My Little Runner escrita por Angie


Capítulo 21
De pesadelo à realidade


Notas iniciais do capítulo

Hi ❤ Estou morrendo de vergonha de postar esse capítulo...Primeiro porque está minúsculo (sempre tento respeitar 2.500 palavras para cima!). Segundo porque demorei (ta tudo uma correria nesse final de ano, preciso estudar para uma processo seletivo e tentar entrar em um colégio federal, acho que não vou passar ;-; sem contar que tem a escola diária), espero que entendam. Terceiro: Eu queria escrever mais um bando de coisas, só que ou era postar apenas isso, ou esperar mais um ano, ignorem o hiperbolismo, até eu terminar tudo que realmente queria.
Enfim, eu sei que minhas descrições nem se comparam com a do James Dashner, mas eu não quis copiar do livro, portanto espero realmente que esteja bom.
Emilly Riddle, obrigada mais uma vez pela 8º recomendação, dedico esse mini-capítulo à você ❤



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Minho ainda se encontrava acordado quando começou a perceber que algo estava errado.

Já fazia um bom tempo que o vento soprava mais forte, uma formação de nuvens escuras cobrindo o céu pouco a pouco, como um lençol cinzento. A princípio ele não levara muito a sério. Afinal, deveria chover até no deserto. Porém agora já não estava tão certo de que aquilo seria uma chuva tranquila.

O céu, agora totalmente coberto de nuvens pesadas, carregadas de água, hora ou outra se iluminava com alguns clarões de relâmpagos. O vento, que já estava forte, soprava grandes rajadas de ar, fazendo com que muitos lençóis se esvoaçassem, alguns até escapando das garras dos clareanos. Uma massa de neblina já começava a se formar em torno dos ali presentes.

Alguns dos garotos começaram a despertar lentamente, surpreendidos pela repentina mudança climática. Minho começou a se erguer, apoiando-se pelos cotovelos, sem dar aviso prévio à Camille que se remexeu desconfortavelmente, abrindo os olhos enquanto resmungava de insatisfação pela perda do aconchego no asiático.

—Por que você não pode simplesmente dormir? —Ela choraminga sentando sobre as próprias pernas. —Qual o problema?

—Temos que levantar. —Minho respondeu; os olhos varrendo o céu. —Agora.

Camille só então pareceu despertar do recente torpor causado pelo sono.

—Não me lembro da última vez que vi chuva. —Newt comentou, aparecendo do nada. Ele, assim como alguns outros, já havia percebido a nova agitação.

Logo todos os clareanos estavam de pé, amarrando desajeitadamente os fardos de lençóis o mais rápido possível.

—Sei que deve chover até no deserto, mas não achei que realmente fosse acontecer. —Camille admirou-se, falando alto, acima da forte ventania.

Assim como a maioria dos clareanos, seus braços cobriam o rosto numa tentativa de proteger-se do vendaval.

—Se o vento aumentar, podemos correr o risco de sentir na pele uma tempestade de areia. —Minho berrou a plenos pulmões. —Vamos dar o fora antes que toda essa mértila piore!

Isto é. Pensou, vislumbrando à distância os grandes clarões cortarem do céu até o chão. Se já não estiver piorando.

—Mexam-se! —Ordenou, dando o ponto de partida para que todos saíssem do lugar.

Puseram-se a andar num ritmo razoavelmente bom. A cidade estava quase ao alcance das mãos; Camille daria uns trinta minutos de caminhada até o prédio mais próximo. Este que, assim como os outros, parecia crescer de altura a cada passo, mesmo aqueles com uma estranha inclinação, como se houvessem sido afundados há muito na areia desértica.

Camille tentou enxergar, em vão, o topo de um deles, porém o mesmo se perdia na escuridão das nuvens. Ela ficou imaginando se antes de tais “explosões solares” aquela não seria uma grande metrópole, lotada de pessoas que viviam suas vidas tranquilamente. Entretanto o pensamento parecia cada vez mais distante de ser alcançado.

No começo foi perceptível uma possível animação dos clareanos em relação à mudança do clima. Pouco a pouco eles foram se calando, agarrando bem os fardos ao corpo. As roupas de todos esvoaçavam sob o ar gélido que já começava a provocar arrepios.

Não saberiam dizer ao certo quando as coisas começaram a piorar. O vento se intensificou ainda mais, se é que era possível, dificultando a possibilidade de se manterem eretos.

