My Little Runner escrita por Angie


Capítulo 26
Prédio abandonado


Notas iniciais do capítulo

Opa, olha só quem voltou!
Pela primeira vez em muito tempo postei um capítulo em uma semana (e três dias, mas não vem ao caso). Estou orgulhosa de mim mesma, haushausa.
Antes de tudo: Meu Santo Deus, vocês são incríveis! Sério, não sei mais como descrever. Semana passada eu estava convicta de que nenhum leitor antigo ia aparecer aqui, mas de repente começa a surgir gente que acompanhava a fic desde 2015/2016! Vocês me deixaram nas nuvens, principalmente por todo o carinho que me deram. Por isso agradeço de todo o coração, e também por não desistirem desse projeto, nem da nossa querida Cammie. ❤
Outra coisa que queria comentar aqui: Antes de postas o capítulo anterior eu reli toda a fic e fiquei muito agoniada (risos), percebi que em dois anos mudei meu modo de enxergar algumas coisas na vida e que tem coisas ali que escreveria de uma forma completamente diferente! Ainda estou com vontade de voltar editando toda a estória (não de modo que prejudicasse o roteiro, mas em questão da literatura mesmo: trechos que eu escreveria de outra forma, outras palavras que usaria, coisas que tiraria ou substituiria, erros gráficos, etc). Mas me digam, cadê o tempo pra fazer isso? De qualquer forma, fica essa dívida e quem sabe um dia eu possa fazer isso, rsrs.
Enfim, sem mais delongas...



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Minho andava a passos largos pelo labirinto, atento a cada mudança que aconteceu durante a noite. O labirinto mudava todas as vezes que as portas se fechavam. Foi assim em todos os dias durante dois longos anos e não era diferente daquela vez.. Se concentrou em memorizar cada mínimo detalhe, parando vez ou outra para fazer alguma anotação .

O dia se arrastou lento enquanto percorria os imensos corredores. Não podia deixar de pensar na sensação estranha que tomava seu corpo, como se algo estivesse muito errado. Já fazia um tempo que sentia-se assim, com um gelo na boca do estômago. Algo definitivamente estava fora do lugar, sabia que precisava tomar cuidado, mas ainda não descobrira o motivo.

“Concentre-se” pensou, esforçando-se para abandonar aquela sensação.

A volta para a Clareira foi mais rápida do que imaginara, virava cada curva sem pensar duas vezes. À medida que se aproximava da fazenda percebeu que não ouvia os costumeiros barulhos dos garotos em seus afazeres diários.

Estava quieto . Quieto demais.

Diminuiu o passo, seus instintos berrando.

Atravessou as fendas gigantescas entre os muros, visualizando o local onde todos os outros estavam. Ao menos, onde deveriam estar. Seus passos eram inaudíveis enquanto olhava para todos os lados a procura de qualquer sinal de vida. Nem mesmo os animais eram ouvidos.

—Mas que mértila é essa...

Caminhou por uns dois minutos em silêncio, o pânico dando leves sinais em sua mente. Onde estava todo mundo? Se aquilo fosse uma pegadinha estúpida, ia tratar de quebrar os dentes do engraçadinho que teve a ideia.

Um barulho repentino chamou sua atenção e rapidamente se virou para ver o que era. Vinha da pequena floresta no canto leste, um aglomerado de grossas árvores retorcidas se mostrando na parte exterior. O interior era um mistério a menos que entrasse nela. Alguns galhos se mexeram quando algo passou por entre os ramos escuros, entrando no campo de visão do clareano. Não. Não algo, alguém. Camille. Ela o olhou de longe antes de dar meia volta e afundar na floresta novamente, desaparecendo em meio ao verde das plantas.

—Ei, espere! — Minho gritou, atravessando a clareira numa corrida em direção a onde a garota fora.

