My Little Runner escrita por Angie


Capítulo 5
Quase mortos e... beijo!?


Notas iniciais do capítulo

Gente do céu! Que emoção! Finalmente arranjei tempo de postar, ainda estou viajando mas consegui vir aqui, e esse capítulo ta bem grande :3
Obrigada, muitíssimo obrigada mesmo àqueles que favoritaram e também aos que comentam, fico super feliz, de verdade. Enfim, até lá em baixo ;)



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A manhã veio tranquila na clareira. Um galo cantou no sangradouro quando os raios de Sol começaram a aparecer tímidos, anunciando o começo de mais um dia.

Os clareanos já estavam acordando. Camille sentou-se em seu saco de dormir e esticou os braços se espreguiçando. Passou a mão nos olhos para se libertar do torpor que o sono causava e bocejou ainda um pouco sonolenta. Esperou alguns segundos naquela posição antes de tomar coragem e se levantar de uma vez. Calçou os coturnos, pegou sua mochila- esta, que ficava sempre do seu lado- e seguiu em direção ao banheiro.

Fez sua higiene matinal, escovou os dentes, penteou os cabelos e se recostou na pia, em frente ao pequeno espelhinho que lá havia. Suspirou e sorriu. Guardou as coisas que usara na mochila; ela lhe viera bem a calhar, com coisas que muito provavelmente, ou melhor, certamente não encontraria ali. Coisas de mulher. Inclusive uma escova de dentes novinha. Agradeceu à Deus por isso, seria um horror não poder escovar os dentes. Poderia estar com garotos, mas se os criadores acham que ela vai ceder e começar a ser porca eles estavam muito enganados. Mas pensando bem, até que eles não eram sujos... Mesmo assim.

Ela riu sozinha com os pensamentos.

Saiu do banheiro e, ao andar um pouco, deu de cara com Newt.

–Bom dia trolho. - disse sorrindo.

–Ah, quem diria! Usando a gíria da clareira? Essa é nova. -ele retribuiu o sorriso.

–Pois é, tenho que tomar cuidado. Daqui a pouco vou começar a falar igual a vocês.

–Não seria uma ideia tão ruim assim.

Ela arqueou uma sobrancelha.

–Fala sério, ia ser ridículo.

Newt riu. -É... ia mesmo. Mas e você, por que esse sorriso bobo na cara?

–Ué, por nada ora. Só estou feliz.

–Viu o passarinho verde foi?

–Pode-se dizer que sim.

Ela sorriu se lembrando da noite anterior, em que ficara conversando com Minho até adormecer. Balançou a cabeça, tinha que tirar esses pensamentos da mente. Afinal, o Thomas também estava lá...

Mas ele acabou dormindo e depois eu e o Minho ficamos conversando, e ele tinha um sorriso tão lindo quando contava uma piada ou fazia uma brincadeira.... Pensou. Meu Deus Camille! Que besteira é essa, o que ta acontecendo comigo ein?

–An... Você ta bem?- Newt perguntou com uma sobrancelha arqueada, a tirando de seus devaneios.

–O quê? Ah, to, to bem sim. Por quê?

–Sei lá. Você ficou ai fazendo umas caretas estranhas enquanto pensava.

–Ah.- ela ficou vermelha. -Não é nada; só estou feliz porque hoje finalmente foi uma manhã normal. Sem a "babá" no meu pé logo cedo. E sem ter que ficar no chão duro do amansador.

É. É por isso que estou feliz. Só por isso.

–Hum... Ta legal... -Newt estreitou os olhos, desconfiado. - Mas vamos logo comer a gororoba do Caçarola, to com uma fome tão grande que poderia comer até a grama.

–Isso é que é apetite...

–Ta... Posso ter exagerado um pouquinho... Mas ainda estou faminto!

–Por que será que eu não me surpreendo?

–Vai saber. A maioria dos trolhos daqui come por um batalhão!

–Aham, e você faz parte desses trolhos, certo? -ela sorriu.

–Ele abriu um sorriso de orelha a orelha.

–Claro.

Ela bufou. -Vamos logo que essa conversa também já está me dando fome.