Os cabelos de Camille pareciam ter vida própria, rodopiando ao seu redor. Muitas vezes ela tentara controlá-los com as mãos, sentindo a sujeira seca ao tocar os fios que, naturalmente, sempre foram macios.

A ventania parecia estar brincando com cada um deles, vendo qual seria o último a cair. A sensação era de que mãos invisíveis os agarravam por todos os lados. A única coisa que os incentivava a continuar andando era a aparente “vantagem” de não estarem indo contra o vento.

Mas nem isso, nem nada, impediu que os fardos se desprendessem, fazendo com que todos os alimentos se espalhassem, era impossível resgatar algo.

Detritos voavam pelo ar, impossíveis de serem vistos de imediato devido a camada de poeira que se intensificava ao redor. Camille fechou os olhos por impulso ao sentir a repentina ardência na lateral da bochecha, onde um pedaço de vidro acabara de passar voando. Mal ela notou o filete de sangue escorrendo do novo corte.

Continuaram andando, mesmo com a imensa ventania que os ameaçava a cada instante. O vento fazia a areia seca se desprender do solo, formando uma neblina palpável ao toque, podiam senti-la no ar, tornando quase impossível enxergar a forma lúgubre do deserto.

Percorreram mais da metade do caminho quando, o que não podia ficar pior, piorou.

Minho fez o possível para organizar a todos, indicando com gestos o que deveriam fazer, já que ninguém conseguiria escutar nada do que ele dissesse. Correram, o melhor que podiam com toda aquela situação e, por um segundo, Camille se sentira extremamente bem.

Apenas por um segundo.

Depois de passado esse mínimo espaço de tempo, ela pôde ter uma das visões mais incríveis e talvez mais assustadoras de sua vida. Um clarão, que parecia cortar o céu pela metade, atingiu o chão com a força e rapidez de um pensamento. Acontecera a metros de onde estavam, mas o tremor do raio foi tão estrondoso que abriu uma enorme cratera no chão, lançando os mais próximos para longe. Se antes não enxergavam nada, agora os raios caiam, semeando luz na escuridão.

E aquele não foi o único. Os clareanos entraram em desespero, correndo com todas as suas forças, o que não era muito comparado aos fenômenos da natureza.

Camille viu muitos caírem com a força do vento, quis voltar para ajudar, mas sentia mãos a empurrarem para frente a todo o momento. Sua real vontade era de se jogar no chão, tapar os ouvidos e gritar com todas as suas forças; mas haviam chegado até ali, não iria desistir.

Mais uma descarga elétrica atravessou o ar até o chão, levantando imensas quantidades de terra. O estrondo era tão alto que seus ouvidos pareciam a ponto de explodir, deixando um zumbido penetrante dominá-los.

Camille tentou olhar ao redor enquanto corria, tudo parecia um pesadelo sem fim. Passou por uma enorme cratera onde dois clareanos se encontravam. Um deles, claramente morto, totalmente deformado. Outro, ainda pior, este estava vivo. Ao menos parte dele; os braços e parte do tronco haviam desaparecido, o resto do corpo se contorcia enquanto se incinerava. O garoto berrava em agonia, mas era impossível escutá-lo.

Muitas foram as vezes em que ela tropeçara e caíra, sentindo mãos por todos os lados a ajudando. A última vez conseguira vislumbrar Newt, puxando-a e empurrando-a como se dissesse para que não parasse de correr.

Camille estava total e completamente aterrorizada. Queria gritar. Queria gritar tanto até que sua garganta se rasgasse. Mas tinha que continuar, precisava continuar.

Estavam quase alcançando o prédio, só mais um pouco e logo conseguiriam. Sabia que Newt estava logo atrás de si, mas não deixara de pensar nos outros. Thomas, Minho, e todos os clareanos.

Uma outra descarga ziguezagueou até o solo, a metros de onde Camille estava. A colisão repentina levantou-a no ar por tempo suficiente para provocar um belo estrago. A garota rodopiou até cair de qualquer jeito no solo, rolando incontáveis vezes pelo súbito impacto. Ela se sentia como se houvesse passado por um triturador, havia arranhões em cada parte de seu corpo.

Tratou de se levantar, tentando ignorar a dor, mas a forte ventania a desequilibrou novamente. Apoiou-se nos cotovelos e ergueu a cabeça a tempo suficiente para vislumbrar outro clarão de luz branca, iluminando a tudo e a todos. Porém foi ainda mais que suficiente para que pudesse ver, mesmo que de forma desfocada, a figura de Thomas ajudando outro clareano quase diretamente atingido pelo raio.