Parou de correr um pouco depois de adentrar no bosque, olhando para todas as direções em busca de qualquer sinal de Camille. Apesar de a claridade ser forte do lado de fora, ali dentro parecia estar em outro mundo. As árvores copadas proporcionavam uma escuridão macabra ao local, suas folhas deixando o ar com um tom esverdeado. Seus próximos movimentos foram calculados, percorrendo o local atentamente para que não tropeçasse em alguma raiz que desgrudava do solo. Suas pernas o levaram até um dos lugares mais quietos da clareira, o campo santo. Estreitou os olhos ao avistar a garota no chão, sentada sobre os calcanhares. Estava de costas para ele e parecia distraída com algo importante. A luz no cemitério estava tão fraca que a pele clara da garota parecia a de um fantasma.

—Cammie? — como não houve resposta ele se aproximou mais dela, parando de pé ao seu lado.

Ela não olhou para ele, se encontrava em uma interminável tarefa escrevendo algo em uma tábua de madeira com uma faca afiada. Parecia com as outras placas nas lápides, mas bem maior. Seus dedos sangravam com vários pequenos cortes, mas ela parecia não se importar com a dor.

—Camille?

Minho olhou mais atentamente e percebeu que não havia apenas um nome, mas vários, perdera a conta. Se agachou para poder visualizar melhor e os nomes ficaram claros.

Caçarola

Alby

Winston

Thomas

Teresa

Newt

A lista seguia e não parecia que ia acabar tão cedo.

—O que significa isso? — ele questionou impaciente. Odiava ser ignorado. — Onde está todo mundo, por que está escrevendo o nome deles aqui?

—Estamos em um cemitério, deveria fazer silêncio. — a voz dela era estranhamente calma, sem nenhuma entonação que demonstrasse qualquer sentimento.

—Responda minhas malditas perguntas, será que pode olhar pra mim?

Minho sentia um alarmante desejo de respostas, a sensação ruim quase o sufocando. Aquela não parecia a Camille de sempre. Ela finalmente resolveu olhar para ele, parando com a tarefa de antes. Seus olhos azuis estavam desprovidos de emoções, bem diferentes do usual. O garoto franziu o cenho.

—Cammie, o que está acontecendo?

—Estão mortos. Todos eles.

A fala o atingiu de súbito, ele pareceu receber uma bofetada no estômago. Respirou com dificuldade, organizando os pensamentos, o gosto da bile na boca.

—Mortos? — sussurrou.

Dessa vez ela sorriu carinhosamente. Colocou uma mão em seu rosto, manchando sua bochecha com o sangue dos cortes em seus dedos.

—Não se preocupe, querido. — sua voz era suave, como uma música — Seremos os próximos.

***

Minho acordou num ímpeto, sugando uma golfada de ar. Prendeu a respiração por dois segundos e então liberou-a. A voz de Camille no sonho ainda ecoava na sua cabeça.

“Seremos os próximos”

Esfregou os dedos nos olhos, ainda perturbado, lembrando -se de onde estava.

“México, deserto. Fase dois” , recordou. Não era muito melhor que seu sonho, mas ao menos todos ainda estavam vivos. Bom, quase todos.

Suspirou pesadamente, levantou o braço para olhar a hora no relógio de pulso e deixou-o tombar novamente sobre seu rosto. Havia dormido por volta de uns 25 minutos. O garoto permaneceu na mesma posição, não tinha a mínima vontade de se mexer, nem mesmo abriu as pálpebras.

Dez minutos se passaram e ainda não voltara a dormir, apesar da sonolência. Foi quando o som de passos leves o alertou, fazendo com que tirasse o braço do rosto e espiasse quem quer que estivesse de pé.

Camille aparentemente não notara que o asiático a seguiu com os olhos quando se aproximou de Newt. Parte de si queria estar adormecido para não ter que vê-la com o amigo. No fundo sabia que deveria escutá-los, agir com maturidade e tentar entender o que realmente aconteceu. Não é como se sua confiança neles fosse tão fraca, mas ao mesmo tempo odiava qualquer pensamento que o levasse àquele momento em que viu os dois se beijando. O ciúme era incontrolável, como um animal feroz com garras afiadas que rasgava seu interior tentando sair. Ele tinha consciência de que não podia perder o controle ali, as coisas já estavam feias o suficiente.

