Quando eu acordei Ruth estava na cabana comigo, quando ela viu que eu tinha acordado ele sorriu pra mim, me entregou uma maçã e pegou no meu osso, dói menos que ontem, mas ainda dói.

- Estão se juntando, mas ainda vai demorar algumas horas – ela constatou – acho melhor comer essa maçã, eu consegui encontrar várias dessas, e outras frutas também, já temos o que comer para o resto do dia – já comentei que quando Ruth está nervosa ela fala muito, mas a maioria das coisas que ela fala é boa, deve ser um jeito de acalmar a si mesma – mas se você não quiser comer frutas o dia inteiro eu posso encontrar vegetais, comida vai ser fácil nessa missão. Já comentei que teremos que sair agora mesmo? É que se sairmos agora a arranjarmos carona poderemos chegar cedo a Vegas e começar a procurar cedo a espada, Las Vegas nem é tão grande assim, vamos descobrir rápido onde está, afinal, nós perceberemos em que tipo de lugar um monstro que vai matar um de nós está, quer dizer, conseguiremos completar a missão e estaremos a salvo...

- Ruth, pare de falar, pelo amor dos deuses!

- Ok, é que eu to nervosa, é meio estranho não termos sido atacados por monstros enquanto estivemos aqui.

- Ruth, sobre o que conversamos ontem no banheiro, sobre você achar que não irá voltar para o acampamento...

- Olha Maggie, a profecia disse que três voltariam para o acampamento, eu estou disputando vagas de sobrevivência com Thalia, Percy, Nico e com você, não quero que você morra, tem que completar a missão. E duvido que se eu ou os outros três disputarmos três vidas vou ser uma das sobreviventes.

- Não pare de tentar – eu disse – a profecia pode ter duplo sentido.

- Eu sei – disse Ruth – mas duvido que ouvindo que um será exterminado queira dizer isso.

- Ruth, sei que alguém vai morrer, nessa missão, mas você não percebe que não disseram especificamente que outro morreria alguém pode se perder, ou ser não querer mais voltar, você pensou nisso?

- O que você vai fazer? – perguntou Ruth

- Por enquanto eu pretendo não dizer – respondi – mas eu não sei se essa decisão vai agradar todo mundo.

- Me conte - pediu Ruth - me diga seus planos

- Não posso – respondi

- Vamos - apareceu Nico - nós já estamos prontos.

- Vamos – Ruth se levantou

Eu juro que quase tive um infarto quando Nico se abaixou e me pegou no colo, como naquelas cenas de cinema, em que a mocinha torce o tornozelo e ele a leva para um vilarejo onde cuida dela e depois troca juras de amor? Pois é! Mas nesse caso eu quebrei a perna, e ele está me levando para Las Vegas aonde eu vou me curar sozinha, vamos procurar um monstro e infelizmente não terá nenhuma jura de amor, além disso, tudo é a mesma coisa.

Thalia ia na frente, Percy ia atrás dela, Nico ia ao lado de Percy, eu fui nos braços de Nico, não canso de dizer isso, e Ruth foi atrás da gente. Ela estava calada, eu acho que se ela estar falando muito quer dizer que ela ta nervosa, então nevem estar achando que como ela está calada ela está mais calma, mas estão errados, quando ela ta calada quer dizer que está mais nervosa ainda.

- Sua perna ainda dói? – Nico perguntou

- Por que, sou muito pesada – brinquei mesmo preocupada com a resposta

- Não – Nico sorriu – Só quero saber se você ainda está sentindo dor, me preocupo com você.

Sério, ele tem que parar de fazer isso, ele diz que eu sou especial, que se preocupa comigo, que eu sou a garota mais legal que ele conheceu, mas mesmo assim não sai disso, os homens dizem essas coisas e se calam depois! Como ele quer que eu entenda o que se passa na cabeça dele?

- Por que você sempre faz isso? – perguntei

- O que? – ele perguntou

- Fica dizendo essas coisas pra mim. – juro que não sei de onde tirei coragem de perguntar isso.

- Bem – ele estava corado, será que isso é bom ou ruim? – É que você é legal e eu gosto bastante de você.

- Bastante como? – eu realmente devo estar louca, eu praticamente estou me jogando nos braços dele.

