Detenção escrita por biazacha


Capítulo 6
Brinde de Milk-Shake


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!!

Passando aqui com o cap semanal... esses dias estava revendo Frozen Fever - que nem saiu nos cinemas ainda, um viva a ilegalidade - e fiquei meio feliz porque quando a Anna diz pra Elsa que é um presente poder cuidar dela meio que casa com a Elsa daqui, que acha que pode fazer tudo perfeito sozinha... odeio quando a personalidade dos personagens muda sabe? :/

E queria agradecer DO FUNDO DO CORAÇÃO o apoio de vocês. Sério, nunca escrevi nada colegial assim e confesso que estava meio nervosa.... mas em cinco caps, Detenção tem cinco favoritos e leitores novos aparecendo nos reviews - vocês não tem noção de como fico feliz com carinho e de como me divirto respondendo aos surtos.

Bom a opinião ficou meio dividida.... tinha gente torcendo por mais treta e tinha gente torcendo por bandeira branca. Acho que no fim das contas ficou um meio-a-meio, espero que todo mundo goste!!!

Boa Leitura!



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O caminhar de uma pessoa dizia muito sobre ela na opinião de Elsa. Ela costumava dar passadas firmes e fluídas com uma postura impecável; Mavis, Anna e Rapunzel davam pulinhos alegres como as princesas em filmes. Merida e Astrid davam passos pesados e decididos.

Mas Jack.... Jack deslizava, livre e indomável.

O que na prática tornava complicado persegui-lo, ainda mais quando ele se esforçava para não ser seguido. Normalmente ela teria deixado boa parte daquelas coisas que levava em seu armário, mas com a pressa apenas enfiou tudo na bolsa e agora tinha que lidar com o peso enquanto corria, suas sapatilhas com saltinhos totalmente impróprias para algo assim fazendo seus pés protestarem com pontadas doloridas.

O colégio nada mais era que um casarão, praticamente um pequeno castelo, com mais de dois séculos de idade. Pouquíssimas reformas foram feitas para adaptação como no caso dos laboratórios - de resto era a arquitetura original.

Pisos de madeira ou mármore, nos quais seus passos ecoavam consideravelmente ao passar correndo.

Foi com alívio que ela viu o garoto ignorar o estacionamento; até onde sabia Jack possuía um carro e se ele entrasse nele jamais o alcançaria. No lugar disso ele atravessou a rua e continuou andando, gradualmente diminuindo a velocidade.

Elsa se sentiu em um filme de suspense barato, perseguindo uma pessoa enquanto se mantinha semiescondida em fachadas de lojas e árvores nas calçadas. Não podia negar que tinha sua dose de adrenalina fazer aquilo, mas no momento estava preocupada demais com o garoto para pensar muito sobre o assunto. Jack continuava cabisbaixo.

As pessoas eram discretas, mas conforme pesquisava as fraquezas do “inimigo” não conseguiu evitar relatos sobre a situação espinhosa de sua família. Seus pais estavam em vias de se separarem, mas não moravam com o garoto desde que ele entrara no colegial; não era uma questão de praticidade nem nada, eles não se viam ou se falavam.

O motivo? Ninguém sabia ou simplesmente não contaram para ela.

Porém com sua irmã mais nova era diferente. Ela tinha oito anos e até onde tinham lhe falado, ambos se davam muito bem. Porém com a separação as chances de ela ficar com a mãe eram grandes... e as chances da mulher voltar para o país de origem, Suíça, também.

Mas é claro que seus planos não envolviam Jack; então ele ficaria aqui com um pai que não fala com ele e longe do único parente que ainda o trata como tal.

No fundo, ela sempre soube que aquela era uma péssima ideia porque além de não ser da sua conta, era uma história sem dúvidas triste demais.

O que Jack teria feito para ser silenciosamente deserdado dessa forma?

Refletindo e andando no automático, ela perdeu a noção do quanto se afastaram da escola. Deu consigo em uma vizinhança que desconhecia, mas que parecia familiar ao jovem alguns metros adiante, pois ele já andava tranquilamente, com o capuz abaixado e, para o alívio dela, a cabeça erguida.