***

Em um dos cantos da fazenda, comendo sanduíches, estava Alby e Minho. Os dois conversavam, sem nenhuma animação aparente, sobre as coisas da clareira.

–E a garota em coma, alguma novidade?

Alby bufou. -Nada. Ela fala algumas besteiras enquanto dorme e os socorristas anotam e me passam... Mas nada que indique quem é ela ou o que veio fazer aqui.

Minho assentiu. -O Thomas devia ir vê-la depois. Ela chamou a ele então... sei lá, vai que ele se lembra de algo.

–É, pode ser... Mas por hora vamos deixar como está. E quanto a garota do labirinto?

–A Cammie? Bom, até agora não tem nada suspeito. - ele terminou seu sanduíche e limpou a mão na calça. -Pelo que me parece, ela não mentiu sobre nada.

Alby assentiu, refletindo.

–Mesmo assim vamos ficar de olho nela. Não acho coincidência que ela tenha vindo para cá... Alguma coisa os criadores querem com isso. -fez-se uma pausa. -Falando na garota, olha lá. -Apontou para uma mesa ao longe, onde Camille e Newt se encontravam rindo e conversando.- Parece que ela está fazendo amigos.

–É...parece.- Minho respondeu, sem tirar os olhos dos dois que estavam distantes. Não se sabe ao certo quanto tempo se passou com ele os encarando pois Alby teve que bater as mãos espalmadas uma nas outras na frente do rosto do amigo.

–Alô! Terra chamando Minho!

–Oi? Que foi?

–Você tava ai parado igual um idiota, com uma carranca. Parece até que comeu o molho apimentado do Caçarola.

Minho bufou.

–Não é nada, esquece. Tenho que ir. -E se levantou sem dar mais nenhuma explicação.

***

–Ei, mas isso foi rou- Camille não terminou de falar, pois um pigarro interrompeu-lhes. Era Minho, com uma cara séria, vindo ao encontro dela e de Newt. -Olá, babá. -Ela sorriu. Porém ele não retribuiu o sorriso.

–Eai, se divertindo?

–Ah sim, estávamos fazendo um jogo. Mas eu estou ganhando, é claro.- Newt respondeu triunfante.

–Ei! Mas não vale. Você está roubando!

–Não to não!

–Odeio interromper- Minho começou, não achando graça. -Mas por acaso sabe que horas são Camille?

–Sem o Cammie hoje?

–Pois é. Não acha que já está na hora de ir se preparar para a corrida não?

Ela franziu o cenho.

–Não, ainda faltam alguns minutos.

–É, mas hoje quero sair sem atrasos. Então faça o favor de ir se alongar. A não ser que queira ficar na clareira hoje o dia todo. Eu peço rapidinho para o Chuck te ensinar a limpar a fazenda.

–O que deu em você ein? - ela revirou os olhos. -Não se preocupe oh grande senhor Minho, eu sei o horário. -ela se levantou. -Tchau Newt, espero que consiga domar a fera ai.

Newt apenas fez um movimento com a cabeça. E quando ela e afastou ele se permitiu rir.

–Qual a graça?

–Nada cara, fica calmo. Vocês estão ao contrário hoje, ein.

–Como assim? -Minho franziu o cenho.

–Ela acordou bem feliz e você... bom, feliz não é a palavra certa para te descrever.

–Ah sim, eu percebi a felicidade dela.

Newt estava com um sorrisinho suspeito no rosto.

–Parece que vocês estão se dando bem. -Minho comentou casualmente, escondendo a curiosidade.

Newt voltou a rir e Minho o olhou totalmente irritado.

–O que foi, eu tenho cara de palhaço para você ficar rindo desse jeito?

–Ah não, relaxa. Eu não vou roubar sua garota.

Minho arqueou as sobrancelhas. -Minha garota? Que história é essa?

–Eu que deveria estar te perguntando, não acha? Fala sério, você gostou dela.

–Quem disse?

–Ta escrito na sua cara.

Depois de um tempo em silêncio Minho enfim respondeu. -É... talvez eu tenha gostado um pouco.

–Um pouco... aham, acredito.

