O Chefe Da Minha Mãe escrita por Giolopes


Capítulo 4
Melhores amigos.


Notas iniciais do capítulo

Uma conversa amiga, um abraço… Duas almas singulares descobrindo da amizade seus pares, formando assim um eterno laço. E de um abraço, um carinho, um elogio singelo e amoroso. Um apelido fofo e manhoso, e depois risadas e beijinho… Descobrindo assim de pouco. Um sentimento de imenso calor, descobrindo que está louco, descobrindo o amor. Um momento de espanto, a sensação de que algo está errado, de que eram apenas amigos no passado, e agora se amam tanto… E percebem que sempre foi assim, que este amor sempre existiu, que essa chama nunca se extinguiu, que se encontraram enfim. E logo notaram como é boa a vida, quando descobrem um sentimento, que já existia, esquecido por dentro, mas revivido em uma amizade colorida.




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– Eu faria loucuras para te ver sorrir, eu seria capaz de tudo para lhe ter aqui ao meu lado. Eu quero você de todos os jeitos, de todas as formas, de todas as caras. Eu quero acordar com um beijo seu. Quero você, de qualquer jeito. Só pra mim.

Li uma vez sobre um tipo de fungo que cresce em arvores. O fungo começa a invadir os sistemas que transportam água e nutrientes desde as raízes aos ramos. Ele os desativa um por um - ele os congestiona. Logo, o fungo - e só o fungo - é portador da água, e os produtos químicos, e tudo o mais que a arvore necessita para sobreviver. Ao mesmo tempo ele está decompondo a arvore lentamente de dentro, fazendo-a apodrecer minuto a minuto. Isso é o que o ódio é. Vai alimentá-la e, ao mesmo tempo apodrecê-la. É difícil, profundo e angular, um sistema de bloqueios. É tudo e total. O ódio é uma torre alta. Nas Terras Selvagens, eu começo a construir, e subir.

_ Garota! Oque houve com você? – perguntou minha irmã assim que saiu do seu escritório e me avistara saindo do elevador em tremenda sujeira de cappuccino.

_ Oque houve?! Simplesmente existem muitos idiotas no mundo. – respondi ríspida e ela segurou um riso. Provavelmente assim como minha roupa meu rosto não estaria um dos melhores.

Avistei minha mãe, vindo em nossa direção, juro que a metralhei mentalmente, se ela não inventasse isso, eu estaria em casa dormindo e não passaria por essa burrice:

_ Que isso? Novo tratamento de pele? – como eu amava o deboche de minha mãe. Ela passou o dedo indicador em meu rosto e depois lambeu o mesmo sujo de cappuccino.

_ Quer tentar? Posso usar seu cappuccino em você. – respondi irritada e ambas sorriram alto. Eu odeio minha família.

Minha mãe estendeu sua mão para pegar o cappuccino e entreguei em suas mãos. Vi o espaço ficar mais agitado que o normal e revirei os olhos:

_ Meu chefe está chegando! – disse minha mãe agoniada com a situação.

_ E meu noivo também. – minha irmã disse sorrindo.

É ela tinha um noivo que eu nunca tive oportunidade de conhecer. Alias esse noivado aconteceu rápido. Eles namoraram por sete meses e depois de repente já estavam noivos. Não sei como é o cara e nem imagino.

Virei-me de costas para todos. Não gostaria de encarar meu cunhadinho nessa situação ridícula:

_ Max... – ouvi minha irmã dizer animada e continuei de costas.

_ Carrie... – eu conhecia essa voz que chamava o nome de minha irmã. Não me lembro muito de onde eu conhecia mas...

Virei-me devagar e encarei o rapaz de olhos azuis, cabelos castanhos claros e uma expressão responsável e séria:

_ Não acredito que é o mauricinho idiota, o seu noivo. – disse irritada ao perceber quem estava ali. Recebi olhares de todos. Minha irmã se encontrava assustada e minha mãe nem se fala.

_ Olá desastrada! – ele disse debochado e sorrindo irritantemente.

_ Desastrada é a senhora sua mãe! – rebati irritada.

