My Little Runner escrita por Angie


Capítulo 27
Sinto sua falta


Notas iniciais do capítulo

Oioioi, tudo bom com vocês?
Como prometido, não demorei tanto! Rsrs
Pessoas do meu Brasil, vocês fizeram o Enem? Que porcaria foi aquela no segundo dia de prova? Parece que a gente precisa fazer uma faculdade pra se preparar para algumas questões (uma bela palhaçada, se querem minha opinião).
Mas vamos falar de coisa boa! Camille está de volta e dessa vez tem uma criatura aterrorizante bem na sua frente; como será que nossa protagonista vai se safar dessa vez? Isso você descobre hoje, no Globo... Ok, apenas leiam, desculpe.
Aliás, obrigada por comentarem, é muito importante para me motivar a continuar!
Até lá em baixo!



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O grito da garota ecoou pelos corredores, assustador em meio ao silêncio profundo e soando estranho a seus próprios ouvidos. Como se já não bastasse todo o clima terrível que o prédio abandonado causava e o quanto já estava assustada por vagar sozinha na escuridão, ainda tinha de lidar com um ser que possivelmente arrancaria seu fígado para ter de jantar.

Toda a pele da criatura era medonha, como se a doença já tivesse se espalhado por todo o seu corpo; era esticada e com uma coloração entre amarelo e verde musgo. Veias grossas, essas que pareciam saltar de sua carne, se mostravam escuras, quase pretas. O rosto do crank talvez fosse a pior parte. Na verdade, não sabia se podia descrever aquilo como um rosto, ele era repugnante. Queimaduras cobriam todo o local do couro cabeludo; no lugar de sua bochecha esquerda havia cavidades redondas, como se alguém tivesse a esburacado: se olhasse bem através delas era possível enxergar parte de seus dentes. Não obstante, seu olho direito não tinha esclera e íris, era apenas um globo preto como breu. O outro olho era de um azul limpo como o céu.

Camille havia gritado com puro terror, ela não esperava que pudesse se descontrolar tão facilmente, mas tampouco que a criatura fosse tão horrenda. Fez isso num ato automático, nem mesmo reconhecera o próprio som de sua voz.

Agora, de olhos arregalados, apertava a lanterna com força enquanto recuava lentamente. De alguma forma, seu grito não fez o crank se alarmar. Em vez disso, apenas a encarava com profundo interesse. Camille tentava em vão controlar a respiração.

— Azuis — ele finalmente disse, as cavidades em sua bochecha se esticando causavam uma sensação nauseante. Sua voz fez a garota se retrair, era como se algo estivesse rasgando sua garganta. Ele franziu o cenho quando não obteve respostas e repetiu. — Azuis.

— O...o que? — murmurou.

O crank pareceu se esforçar para dar uma boa explicação. Camille recuou mais dois passos quando ele ergueu o braço, parecia apontar para seu rosto.

— Olho azul — então apontou para o seu olho ruim, completamente preto. — Meu.

Ela piscou.

— Seu olho também era azul? — continuou falando em voz baixa, tentando distraí-lo enquanto sua mente trabalhava a mil em busca de um escape.

O crank confirmou.

— Devolva. Meu.

Camille engoliu em seco e tentou manter a voz o mais calma possível.

— Não posso fazer isso, são meus olhos.

— Não! — aumentou o tom de voz, seu rosto se contraiu deixando-o ainda mais assustador — Meus, devolva.

— Não posso — ela estava começando a ficar mais desesperada do que deveria, suas mãos tremiam.

— Azuis! Meus! Devolva! — ele começou a falar repetidas vezes. A garota queria tapar os ouvidos para não ter de escutar sua voz horrenda. — DEVOLVA!

Num solavanco partiu para cima de Camille, fazendo seus temores se concretizarem. Ela não soube como conseguiu reagir tão rápido e forçar suas pernas a se moverem, mas talvez a experiência como corredora a tenha ajudado. Antes que ele pudesse alcançá-la, girou nos calcanhares e tentou correr, mas o crank ainda conseguiu segurar sua mochila, puxando-a para trás. Camille se sentiu grata por ter ombros magros, o impulso para frente na tentativa de fuga fez com que conseguisse se desvencilhar da bolsa com facilidade. O crank cambaleou para trás ao ter o objeto puro em suas mãos. Ela aproveitou a oportunidade e se pôs a correr o mais rápido que pôde, afundando na escuridão do corredor sem se importar com o caminho que seguia.