–Ta, ela é diferente cara! Sei lá, isso é muito confuso.

–Ela mexeu com você.

–Talvez... Ou talvez seja só essa minha cabeça de mértila me pregando uma peça.

–Você tem que parar de usar a cabeça cara. Nesses casos só o coração que fala mais alto.

Minho o olhou como se Newt tivesse batido a cabeça e comido feno.

–Desde quando virou o conselheiro amoroso? Quem é você e o que fez com meu amigo?!

Newt bufou.

–Vai logo trolho. Só não quero saber de vocês se agarrando no meio do labirinto. Tem que se concentrar como em qualquer outro dia.

–Ah ta, e aquela história de deixar o coração me levar?

–Esqueça-a. - Newt riu. -Melhor ir ou vai se atrasar.

Minho bufou e saiu.

Camille já se alongava quando ele foi até ela. A garota o olhou com as sobrancelhas arqueadas, como se quisesse uma explicação para os ocorridos de mais cedo. Já que ele não se pronunciou ela resolveu começar a conversa:

–Não teve uma noite muito boa né?

Minho franziu o cenho. -Minha noite foi normal, por quê?

Camille deu de ombros. -Você apareceu lá todo irritadinho. Achei que tivesse acordado com o pé errado.

–Ah.- foi tudo que ele disse.

Passou-se um minuto de silêncio incômodo quando Minho resolveu o quebrar.

–E então... Você parece ter gostado do Newt.

–É, gostei. Ele parece ser chato, mas no fundo é um cara bem legal e divertido.

–Hm. Fico feliz por você. -Ele disse isso, mas o seu tom de voz indicava que queria falar totalmente o contrário.

Ela o olhou e deu um sorriso de canto.

–Ele me disse que já havia sido um corredor.

–É, mas não é mais. A perna dele tem sinais até hoje. O faz lembrar que não se deve duvidar do labirinto.

–Deve ter sido difícil para ele... Ter que fazer outra coisa.

–Nem tanto. Ele não tem muita vontade de voltar.

–Mesmo assim. Pode ser que ele não demonstre que...

Minho a cortou.

–Se vai ficar o resto do dia falando do Newt, então pode ficar na clareira com ele. Quem sabe o trolho não goste de uns beijinhos de consolação.

Camille o encarou por alguns segundos antes de rir de leve. -Beijinhos de consolação? Sabe o que eu acho Minho?

–O quê?

–Que você é muito fofo com ciúmes.

Dito isso ela pegou uma mochila e saiu para dentro do labirinto; deixando Minho totalmente sem fala e surpreso. Passaram-se alguns segundos antes de o garoto voltar à vida real e correr para alcançá-la.

–Ei! Que ideia é essa?

–Do quê?- ela perguntou casualmente.

–Quem disse que estou com ciúmes?

–É a única explicação plausível que eu encontrei. Ou isso ou você e o Newt brigaram por algum motivo e agora você não quer falar dele.

–Não tenho de o quê sentir ciúmes.

–É, tem razão. Não tem motivos, então por que está?

Minho bufou. -Não estou com ciúmes eu só estou...

–Está...?

–Ah, eu não sei, ta legal!? E sem contar que você não é nada minha para eu sentir ciúmes.

–Também acho.

–Ótimo.

–Ótimo.

E eles continuaram a correr, com uma estranha sensação de que estavam esquecendo-se de alguma coisa.

Na volta do almoço descobriram o que esqueceram. Um Thomas irritado quase lançou pedras na cabeça deles... Mas isso não vem ao caso. Minho morria de rir enquanto Camille pedia mil desculpas. No fim o garoto acabou indo correr com o Dave, outro corredor que se ofereceu para ir com ele e, por pura birra, Thomas quis ir à tarde com ele novamente.

Quando estavam quase voltando para a Clareira novamente eles começaram a sentir um cheiro estranho.

–Ei.- Minho chamou- Ta sentindo isso?

–Sim. Parece... Borracha queimando?- ela franziu o cenho.

–Não... Tem algo queimando, mas não deve ser borracha... Afinal, como isso aconteceria aqui no labirinto?