Ele continuava sorrindo como se fosse à coisa mais normal do mundo:

_ Espera ai. Vocês já se conhecem? – perguntou minha irmã não muito animada com a situação.

_ Foi esse idiota mauricinho que fez isso comigo. – respondi amostrando minha situação, com cappuccino dos pés á cabeça.

Minha mãe riu constrangida e me deu uma tapa no ombro:

_ Cala boca... – sussurrou e encarei-a confusa.

_ Quer saber, eu vou pra casa! – falei indignada e bufando irritada.

_ Posso te deixar em casa como pedido de desculpas. – a voz dele me irritava até numa proposta irrecusável.

_ Não precisa. Ela vai de taxi. – disse minha irmã incomodada.

_ Seria ótimo. – respondi por mais odioso que seja ficar perto dele.

Ele assentiu sorrindo e deu um beijo na testa da minha irmã. Ambos descemos no elevador, eu evitava encontrar seus olhos. Eu queria joga-lo de um arranha-céu e vê-lo gritando até se chocar com o chão. Em frente ao prédio estava seu carro que não conseguir distinguir qual modelo seria. Ele abriu a porta do passageiro mostrando educação, me aproximei e pisei em seu pé de proposito.

Seus olhos me encaram irritados enquanto resmungava de dor e sorri irônica. Adentrei o carro e ele logo em seguida também. Deu partida no mesmo e tocou para minha casa com as minhas coordenadas:

_ Não tem mais do que reclamar. – ele disse assim que desligou o motor do veiculo em frente a minha casa. Ele acha mesmo que me trazer em casa, seria um pedido de desculpas?!

_ Tenho sim. Reclamarei por você ter nascido! – respondi abrindo a porta do carro e colocando meus pés para fora e saindo do carro batendo a porta em seguida.

A buzina soou aos meus ouvidos e encarei, irritada o idiota no volante:

_ Não parece nada com sua irmã. – ele disse sorrindo debochado e revirei os olhos. Eu nunca quis ser parecida com ela, tenho meu próprio estilo.

_ Ótimo. E você não parece nada com um ser humano. – rebati mentindo feio. Ele era o ser humano mais lindo que já havia visto. Balancei a cabeça saindo dos pensamentos idiotas e adentrei minha casa sem encara-lo mais.


***

Meu corpo se acomodava ao macio da cama, meus braços apertavam um travesseiro em meu corpo enquanto meus olhos fitavam o teto branco do meu quarto. Lembro-me de quando todos ainda viviam juntos, meus pais, eu e minha irmã. Ninguém ficava sozinho seja qual fosse o lugar. Adorava as tardes com Carrie conversando sobre coisas aleatórias e as madrugadas de sábado que ficavam assistindo comedia e rir a ponto dos vizinhos reclamarem. O que é bom, dura pouco mais dura o suficiente para ser suficiente. Pra mim nada parecia suficiente.

Perder mais uma vez. E perder de novo como toda semana eu perco ao reconstruir no meu mundo um mundo que já não existe mais. Alguns deles vão me chamar de louca e dizer que eu preciso de ajuda pra parar com essas coisas de reinventar o passado. Mas eu tenho certeza que eu só preciso de você pra transformar as minhas memórias em sonho de novo.

Meu pai costumava me dizer “Pessoas, vem e vão. Acostume-se”. Mais eu não acho que seja necessário elas irem embora, sempre a outra opção. É como minha avó dizia “Só não á jeito para morte”. E eu sinto saudades de antigamente. Saudade é não saber... Não saber o que fazer com os dias que ficaram compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe ocupem o pensamento, não saber o que fazer com as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada.

Senti meu celular vibrar e encarei a tela do mesmo:

Está em casa? – Jamie
Sim. – respondi
Então porque diabos, eu estou aqui mofando em sua porta? – Jamie
Deve ser porque eu não quero te deixar entrar. – brinquei
Levante-se de onde estiver e venha abrir a porta, Bernard. – Jamie

Revirei os olhos e tirei os fones de ouvido. Sai do quarto e fui até a porta de entrada. Observei pelo olho magico o garoto encostado à pilastra da varanda com suas mãos escondidas nos bolsos da jaqueta preta de couro:

_ Sua campainha está com defeito? – perguntou assim que abri a porta e dei espaço para ele entrar. Fechei a porta logo depois e observei ele se jogar sobre o sofá.