Era um bairro de classe média com diversos conjuntos de apartamentos e restaurantes comuns, como delivery chinês ou pizzaria. Nada como os lugares que frequentava; no geral eles tinham fachadas elaboradas e clientela selecionada – ali eram lugares com placas sem graça ou letreiros de neon, os prédios ao redor sem varandas ou portaria.

Não deprimente ou sujo, apenas um cenário diferente do qual estava habituada. Ela não discriminava pessoas por sua renda, tinha plena consciência de que dinheiro não definia caráter, educação ou coração.

E reparando no entorno, por pouco não perdeu o garoto de vista; ele desceu uma escadinha mínima para o subsolo e entrou em uma portinha verde de metal. Se estivesse sozinha sem dúvidas teria passado reto pelo local, que mais parecia um depósito do que um estabelecimento.

Por um leve instante de horror se perguntou se ele morava ali; mas então se lembrou que as informações eram sobre um endereço no mesmo condomínio de Hans.

Talvez todos os garotos que ela detestava morassem ali.

Parou e encarou a entrada por cinco minutos; em parte porque não queria entrar logo após ele, em parte porque estava começando a se achar meio doida de ter ido até ali atrás dele sem uma estratégia bolada na cabeça.

Iria dizer o quê? Que sentia muito, que sabia que havia cruzado um limite que não deveria? Admitir que talvez Jack Frost fosse mais do que ela conseguia lidar de modo racional?

Uma moto passou correndo e o barulho a assustou; lembrou-se que estava parada no meio da rua, sozinha, em uma parte da cidade que desconhecia. Então respirou fundo e entrou.

O lugar não era nada do que ela esperava; tratava-se de uma lanchonete retrô, daquelas que parecem saídas de um filme jovem da década de 50 ou 60. Cheio de curvas, tons pastéis e simpáticos bancos de couro.

Algumas pessoas estavam nas mesas em grupos, rindo com vistosos e enormes sanduíches em sua frente. De modo quase inacreditável, muitos ali eram rostos conhecidos de seu colégio e se estavam dispostos a andar até ali a comida deveria ser boa – foi pega de surpresa por Merida acenando do balcão com muitas fritas na boca.

Respondendo discretamente com um sorriso amarelo, correu os olhos pelo lugar procurando Jack. Ele estava debruçado em uma das últimas mesas, mexendo um milk-shake com um ar distante.

Passou as mãos pela roupa, desalinhada depois da corrida e foi até a mesa dele; por um momento pensou em sentar a sua frente, mas tinha medo que o garoto levantasse e saísse, então se acomodou ao seu lado.

E foi só nesse momento que ele reparou nela ali; primeiro estava claramente chocado, depois confuso e por fim virou a cara emburrado. Ela mordeu o lábio; não esperava uma recepção amistosa, mas não tinha planejado como começar aquela conversa – resolveu ir pelo mais simples e se desculpar de uma vez.

–Olha Jack, eu...

–Sério mesmo Princesa? Já não te ocorreu que nem todo mundo aprecia sua ilustre presença? – ela piscou chocada; aquilo seria pior do que pensava.

–Eu vim me desculpar. – se apressou em dizer, cuidando para manter o tom baixo. Se qualquer um daqueles alunos saísse comentando aquilo, teria problemas com o Diretor – Eu fui extremamente indelicada com você.

–Indelicada? – riu ele sem um pingo de humor – Você foi mais que isso, você foi... – começou ele, mas então parou.

–Fui o quê?! – Elsa exigiu saber, sentindo as mãos tremerem de raiva.

–Não importa, só me deixa em paz.

–Deixar em paz? Frost, meu trabalho é...

–Humilhar? Se meter no que não te diz respeito? Usar o meio que achar necessário para manter a pose? – para cada colocação dele a garota sentia um tapa em seu ego; ela tinha sim passado dos limites, mas assim que o fez se sentiu culpada. Porém com Jack Frost nunca era tão simples.