–Vai saber... Ta a fim de olhar?

Minho pensou por um segundo. -Eu não sei; logo as portas vão se fechar... Mas parece estar perto então talvez não tenha problema.

Ela assentiu e eles seguiram o cheiro, que foi ficando cada vez mais forte. Avistaram o corredor em que saía fumaça. Entreolharam-se antes de ir, com cautela, até lá. Chegaram à ponta do corredor e depararam-se com uma cena que nunca imaginariam.

Havia uns três besouros mecânicos no chão, parecendo desativados. Fumaça saia deles juntamente com uma gosma que tinha cheiro de borracha queimada.

–Que mértila ta acontecendo aqui? Minho perguntou.

–E você acha que eu sei?- Camille respondeu ainda surpresa.

–Nunca vi esses besouros assim antes.

–Nem eu, ninguém nunca conseguiu pegar um deles na outra clareira.

–Aqui também não.

Minho se aproximou e chutou de leve uma das criaturas. Camille foi do outro lado e se abaixou para ver melhor. Foi quando notou um barulhinho, parecendo um bipe. Olhou com atenção para um deles e percebeu uma telinha mostrando números em vermelho no fundo. Os números mudavam, a cada mudança um bipe era ouvido.

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–Minho, corre!

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Uma explosão.

Camille e Minho se jogaram no chão para não ser atingidos por ela. Mas o garoto estava do lado do corredor que vieram e a garota por usa vez, encostada e uma parede sem saída, as mãos cobrindo o rosto. Os besouros mecânicos continuaram lá sem nenhum arranhão, como se não estivessem participando de explosão alguma.

Minho proferiu um batalhão de palavrões.

Camille começou a tossir e os olhos lacrimejaram por causa da fumaça.

Não se sabe ao certo quanto tempo se passou; Minho tentando arranjar um jeito de tirá-la de lá e a garota se encolhendo cada vez mais para não ser queimada. Ele não sabia mais o que fazer, se tentasse ir até ela só pioraria a coisas, o fogo estava ficando mais feroz. Como um leão brincando com sua presa, ele rondava o espaço ali presente, indo ora ou outra pra perto da garota, fazendo- se encolher de medo. Era essa a reação que o fogo provocava quando estava incontrolável. Medo. Não era uma questão pessoal, qualquer um sentiria e estivesse no lugar da garota.

Então um barulho alto começou a ser ouvido. Os olhos de Minho se arregalaram.

As portas do labirinto estavam se fechando.

Como num passe de mágica o fogo cessou. Os besouros mecânicos se levantaram, piscaram as luzes. Voltaram a funcionar como se não tivessem explodido. Olharam ao redor e saíram, subindo pelas paredes.

Os dois ainda estavam sem reação. Camille no chão, ainda de olhos arregalados, limpou a fuligem do rosto.

–O que foi isso?- Ela sussurrou abalada.

–Foi de propósito. -O garoto murmurou com os punhos cerrados; parecia se controlar para não dizer tudo que passava pela sua mente. -Esses malditos criadores devem ter programado isso para nos manter presos aqui. De propósito. Eles quase queimaram você viva de propósito. - O rosto de Minho estava contorcido de ódio. -O que eles acham que somos? Peões do joguinho deles? -Minho gritou, socando com força a parede mais próxima para libertar sua raiva.

A garota apenas o olhava ainda em choque.

Presos.

Essa era a palavra que se repetia dentro da cabeça dela.

Eles realmente estavam presos, estavam presos no labirinto. Por uma noite inteira.

–Temos que sair daqui. -Ele disse, a raiva era quase palpável.

Ela fez que sim com a cabeça e eles se puseram a andar, usando os muitos corredores ao seu favor par não serem vistos por verdugos. Não demorou muito para os primeiros aparecerem. Eles continuaram na mesma estratégia, virando os corredores sem parar.

Foi quando Minho parou de vez fazendo Camille esbarrar nele.

–Mas por que voc- ele tapou a boca dela.

–Shh!- Colocou o dedo indicador na boca, indicando para fazer silêncio.

Ela assentiu devagar e ele tirou mão.