A curiosidade era maior que o medo do que poderia ver ou ouvir, sendo assim, permaneceu na mesma posição.

Minho escutava cada palavra atentamente. Mesmo sem olhar para ela, imaginou que Camille estivesse remexendo as mãos de forma frenética, a garota sempre fazia isso quando ficava nervosa. Um bolo se formava na garganta do asiático. Não queria admitir, mas estava claro que nem ela nem Newt gostavam um do outro além da amizade. Apesar disso, não conseguia engolir a desculpa do loiro quanto ao motivo de ter beijado Camille. Veja bem, não achava que estivesse mentindo, mas não era como se ele tivesse sido forçado a nada.

— Eu e você sabemos como o Minho consegue ser cabeça dura, ele não vai querer me escutar por tão cedo. — a ouviu dizer, sua voz numa entonação deprimida — Bem, não o culpo por isso. Ele está magoado.

Era verdade, talvez mágoa descrevesse exatamente como ele se sentia. O fato de não conseguir controlar seu temperamento também não ajudava muito. Minho era teimoso, e por mais que odiasse ouvir o modo como Camille falava no momento, era difícil engolir o orgulho.

Depois de alguns instantes, Newt incentivou-a a dormir um pouco. Minho escutou quando ela se levantou agradecendo pela conversa e saiu para outro canto. O que ouviu dos dois martelava em sua mente e de repente o teto de concreto parecia algo de magnífica importância. Ao contrário do que imaginava, o sono ainda conseguiu o vencer, o mundo se transformando em um enorme borrão.

***

O barulho alto fez com que todos se assustassem, colocando-se de pé num salto e olhando para todas as direções de forma desnorteada. Antes que qualquer burburinho começasse, Jorge colocou a mão nos lábios, fazendo sinal para ficarem quietos. O barulho vinha do lado de fora do galpão, como se alguém estivesse derrubando algo muito pesado. Os garotos mantinham os olhos arregalados, pensando que as únicas coisas que poderiam estar provocando aquilo eram cranks. Nenhum deles estava muito animado com a ideia de ter canibais alucinados do lado de fora de onde se encontravam.

— Eu vou espiar — o mais velho anunciou num murmúrio —, não se mexam.

Ninguém contestou à ordem, nem mesmo Minho. Aos poucos começaram a pegar suas mochilas e as prenderam nas costas, prontos para qualquer sinal de perigo. Jorge caminhou a passos lentos até chegar a uma pequena fresta na parede, por onde tratou de olhar, tomando todo o cuidado para não ser notado.

Afastou-se rapidamente, praguejando.

— Odeio ter que dar as notícias ruins — começou, ainda falando num tom muito baixo —, mas tem um belo grupo de cranks nos esperando ali.

— Acha que são os mesmos que nos vigiavam mais cedo?

Jorge passou a mão no queixo, ponderando.

— Possivelmente.

Os clareanos se entreolharam, buscando uma solução para o problema. Minho varreu os olhos pelo galpão, procurando possíveis saídas.

— Para onde essas escadas levam? — questionou para Jorge, apontando para os degraus que se erguiam do chão até um corredor metálico, como uma ponte, que terminava em uma porta escura.

— Nossa salvação, hermano. — esfregou as mãos ansioso. — É bom que saiamos por lá, vai nos levar a algum corredor e eventualmente ao mundo externo. Existem outras saídas de emergência por aqui, mas ou levam para o subsolo ou para mais fundo no prédio, não sei dizer. Geralmente as saídas se conectam em algum ponto.

— Que seja, vamos logo com iss...

Mal terminou a frase quando uma explosão mudou todos os seus planos, quase como se os cranks soubessem a hora exata para agir.

