My Little Runner escrita por Angie


Capítulo 19
Conversas.


Notas iniciais do capítulo

Cof cof... *batendo a poeira da fic*
Tenho duas coisas para dizer, mas antes de mais nada:
Gente, não acredito que fiquei dois meses sem vir aqui. Sim, a fic entrou em hiatus e eu não avisei vocês, o que foi uma grande idiotice da minha parte, sou uma trolha de mértila! A questão é: eu precisava desse tempo, precisava organizar tudo, organizar minha cabecinha, o rumo da fic, e todas essas coisas. A parte legal disso tudo? Eu voltei querendo inovar, mudei meu nick name para Angie (como uma amiga me chamava); tenho várias ideias fresquinhas e talvez essa semana mude a capa da fic, então fiquem de olho! Se eu tiver inspiração, posso até dar uma editada na sinopse, mas não é certo. Enfim o que eu quero falar é:
1- Agradeço de coração à querida Glader pela sexta recomendação. Eu fiquei sem palavras depois de ler, vocês leitores são simplesmente incríveis. O engraçado é que eu postei o primeiro cap. achando que não iria dar em nada e me surpreendi muito! E isso me leva a pensar: como pude abandonar vocês nesses dois meses? Fiquei com tanta saudade de escrever, de responder comentários, de fazer palhaçada com vocês. A única coisa que tenho a dizer é: Engula população, I'm back! (esse é o momento que escutamos Back in black -AC/DC).
2- OH MY GOSH! Quem aqui assistiu (ou está louco para assistir) Maze Runner: The Scorch Trials? Eu quase tive um ataque do coração, morta estou!
O momento mais épico do filme foi ver o Minho dar uma voadora no cara do C.R.U.E.L. e depois o Thomas "dando dedo".Eu não sabia se ria, chorava ou batia palmas!
Caramba, e aquele final? Faltei morrer, preciso entrar lá para salvar meu asiático delícia.
Então, ficou um pouco comprido, mas quem está comigo digite nos comentários: "Minho delícia universal" kkkkkk Desculpa, não resisti. hehe...
Enfim, boa leitura, e ignorem minha insanidade. Inclusive o nome do capítulo que está uma porcaria. Se alguém tiver sugestões para um nome melhor me diga nos comentários que eu mudo.



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Camille observou enquanto Thomas convencia os garotos para que fosse sozinho até o prédio de onde provinham os gritos.

Não fazia muito tempo desde que começaram a escutá-los cortando a noite. Todos haviam parado de caminhar, apenas escutando em silêncio. Era um som parecido com um miado. De um gato ferido. O tipo de lamento que fazia a pele se arrepiar, levava a colocar as mãos nos ouvidos com força e implorar para que parasse.

Agora, depois de o som ter inexplicavelmente se acabado, olhando ao longe para o pequeno e disforme prédio, a silhueta de uma garota foi vista através das luzes que provinham da construção abandonada.

Não era à toa que Thomas logo se prontificou para ir lá sozinho. Estava óbvio que ele imaginara se tratar de Teresa, mas Camille ainda tinha seus receios.

–No que está pensando? –Uma voz masculina falou repentinamente, tirando-a de seus devaneios. Ela cambaleou pelo susto. –Me desculpe se a assustei.

Recompôs-se ao reconhecer Aris parado à sua frente, com uma expressão vazia.

–Eu... tudo bem. –Disse por fim.

–Não respondeu à minha pergunta. –Aris comentou, depois de terem passado alguns segundos em um silêncio incômodo. –Sobre o que estava pensando. –Explicou ao notar a expressão confusa no rosto da outra.

–Ah, nada demais. –Murmurou vendo Thomas já sair correndo em direção ao prédio. –Aliás, você acha que Teresa foi levada para o grupo B?

–Possivelmente. É isso ou ela está morta. –Aris falou com tanta tranquilidade que Camille engoliu em seco.

