Collide

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Depois que a Quarta Grande Guerra havia chegado ao fim, o que os shinobis mais queriam era poder relaxar, sem qualquer preocupação em mente. E enquanto Tsunade resolvia os assuntos burocráticos e sua atenção se voltava novamente para a reconstrução de Konoha, ela achou mais do que merecido dar um período de férias para seus ninjas, em especial os mais jovens, que depois de tanto convivendo em um ambiente violento e sangrento, mereciam um descanso longe de qualquer tipo de confusão.

Tsunade havia dito inclusive que dera aquele conselho para os outros Kages, a fim de poderem deixar seus ninjas mais novos descansarem também depois da participação na guerra.

Aquele era um período de paz, ninguém estava preocupado em invadir nenhum país ou tentar algo do tipo. Todos apenas queriam um tempo para descansar não somente o corpo, mas principalmente a mente.

Foi pensando nisso que a Hokage enviou seus ninjas para uma enorme pousada que ficava bem afastada, nos arredores da Vila da Grama. Um lugar pacífico e que não havia sido tomado pela confusão que a guerra havia gerado.

Os shinobis de Konoha chegaram afoitos, cada um partindo para uma direção. Kiba em especial gritou que cairia na piscina, seguido por Lee que imediatamente se animou com a ideia do amigo.

A intenção daquele lugar era procurar ao máximo relaxar, mas Shikamaru se perguntava se isso realmente seria capaz levando em conta que os amigos hiperativos estavam presentes.

Bem, ao menos Naruto não estava lá, pelo menos não por enquanto, já que o Uzumaki havia ficado em Konoha juntamente com Sasuke enquanto se recuperavam dos ferimentos da luta intensa entre eles. Tsunade aproveitava a ocasião inclusive para lhes preparar um protótipo de braço, a fim de substituir aquele que haviam perdido graças ao choque de seus poderes.

Apesar de a pousada ser uma intenção de fazê-los esquecer da guerra intensa que tiveram, os shinobis sabiam que no fundo nunca seriam capazes de deixar tudo para trás. Todos haviam sofrido, não só pelo derramamento de sangue e violência intensa, como também por terem perdido entes queridos durante aquele conflito.

Ino e Shikamaru perderam os pais e embora dissessem que estavam bem, a verdade é que ambos estavam tentando – cada um à sua maneira – superar aquela dor da perda. Semelhante a eles também estava Hinata, Tenten e Lee. Por mais que este último estivesse gritando para todos os lados, era perceptível como havia ficado abalado com a morte de seu rival e companheiro de time. Neji faria uma grande falta para todos eles, isso era indiscutível.

— Ah olha, a Temari-san também está aqui. — A voz de Sakura despertou Shikamaru de seus devaneios. Ele ergueu a cabeça curioso, olhando para onde a rosada apontava. Ao longe a kunoichi de Suna conversava de forma tranquila com seu irmão Kankuro.

Shikamaru não fazia ideia de que ela iria também para aquela pousada. Achava até então que somente os jovens ninjas de Konoha foram encaminhados para lá, mas pelo visto estivera enganado.

Ao perceber que estava sendo observada, Temari desviou o olhar de Kankuro, encontrando os orbes castanhos de Shikamaru, esboçando um pequeno sorriso para ele em seguida.

— Não sabia que vocês viriam. — Sakura quem disse quando finalmente os irmãos se juntaram ao pequeno grupo. Somente ela e o antigo time dez estavam ali, visto que os outros haviam se espalhado, ansiosos para conhecer mais daquele lugar.

— Gaara praticamente nos obrigou a vir. — Kankuro sorriu debochado.

— Segundo ele, precisamos descansar. — Temari completou, revirando os olhos. Ela odiava ficar parada quando claramente poderia estar sendo mais útil em outros lugares.

— Bem, eu não sou exatamente contra isso. — O ninja das marionetes disse, se virando para Chouji e apontando para o pacote de batatas nas mãos do Akimichi. — Posso? — Chouji estendeu o pacote, deixando-o pegar algumas.

— De qualquer forma... acredito que assim que conseguir organizar as coisas em Suna, Gaara deve estar aqui também. — Temari dizia, enquanto o irmão ao seu lado comia despreocupadamente. — Ele precisa muito mais de um descanso do que nós.

— Ele virá. — Kankuro disse com a boca cheia, dando de ombros. — Então... onde fica a piscina?

