My Little Runner escrita por Angie


Capítulo 8
Noite com os verdugos.


Notas iniciais do capítulo

Olá novamente



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Todos ficaram observando enquanto levavam Teresa para o amansador. Depois de muitos protestos Thomas finalmente cedeu e parou de discutir com Alby. A expressão triste em seu rosto quase fez Camille sentir pena.

Mesmo sendo difícil de acreditar, uma escuridão mais sombria ainda envolveu toda a fazenda, anunciando a noite que chegava.

Não demorou para que os outros clareanos percebessem a verdade, que as portas não se fechariam. Que a única coisa que os protegia dos verdugos não iria mais fazê-lo.

Alby e Newt deram uma tarefa a todos os encarregados e estes repassaram para seus devidos grupos.

–Eu quero que todos me escutem bem. -Minho fez uma pausa e olhou para cada um dos corredores.- Em nenhum momento dos últimos dois anos tivemos um dia parecido com este. Eu sei que parece loucura e sei que estão com medo. Mas somos os corredores, aqueles que se arriscam todos os dias lá fora. -Ele fez um gesto apontando para o labirinto.- Somos o exemplo. Aqui não tem lugar para covardes. Precisamos ser os mais calmos agora; então vamos cooperar. Daqui a uma hora quero todos vocês na Sede; enquanto isso arrecadem o maior número de armas, lanternas, suprimentos e cobertores que encontrarem. Entenderam?

Eles, incluindo Camille, assentiram e se puseram a cumprir a ordem.

–Belo discurso. -Ela comentou enquanto carregavam algumas armas para a Sede.

–Precisavam ouvir isso. Não podemos nos render ao pânico.

–Acha que eles virão? Quer dizer, os verdugos... realmente?

Minho a olhou enquanto ela enchia os ombros com aljavas de flechas.

–Queria poder te tranquilizar. -Murmurou.

–Se te faz se sentir melhor, estar com você já é bem tranquilizador. -Camille lançou-lhe um sorriso tímido.

–É bom ouvir isso. -Suspirou.

A garota observava os construtores tentando fazer uma barreira com os poucos materiais que tinham.

–Isso nunca vai dar certo. -Minho disse, acompanhando o olhar dela.

–Vamos conseguir. -Ela respondeu. -Precisamos conseguir.

–Ou isso ou morrer tentando.

Ela assentiu, sem nenhuma animação, e pegou uma caixa com os arcos, ajeitou as aljavas e se endireitou de pé.

–Vou levar isso para dentro. Depois... acho que vou pegar umas lanternas.

Ele concordou com um movimento de cabeça e ela saiu.

A hora passou rápida, logo todos estavam na Sede. Foi um pouco difícil conseguirem acomodar todos juntos ali, ficando com um aspecto apertado. Até porque a maioria dormia ao ar livre. Mas por fim todos encontraram um cantinho.

Camille ainda passava por eles distribuindo algumas das lanternas que restaram. Eles apenas a agradeciam com murmúrios ou um aceno de cabeça. As poucas conversas também não passavam disso, como se ninguém quisesse chamar atenção para si.

Depois de terminar a entrega, subiu as escadas lentamente que levavam para o andar superior. Antes de entrar no quarto Alby passou rápido como um furacão por ela. Tanto que a garota quase caía das escadas.O líder nem sequer a olhou.

Entrou no cômodo encontrando Newt, que ocupava a única cama, Thomas e Minho, esparramados em cadeiras.

–O que deu nele? -perguntou, a confusão estampada em sua face. - Alby passou por mim como se precisasse correr para salvar a pátria.

–Ele deve achar que vai mesmo. -Minho colocou as mãos atrás da cabeça.

–Alby quer estudar os mapas. -Thomas explicou.

–Agora!?- ela arregalou os olhos. -Ele quer sair da Sede agora? De quem foi essa ideia brilhante? -Ironizou.

–Ele está estranho desde que foi picado. -Newt murmurou.- Agora deu um surto de coragem.

–Ou burrice. -Minho bocejou.

Era estranho como o sono vinha mesmo que não parecesse que as horas passavam.

–Ta legal trolhos, hora de dormir. -Newt concluiu.

Minho se levantou e jogou um braço por cima dos ombros de Camille.

–Até amanhã seus mértilas. Sonhem com os verdugos.- ele riu enquanto iam buscar cobertores e travesseiros.