Ela os observou por uns poucos segundos. Parecia um garoto completamente normal, todos do grupo já o aceitavam tranquilamente e, para ser franca, Aris aparentava exatamente o que dizia ser. Mas ainda assim havia algo... Algo estranho que incomodava Camille.

–Já nos conhecemos, certo? –Ela disse sem pensar, mais como uma afirmação do que uma pergunta. –Quer dizer, eu te vi em coma antes de ser “transferida” e soube seu nome, assim que o achamos no dormitório.

–Provavelmente todos já nos conhecíamos. –Aris deu de ombros. –E você mesma disse que está recebendo as memórias de volta pouco a pouco.

–Sim, mas não é só isso. Você também me reconheceu. E eu estou afirmando, porque toda vez que me olha é como se pudesse ler minha mente.

–Se isso for uma hipótese a resposta é não, não consigo ler sua mente.

–Mas sabe quem eu sou. –Camille pressionou.

–Nunca disse que eu não sabia.

Ela passou as mãos nas cochas, secando o suor.

–Tudo bem... Mas isso não explica o que aconteceu antes de passarmos pelo Transportal.

Como Aris não disse nada ela continuou.

–-Você disse “lembranças confusas”. Como sabia que...

–Não faço a menor ideia do que está falando. –Aris a interrompeu, não a olhava nos olhos.

Camille sentiu como se tivesse levado um tapa.

–Não sabe? Você disse, olhou diretamente nos meus olhos.

–Acho que está imaginando coisas Cammie.

Ela deu um passo para trás.

–Não me chame assim.

–O quê? Cammie? –Aris levantou o olhar, arqueando uma sobrancelha. –Por quê?

Ela balançou a cabeça.

–Parece... de alguma forma errado. –Disse, fazendo Aris rir. Camille não sentia a menor graça.

–E o que é certo, afinal? Estamos aqui falando disso quando na verdade não passamos de peões no joguinho dos criadores. Cada um tem o seu papel.

–O que está insinuando?

–Não estou insinuando nada. Apenas acho que eles controlam tudo de cima. Nunca se perguntou como justamente você foi parar perto da caixa quando te tiraram do grupo B? Quem sabe, pode ter sido apenas coincidência.

Não existem coincidências. Pensou, mas não foi aquilo que disse.

–Foi mais um truque dos criadores, agora me lembro bem de pensar ter visto um besouro mecânico com... –Ela parou de repente.

–Com...? –Aris a incentivou a continuar.

Camille estava com os olhos fixos em um ponto qualquer, como se acabasse de perceber algo importante. Murmurou algo que o garoto não entendeu.

–O quê?

Ela levantou o olhar, encarando-o com seus olhos azuis, pareciam ainda mais acinzentados à luz do luar.

–A única vez que contei isso a alguém foi quando apareci no grupo A. Eu nunca te falei sobre ter saído através da caixa.

A essa altura ela já estava há alguns passos de distância, os olhos fixos no garoto.

–É com isso que está preocupada, então. –Aris comentou. –As garotas me contaram depois que eu acordei.

–Ninguém estava comigo naquela noite. –Rebateu, olhando rapidamente para os lados com o canto dos olhos, mas ninguém parecia notar a conversa deles.

–Elas a ouviram gritar e deduziram isso, não tem como você ter certeza de que ninguém a viu.

–Eu tenho certeza.

Aris suspirou.

–Ta legal. Você não confia em mim.

–E eu deveria?

O garoto ficou em silêncio durante alguns segundos antes de erguer o canto dosa lábios no esboço de um sorriso.

–Isso não depende de mim. –Foi tudo o que disse antes de passar por ela que estava totalmente sem reação. Depois de uns dois segundos, se virou buscando mais explicações, mas Aris já havia desaparecido na noite por entre os outros clareanos.

Ela não sabia ao certo com que cara estava naquele momento, mas a sensação de vertigem e a dor de cabeça começaram a dar pequenos sinais.