–Isso é tudo culpa sua! – soltou ela antes que pudesse se conter.

–O quê??!

–Não grite Frost. – pediu ela em sussurros.

–Não gritar? Claro vamos aqui manter a classe enquanto você diz que é minha culpa por você ter resolvido se meter na minha vida pessoal.

–É sua culpa por me fazer chegar nesse ponto. – rebateu com frieza.

–O quê? Sou demais pra você lidar? – mesmo naquela situação ele já estava segurando o riso, mas ela não cairia naquela provocação; só de pensar que há cinco minutos atrás estava preocupada com o garoto triste ela já se sentia idiota. Muito idiota.

–O problema é que você já me deu tanto trabalhos esses anos todos que... virou pessoal.

–Está se vingando? A Princesa de Gelo tem esse tipo de pensamento mesquinho?

–Viu, é isso tipo de coisa que torna tão difícil para mim te tratar como os outros.

–Só porque te chamei de mesquinha? – dessa vez ele realmente riu e ela apertou os punhos embaixo da mesa.

–Eu tenho um nome pra começo de conversa.- chiou a garota.

–Ok, Elsinha. – ele sorriu e ela congelou.

–Não ouse...

–Mavis te chama assim. – murmurou ele de modo casual.

–Ela me conhece há anos. – replicou com dureza

–Olha só que bacana, eu também Elsinha. – ele abriu um sorriso luminoso.

–Frost...

–Jack. – ela suspirou e o olhou feio.

–É melhor parar com isso Jackzinho. – ele ergueu as sobrancelhas.

–Ou o quê Elsinha?

Eles se olharam intensamente por alguns momentos e o garoto desatou a rir até lágrimas se acumularem nos cantos de seus olhos. Chocada, ela abriu a boca para reclamar, mas não sabia bem o que dizer; pelo canto do olho pode perceber que eles começavam a atrair a atenção de outras pessoas do colégio, que cochichavam e olhavam disfarçadamente.

–Para de fazer tanto barulho, isso não tem graça.

–Tem sim Elsinha.

–Elsa.

–Elsinha.

–Princesa de Gelo, que seja.- concordou derrotada.

–Elsinha... Frost. – com aquilo ela quase caiu do banco; no fundo sabia que assim que deixasse ele chama-la de Princesa o garoto instantaneamente ia caçar algo pior, mas aquilo era demais.

–Qual o seu problema?!

–Qualé, os professores sempre nos acharam um casal bonitinho.

–Quando a gente tinha nove anos. – murmurou gélida. Sua expressão devia estar bem ruim, porque ele se endireitou e desfez o sorriso.

–Tudo bem, vamos voltar pra parte em que diz que seu golpe baixo em mim foi minha culpa. O que me torna um masoquista.

–Eu já pedi...

–Não estou mais bravo. – ele disse aquilo de modo relaxado, mas ela pôde ver em seus olhos que não era inteiramente verdade – Não quando você é a nova Sra. Frost. – ela suspirou e o encarou emburrada.

–É por isso que é difícil pra mim; você sempre fez questão de deixar tudo tão difícil... quando penso nas coisas que fez esse ano, lembro de mais de uma década de “brincadeiras” que em boa parte das vezes eu tinha que correr para concertar. No momento em que falei aquilo pra você na sala me arrependi, mas... é difícil.

Eles ficaram um tempo em silêncio; um homem baixinho trouxe um milk-shake para ela e Jack agradeceu com um aceno. Ao olhar para ele de modo questionador, o garoto a encarou de volta – se não bebesse, sabia que uma nova discussão besta começaria.

Era chocolate com avelã, seu favorito. Só não tinha ideia de como ele sabia disso.

–Quero propor um trato. – disse Jack subitamente.

–Que tipo de trato? – perguntou ela desconfiada.

–Eu e você... o confronto final. – respondeu com um ar confiante.