- O bastante para... – ele estava com o rosto tão perto de mim e nossos olhos estavam quase se fechando com a proximidade

- Gente! – juro que gosto do Percy, mas deu uma vontade louca de arrancar aquela cabeça dele, mesmo que eu soubesse que Annabeth me mataria – Estão ouvindo um sussurro?

- Não – grunhiu Nico – que tipo de sussurro?

- Estou ouvindo – disse Ruth

- Eu também – eu disse

- É mesmo – concordou Thalia

- Tem razão – concordou Nico olhando em volta

De repente uma coisa aconteceu, eu não estava mais nos braços de Nico, estava flutuando, eu girava, girava e girava. Me senti subindo para algum lugar quando umas pessoas que eu conhecia estavam aparecendo. As coisas que elas diziam eram...

- O que pensa que está fazendo? – perguntou meu pai com cara de zangado – devia estar aqui comigo, mas você tem que cometer a loucura de me deixar de cara na estação rodoviária, mas eu já estou melhor, encontrei uma mulher, ela é muito melhor companhia do que você

- Você não devia ter nascido – dizia uma bela mulher com cabelos prateados, Hera – Foi um erro, tenho muita vergonha de você, não sei porque eu te assumi.

- Você está ficando louca de pensar que tem algo comigo – falou Nico com escárnio – Como eu me sentiria atraído por uma garota como você?

- Você está acabada, sua missão foi inútil – rugiu Zeus – não vai ser uma espada que vai aliviar minha raiva, você mandou seus amigos para a morte por nada.

- Você os matou! – gritou Quíron – A culpa é sua! Se você não tivesse chagado aqui talvez não tivéssemos perdido dois ótimos campistas!

Foi quando eu voltei e eu estava novamente nos braços de Nico, todos ali pareciam alterados, Thalia estava tremendo, Percy estava arfando de olhos fechados, Ruth tinha uma lágrima escorrendo pelo rosto e a mão no peito. Nico estava com os braços tremendo e quase me derrubando, mas eu não ajudava, tinham lágrimas nos meus olhos e eu tremia muito.

Quando percebeu que ia me derrubar, Nico me pôs sentada em uma pedra. Ele se sentou no chão e pôs a cara entre os joelhos, Ruth se encostou-se a uma árvore e tocou uma folha, isso ajudava ela a se fortalecer, o contato com as plantas. Thalia se sentou no chão, pôs a mão na cabeça e olhou para o céu. Percy apenas se encostou em uma árvore ao lado de Ruth, pegou uma garrafa de água e jogou na cara dele.

Eu apenas deixei algumas lágrimas escaparem, meus olhos não saiam de Nico, depois de ouvir o que ele disse naquela visão eu me senti estranha, como se ele pensasse o que ele havia dito na visão.

Percebi que todos estavam alterados, pareciam ter ouvindo os tipos de coisa que eu tinha ouvido, Thalia se levantou ela já estava melhor.

- Deve ter sido algum espírito que diz o que mais tememos ouvir das pessoas, nos mostra o que mais tememos ouvir.

- Deve ser isso mesmo – disse Nico com a voz mesmo morta.

Nico olhou para mim com tanta angustia que eu me senti mal, será que eu disse algo na visão para ele que foi tão ruim assim?

- Que foi? – perguntei, já comentei que não tenho mais vergonha do Nico, de perguntar as coisas pra ele?

- Nada, só que ouvi você na minha visão, você disse... – ele parou de falar como se tivesse isso longe demais

- O que eu disse?

- Que você tem certeza que vai virar uma caçadora, para...

- Para o que? – eu já tava enlouquecendo, ele vivia insinuando essas coisas para mim

- Esquece – ele disse

Que bosta! Ele tem que ficar enrolando, às vezes eu sinto que ele só quer me deixar louca com essas coisas, em outras horas eu achava que para ele eu não passava de uma amiga que ele não queria que deixasse de ser amiga dele, em outras eu pensava, iludidamente, que ele gostava de mim do mesmo jeito que eu gostava dele.

Percy pegou algo do bolso e vi ele olhando uma foto de Annabeth que ele tinha no bolso, isso é que um namorado de verdade! Ele devia ter ouvido de Annabeth o tipo de coisa que ouvi de Nico na minha visão.