Com o canto dos olhos avistou Newt e Minho andando calmamente em sua direção, não pareciam ter notado nada de errado.

–Ei, o que está fazendo aqui sozinha? –Minho perguntou se aproximando.

Camille balançou a cabeça e logo se arrependeu do ato ao sentir pontadas de dor, como pequenos alfinetes perfurando sua mente.

–O que foi? Parece que viu um fantasma trolha. –Newt perguntou e Minho estreitou os olhos, só então os dois percebendo que algo estava errado.

–Eu preciso contar uma coisa. –Camille disse, combatendo a náusea que teimava em querer envolvê-la. –É sobre o Aris, ele... Eu acho que ele não é quem diz ser.

Minho franziu o cenho.

–Como assim ele não é quem diz ser? –Perguntou, mas ela já estava com a mente distante. –Cammie?

–As lembranças. Acho que vai acontecer de novo. –Ela murmurou levando uma mão à cabeça.

Newt e Minho se entreolharam.

–Ok. Isso é muito estranho, nos diga exatamente o que está sentindo. –Newt pediu.

Mas em vez de responder, cambaleou para trás. Os garotos se apressaram em segurá-la antes que perdesse o equilíbrio.

Camille estava em um corredor escuro, iluminado apenas pela claridade proveniente das aberturas estreitas de portas ao longo do caminho. Olhou em volta, procurando algum sinal que a fizesse saber onde estava.

O primeiro que recebeu foi um vago reconhecimento e uma sensação de djávu ao pensar no momento em que estivera na Base de CRUEL, espreitando entre os corredores.

–O que pensa que está fazendo Camille? –Uma voz masculina falou em tom de advertência e clara superioridade.

Ela se virou imediatamente, o coração dando cambalhotas. Mas não era a ela que a voz se referia, mas sim a uma garotinha de dez ou onze anos escondida nas sombras. A garota deu um passo à frente, ficando exposta à luz de uma das salas onde o dono da voz se encontrava, de jaleco e rosto inexpressivo.

–O que você queria aqui? –Ele perguntou novamente, os olhos fixos na garota.

Camille a observou atentamente. Ainda tinha o corpo semi-formado de menina, devia medir aproximadamente até seu ombro. Os cabelos eram compridos e estavam emaranhados, como se não tivesse tido tempo, ou paciência, para penteá-los. Vendo o modo como ela comprimia os lábios repetidas vezes e varria o locar com expressivos olhos azulados, Camille percebeu com espanto que se tratava dela mesma há alguns anos.

–Procurava o banheiro, mas me parece que entrei no lugar errado. –Ela sorriu abertamente, mas o remeximento das mãos entregava seu nervosismo. –Bom, ele não está aqui. Então acho que...

–O que você viu lá dentro? –O homem perguntou, ignorando a tentativa de fuga da garota. Seus olhos não deixavam escapar nada.

O sorriso dela se desfez.

–Nada. –murmurou. –Eu só quero dormir.

Mas ele não pareceu se convencer, a olhou de cima.

–Venha comigo. -Disse.

A garota deu um passo para trás, mas o homem a agarrou pelo braço, levando-a corredor adentro.

–Não! –Camille gritou, mas era como se ela não existisse. Queria perguntar ao seu eu mais novo o que de fato havia visto, queria poder saber tudo.

Tentou correr atrás deles, mas pareciam se afastar cada vez mais, perdendo-se na escuridão.

–Ei! –Newt bateu com as duas mãos espalmadas à frente de seu rosto.

Camille abriu os olhos numa fração de segundos, deixando escapar um longo arquejo de surpresa.

–O-o que...? –Gaguejou, olhando para os dois com uma expressão confusa.

–Nós é que perguntamos. –Minho respondeu, estava com as duas mãos em seus ombros, como se a tivesse chacoalhado. –Falou algo sobre lembranças e de repente quase caiu, então ficou olhando para o nada como se não nos enxergasse. E o que quis dizer com Aris não é quem diz ser?