A parede se despedaçara, lançando uma cortina de poeira acinzentada que os cegava. As latas dos alimentos empilhados fizeram um barulho gigante ao caírem e rolarem pelo chão. Ninguém conseguia manter os olhos abertos, os garotos tossiam levantando os braços acima do rosto.

— Só pode ser brincadeira. Essa mértila de novo? — alguém exclamou, era impossível saber quem.

Tentavam se recuperar do choque quando um grupo de pessoas tomadas pelo fulgor entraram berrando coisas sem sentido. Apesar de não entenderem o que queriam falar naquele momento, havia algo que todos concordavam. Estava na hora de dar o fora daquele local.

A fuga era uma mistura de berros, corpos se chocando e tropeçando uns nos outros e risadas alucinadas vindas dos cranks. A voz de Minho, Jorge e Newt também foi ouvida quando gritavam para encontrarem as saídas.

Camille lutava para enxergar direito em meio ao tumulto, sabia que deveria subir as escadas e sair pela porta de cima, como Jorge instruíra, mas falar era mais fácil do que fazer. Ela sentiu um dos cranks segurar seu cabelo com força, planejava arrastá-la para algum lugar na confusão. Talvez tivesse sido a adrenalina correndo nas veias ou talvez ganhara uma força divina, mas conseguiu se desvencilhar dele, chutando-o para longe de si. A essa altura não conseguia pensar em mais nada e, ao primeiro sinal de uma saída, correu sem nem se importar se estava sozinha ou se os amigos a seguiam.

Adentrou um, dois, três corredores até o barulho se distanciar. Nesse momento foi capaz de fazer suas pernas pararem, escorando-se em uma parede e sugando o ar. O nervosismo era mais exaustivo que o cansaço físico. Afinal, como ex-corredora do labirinto, aquele trecho não havia sido grande coisa. Ela abriu os olhos apenas para enxergar uma iluminação precoce. Na verdade, era inacreditável que houvesse energia na cidade, mas de alguma forma fracas lâmpadas apareciam aqui e ali pelo prédio. Apesar disso, todo o local mantinha uma aparência obscura e assustadora.

Camille se recuperou do susto e ficou ereta, olhando para os lados e tentando encontrar qualquer indício de que algum amigo pudesse tê-la seguido, mas não havia nada que indicasse isso. Estava sozinha.

***

— Vamos voltar!

— Você não pode estar falando sério. — Jorge o olhava como se Newt tivesse batido a cabeça. — Acabamos de conseguir sair.

— Não todos nós. — disse, ainda decidido.

— Hermano, deixe-me lembrá-lo que eu sou o crank aqui. Se tem alguém que deveria estar alucinando, esse sou eu, não você. O que te faz pensar que podemos voltar lá assim?

Newt o olhou com raiva, estava prestes a perder a calma. Fazia uns cinco minutos que os dois tinham aquela discussão. Os clareanos finalmente conseguiram se livrar dos cranks; foi uma bagunça total, mas de algum modo eles pareciam mais interessados em berrarem e machucarem os garotos no galpão do que os seguir quando conseguiam subir as escadas. É claro que alguns saíram com arranhões e cortes, talvez algum hematoma, mas nada que realmente fosse digno de preocupação. De qualquer forma, não demorou para notarem quem estava faltando naquele grupo e esse era o motivo pelo qual os dois brigavam.

— Já precisamos encontrar Thomas e Brenda do outro lado da cidade; não podemos jogar a sorte e esperar que aconteça o mesmo com Camille e Minho. — debateu — Eles não conhecem o lugar como aquela sua amiga crank.

Jorge suspirou pela enésima vez.

— Tá legal, hermano; mas não vamos voltar pelo mesmo caminho. Se eu estiver certo, as rotas se conectam e eles poderão sair pela outra extremidade. Basta que encontrem algum túnel subterrâneo ou algum corredor que os leve para fora. Vamos dar a volta e esperar escondidos. Se não saírem em algumas horas, entramos.