Não olhou para trás, mas conseguia ouvir que o crank estava em seu encalço, provando que ainda era capaz de se locomover com rapidez, apesar do estado debilitado de seu corpo. Camille virava os corredores tão rápido que quase tombara duas vezes por conta do piso inclinado; estava claro que correr ali não seria tão fácil como andar. Apesar da lanterna, ainda era difícil se guiar na escuridão enquanto prosseguia, mas não podia se dar ao luxo de parar para observar o caminho, já que, aparentemente, a criatura maluca queria arrancar seus olhos.

Ela se perguntou internamente qual o tamanho daquele lugar, parecia não ter um fim. Ao atravessar mais um corredor se deparou com outro local amplo, com mais um elevador e outro lance de escadas. Se estivesse em condições normais teria refletido sobre suas ações e quem sabe até se lamuriado por pensar que ficaria presa para sempre, mas aquela definitivamente não era uma condição normal. Assim que o crank apareceu ela não pensou duas vezes e correu para as escadas, tentando saltar dois degraus de uma vez, a leve inclinação atrapalhando-a de seguir mais depressa.

Antes que pudesse subir mais, sentiu uma mão se fechando em volta de seu tornozelo. O crank a segurou, a parada súbita fazendo-a se desequilibrar e cair de cara, batendo os joelhos nos degraus; seus braços foram para frente antes que pudesse machucar o rosto. Camille gritou quando ele puxou-a pela perna, de modo que a arrastava escada abaixo, mas não largou a lanterna. Ela se debateu, conseguindo virar de barriga para cima e acertando o rosto do crank em cheio com o pé livre. Ele teve que soltá-la quando caiu de costas no chão, grunhindo de forma animalesca.

A garota, quase no início da escada, reergueu-se numa velocidade absurda e voltou a subir os degraus. Assim que alcançou o topo voltou à corrida pela própria sobrevivência. Já podia escutar os brados irritados do crank que a essa hora já deveria estar atrás dela. Sua única vantagem era a habilidade herdada do tempo na clareira, fazendo com que conseguisse despistá-lo. O andar de cima era ainda pior, além de mais íngreme, não seguia o mesmo padrão do térreo, tornando o percurso mais difícil. Como se já não bastasse, os joelhos doíam pela queda na escada. Seus braços também ganharam arranhões avermelhados, principalmente perto dos cotovelos. Após alguns minutos correndo sem descanso, foi obrigada a parar, sua total falta de conhecimento do prédio a levou a um beco sem saída. Não havia mais para onde ir.

Camille ofegou. Olhou para trás e não avistou a criatura, mas era impossível voltar, sabia que ele a encontraria. Ainda era capaz de escutá-lo chamando-a para que “devolvesse seus olhos”.

Seu coração estava tão acelerado que quase podia senti-lo rasgar seu peito; segurava a lanterna com tanta força que o nó de seus dedos estavam brancos. Varreu o local com os olhos e enxergou uma porta fechada. Era agora ou nunca, precisava entrar e torcer para ser algum tipo de saída ou esconderijo.

Não teve muito tempo para refletir, a voz do crank estava mais próxima. Sendo assim, correu para a porta à sua direita, girou a maçaneta e se pegou praguejando quando percebeu que estava quase emperrada. Apesar disso, não pensou em desistir, apoiando um de seus pés na parede e puxando a peça metálica com toda a força que tinha. Após alguns segundos, para seu grande alívio, conseguiu arrastá-la, dando lugar a uma abertura de tamanho suficiente para seu corpo passar. Adentrou no recinto e fechou a porta atrás de si, por alguma razão era mais fácil fechá-la do que abrí–la. Parte da sala se iluminou quando ergueu a lanterna para descobrir o que tinha na sala e o que viu quase fez com que perdesse as esperanças.