Só então ela pareceu se lembrar. Piscou algumas vezes, tentou esvaziar a mente, recuperando-se da confusão em sua cabeça.

Os garotos ainda a olhavam cheios de curiosidade, ainda esperando respostas.

–É isso. –Ela disse. Contou uma versão resumida dos fatos, despejando tudo de uma única vez. Desde a conversa com Aris, e o resquício de memória que acabara de ter.

Ao terminar o rápido relato os dois ficaram em silêncio, sem esboçar reação. Camille remexeu os dedos uns nos outros, esperando alguma reação, mas tudo que obteve foi um baixo assobio de Minho.

–Falem alguma coisa! –Pediu por fim, já impaciente.

Newt limpou a garganta.

–Cammie, está dizendo que suas lembranças vem até com você acordada?

–Mais ou menos, só aconteceram agora, antes fora apenas frases sem sentido. –disse, torcendo para que eles entendessem.

–Thomas disse que também estava se lembrando de algumas coisas quando dormia, mas nada acordado. E não comentou nada sobre o Aris.

–Eu não sou o Thomas. –ela disse com uma carranca.

–Ainda bem, eu com certeza não quero namorar aquele trolho. –Minho disse pela primeira vez desde que ela contara os fatos.

– Eu não estou brincando Minho! –Camille quase gritou.

–Eu sei, eu sei. –ele levantou os braços para o alto em sinal de paz. –Não precisa ficar nervosinha.

–Eu não estou... –começou, mas parou e respirou fundo, se controlando.

–Só penso que talvez toda essa coisa de lembranças seja porque está passando por uma fase difícil.

–Fase difícil? –Ela olhou incrédula para ele. –É assim que descreve tudo isso? –Abriu os braços, como se quisesse indicar tudo ao redor deles.

O asiático deu de ombros.

–É isso ou morte iminente.

–O que Minho quer dizer –Newt interrompeu, antes que Camille tivesse um ataque. –, é que talvez você só esteja confusa e misturando as coisas.

–Eu ouvi a voz de Aris antes. Você sabe Minho. –Olhou para ele, dando ênfase. –E depois da conversa...

–Quem sabe, não vamos fazer um chilique. Se ele é ou não quem diz ser, logo saberemos. Por enquanto vamos apenas continuar com...

–Ei, olhem! –Um dos clareanos gritou, apontando ao longe para uma figura saindo de um prédio e correndo para longe. Parecia fugir de algo, mas não havia mais nada atrás dele.

–Tommy? –Newt perguntou para ninguém em particular. Aquele era o prédio para o qual Thomas havia ido.

–Mas o que... Qual é o problema daquele trolho mertilento? –Minho rosnou. –Vamos logo, não podemos perdê-lo de vista!

Dito isso saiu em disparada, sem esperar que os outros o seguissem. Os clareanos se entreolharam, inclusive Newt que, com um suspiro, disse:

–Vamos lá, sigam o corredor.

***

Encontraram Thomas empoleirado no chão depois de muito correr. Aparentemente, havia sido realmente Teresa a garota misteriosa do prédio. O porquê de ele ter corrido como um louco desvairado ninguém entendera ao certo. Bem, exceto Minho, ao qual Thomas contara aos murmúrios o que acontecera.

Camille ficou tentada a se aproximar e fazer perguntas, mas teve que engolir a curiosidade ao perceber a feição de Thomas, indicando claramente que não estava aberto a conversas.

–Ta legal trolhos, já que chegamos aqui é melhor dermos uma pausa de uma vez. –Minho disse, atraindo a atenção. –Tratem de dormir, precisamos completar essa tarefa e dar o fora dessa porcaria de deserto o mais rápido possível, então estejam descansados.

Ninguém emitiu um único ruído de reclamação; todos estavam extremamente exaustos e dariam de tudo por um descanso. Em menos de um minuto a maioria já estava deitada na terra seca, prontos para dormir. Camille desviou-se de alguns clareanos enquanto atravessava entre eles.