Em qualquer lugar, em qualquer hora, em qualquer situação ela conseguiria reconhecer a silhueta de Minho.

Mais que instintivamente, abriu a boca para gritar, mas o som morreu em sua garganta ao se sentir sufocar. Ela rolou e tossiu com força, buscando desesperadamente o ar.

Antes que pudesse sequer pensar em qualquer coisa, sentiu-se ser erguida novamente. Estava quase lá, quase lá. Todo o seu corpo parecia chumbo, não tinha mais força nas pernas e, levada pelo critério natural ou pelo desespero, acabou tropeçando novamente.

Tudo a sua volta parecia se mover em câmera lenta. O prédio, agora a pouquíssimos metros. Os garotos correndo em total terror, Thomas ajudando Minho a correr, por vezes o arrastando. Newt lutando mesmo com a perna machucada. O mundo girava como um carrossel, ela tinha dificuldade para permanecer com os olhos abertos.

Você não é uma corredora? Pensou, a força da própria mente a assustando. Não podia desistir, não agora. Vamos Camille, levante. Lute!

Os braços tremiam ao se apoiar no solo.

Vamos. Vamos.

Já podia enxergar o primeiro clareano atravessar a entrada do prédio enquanto se arrastava pelo chão.

Você consegue!

Sabe-se lá de onde tirara tanta força e coragem, mas pusera-se de pé, lutando contra as vontades de seu próprio corpo.

Sou uma corredora, não uma garotinha covarde!

Camille se esforçou tanto que seus olhos lacrimejaram.

Eu consigo. Sei que consigo.

O último clareano atravessara, faltava muito pouco. Pôde sentir os primeiros riscos molhados chocando-se contra sua pele e logo se intensificando. Todo o peso do mundo escorregou por seus ombros quando atravessou o último metro que a separava do prédio e caiu de joelhos, agora dentro do recinto, totalmente encharcada, seu cabelo e roupas grudadas ao corpo como cola. O peito subindo e descendo.

Fechou os olhos de puro alívio ao ouvir a chuva caindo lá fora, como se todo o céu desabasse de exaustão.

Ninguém falou nada, todos pareciam igualmente acabados, tirando o fato de que nenhum havia se molhado. Viu Minho estirado no chão, perto de Newt e Thomas encostados na parede, totalmente exaustos.

Arrastou-se até eles, não tinha forças para andar, ou simplesmente vontade. Minho parecia acabado. As roupas rasgadas, queimaduras aqui e ali, avistadas hora ou outra pelo seu corpo. O rosto se contorcendo de dor a cada movimento que tentava fazer.

—Minho... –Ela sussurrou perto dele, queria tocá-lo, mas temia o machucar ainda mais.

O garoto balbuciou algo sem sentido, mas ela balançou a cabeça, afastando-se um pouco para se apoiar na parede. Todo o seu corpo parecia tremer, a ponta de seus dedos ficando roxas, nunca sentira tanto frio assim.

Seu mundo pareceu rodopiar pela milésima vez naquele dia, ela escorregou pela parede, sentindo seus membros dormentes, caindo de lado em posição fetal. Tremia de forma incontrolável. Depois de alguns minutos ouviu alguém falar algo sobre mudança climática e início de hipotermia, a palavra soando vagamente familiar para os clareanos, mesmo não a usando com frequência.

Sentiu mãos envolvendo-a com panos por todos os lados. Eram cobertores, os últimos restantes, que foram antes amarrados com força ao corpo dos garotos. Viu um bolinho de clareanos ao seu redor, aquecendo o local com o calor humano. Viu também olhares preocupados, não soube identificar de quem.

Por fim, teve uma última visão antes de adormecer. Olhou, com a mente distante, as janelas do prédio abandonado. Tudo que pôde fazer foi imaginar como aqueles vidros quebrados se pareciam com dentes pontiagudos, algo que, provavelmente, invadiria seus sonhos. Mas não naquela noite, pois depois daquilo tudo que vislumbrou foi a imensa voz da escuridão.


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Notas finais do capítulo

Eu sei, eu sei, pequenininho. Ao menos me digam se ficou bom, ok? Estou meio insegura, a do autor do livro está logicamente melhor, mas não acho que ficou ruim :)
Uma curiosidade: Estão lendo algum livro por agora? Eu estou com o primeiro de uma trilogia que comprei em julho e enrolei para ler, Legend, recomendo, é MUITO BOM!
Obrigada pessoal, vocês realmente são os melhores! ❤