Thomas e Newt permaneceram no mesmo quarto de antes junto com mais alguns clareanos. Ela e Minho foram parar em outro aposento do andar superior.

Ao entrar nele Camille se deparou com Chuck encolhido em um canto, a tristeza nos olhos do garoto fez o coração mole dela falar mais alto. Andou até ele e se agachou.

–Ei amigão. -Chamou, tentando dar um sorriso animador. -Que cara é essa?

–A única que eu tenho. -ele resmungou.

Ela levantou os braços e já ia sair.

–Ei, espere. Desculpe... -murmurou- É só que... Isso é tudo muito confuso.

Ela suspirou e colocou uma mão em seu ombro.

–Para mim também é, acredite.

–Será que um dia vamos sair daqui? -A desesperança que ela viu nos olhos dele era de comover qualquer um.

–Vai dar tudo certo. Viva um dia de cada vez, combinado?

Ele assentiu com a cabeça.

–Obrigado. -Murmurou.

As horas se arrastavam lentamente.

–Está acordado?- Camille sussurrou, se deitando de lado.

–Estou. -Minho respondeu no mesmo tom sussurrante. -É meio complicado dormir sabendo que um bando de animais mecânicos podem te matar durante o sono.

Ele estava estirado no grosso cobertor, um dos braços acima da cabeça e o outro jogado ao lado do corpo.

Não disseram nada por um bom tempo.

–Você já dormiu?- Ele perguntou depois de uns 30 minutos.

–Ainda não... Posso imaginar os roucos rangidos dos verdugos se aproximando.

–Sabe-se lá a hora que vão chegar... Só sabemos que vão.

Os murmúrios deles eram os únicos mínimos sons no quarto. Camille tocou com a mão esquerda os objetos ao lado deles. Passou de leve os dedos pela pate lisa da faca e depois segurou firmemente a lanterna para logo após soltá-la. Tateou no escuro a procura da mão de Minho e, quando a "achou", entrelaçou seus dedos. Como se de alguma forma aquilo pudesse acalmar seu coração ansioso.

A expectativa dos clareanos sobre o que poderia acontecer criava uma enorme camada de medo sufocante. O que mais os incomodava era a espera, era saber que a qualquer minuto poderiam estar em uma luta mortal contra um verdugo. Era insuportável e amedrontador. Os lamentos dos monstros mecânicos iam se aproximando e aumentando a medida que a noite avançava.

Balbuciaram mais algumas palavras antes de, enfim, pegarem no sono.

Sono este que não durou muito tempo. Eram mais ou menos duas horas da manhã quando tudo mudou.

Um fulgor mecanizado de máquinas em movimento elevou-se do lado de fora, seguido pelos familiares estalidos de um verdugo rolando sobre o chão de pedra, como se alguém tivesse espalhado um punhado de pregos.

Todos já haviam levantado num pulo. Ninguém ousava fazer um barulho chamativo. Os olhos arregalavam-se de pavor cada vez que ouviam os barulhos, como motores guinchando. Os dedos de Camille doeram de tanto que apertaram os de Minho quando escutou os ferrões metálicos se chocando contra os muros de pedra da Sede.

–Deve haver uns três deles lá fora... no mínimo! -Ela sussurrou.

Ninguém a respondeu, o pânico crescente. Parecia que um dos verdugos se aproximava da casa, mas devido a onde o som ia, deduziram que não seria em direção ao quarto deles.

O prédio inteiro estremeceu quando o verdugo começou a escalar, os ferrões de metal enterrando-se nas laterais de madeira da Sede.

–Droga.- Minho sussurrou.- Acho que a coisa está indo na direção de uns dois quartos depois do nosso.

–Mas esse não é o em que o Thomas e Newt estão?- Chuck perguntou nervoso.

–Que sorte desgraçada! - Minho ralhou e saiu a passos decididos pela porta.

–Ei, espera aí!- Camille meio que tentou gritar sussurrando.

Os clareanos foram atrás dele, ficando agora no corredor.

Foi quando um barulho forte chamou a atenção deles. Alguém havia aberto a porta da Sede. Nota-se: Arrebentando-a.

Um garoto passou rapidamente; subiu as escadas correndo, provocando um tumulto e parou no corredor, os olhos cravados nos presentes ali.

Ele era loiro e forte, os olhos estavam arregalados, as roupas aos farrapos, parecia totalmente fora de si.

Gritos de exclamações e surpresa foram ouvidos.