–Você também líder. –Camille dissera ao chegar até Minho, que até então permanecia parado um pouco afastado do grupo, os braços cruzados, o olhar fixo à frente, como se estivesse tentando imaginar algo que poderia acontecer.

Ele piscou, acordando de seu devaneio e olhou para ela, as sobrancelhas erguidas. Parecia o mesmo Minho de sempre, durão, sarcástico e com aquele olhar cheio de ironia, como se o desafiasse a tentar continuar mantendo o contato visual. Mas, para Camille, dizia muito mais que isso.

–Dormir, quero dizer. Também precisa descansar. –Tratou de se explicar.

Minho ergueu os lábios num meio sorriso.

–E o que me diz de você também não estar descansando? –Rebateu.

–Fazer o quê, preciso cuidar de você. –Camille deu de ombros casualmente.

–Acho que esse é o meu papel. –Minho disse enquanto colocava o cabelo dela atrás da orelha, passando os dedos pelos fios até alcançar a parte de trás do pescoço dela, repousando a mão no local ao mesmo tempo em que acariciava sua nuca lentamente em movimentos circulares com os dedos num gesto quase natural.

O simples e delicado toque fez com que a garota se arrepiasse e deixasse escapar um suspiro involuntário.

–O que você disse sobre as memórias e o Aris... –Ele começou, incerto, limpou a garganta. –Só queria saber se estava tudo bem.

Camille sorriu de canto e tocou o peito dele com as duas mãos enquanto escorava seu rosto no ombro do mesmo. Podia senti-lo respirando, o peito subindo e descendo devagar sob o tecido da camisa.

–Tudo bem. –Respondeu como num murmúrio, a voz abafada pela posição em que estava.

Minho a afastou um pouco, num movimento brusco, apenas à alguns centímetros fazendo-a se surpreender por alguns segundos. Segurou-a pela cintura, uma mão de cada lado do corpo. O garoto buscou capturar o olhar dela, mas a mesma olhava para outro ponto qualquer.

–Quero que olhe pra mim. –Ele disse. Camille hesitou por um segundo. –Cammie, olha pra mim. –O tom autoritário desapareceu em sua voz.

Ela finalmente levantou o olhar, apenas para encontrar os dele com uma preocupação aparente.

–Eu estou bem Minho, de verdade. –Disse, fazendo-o estreitar os olhos em dúvida. –Só estou confusa com tudo isso, mas não tem motivo para se preocupar.

–Eu sei. –Suspirou. –Só quero ter certeza. Apesar de tudo, vou continuar me preocupando. Bem, o que estou dizendo é que...

–Ahh. –Camille o silenciou. –Eu sei. –Acariciou o rosto dele antes de erguer um pouco o corpo e pressionar seus lábios contra os dele. Minho permaneceu rígido por uns dois segundos antes de retribuir, passando os braços em volta dela para que ficasse mais perto.

–Não quero perder isso. –Ele murmurou na boca dela, entre um beijo e outro.

Camille afastou o rosto, seus corpos ainda próximos.

–Não vai. –Afirmou, franzindo o cenho. –Não pense nessas coisas agora, nem parece o Minho que conheço.

–É. Veja só o que você fez comigo trolha.

Ela sorriu.

–Vem, vamos logo. Vai amanhecer e temos uma longa caminhada pela frente quando acordarmos.

***

O Sol brilhava como ouro derretido. Partículas de poeira inundavam o ar juntamente com um forte odor de suor humano vindo de todos ali. Camille se pegou pensando em chuveiros, era tudo o que precisava. Ou um rio, quem sabe um lago, com águas cristalinas e refrescantes. Daria tudo para poder sentir o prazer da água gelada tocando seu corpo e seus cabelos até que ficassem totalmente encharcados, expulsando toda a sujeira impregnada.

Espantou os pensamentos, aquilo só a faria ficar se torturando por algo que, até o momento, não podia ter.