–Um verdugo. -sussurrou. -Bem ali na frente.

O coração dela acelerou nervoso.

–Vamos sair devagar. - Continuou sussurrando e os dois foram saindo a passos leves, olhando atentamente para o corredor onde o verdugo estava.

Foi quando a coisa louca aconteceu.

Outra das criaturas apareceu do nada, de outro corredor. Chamando a atenção do primeiro. Os dois verdugos se viraram contra eles, e sem pensar em mais nada os dois começaram a correr.

–Minho!- A garota gritou acima dos barulhos dos monstros atrás deles. Saber que aquela coisa estava indo em suas direções era aterrorizador. - Elas vão nos alcançar! O que você e o Thomas fizeram!?

–Pro penhasco! Agora!- Ele gritou de volta. -Vamos enganar essas coisas!

Ela não precisou perguntar mais nada, já havia entendido.

Eles corriam mais do que seus músculos poderiam aguentar, a respiração pesada, suando frio. Olhavam para trás constantemente para ver os perseguidores. O medo tomando conta de seus corpos.

Quando chegaram ao penhasco usaram a mesma estratégia que Minho e Thomas haviam feito. Os verdugos não eram tão inteligentes, eles avançavam e, quando o verdugo vinha se desviavam e deixavam que ele caísse. Logo o primeiro passou por eles e se lançou na escuridão. Um barulho alto de algo caindo e de repente parava, como e tivesse desaparecido.

Foi ai que a coisa deu errado. O segundo não foi tão burro.

Estava dando certo, até aquela coisa levantar uma garra e agarrar Minho em pleno ar. O garoto se debateu e Camille tentou ajudar. O verdugo se lançou para cima dela com uma de suas agulhas, ela escorregou para baixo da coisa, se deparando com o corpo gosmento dela e enfiou sua faca o mais profundo que conseguiu. A coisa rugiu de indignação e lançou Camille longe, fazendo-a gritar de dor ao bater em uma ponta afiada de uma enorme pedra. O verdugo ainda enfurecido se lançou no penhasco soltando Minho logo e seguida. O garoto ia cair.

Ele gritou desesperado. Camille, que estava levantando-se, fez um esforço e jogou o próprio corpo pra a frente, segurando Minho pelo pulso antes que ele despencasse. Deixando-o pendurado no penhasco. O movimento a fez abafar um grito de dor. O ferimento que a pedra causara, um corte, começou a sangrar.

Minho agarrou o braço dela com força. Ela estava escorregando, ia cair também.

Rapidamente pegou, com a mão livre, um cipó da hera, a planta que crescia pelo labirinto, e enrolou-o em seu próprio pulso.

Minho tentava em vão subir.

–Droga!- ela gritou, estava sentindo muita dor, o garoto era muito pesado.

–Cammie, isso não vai dar certo! Você não vai aguentar meu peso.

–Eu vou aguentar!- ela retrucou desesperada.

–Eu vou acabar deslocando seu braço, e seu pulso vai abrir se ficar forçando naquela hera!

–Não me importa!

–Você está ficando louca!?

–Se algum pensamento idiota passou por essa sua cabeça de mértila, se acha que vou deixá-lo cair, está redondamente enganado!

Ele viu o desespero no olhar dela.

–Tudo bem, vamos ter que fazer isso juntos!- Ele gritou, por cima do barulho do labirinto mudando. -No três.

Ela fez que sim.

–Um. -ele começou.

–Dois. - ela continuou já se preparando.

–Três!- gritaram juntos e, sabe-se lá como, conseguiram levar o Minho pra cima.

Eles tombaram no chão, a respiração pesada pelo esforço.

–Obrigada. -Ele falou entre arfadas.

–Por nada.

Passaram-se alguns minutos.

–Minho. -ela chamou num fiapo de voz.

–O que foi?

Então ele olhou para onde ela olhava. O braço dela envolvendo sua própria cintura. Percebeu do que se tratava, ela estava ferida e estava sangrando.

–Me deixa ver.

Ela hesitou por uns segundos. -Desde quando virou socorrista?