Nenhuma saída, nenhum tipo de escape; apenas uma janela quebrada num canto esquerdo, como um vitrô, que servia para entrada de ar. Nunca conseguiria sair através dela, estava muito acima de sua altura e era minúscula demais para qualquer um passar, sem contar que estava no segundo andar e não pularia dali de jeito nenhum. A janela iluminava apenas uma pequena parte do enorme cômodo, deixando todo seu restante numa total escuridão. Camille mal tinha se dado conta de quanto tempo ficara no prédio, mas era claro que já havia anoitecido. A mínima parte que era iluminada pela lua proporcionava uma fraca claridade, mas ainda era possível enxergar a poeira no ar.

Ela girou 360 graus, procurando desesperada por um local para se esconder. Esperava encontrar máquinas ou qualquer outra coisa, mas como o destino não era seu melhor amigo, é claro que iria se decepcionar. Parecia ser um antigo depósito, mas o cômodo estava vazio, à exceção de algumas caixas espalhadas pelo chão e outras empilhadas na frente de uma parede.

— Ah, mértila.

Tinha que sair dali o mais rápido possível. Sem pensar duas vezes, foi em direção à porta, arrependendo-se de não ter olhado antes de fechá-la.

Assim que tocou a maçaneta seu corpo paralisou, deixando sua mão sobre a superfície gelada do metal. De onde estava era possível ouvir os passos de seu perseguidor. Não podia mais sair.

Camille murmurou um palavrão. Estava com sérios problemas. Sua respiração era incontrolável, parte pela recente corrida, parte pela sensação de pavor crescente em seu peito. Afastou-se da porta com os olhos arregalados, todo o seu corpo tremia com a adrenalina. O crank havia parado na frente de seu cômodo.

— Garotinha, garotinha, garotinha… — ele cantarolava, sua voz era ainda pior do que antes. Parecia se divertir com a brincadeira de esconde-esconde.

“Acalme-se, acalme-se”, repetia para si mesma observando o local mais uma vez.

Seu primeiro pensamento foi ficar atrás das caixas empilhadas. Elas estavam um pouco afastadas da parede e numa parte onde a luz da janela não alcançava. Era um esconderijo terrível, mas seria isso ou se entregar de uma vez para o crank. Se dirigiu para perto e antes que pudesse dar qualquer olhada em seu local de refúgio improvisado, escutou em alto e bom som o barulho do homem tentando abrir a porta ainda meio emperrada. De súbito, apagou a luz da lanterna e afundou na escuridão por detrás das caixas. Um segundo depois o crank conseguiu entrar na sala. O coração de Camille parou por um momento antes de voltar a bater mais forte que nunca, martelando suas costelas. Andou para trás com o braço levemente erguido, pronta para atirar a lanterna no rosto da criatura caso fosse ao seu encontro.

De onde estava era possível escutar os passos dele passeando pelo cômodo.

— Onde está você, garotinha? Venha cá, venha cá, me dê meus olhos.

Camille não conseguia conter a reação de terror crescente e implorou em pensamento para que ele desistisse de procurá-la ali. Percebeu que ele conseguia formular as frases de uma forma mais coerente agora, como se houvesse retomado a consciência, apesar de ainda querer arrancar parte de seu corpo.

— Azuis, azuis, ah, azuizinhos. — ela escutou um som que fez suas pernas ficarem bambas, algo que deveria ser uma risada. Ele parecia ter saído direto de seus pesadelos.

“Por favor, por favor, vá embora.” Implorou em pensamento.

Ela continuou a dar alguns passos lentos para trás, mas estranhamente não chocava suas costas na parede que deveria estar ali. De repente, tudo ficou em silêncio, não podia ouvir mais o crank, era aterrorizante. Ficou parada, tinha medo de que sua respiração a entregasse. Quase um minuto se passou e ela já estava começando a criar esperanças de que ele teria ido embora. Quando já pensava em sair para investigar, foi mais uma vez surpreendida.

Num minuto estava sozinha, no outro sentia duas mãos a agarrarem por trás.

— Hm!!! — Seu grito foi abafado pela mão da pessoa que apertou sua boca com força. O outro braço puxava sua cintura, prendendo também seus próprios.