–Isso não tem graça. – respondeu a menina sem olhar o outro nos olhos; estava ocupada se sentindo envergonhada por ter pensado que o “Eu e você” significava uma coisa completamente diferente do que brigas e mais brigas. Estava aliviada pelo erro, mas ainda assim constrangida.

–Eu falo sério. – insistiu ele – Ano que vem será o último. Quer mesmo levar mágoas de alguém por causa de brincadeiras infantis? Eu não quero, então vou deixar você falar o quanto quiser. Pode desenterrar todas as histórias, todos os problemas que causei, pesquise se quiser, traga antigos colegas pra me acusar... passe livre para tudo.

–Menos sua vida pessoal. – murmurou ela.

–Menos minha vida pessoal. – concordou ele – Pode levar o tempo que quiser, essa próxima semana, as outras, se viajar te espero voltar... você tem até o fim das férias pra me fazer sentir remorso por todas as coisas que já fiz na escola. Aí vai ouvir o pedido de desculpas mais sincero da sua vida.

Ele ficou em silêncio e a menina refletiu sobre o assunto. Era sem dúvidas uma oportunidade única; depois de anos dando broncas nele e vendo o garoto ignorar cada uma delas, poderia falar tudo que quisesse e ele não poderia dar as costas e sair andando – além de tudo, ganharia semanas a mais para lidar com ele.

Na verdade, era até bom demais pra ser verdade.

Quando voltou para realidade se deu conta de que estava encarando os lábios dele enquanto Jack tomava sua própria bebida; voltando rapidamente sua atenção para seu milk-shake, perguntou:

–Um trato prevê um saldo positivo para ambas as partes. O que exatamente você ganha com isso?

–Me tornar uma pessoa melhor? – respondeu ele com um sorriso endiabrado no rosto.

Era óbvio que ali tinha coisa, mas ela não seria pega tão facilmente. Aquela era uma chance única e não se perdoaria se deixasse passar por medo das intenções dele. Conviveu com Jack a maior parte de sua vida, conseguia prever suas bobagens.

–Ok, temos um trato. – concordou ela.

–A partir da semana que vem, sou seu as férias inteiras. – disse ele, erguendo seu copo.

Mesmo incomodada com esse “sou seu”, ela ergueu seu próprio milk-shake e eles brindaram. Uma cena no mínimo estranha.

Ambos beberam rápido e em silêncio, acabando quase ao mesmo tempo. Quando foram para o caixa, ela se atrapalhou com a quantidade de coisas em sua bolsa e Merida entrou na fila entre eles o que de certa forma deixou Elsa meio aliviada; se voltassem para o colégio juntos acabariam brigando de novo.

Quando ele terminou e se virou para ir embora, ficou levemente surpreso de ver ela na fila.

–Eu paguei o nosso. – disse ele.

–Me fala quanto ficou o meu. – respondeu a menina, abrindo sua carteira.

–Para com isso, não vou cobrar. – comentou num tom ofendido – Não da minha Elsinha Frost pelo menos. – ela revirou os olhos.

–Então até semana que vem Jackzinho. – ele riu e se foi.

Ela olhou para frente e deu de cara com Merida, com um sorriso sugestivo e as sobrancelhas erguidas.

–Não é o que você está pensando. – se apressou em dizer.

–Claro que não. – concordou a ruiva.

–Eu falo sério! – replicou em pânico.

–Calma... o que rola depois da orientação, fica depois da orientação. – riu a menina – Aliás já vi Jack aqui várias vezes, mas acho que você nunca.

–Nem sabia que essa lanchonete existia até hoje – confessou.

–Então não sabe voltar pra escola? – a expressão de Elsa deve ter sido resposta o suficiente, porque a outra começou a rir – Vamos nessa Elsinha Frost.

–Não começa! – replicou, embora um sorriso tímido se formasse nos cantos de seus lábios.


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Notas finais do capítulo

Peguei como meta de vida atormentar a Elsa.... digo, a Elsinha Frost. XD

Se tiver qualquer errinho ou algo assim me avisem viu?


Beijos!! (*--*)//