–Gally! Como veio parar aqui seu mértila!?- Minho gritou por cima do barulho. -Pensamos que estivesse morto.

–Gally? O cara desaparecido?- Camille perguntou confusa.

–Vocês não entendem!- A voz dele saia esganiçada. -Não entendem nada! Está tudo acabado!

–Que droga você está falando!?

–Cala a boca Minho, você é só um idiota que não entende!- Berrou. Após a afirmação, Gally correu em direção a um dos quartos, fazendo quem quer que estivesse a sua frente cair. Winston quase esmagou Camille ao tombar em cima dela.

Um tumulto maior ainda foi formado, quando finalmente conseguiram chegar a porta do quarto em que Gally fora viram uma cena aterrorizante. Um verdugo tentava entrar no aposento e metade do seu corpo já pulsava dentro dele, os braços metálicos com pinças agitados tentando agarrar alguma coisa em todas as direções. As tábuas da janela e o vidro estavam espalhados pelo chão, explodido em um milhão de pedacinhos. Newt estava estirado na cama, sangue manchando o lençol. Antes que pudessem fazer qualquer coisa Gally se lançou contra o verdugo; Thomas gritou e, rápido como um raio, o verdugo agarrou Gally, produzindo um som horrível de esmagamento. Depois, na mesma velocidade, o monstro mecânico recuou e desceu até o chão da fazenda. A coisa rolou até a porta Oeste, desaparecendo no labirinto. Segundos depois os outros verdugos correram, isto é, rolaram atrás do companheiro.

Camille só percebeu que Minho não estava mais lá quando Thomas, que olhou pelo que antes era uma janela, gritou.

–Minho, seu idiota! Volte..

Mas ela não ficou para ouvir o resto, desceu a toda velocidade e correu o mais rápido que pôde. Mas já era tarde, o garoto já havia entrado no labirinto.

Ela bem tentou segui-lo mas dois clareanos a seguraram, ela se debateu em vão. Fechou a cara.

–Aquele, aquele... argh! Garoto estúpido!- E saiu a passos firmes para um canto qualquer.

Passou algum tempo, o caus instalado na clareira. Ela vira Newt, que havia se recuperado, falando com Thomas em frente a porta Oeste. Ele segurava um pano na cabeça para estancar o sangue do ferimento. Provavelmente deveriam estar preocupados com Minho. Depois de alguns minutos, ela ficou andando em círculos, os braços cruzados e uma expressão de raiva.

–Estúpido, estúpido, estúpido!- Ela repetia sem parar.

–Espero que não esteja falando de mim.

A garota se virou de vez ao ouvir a voz de Minho.

–Você.- Apontou um dedo para ele- Você é o trolho mais idiota, mertilento, irresponsável..

–Êee... eu já entendi. -Ele levantou os braços em sinal de paz. -Não precisa disso tudo.

–Não precisa!?- Ela o olhou incrédula. -Você acaba de correr atrás de um bando de verdugos quando deveria fazer o contrário; você entra em um labirinto escuro e cheio de monstros mecânicos e sem contar que não diz nada! Só sai desgovernado! Pensei que quisesse se matar dando uma de herói.

–Calma ai, eu só queria ver para onde os verdugos iam, ter certeza se era o penhasco.

–E...?

Ele deu de ombros. -Na mosca.

Ela suspirou. -Só não faça mais isso!

Minho revirou os olhos. -Eu sei me cuidar.

–Ah, aposto que sabe. -Ela murmurou.

–A babá era eu, lembra?

Camille o olhou de esguelha.

–Aham, claro.

–Por que? Ficou preocupada? - Os cantos dos lábios erguidos ligeiramente.

–O que você acha!? E vai logo tirando esse sorrisinho da cara!

Minho gargalhou e a puxou para um beijo.

–Não tente me comprar com beijos, ainda estou com raiva! -Camille disse se debatendo.

Ele já ia responder quando algo chamou-lhes a atenção. Fumaça vinha da casa dos mapas. Se entreolharam e correram para ver do que se tratava.

Um amontoado de clareanos estava em volta da construção, o fogo havia sido apagado porém já era tarde demais, todos os mapas haviam sido queimados. Newt estava ajoelhado ao lado de alguém, estirado no chão e desacordado. Um ferimento grave na cabeça. Logo perceberam que era Alby.


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Notas finais do capítulo

E então? Foi curto mas eu estava com um pouco de pressa... Beijo!