu deixar os problemas de lado e aproveitar os momentos que tinha com o Nara.

No entanto, por mais que ignorasse, aqueles problemas nunca desapareceriam assim. A distância continuaria a existir, as diferenças continuariam a persistir.

E Temari não poderia simplesmente sair de Suna quando lhe desse vontade somente para poder ir à Konoha para matar a saudade do namorado. Ela não era dessa forma, por mais que quisesse, sua lealdade era com sua vila, com seu povo e seu Kazekage. Tinha compromissos ali, compromissos que se sentia grata por fazer, por conseguir ser de alguma utilidade para o lugar que tanto amava.

Ela se sentia como se seus dois amores estivessem a pedindo para escolher, cada um a puxando para uma extremidade oposta um do outro.

Mas ela simplesmente não poderia escolher... não agora.

E pensar sobre esse enorme dilema a deixava realmente mal. Algo que não acontecia com frequência quando se tratava de Temari.