- Você ta legal? – perguntei sentando ao lado dele

- Estou, mas você não parece bem – ele apontou para as lágrimas no meu rosto – ouviu coisas ruins também?

- Ouvi, ouvi as coisas que eu mais temo das pessoas que eu menos queria ouvir isso – eu disse – ouvi de meu pai, Hera, Nico, Zeus e Quíron. – assumi

- Os meus não foram tão diferentes – ele disse – eu ouvi minha mãe dizer que ela e Paul estão muito felizes juntos e vão ter uma nova família – Paul era o padrasto dele – ouvi Poseidon dizer que eu não devia ter nascido e fui um grande erro dele, ouvi Annabeth dizer – ele fez uma pausa – que ela ainda pensa no Luke e que está comigo porque lembro muito ele, e algumas outras coisas de outras pessoas que não quero mencionar

Passei a mão no ombro dele, acho que ele tinha razão, éramos muito parecidos, tínhamos medo das mesmas coisas, várias características em comum, peguei na mão dele e disse:

- As coisas que eu ouvi foram no mesmo estilo, mas também ouvi de Zeus e Quíron que eu fracassei e que eu fui responsável por duas mortes.

Ele pegou no ombro, acho que passamos um tempão ali, um confortando o outro, sabendo que temíamos as mesmas coisas, depois de algum tempo Ruth decidiu se manifestar e disse:

- Temos que ir

- É verdade – concordou Nico se levantando – Vamos, não há tempo a perder.

Todos se levantaram e Nico me pôs no colo, mas eu sentia que ele estava muito cansado. Eu sussurrei no ouvido dele:

- Ta cansado?

- Um pouco- ele disse – é que depois de tudo o que vi e eu to de carregando o dia inteiro e ontem também, mas não tem problema, gosto de saber que posso fazer algo por você.

- Se você quiser eu posso levá-la – se ofereceu Percy – sou mais velho e mais forte.

Nico olhou para mim e eu percebi que ele não queria ceder, agora só resta eu descobrir se isso é porque ele está querendo me ajudar e me proteger ou se é o ridículo instinto masculino que os homens têm.

- Deixa eu ir – eu percebia que Nico estava cansado – Descanse um pouco, você está cansado.

Nico cedeu e me passou para o colo de Percy, mas deu para perceber uma coisa que eu sei que é loucura, mas me deixou até feliz, Percy me apertava menos do que o Nico, ele apenas me carregava, Nico me abrigava nos braços dele.

Depois de caminhar muito, quer dizer, eles caminharam e eu fui carregada, nós chegamos até a estrada, agora só temos que pensar em como vamos chegar a Las Vegas, ir andando não tem condição.

- O que faremos agora? – perguntou Thalia

- Pegamos carona? – sugeriu Ruth

- Não acho uma boa idéia – disse Percy

- Ele tem idéia, íamos nos meter em encrenca – concordei

- Mas não vamos poder ir andando e nosso carro está a 10 km daqui e está todo destroçado – disse Nico

- Nós temos que pedir carona – eu disse – eu sei que é arriscado, mas fazer o que?

- Que tal a gente pedir ajuda? – sugeriu Ruth – talvez os deuses no ajudem

- Acho difícil, mas temos que tentar – concordou Nico

Todos fecharam os olhos e oramos em silêncio, eu pedi ajuda a todos os deuses, não temos nada a perder, a não ser o tempo.

De repente uma grande limusine branca apareceu, Percy olhou com um meio sorriso, Nico fez a mesma coisa, Thalia fechou a cara e Ruth estava boiando como eu, de dentro da limusine saiu uma mulher linda, ela sorria para nós.

- Entrem na minha limusine – ela mandou e todos obedeceram, ela olhou para Percy – Já pode saltar ela querido, eu tenho que conversar com Maggie e creio que já está melhor.

Quando ela disse aquilo senti meus ossos melhores, eu não sentia mais dor, Percy me pôs no chão e foi para dentro na limusine com os outros. A mulher sorriu para mim bondosamente e disse:

- Olá Maggie, eu sou Afrodite

- Oi!