Ele ignorou e, sem esperar a permissão dela, levantou a blusa da garota. Revelando sua cintura curvilínea, e uma parte do sutiã preto. Ele tentou em vão ignorar aquela visão, mas logo seus pensamentos se voltaram para o corte, bem na curva se sua cintura.

–Não sou nenhum socorrista, mas posso tentar estancar o sangue. - Ele disse enquanto arrancava um pedaço grosso de pano da própria camisa. Não se importou, já estava esfarrapada depois da corrida mesmo. -Isso pode doer um pouco.

Ela fez que sim, temerosa.

Ele envolveu a cintura dela com o pano, cobrindo o ferimento e amarrou de leve. Ardeu um pouco.

–Pronta?- ela assentiu novamente e ele apertou o nó a fazendo gemer de dor. -Não foi tão ruim assim...

Ela o olhou, irritada.

–Ta, esquece.

Um barulho rouco de um verdugo ao longe fez ela se assustar e agarrar o braço de Minho; quando percebeu o que estava fazendo soltou.

–Er.. Desculpe.

–Tudo bem. - Ele murmurou.

Foi quando o barulho do labirinto se movendo os fez voltar à realidade.

–Precisamos nos mexer. -Minho murmurou. -Ou seremos esmagados por essas paredes. Acha que pode correr?

Ela fez que sim.

–Posso.

Eles se levantaram exatamente na hora que a paredes se moveram.

–Vai, vai, vai! -Minho gritou agarrando a mão dela e a arrastando.

As horas se passaram dolorosas. Cada músculo do corpo deles os pedia para parar, Mas não podiam. Cada passo que Camille dava era uma pontada de dor, ela chegou a deixar algumas lágrimas involuntárias caírem, mas logo às secou. Eles viravam à direita e à esquerda, era uma repetição sem fim. Em um momento Minho teria sido esmagado por um muro que se fechava se Camille não tivesse lhe puxado pela camisa; ele percebeu na hora errada e não conseguia mais parar, tamanha era a rapidez que corriam.

Estava quase amanhecendo quando um verdugo apareceu.

Mais uma vez indo atrás deles. A principio pensaram em ir para o penhasco, mas estava na direção de onde o monstro vinha. Então o jeito foi continuar correndo.

–Para a clareira!- Camille gritou- Acho que ele não vai nos seguir até lá, pois as portas estão quase se abrindo.

O monstro ainda ia na cola deles quando por fim avistaram os muros que iam para a clareira. Acho que nunca ficaram tão felizes em suas vidas ao vê-los começando a se abrir.

Não parecia ser possível, mas conseguiram, por uma obra do além, correr mais rápido. Foi quando Camille tropeçou e, quando a coisa ia para cima dela, de repente parou, se virou e correu para dentro do labirinto novamente. Ela estava certa, eles não passariam por ali durante o dia. Mesmo assim ela se levantou num salto e eles correram os metros que faltavam, atravessando os portões, deram mais dois passos antes de caírem, lado a lado, olhando para o céu da manhã.

O peito deles subia e descia, arfando. A respiração estava entrecortada. A grama da clareira fazia cócegas em suas costas, mas nada daquilo importava. Estavam vivos.

–Nós... quase... morremos! -Camille falava cada palavra entre uma golfada de ar e outra.

–É... Mas sobrevivemos.

–Sim...

Então eles viraram a cabeça para o lado, ficando cara a cara. Ficaram um tempo se encarando antes de por fim, começarem a rir.

Sim, rir.

Feito dois idiotas. Dois idiotas muito cansados e sujos. Mas dois idiotas que sobreviveram. Portanto, estavam felizes.

–Não acredito que fiz isso. -ela murmurou entre as risadas. - Eu salvei sua vida no penhasco, agora paguei minha dívida.

–Você me devia dois favores, ainda falta um.

–Mas salvar uma vida vale por dois.

–Não vale não.

–Vale sim.

Eles fizeram uma pausa de alguns segundos antes de voltaram a rir. Ela voltou seu rosto para cima novamente, encarando o céu azul. Um pequeno sorriso nos lábios.