–O que está resmungando ai? –Minho perguntou enquanto mastigava alguma coisa. Estavam tomando um rápido “café da manhã” antes de voltarem a caminhar.

–Estou refletindo sobre as mil coisas que eu gostaria de ter e não tenho. Um banho, por exemplo. –explicou, passando a mão pelos olhos. Pareciam arder por conta de toda a poeira, os cantos dos olhos com falta daquela umidade comum.

–Como se você fosse a única que desejasse isso. –Ele resmungou com uma careta. –Aliás, por mais que isso incomode muito, temos um problema pior com os suprimentos.

E estava certo. Agora Camille também tinha o próprio lençol para se cobrir. À medida que passavam o tempo naquele deserto, ficavam cada vez com mais sede e fome, o que provocava, obviamente, uma queda notável nos suprimentos. Mesmo com um efetivo controle do consumo supervisionado por Caçarola.

–Quem sabe haja comida e água na cidade. –Camille sugeriu. –Não que possamos chamar aquele amontoado de prédios e areia de cidade, mas... É uma esperança.

Minho assentiu pensativamente.

–Uma esperança... Só você para usar esse termo na condição em que estamos.

–Pense positivo. –Ela murmurou.

–Mas e então, teve algum sonho estranho hoje? –Lembrou Minho.

Ela balançou a cabeça.

–Nada. Só não sei se fico aliviada ou decepcionada. –Admitiu com um suspiro.

–Como você mesma disse, vamos pensar positivo.

Minho levantou-se, batendo a poeira das calças. Camille fez o mesmo enquanto ele chamava os outros.

Todos já seguiam caminho quando Camille notou Thomas andando pensativo em um canto. Mordeu o lábio inferior decidindo se deveria. Por fim acabou indo falar com ele.

O garoto parecia imerso em seus pensamentos, de um modo estranhamente triste.

–Ei Tommie, está tudo bem? –Ela perguntou, ainda um pouco incerta. Ele não parecia querer conversar.

Thomas a olhou com o canto dos olhos.

–Não é nada.

–Está pensando em Teresa, não é? –Perguntou, mais como uma afirmação.

Ele permaneceu com os olhos voltados para frente, mantendo o silêncio. Camille estava quase desistindo de esperar alguma resposta quando ele murmurou:

–É, acho que está um pouco óbvio.

–Óbvio demais. –Ela concordou com um meio sorriso.

–Ela estava lá. –Thomas continuou falando em meio a murmúrios. –Teresa estava no prédio.

–Não precisa falar se não quiser. –Ela comentou, percebendo como ele parecia desolado. –Quero dizer, por mais que eu esteja realmente, extremamente e loucamente curiosa, não vou fazê-lo dizer nada.

–Mas eu quero dizer. –Thomas afirmou. –E mesmo sendo difícil para mim, ou mesmo quando tudo que quero é ficar sozinho, preciso falar com alguém. Então, talvez... talvez com você seja diferente.

–Porque sou uma garota. –Ela pensou alto.

–Porque acho que é a única que também está recebendo algumas memórias, e também sabe que em vez de nos ajudar, só nos faz ficar cada vez mais confusos. Porque, diferente dos outros, você não me acha especial por aparentemente saber mais, talvez sejamos apenas...

–Apenas dois adolescentes com má sorte. –Ela completou com um repentino sentimento de desamparo.

Thomas assentiu.

–O que aconteceu lá?- Ela perguntou por fim enquanto que, com uma mão, secava o suor que começava a escorrer de sua testa.

Thomas sugou uma grande golfada de ar antes de começar a falar.

–... e quando a vi ali, parada à minha frente, a primeira coisa que fiz foi querer abraçá-la, queria dizer que agora ela estava a salvo e que iríamos para casa. Mas então pensei que não podia dizer nada daquilo, simplesmente porque talvez não fosse verdade. Afinal, que casa? Não temos para onde voltar.