Newt ainda parecia irritado. Olhou em volta esperando apoio de qualquer outra pessoa, mas todos pareciam concordar com Jorge. Fechou os olhos por alguns segundos, organizando os pensamentos.

— Tudo bem, mas eu digo quando iremos entrar.

Se precisarmos entrar. — Jorge resmungou, parecia tranquilo. — Eu não sei quanto à garota bonita, mas não acho que aquele asiático idiota vá se deixar morrer tão facilmente.

— Só espero que estejam juntos. — Caçarola murmurou para ninguém em especial, ele apertava um corte no braço.

Newt lançou mais um olhar pelo caminho que viera, antes de balançar a cabeça e seguir o mais velho.

***

— Isso mesmo, Camille. — ela resmungava para si mesma — Suba as escadas, eles disseram. Mas você fez isso? É claro que não.

Sentia-se uma covarde por ter fugido daquela maneira sem prestar atenção nos companheiros, mas tentara se convencer de que estavam a salvo. Conhecia aqueles garotos há tempo suficiente para afirmar que poderiam se cuidar muito bem sozinhos. De qualquer forma, agora tinha um problema maior, arranjar um jeito de sair e se encontrar com eles novamente.

Ela andava cuidadosamente pelo interior do prédio. Na verdade, não tinha a menor ideia de onde estava. O edifício parecia ter se inclinado há um bom tempo e a construção se firmara no solo, era quase impossível saber em que parte do local se encontrava. A iluminação era precoce, proporcionando um aspecto macabro aos andares caídos.

— Eu devo adorar ser a idiota do filme de terror. — zombou, tentando se distrair.

Não tinha muito a fazer a não ser andar procurando uma saída. Sabia que estava encrencada. Até tentara voltar pelo mesmo caminho de antes, mas ao se aproximar escutou os sons dos cranks conversando e não pensou duas vezes antes de dar meia volta.

Ela passava por corredores íngremes, como rampas, resultado da leve inclinação do prédio, mas nada que pudesse de fato atrapalhar sua caminhada. Ela só percebia como o prédio estava arruinado quando observava o teto: em vários pontos do caminho notava que algumas partes eram bem mais baixas que as outras, como se estivessem prestes a desmoronar sobre sua cabeça.

Como essas coisas gigantescas foram afundar na areia?”, se questionou ao passar por um elevador entortado. Suas portas estavam abertas e os fios grossos soltos na parte superior. Imaginou se era obra dos cranks.

As paredes mantinham uma camada velha de tinta descascando, mas pareciam em ótimas condições, levando em conta que já poderiam ter sido destruídas por aguentarem os andares do prédio. Seus olhos estavam astutos observando cada virada de corredor; não podia se perder mais do que já estava perdida. Procurava por uma janela ou qualquer coisa que mostrasse o lado de fora, mas era um esforço em vão, deveria estar no meio do edifício.

Um estalo acima de sua cabeça fez Camille se exaltar, olhou para cima e percebeu que o ruído provinha da lâmpada cuja luz já estava fraca. Tentou ignorar aquilo, afinal, o fato dela estar funcionando já era um milagre. Mal teve tempo de terminar o pensamento; quase teve uma parada cardíaca quando todas as luzes se apagaram, um corte repentino de energia, deixando-a numa total escuridão. Fechou os olhos com força, controlando o fôlego.

Não se desespere”, ordenou a si mesma em pensamento.

Ainda no breu puxou a mochila das costas e apalpou até encontrar o zíper. Enfiou a mão direita dentro dela e mexeu nas coisas espalhadas no interior.

— Por favor, por favor… — implorava para o destino lhe conceder sorte.

Respirou aliviada quando suas mãos se fecharam no cabo cilíndrico de uma lanterna. Rapidamente a puxou para fora e ligou. A luz repentina formando círculos no escuro para onde quer que apontasse.