Camille deixou a lanterna cair, provocando um ruído ao se chocar com o chão. Se debateu tentando se desvencilhar de quem quer que fosse a prendendo. Agora compreendia o motivo de não ter se chocado contra a parede: É porque não havia parede! Mas sim uma abertura estreita que levava a um tipo de corredor minúsculo. Se antes estava apavorada, agora sentia como se realmente estivesse prestes a morrer.

— Shhh! Sou eu. — Ao ouvir aquela voz sussurrar em seu ouvido quase começou a chorar, lágrimas brotaram em seus olhos, deixando sua visão embaçada. Só podia estar alucinando.

Era a voz que nunca confundiria. Poderia escutá-la mil vezes e ainda saberia identificar a quem pertencia. Seu suposto agressor era ninguém mais, ninguém menos que Minho. Ela não fazia ideia que o garoto estava no prédio, muito menos como conseguiu encontrá-la.

Ele afrouxou o aperto, prestes a deixá-la ir quando o pior aconteceu. O crank, quase esquecido pelo repentino surgimento do asiático, apareceu de repente derrubando as caixas em frente a passagem recém descoberta. Eles não podiam vê-lo, mas o barulho não deixava dúvidas. Camille quase deixou uma exclamação de susto escapar, mas Minho foi mais rápido, voltando a pressionar seus lábios, tapando sua boca com uma das mãos.

Ele andou lentamente para trás, arrastando-a junto de forma que não fizesse nenhum som; pararam quando as costas do asiático encostaram na parede no canto final do corredor. O crank estava invisível a seus olhos, o que tornava toda a situação ainda pior. Nem mesmo a lanterna possuía para arremessar nele. Inclusive, talvez tenha sido o barulho dela caindo que alertara a criatura de sua posição.

— Garotinha, garotinha… — ele voltou a cantarolar, Camille segurou o braço de Minho com força quando ele a apertou mais contra si. — Quero os olhos, garotinha. Não vai doer nada. Nada, nada, nada… — ele repetia as palavras como em uma canção assustadora.

A voz estava cada vez mais próxima, provavelmente já tinha adentrado o pequeno local.

Minho conseguiu sentir Camille se encolhendo, estava apavorada. Ela deveria ter seus nervos à flor da pele depois de fugir sozinha do crank. Sentiu um desejo enorme de acabar com toda aquela tensão e partir de uma vez para cima do homem alucinado, mas controlaria suas vontades até ter certeza de que seria a melhor opção. Em vez disso, apenas fez com que ela se aproximasse mais de si, pressionando a mão em sua boca de forma que pudesse levar a cabeça dela para trás, deixando-a apoiada em seu peito.

Camille podia senti-lo por completo, cada centímetro de seu corpo estava grudado ao dele e Minho não parecia fazer questão de querer soltá-la. A respiração do garoto estava controlada, não fazia nenhum som. Ela só conseguia perceber pelo movimento de seu peito subindo e descendo lentamente contra suas costas. Também precisava se acalmar, mas parecia quase impossível levando em consideração que o crank estava no mesmo lugar que eles e poderia atacá-los a qualquer momento. Fechou os olhos, não se sentia a mesma garota corajosa da clareira.

— Não seja tímida, só preciso de um deles, você não pode ser tão egoísta. — Camille não entendia como ele poderia ter voltado a pensar bem o suficiente para formular aquela frase e ainda querer cometer aquele ato horroroso. O fulgor era cada vez mais complexo para ela.

Os dois permaneceram em completo silêncio, tudo que podia ser ouvido eram os lamentos do crank juntamente com sua respiração pesada, como se sofresse de asma. O escuro era terrível, mas servia para escondê-los muito bem. Tiveram sorte de a pequena janela não iluminar aquela parte do lugar. Camille tinha a sensação horrível de que ele estava parado a menos de três passos de seu corpo, mas não moveu um músculo sequer.

Não souberam ao certo quanto tempo se mantiveram daquele jeito, mas o crank parecia ter se cansado de esperar alguma resposta. Ele ainda resmungou mais algumas coisas antes de, finalmente, resolver procurá-la em outro lugar. Por alguma razão que nenhum dos dois compreendia, ele não vasculhara todo o corredor. Talvez a consciência fosse suficiente para formar as frases, mas não para pensar em tudo; ou talvez fossem apenas estupidamente sortudos.