§

Depois disso Temari se encaminhou para seu quarto, trocando sua roupa por um biquíni roxo e colocando somente um short curto jeans por cima da roupa de banho, saindo pelos corredores com uma toalha em seu braço.

Porém antes mesmo que pudesse alcançar a área da piscina, viu ao longe Shikamaru apoiado no parapeito da varanda, com a cabeça voltada para o céu, provavelmente admirando as nuvens, parecendo estar perdido em pensamentos.

A loira suspirou enquanto se encaminhava até ele. Temari não havia visto muito Shikamaru desde que a guerra se deu início, tendo em conta que logo eles tiveram que se separar. Mas apesar disso, ela sabia o que ele havia sofrido, sabia quem ele havia perdido. Era natural que ainda estivesse sofrendo com a dor de perder uma pessoa tão próxima quanto seu pai.

— Você está bem? — Perguntou quando finalmente o alcançou, tocando de leve em seu braço.

Aquilo pareceu despertar o moreno, que se virou para ela, um pouco surpreso ao ver como Temari estava vestida.

— Meu rosto está um pouco mais para cima, Nara. — Temari disse com uma voz pouco amigável, o que fez Shikamaru rapidamente desviar o olhar de seu corpo, ficando com a face enrubescida.

— Existe alguma chance de nos beijarmos sem que ninguém veja? — Ele perguntou em tom de voz baixo, arrancando uma risada da loira.

— Está com saudades é?

— Tsc... problemática, você sabe que sim.

Ela sorriu dessa vez de forma menos debochada, lançando um olhar mais suave para Shikamaru.

— Talvez eu tenha sentido a sua falta também...

Porém antes que ele pudesse sequer dizer mais alguma coisa, alguém os interrompeu.

— Ah Shikamaru-kun, eu imaginei mesmo que poderia te ver por aqui! — Aquela voz fina e familiar chamou a atenção do Nara, que se virou apenas para ver Shiho se aproximando dele.

Ela não havia mudado nada. Ainda com o jaleco branco, cabelos loiros bagunçados e presos e óculos enormes demais para o seu rosto.

Shikamaru se lembrava dela, mas nunca foi muito próximo da mulher, apenas trabalharam juntos para desvendar o código do livro de Jiraya e nada mais. De alguma forma Shiho sempre lhe soara estranha demais.

— Ah olá. — Ele cumprimentou meio a contragosto, se segurando para não fazer uma careta. Não que ela fosse exatamente desagradável, mas Shikamaru não gostou de ser interrompido, somente desejava que a loira fosse embora logo para poder ficar a sós novamente com Temari.

Por falar em Temari, esta olhou Shiho da cabeça aos pés como se a avaliasse, mas permaneceu em silêncio e sem esboçar qualquer reação.

Shikamaru coçou a garganta, chamando à atenção de ambas as mulheres que se fitavam, apresentando uma a outra.

— Temari, esta é Shiho, ela trabalha no departamento de criptografia de Konoha. Estivemos trabalhando juntos para decifrar alguns códigos deixados por Jiraya depois de sua morte. — Shiho assentiu, parecendo orgulhosa de si mesma, o que fez Temari apenas arquear o cenho. Shikamaru continuou: — E esta é Temari, a irmã mais velha do Kazekage e... — Ele pausou por um segundo pensando em como deveria classificar a loira. Amiga? Namorada? Eles ainda não haviam discutido sobre isso. — uma amiga minha. — A palavra saiu de forma amarga de sua boca, como se fosse extremamente errado classificar Temari apenas como “amiga” e ao julgar pela expressão da kunoichi, ela também não gostou de ser intitulada assim.

Shiho, ao contrário de Temari, pareceu relaxar ao ouvir que ela se tratava de uma amiga do moreno.

— Prazer. — Disse rapidamente para Temari, parecendo não se importar muito mais com a presença da mulher ali, voltando sua atenção para Shikamaru. — Bem, como eu ia dizendo, fico feliz de ter te encontrado aqui. É bom ver que conseguiu sair bem e a salvo da guerra, quero dizer, fiquei preocupada, você sabe.

A garota dizia de forma rápida, ficando com rosto enrubescido logo em seguida.

Shikamaru arqueou o cenho, sem saber muito bem o que dizer.

— Ah... obrigado pela preocupação, eu acho. Mas e você, o que está fazendo aqui? — Era curioso, afinal somente os jovens que haviam participado da guerra é que haviam sido encaminhados para aquele lugar.