Após se certificar de que conseguiria enxergar bem, voltou à sua tarefa. Andou sem rumo até encontrar um local amplo, como um saguão. Passou a lanterna por toda a sala, absorvendo rapidamente as informações. Havia algumas mesas e cadeiras espalhadas, muitas delas viradas ou quebradas, mas fora isso era basicamente um lugar vazio que servia apenas de ligação para outros corredores. Também avistou um elevador fechado e escadas que se erguiam de um canto à sua esquerda, um pouco mais inclinadas que o normal.

Camille se sentia cada vez mais nervosa; seus batimentos cardíacos funcionando numa velocidade impressionante. Tinha a estranha sensação de estar sendo seguida, mas talvez fosse apenas sua mente lhe pregando peças. Afinal, é natural que qualquer pessoa se sinta assustada andando no escuro dentro de um prédio e com apenas uma lanterna; sem contar nos cranks que poderiam estar a espreita.

De qualquer forma, agora precisava se acalmar. Seus olhos acompanharam os degraus da escada, mas descartou a ideia de seguir por lá; se fosse para encontrar uma saída, seria pelo térreo.

Depois de uma breve reflexão e um pedido silencioso por sorte, escolheu um dos corredores e seguiu adiante. Assim como nos outros, havia portas entreabertas aqui e ali. Uma breve espiada revelava um interior com máquinas e equipamentos diversos. Camille chegou a conclusão de que esse era o motivo do prédio ser ligado ao galpão, deveria ser um tipo de fábrica. Os andares superiores provavelmente serviriam para os negócios da empresa, mas essa era apenas uma especulação, já que não subira as escadas. Ela tentava se distrair do clima macabro instalado no local e se pegou imaginando quantas pessoas teriam trabalhado ali.

O pior de tudo talvez fosse o silêncio. Além do estalo na lâmpada, não havia escutado um ruído sequer. Era uma quietude tão assustadora que sentia medo de falar em voz alta e algo se estilhaçar.

A tarefa de se distrair não estava funcionando bem; só restava mesmo encontrar uma maldita saída ou ao menos uma janela. Não era pedir muito.

Ela parou e ergueu a lanterna de modo que iluminasse quase todo o caminho em linha reta. Se sentia cada vez mais perdida, o que era uma ironia considerando que passara quase três anos de sua vida correndo em um labirinto. Ela se encolheu, a escuridão era cada vez mais assustadora. Se tinha algo que Camille detestava era altura, como Minho recentemente descobriu, mas ela estava pensando seriamente em adicionar “prédio abandonado” à sua lista de temores.

“Talvez eu devesse apenas voltar e esperar que alguém retorne por mim...”, ponderou ainda parada observando o caminho.

No mesmo segundo que cogitava a ideia teve seus pensamentos interrompidos. Um barulho repentino fez com que todos os pelos do corpo dela se arrepiassem; ela travou a respiração e sentiu seu coração disparar. Não precisava pensar para saber de onde provinha o ruído.

O som de um clique. A maçaneta de uma porta foi girada bem atrás dela.

Camille nunca se moveu tão rápido como naquele segundo. Em um instante olhava para frente, no outro seu corpo dava meia volta, o feixe de luz de repente apontando para um de seus piores pesadelos.

Parado à sua frente, saído de uma das salas do corredor e a olhando como se ela fosse um ser muito interessante, estava um crank.

Ela não teve outra reação a não ser gritar, o som provocando ecos por todo o recinto.


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Notas finais do capítulo

Sabe aquela cena do filme de terror quando a personagem está sozinha no escuro e de repente aparece um ser do quinto dos infernos? Então, imagino a Camille nessa situação e to me perguntando se não fui maldosa com a coitada, rsrs.
Enfim, obrigada por lerem. O próximo não vai demorar para sair (Talvez em menos de duas semanas).
Obs: O próximo também vai matar a saudade de muita gente por um certo casal... Hihi

XOXO



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