— Olhinhos azuis, azuizinhos, azuizinhos… — Escutaram-no cantarolando enquanto saía de perto deles. O barulho da porta se fechando indicando que havia partido.

Ainda esperaram quase um minuto antes de Minho suspirar. Liberou-a do aperto e ela pôde voltar a respirar normalmente. Nenhum dos dois disse nenhuma palavra por alguns segundos. Ela se agachou tateando o chão até encontrar a lanterna. Assim que conseguiu, ligou-a, atingindo o rosto do asiático com a claridade repentina.

— Vira essa coisa pra lá. — resmungou, tapando os olhos.

Camille o encarou sem reação. Depois de tudo era isso que ia falar?

— De onde você veio?

Minho movimentou a cabeça, indicando seu lado. Só então percebeu uma portinha entreaberta que levava para outro lugar. A cor era exatamente a mesma da parede, deixando-a quase camuflada.

— Mas que mértila… Quase me fez ter uma parada cardíaca. Não podia aparecer de um jeito mais convencional?

Minho bufou.

— E correr o risco de você gritar e chamar a atenção de seu amiguinho crank?

— Ah, claro. Como se a lanterna caindo não houvesse o avisado da minha presença. Aliás, como sabia que tinha um crank atrás de mim? Ou que eu estivesse no prédio para começo de conversa.

— Seu grito mais cedo não foi muito baixo. Presumi que algo estava errado.

Ela se lembrou envergonhada de como se assustara ao olhar para o crank. Ou talvez o garoto estivesse falando de quando caíra da escada, não sabia dizer. Só não imaginava que ele pudesse ter escutado.

— Eu deveria estar perto. — ele disse, respondendo a sua pergunta mental — De alguma forma, soou alto e claro para mim. Jorge disse que as saídas poderiam se conectar em algum ponto, então corri até encontrar esse lugar. Vi a luz da lanterna pela fresta da porta e tirei minhas conclusões. — Camille constatou que deveria ter sido quando estava fugindo para detrás das caixas, a luz iluminou o corredor, mesmo que ela não tivesse olhado para ele antes de apagar a lanterna. — Sei que sou silencioso, mas me surpreende que não tenha percebido me aproximar. — ele sorriu presunçoso

— Ah, não sei. Talvez eu estivesse muito ocupada com um maluco querendo arrancar meus olhos para prestar atenção. — respondeu petulante, de alguma forma sentia a imensa vontade de brigar com alguém. Talvez pelo estresse que passara.

Minho cruzou os braços, não parecia feliz. Ela procurou se acalmar, só estava tensa, então perguntou a primeira coisa que lhe veio à mente.

— Sabe onde estão os outros?

— Acha que eu estaria aqui sozinho se soubesse?

Camille estalou a língua, contendo a resposta. Minho estava pedindo por uma discussão. Em vez disso, mudou o rumo da conversa.

— Como chegou até aqui sem uma lanterna?

Ele deu de ombros, como se aquilo não importasse.

— Esse muquifo ainda tem energia, pelo que pude perceber. Só atravessar o outro corredor depois dessa porta e vai encontrar um quarto com uma lâmpada acesa.

— Ah, que sorte a sua. — murmurou — Tive que andar no breu e com aquela coisa atrás de mim.

— Ao menos tinha uma lanterna.

Camille revirou os olhos.

— Experimente correr usando-a para iluminar o caminho. Não é de grande ajuda.

Minho riu com o nariz, mostrando seu sarcasmo. Camille levantou o olhar para ele, questionando-o.

— Achei que era uma corredora.

Ela ficou rubra. Parte por vergonha, parte por raiva. Agradeceu mentalmente por ele não conseguir perceber a cor de seu rosto com a iluminação precoce.

— Não por sua causa, é claro. Por que não sai correndo atrás do crank já que é tão bom assim?

— Se me recebe com tanta alegria, talvez devesse esperar aqui até que Newt venha te buscar.

Camille inflou o peito, não acreditava que aquela discussão estava acontecendo.

— Ah, então agora quer falar sobre Newt. O que aconteceu com o Minho que me mandou sair quando eu queria conversar?