— Oh bem, vim a trabalho, precisavam de voluntários para poder observar o comportamento de vocês e ajudá-los a superar essa etapa sem que qualquer trauma grave tenha lhes atingido. O que significa que terei bastante tempo para dedicar com você e garantir que esteja realmente bem.

Shikamaru já ia dizer alguma coisa, algo como “não se preocupe, eu estou bem”, mas Temari ao seu lado coçou a garganta, chamando sua atenção para ela.

— Não se preocupe com isso, Shiho. Garanto a você que o Shikamaru ficará bem. — A loira dizia de forma calma. Calma até demais. O Nara logo sentiu os dedos dela se entrelaçarem com o seu, segurando sua mão firmemente.

E era como se de repente o clima tivesse ficado mais pesado e difícil até de se respirar.

Temari esboçou um sorriso para Shiho, mas um sorriso que fez até mesmo Shikamaru ao seu lado se encolher de leve. Não era um daqueles típicos sorrisos que ela dava para ele. Era um sorriso forçado e um tanto ameaçador.

A mulher de óculos a frente do casal fitou por alguns segundos para Temari, descendo o olhar até as mãos entrelaçadas deles, sua face corando violentamente logo em seguida.

— Ah, certo, eu entendo. Bem, qualquer coisa é só me procurarem, até logo. — Ela se despediu de forma nervosa e um tanto apressada, saindo de perto deles à passos rápidos, quase tropeçando no caminho.

— O que foi aquilo? — Shikamaru indagou depois de Shiho ter sumido da vista deles.

Temari soltou sua mão imediatamente, se virando de costas para ele, apoiando seu corpo na grade, olhando para a vista do lado de fora da pousada.

— Nada demais. — Respondeu, fazendo-o revirar os olhos. — Apenas tive que consertar o seu erro de me intitular como “amiga”. — Disse, fazendo aspas com a mão ao falar a palavra.

— Nunca pensei que você fosse do tipo ciumenta. — Shikamaru bufou, sorrindo de leve. — Mas acho que deveria ter imaginado isso quando a classifiquei como problemática.

— Eu não sou ciumenta, só esclareci a nossa situação, já que ela parecia bastante interessada em você.

— Bem, me desculpe pela confusão visto que nem mesmo eu sabia como deveria te chamar. — O Nara disse de forma irônica. A relação dos dois sempre foi confusa, afinal.

— Achei que me considerava mais do que uma simples amiga. — Temari realmente estava tentando dificultar tudo para Shikamaru naquele dia.

Ele suspirou de forma pesada.

— E considero, sempre considerei e você sabe muito bem disso. Deixe de ser problemática pelo menos só por hoje.

— Isso é tecnicamente impossível, você sabe. — Temari respondeu, se virando novamente para ele, sorrindo.

Shikamaru segurou a cintura dela, puxando-a para ele, mas antes que tivesse a chance de se aproximar para beijá-la, a loira logo o afastou.

— Se alguém ver, isso vai ser uma enorme dor de cabeça depois. — Ela murmurou, fazendo-o bufar e retirar seus braços em torno do corpo dela. — E antes que venha reclamar, é bom te lembrar de que meu irmão também está nessa pousada.

Aquilo pareceu fazer Shikamaru desistir de dizer qualquer coisa que estava prestes a dizer, fechando a boca e fazendo uma careta.

— Você sabe que não podemos manter isso em segredo para sempre, certo?

— Sim, eu sei. Mas por enquanto é melhor assim, vamos evitar fofocas ao nosso respeito e qualquer outro tipo de coisa.

Shikamaru entendeu bem o que Temari quis dizer, concordando com a cabeça. Não era somente com as fofocas em si que estavam preocupados, o fato de terem um relacionamento morando em vilas separadas sem dúvida daria o que falar e poderia até mesmo gerar problemas, apesar da aliança entre Konoha e Suna estar melhor impossível.

Eles esperariam até que todos os assuntos referentes à guerra estivessem resolvidos. Esperariam até que o momento certo surgisse para enfim relevarem para os demais ao seu redor sobre o envolvimento deles. Até então, não custaria nada manter aquilo tudo em segredo por mais um tempo. Aliás, até seria bom, pois Shikamaru não fazia ideia de como os irmãos estranhos de Temari reagiriam diante daquilo quando soubessem. E ele não admitiria nunca, especialmente para Temari, mas tinha um certo medo de como seria a reação de Gaara e Kankuro quando descobrissem tudo.