Minho se ergueu um pouco. Apoiando-se nos cotovelos e observando a garota. Ela fingiu não perceber o olhar dele percorrendo-a, mas no fim acabou ficando um pouco corada. Ele deixou escapar um sorriso.

–Sabe, eu... Acho que tem um jeito de ficarmos quites.

Os lábios rosados dela estavam entreabertos, como se chamassem o garoto. Ele lutava contra o desejo que brotava em si mesmo. Foi quando se lembrou das palavras de Newt, para seguir seu coração.

Alguém me lembre de agradecer aquele trolho. Pensou.

–Tem?- Ela perguntou. Não desviando o olhar dele nem por um segundo, ele ia se aproximando cada vez mais; o coração dela estava acelerado, assim como o dele.

–Aham. -Ele respondeu; agora a míseros centímetros de distância.

Ambos já podiam sentir a respiração entrecortada um do outro.

Um turbilhão de sensações invadiu os dois quando enfim seus lábios se tocaram. Ficaram assim por mais alguns segundos antes de se separarem.

Camille tocou os lábios com a ponta dos dedos.

–Minho... Por que voc- ele não a deixou terminar, pois logo atacou novamente os lábios da garota.

Dessa vez o beijo foi se intensificando, ele pediu passagem e ela permitiu que ele explorasse cada canto da boca dela com a língua. Ela retribuía com a mesma intensidade. O beijo se transformou em algo feroz e possessivo vindo da parte dele. Ela não poderia negar que gostou. Ele segurou a nuca dela e ela o rosto dele. Poderiam ter ficado assim por horas.

Pois é, poderiam.

Só que existe uma coisinha chamada ar, e eles precisavam dessa coisinha se quisessem sobreviver. Por fim, se separaram ofegantes.

Pois logo então o garoto queria retomar de onde parou.

Meu Deus. Ela pensou. Ele não cansa nunca!

Só que algo os interrompeu. Um pigarro. Ambos levantaram os rostos e deram de cara com Alby de braços cruzados, uma expressão irritada no rosto.

E atrás dele estava nada mais nada menos do que a clareira inteira!

Acho que Camille nunca ficou tão vermelha na vida dela.

Alguns clareanos tinham sorrisos suspeitos no rosto, outros reprimiam risinhos. Alguns, como Caçarola, não escondiam o sorriso de orelha a orelha. Outros reviravam os olhos. Newt e Thomas estavam com as sobrancelhas arqueadas, claramente se divertindo com a situação, mas ao mesmo tempo preocupados.

–Vocês passaram a noite no labirinto. Pensamos que estavam mortos, ficamos loucos de preocupação e quando chegamos aqui o que encontramos? Vocês dois se agarrando?- Alby não escondia a irritação na voz.

–Do jeito que você fala parece até que queria que estivéssemos mortos. - Minho resmungou, se levantando.

–É melhor você começar a contar tudo o que aconteceu. -Newt interveio.

–Não cabeção; estou mais cansado que tudo e você quer que eu conte uma história? Preciso descansar e comer. Hoje à noite nós explicamos tudo.

–Cansado?- Alby perguntou incrédulo. -Você me pareceu bem disposto com a Cammie.

Minho riu seco e, acreditem, Camille daria tudo por um buraco onde se esconder da vergonha que sentiu ao ver todos olharem para ela daquela maneira.

–Alby, da uma folga pra eles. -Newt pediu. Estão parecendo zumbis.

O líder suspirou. -Ta legal, levanta daí trolha. -ele indicou Camille e ela começou a se levantar.

Mas, ao fazer isso, uma pontada de dor encheu-lhe por todo o corpo. Ela olhou para baixo, para a blusa agora toda ensanguentada. Quando olhou novamente para cima não conseguiu focalizar todos direito.

–Ei, você está bem? -alguém perguntou para ela, mas a garota não conseguiu saber quem era, as vozes estavam abafadas e tudo estava desfocado.

–Eu..-ela tentou responder.- Não me sinto bem...

Camille cambaleou para trás. Tudo ficou nublado e ela não teve outra reação a não ser tombar no chão, desacordada.


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Notas finais do capítulo

Esse beijo deles foi oh... heueheuuheue... Kisses!