Pensar daquela maneira fez o coração de Camille apertar.

–Tommie, eu...

–E não foi só isso. –Ele continuou. –Ela não estava nada parecida com o que eu imaginei. Não estava suja, ou cansada ou com a aparência deplorável que todos nós estamos tendo aqui. Na verdade, parecia que ela havia acabado de sair de um refrescante banho perfumado.

Camille franziu o cenho, aquilo era estranho, para dizer o mínimo. Mas nada disse a Thomas.

–Você se lembra de como o Gally ficou antes de Chuck ter... –Ele engoliu em seco procurando as palavras certas. –Lembra-se de como se descontrolou, tremendo e chorando, como se fosse forçado a atirar a faca... ah, mértila. –Thomas rapidamente limpou um resquício de lágrima.

–Eu sei, eu me lembro. –Camille disse tristemente.

É claro que ela se lembrava. Ficara apavorada com aquela visão. E ainda a reação de Thomas, a face de Chuck antes de partir... Ela sentiu um gosto metálico na boca.

–Mas... o que isso tem haver com Teresa? –Perguntou, querendo desviar a mente do assunto.

–Era como se ela também estivesse como o Gally. Tremeu e chorou, eu não sei explicar. Foi como se estivesse sendo controlada.

–Pelo CRUEL? –Camille indagou.

–É a única suposição que eu tenho. –Falou e então voltou a olhar para frente, o Sol rasgando o horizonte. –Ela me mandou ficar longe, fugir. –Sussurrou depois de um tempo, alto o bastante para que ela conseguisse ouvir.

–E então você correu. –Constatou.

–E então eu corri.

–O que vai fazer agora? Ela falou sobre algum jeito de encontrá-la novamente?

Thomas balançou a cabeça.

–Não disse nada.

Camille observou com o canto dos olhos a expressão de Thomas.

–Tem algo que não quer me contar. –afirmou.

Não dava para saber se o garoto ficara corado ou se era apenas efeito do Sol.

–Eu não... quer dizer, Teresa não... –ele começou a gaguejar, ela sorriu.

–Vocês se beijaram, não é?

Thomas quase parou de andar, fazendo outro clareano esbarrar de leve nele.

–Não pare de andar de repente, trolho! –Ele vociferou antes de se desviar de Thomas e continuar seu caminho.

–Como sabe disse? –Perguntou num sussurro, ignorando o outro clareano.

Camille arqueou uma sobrancelha.

–Bem, estava meio que escrito na sua cara.

–Os outros não perceberam. –Ele continuou murmurando, como se estivesse pasmo com a situação.

–É claro que não. –Ela revirou os olhos. –Eu tenho uma coisa que me faz especial: intuição feminina.

Ele acabou dando o esboço de um sorriso, mas por dentro ainda estava estilhaçado.

–Apenas não conte a ninguém, ok? –Pediu.

Camille assentiu devagar.

–Não se preocupe. –Disse, então tocou seu ombro com a mão. –Vamos achá-la Tommie, daremos um jeito.

***

–Mesmo se houver água na cidade, pode ser difícil de conseguir. Os tais crancks ficam lá, certo?

–Acho que só saberemos quando chegarmos. –Net respondeu, puxando o lençol para cobrir melhor o rosto.

Ambos, ele e Minho, discutiam sobre os problemas que poderiam vir a enfrentar. Estavam andando um pouco mais à frente do grupo, pensando no que fazer. Lado a lado, como sempre estiveram na clareira.

–Mas não é só com isso que está preocupado. –Newt arriscou dizer, conhecia bem o amigo.

O asiático suspirou e virou-se para dar uma olhada nos clareanos, repousando o olhar em Camille por alguns segundos antes de voltar-se novamente para frente.

–Ela está conversando com o Thomas, o que é novidade, considerando o modo como aquele trolho estava calado.

–Não estou com ciúmes se é o que quer saber. –Minho disse secamente.