— Tem razão, não quero conversar. — disse, dando as costas para a garota e passando pela porta.

Ah, mas não vai ficar assim mesmo!”, pensou.

Ela o seguiu, decidida a conseguir respostas. A passagem levava para outro corredor idêntico, também escuro. Ao passar por ele, foi iluminada por uma lâmpada pendurada no teto. Era fraca, mas bem melhor que a escuridão de antes. Camille desligou a lanterna enquanto ainda andava atrás do garoto.

— Minho. — chamou, mas não obteve respostas. — Minho!

Ele parou bruscamente e voltou-se para ela.

— O que foi?

— Fale comigo! Como espera que as coisas fiquem assim depois de tudo?

— Não tenho nada para falar.

— Bem, para sua informação, eu tenho.

Ele a ignorou, indo em direção à porta que levava para a saída do novo cômodo iluminado. Sabia que deveria escutar, principalmente depois de ouvir a conversa entre ela e Newt, mas o orgulho parecia esmagar a razão em sua cabeça.

— Argh! Por que tem que ser tão teimoso? — Camille disse já ficando angustiada.

— Ah, então agora o culpado sou eu! — Minho riu, parando de andar, os nervos à flor da pele. — Quem foi mesmo que estava se agarrando com meu melhor amigo?

— Me agarrando? — se indignou — Mal chegou a ser um beijo!

— Não se preocupe, da próxima vez não vou aparecer para interromper.

— Você quer fechar essa maldita boca e me ouvir? Não há nada entre mim e o Newt. Somos amigos! — disse, dando ênfase à última palavra. — Por que não pode acreditar no que eu digo?

Minho não respondeu. Fechou os olhos e apertou as têmporas, procurando se controlar.

— Depois de todo esse tempo, acha mesmo que eu mentiria para você? Ainda mais dessa maneira!

— Não.

Foi tudo o que disse, quase como num murmurio. Ainda apertava os olhos.

— Não? — ela se surpreendeu, não compreendia. — Se acha que digo a verdade, me dê um motivo para nem ao menos me escutar.

Mais uma vez, silêncio.

— Fale alguma coisa! — suplicou, parecendo quase desesperada por uma resposta.

— Porque sim, Camille! — Disse num quase rosnado, voltando-se para ela. — Porque não consigo parar de pensar nele colocando os lábios nos seus, ou ao menos te olhando de outra maneira! Porque a cada minuto que passo nesse maldito deserto sinto vontade de falar com você ou tocar você e não posso! Porque tem essa coisa girando em meu estômago que me faz ficar irritado o tempo todo; me faz querer quebrar a cara de alguém e mostrar que você é só minha. Porque não quero ter que te dividir com ninguém. — Ele andou até ela a medida que listava, parando a míseros centímetros de distância — Porque sou egoísta demais para fazer qualquer uma dessas coisas. Então não me peça para escutá-la agora, pois não consigo.

Camille não sabia direito o que falar, apenas o encarava sem reação. Sempre soube que Minho tinha algo de possessivo, mas não esperava que pensasse daquela maneira. Seus olhares não se desgrudavam nem por um instante, como se quisessem decifrar a alma um do outro. Estavam tão próximos que quase podiam se tocar. Permaneceram em silêncio por longos dez segundos, nenhum dos dois quebrando o contato visual. Camille, então, se deu por vencida, suspirando e murchando os ombros, prestes a admitir seus sentimentos.

— Você é inacreditável — murmurou olhando para o tórax do garoto, tão baixo que ele só pôde escutá-la pela proximidade dos dois.

Não respondeu.

— Minho? — ela levantou o olhar, buscando os dele.

— Hm?

— Sinto sua falta.

Minho ainda a encarou, o rosto da garota adquiriu um semblante melancólico, seus olhos azuis parecendo se derreter diante do garoto. Era impossível se desvencilhar.

— Droga, Camille.

Ele não lhe deu tempo para pensar em nada, o que quer que pudesse falar se apagou no momento em que Minho puxou-a pelo rosto, tomando seus lábios nos dele.

 


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Notas finais do capítulo

Não me matem por acabar nessa parte! A cena do próximo capítulo vai ser mais interessante, rsrs.
Obrigada por lerem.
XOXO



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