_ Não. Por quê? – perguntei.

_ Então o problema é na sua audição mesmo. – ele disse debochado e jogando a cabeça para trás se recostando a cabeceira do sofá.

Aproximei-me do sofá, agarrei uma almofada e taquei nele:

_ Eu estava com os fones, idiota. – resmunguei me jogando ao seu lado.

_ Cheguei a pensar que ainda estaria no trabalho de sua coroa. – ele disse se jogando no sofá deitando sua cabeça em meu colo.

_ Aquilo lá é lugar para louco. – falei acariciando seus cabelos.

Você é o meu porto seguro. Porque eu sei que vai estar aqui por mim. Sempre me espera. Sempre me acalma. Não leva tudo o que eu digo a sério e me perdoa se eu erro. Você está aqui, até quando eu não mereço ou não espero.

_ E você não é louca, Bernard? – perguntou debochado e nossos olhos se encontraram meigamente.

_ Não exatamente, Suster. – respondi sorrindo e continuei acariciando seus cabelos enquanto nossos olhos se mantinham vidrados.

_ Não consigo ter momentos assim com a Isabelle. Será que consigo contigo por sermos amigos? – ele disse enquanto eu me perdia no azul de seus olhos.

_ Não sei. – respondi sorrindo e ele retribuiu.

Ele parecia voar para outro mundo. Paralisado, calado e nem ao menos piscava os olhos:

_ Lembra-se daquele jogo nas férias de verão? – perguntou.

_ Verdade ou desafio. – conclui e ele assentiu.

Lembro-me como se fosse hoje. Éramos eu, ele, Frida, Austin e o resto da nossa sala. Todos haviam decidido que iriamos acampar numa floresta tropical. Durante a noite optamos por jogar um jogo e o escolhido foi verdade ou desafio.

_ Lembra-se do seu desafio? – perguntou.

Voltei no tempo de repente. O desafio mais difícil e delicioso que eu poderia cumprir. Eu morri de medo de tudo mudar entre nós. Afinal eu teria que beijar meu melhor amigo e isso era um desafio meio constrangedor. Mais quando nossas bocas se encontraram e suas mãos quentes tocaram minha cintura eu senti algo que nunca havia sentido.

_ Como esquecer... – respondi sorrindo depois de minutos voando longe.

_ Quero tentar de novo! – falou com certo brilho nos olhos. E isso realmente me chocou e me confundiu.

_ Jogar? – perguntei confusa.

_ Não. Beijar-te. – ele disse com um sorriso amarelo nos lábios. Meus olhos se arregalaram em um instante e engoli em seco.

_ Para de brincadeira. – falei sorrindo nervosa.

_ Não estou brincando. – ele disse bem sério.

_ Somos amigos. E sou amiga da Isa. – falei ainda mais nervosa.

_ Vamos esquecer esses detalhes agora. – ele disse me encarando meigo.

Suspirei tentando inibir o nervoso e me inclinei aproximando-me do seu rosto. Então eu fecho os olhos e vejo aquele momento perfeito, seus olhos fixos nos meus, sua boca repuxada em um sorriso meigo, nossos rostos tão próximos que eu podia sentir sua respiração se misturando a minha. Minha mão deslizou pelo seu rosto acariciando o mesmo e seus olhos fechados.

E quando nossos lábios se tocaram, eu fechei os olhos automaticamente. Senti um enorme calafrio ao ser tocado por aquela boca fria, que parecia conversar com a minha boca. Senti sua língua invadindo a minha boca e arrancando a minha saliva como se aquilo fosse a sua fonte de alimento, fazendo a minha língua se sentir perdida a ponto de invadir a outra boca também. Foi um beijo intenso e demorado. Olho no olho, fora do foco. Como se tivéssemos esperado a vida toda por aquilo.


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