Newt deu de ombros.

–Então o que é?

Minho passou as mãos pelos cabelos num gesto exasperado.

–É complicado. Mesmo ela dizendo que está tudo bem, sinto que tem algo errado.

–Acha que ela está escondendo alguma coisa? –Newt franziu o cenho. Não acreditava que Camille encobriria algo dos amigos.

–Não exatamente. A Cammie tem um defeito, não quer preocupar ninguém, então finge que está tudo sob controle. Mas com isso acaba apenas se machucando ou, como na maioria das coisas que fazemos, algo da muito errado e todo mundo se ferra.

–Talvez isso tenha haver com o que ela disse sobre Aris. –objetou. –Quem sabe, aquele cara é meio esquisito, mas até agora não fez nada que indicasse ser perigoso.

–Perigoso. –Minho refletiu por um momento. –Eu não chamaria assim. Traidor, sim. Mas ele vai conhecer o perigo dos meus punhos se realmente for um. –Sorriu estranhamente.

Newt deu de ombros casualmente.

–Mesmo se fosse, não teria como ele vencer a todos nós. E o trolho disse algo sobre as garotas do grupo B o odiarem, lembra? De qualquer forma, acho melhor ficarmos de olho nele.

Minho assentiu.

–Vamos ficar atentos, ainda não confio totalmente no cara, mas talvez Camille esteja apenas um pouco confusa com essas lembranças.

–É, talvez... –Newt murmurou.

***

–Ei, Cammie. –Thomas chamou com hesitação, parecia buscar as palavras adequadas. –Eu ainda não tive a chance de me desculpar.

–Pelo quê? –Ela indagou confusa.

–Antes, no dormitório... você sabe. –ele murmurou.

Ela ainda demorou alguns segundos para entender.

–Ah. Aquilo. Não se preocupe. –disse sinceramente.

–Estou falando sério. Eu te acusei, ameacei você. Foi errado, eu sei. –Ele levantou uma mão, um pedido silencioso para que ela não o interrompesse. –E agora você vem aqui e me escuta calmamente enquanto eu falo dos meus problemas. Eu não sei o que me deu, fiquei fora de mim. Só via a Teresa na minha frente e não queria saber de mais nada. Então te vi e... na hora pareceu que eu estava certo, mas agora eu sei que foi pura estupidez.

–É, você oi um babaca. –ela comentou.

–Obrigada. –Thomas lançou-lhe um olhar afetado.

–Mas não estou chateada. Quer dizer, pelo menos não mais. Admito que antes me magoei, mas agora estou bem. O que não muda o fato de você ter sido um completo filho da...

–Wow! –Thomas interrompeu. –Tudo bem, eu já entendi. Mereço isso.

Camille sorriu.

–Merece, mas deixa pra lá.

Thomas a olhou de lado por um tempo antes de erguer os lábios num sorriso de canto.

–O que foi, por que está ai me encarando? –Ela perguntou, questionando-se se algo estava errado com a própria imagem.

–Não é nada. –Ele balançou a cabeça. –Apenas acho que consigo entender o que o Minho vê de tão especial em você.

Camille não respondeu, mas ficou se perguntando silenciosamente o que ele queria dizer. Minho discutia algo com Newt, mais a frente, vez ou outra se voltando rapidamente para trás a fim de poder dar uma olhadela no grupo. Já havia feito isso antes, inclusive olhado para ela, mas fora a primeira vez que seus olhos se encontraram.

Ele arqueou as sobrancelhas olhando dela para Thomas num questionamento silencioso. Camille apenas deu de ombros naturalmente por baixo do lençol que a envolvia.

O que ele viu em mim... Pensou. Ta aí uma boa pergunta.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Estou pronta para ler os xingamentos pela demora, mas sigam o exemplo da Camille, vamos perdoar! Esse é o espírito!
Ah, e não se esqueçam de, quem tiver algum ideia, me responder o que eu pedi nas notas iniciais, ok?