- Acho que sabe porque eu quero conversar com você.

- Não sei, desculpe

- Á uns 3 anos atrás eu tive quase a mesma conversa com Percy, à um tempão tenho observado você, sei do seu dilema atual.

- Ah, olhe, eu ainda não sei o que fazer, eu estou muito confusa, quer dizer, eu não sei o que vai ser de mim se eu recusar o chamado de Átemis, Nico pode simplesmente encontrar outra garota como ele já fez. – eu não sabia o porque, mas eu sentia que podia dizer essas coisas para a deusa

- Olhe, nós duas sabemos que você está realmente divida entre uma vida divertida e entre amigas de uma caçadora, ou viver uma paixão, mas Maggie, outra coisa que nós sabemos é que se você escolher o Nico TALVEZ você chegue a sofrer, mas se você for uma caçadora, vai sofrer muito no início, não pense que Nico te trocaria por qualquer uma.

- Como sabe disso?

- Sou a deusa do amor, eu sei das coisas – ela sorriu

- Obrigada, mas eu tenho muito medo.

- Não tenha, você não deve ter medo de não ser correspondida, você deve ter medo de continuar insegura desse jeito – Afrodite olhou para minhas roupas – Tem que usar roupas mais alegres, não esse moletom bege horroroso, devia usar roupas para conquistá-lo, se continuar assim ele vai pensar que é mais um dos amigos dele.

Eu não via nada demais no meu jeito de me vestir, veja bem, eu nunca olhei no espelho e me senti uma estrela, nunca me liguei na minha aparência, sempre me importei com continuar em uma escola por mais de um ano que nunca pensei em como me vestir.

Depois da nossa conversa, eu e Afrodite entramos na limusine, eu fiquei olhando, não consegui ver a cara do motorista, durante todo o trajeto eu pensei no que ela disse, desistir de um romance seria tão ruim assim? Eu iria sofrer muito?

Também pensei no fato dela ter criticado minhas roupas, o que eu posso fazer? Nunca tive uma presença feminina na minha vida, meu pai me criou para agüentar toda aquela pressão, ele era um artista, não podia pagar roupas legais de marca, e eu nunca reclamei disso, eu sempre respeitei o fato de meu pai trabalhar dia e noite para me alimentar.

Uma vez eu estava conversando com meu pai e ele me disse uma coisa, que pensando agora me deixa triste, com raiva e com vontade de desistir de tudo e voltar para o meu só para agradecê-lo por tudo.

FLASHBACK ON

Eu tinha acabado de ser expulsa de mais uma escola, peguei um ônibus para Chicago e lá estava meu pai, eu devia ter uns 10 anos, saí correndo e pulei nos braços dele, ele me ergueu do chão e me girou no ar, ela parecia tão feliz pó me ver que tinha vergonha de ter sido expulsa.

Ele me levou até o carro dele, quando entramos no carro ele entrou na estrada, estávamos indo para Miami, como sempre, olhei para ele e fiquei tão feliz de ver meu pai. O nome do meu pai é Lucca Stwart, ele sempre está do meu lado.

Durante a viagem fizemos planos para passeios que poderíamos fazer, meu pai economizava o mês inteiro para viajar comigo nas férias, olhei para meu pai e ele estava sorrindo, sabe, meu pai nunca se zanga com essas coisas que eu faço, ele sempre olha para mim como se eu fosse a vítima de tudo isso.

- Pai – comecei um assunto que me intrigou o ano inteiro – por que eu nunca vi a minha mãe?

- Porque a sua mãe não podia aparecer para você querida – ele disse docilmente

- Ela me abandonou? – perguntei

- Quando a sua mãe teve você ela chegou na minha porta com você nos braços dela, fazia uns 6 meses que eu não via ela, ela me disse que tinha tido você, e que não podia criar você, de início eu disse a ela que não podia criar uma criança, mas ela pediu que eu tentasse. Eu tentei e não me arrependo. – ele sorriu

- Porque ela não me procurou?

- Ela não podia filha, ela queria, mas não podia.

- Não entendo – reclamei

- Um dia,você vai entender – ele passou a mão no meu rosto, quando ele fazia isso eu sabia, questão encerrada

FLASHBACK OFF