My Little Runner escrita por Angie


Capítulo 18
Enfrentando o deserto.


Notas iniciais do capítulo

Olá meus lindos, tenho novidades!
Ta bem, eu sei que demorei um pouco mais que o combinado, porém realmente não tive como. Tem um congresso depois de amanhã, e mais provas e projetos que estavam tomando meu tempo.
Enfim, a novidade é que estou com um novo perfil no Social Spirit e recentemente comecei a postar My Little Runner lá também :) E tem outra novidade também... Porém vou deixar vocês curiosos porque sou má. Só no próximo capítulo para eu contar, pois ainda não está resolvido.
Ah, e eu tentei resumir bastante algumas partes pois senão eu acabaria copiando tudo do livro, e não é isso que queremos, certo? Mais uma coisa, eu tive várias ideias para essa fic, mas ainda preciso decidir quais eu usarei. Só sei que tem uma que talvez faça vocês ficarem revoltados hasuahusa Mas vai ser bom para sair da monotonia... ;)
Essa é a mesma garota da capa, minha imaginação da nossa querida personagem:



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Camille terminava de amarrar em volta de si um dos lençóis, como um xale, numa tentativa de proteger-se do calor causticante que provinha do lado de fora.

Após todos atravessarem o transportal as trevas inundaram-nos. Teriam imaginado um milhão de coisas que poderia estar do outro lado, mas em vez disso havia apenas escuridão total. E infelizmente aquela não era a pior parte. Ninguém conseguia enxergar, mas logo perceberam que estavam em uma espécie de corredor, que nunca virava à esquerda nem à direita, apenas seguia reto. Daí então as coisas começaram a acontecer. Coisas ruins. Estranhas, para dizer o mínimo. Primeiro uma voz sussurrante, parecia vir de todos os lugares, parecia percorrer os caminhos de suas mentes, tentando de alguma forma convencê-los.

Camille olhou de esguelha para Jack e Caçarola enquanto estes ajudavam Winston a se levantar. Ela comprimiu os lábios imaginando se aquilo não teria haver com o que a voz sussurrante falara no começo do trajeto até ali.

“ Vocês só tem um chance. Voltem agora e não serão despedaçados.”

Mesmo temerosos, decidiram ignorar a voz; haviam perdido a noção do quanto caminharam, ela julgou terem percorrido uns três ou quatro quilômetros quando os gritos começaram.

Gritos de horror, dor e susto ao mesmo tempo. As coisas haviam acontecido rápido demais. Uma onda de exclamações de surpresa se espalhou, uns empurrando os outros tentando entender o que acontecia. Thomas tentara acalmar o garoto pelo qual os gritos provinham, este parecia ter uma espécie de convulsão no chão. Mas o tempo que Thomas teria para acalmá-lo foi substituído pela onda de compreensão cega que tomou conta dele. Depois de gritar e gaguejar algumas coisas Thomas finalmente disse o que estava acontecendo. Todos acabaram sabendo o ocorrido. Sabendo, mas não entendendo. O garoto que antes gritava simplesmente... Simplesmente não estava mais vivo. No lugar que deveria estar sua cabeça havia uma esfera metálica, não havia mais cabeça, nem pescoço, nem cabelo, nem nada do que deveria estar ali. Então de repente a esfera se desprendeu e rolou pelo chão, deixando apenas o restante do corpo do garoto sangrando no caminho.

Haviam corrido, novos ataques vieram, mas não pararam. Correram desesperadamente por tanto tempo que até Camille, sendo ex-corredora, se sentira aliviada quando Minho os mandou parar. No fim, depararam-se com uma escada que, mesmo sem poder enxergar, ela constatara ser enorme; e pelo barulho ao pisarem nela, feita de algo parecido com metal.

Camille se lembrou de como mordeu o lábio para não rir ao ouvir os xingamentos de Minho quando o mesmo bateu a cabeça no que parecia ser o teto, chegando ao topo da escada. Já agora não parecia sentir tanta vontade assim de rir.

O teto na verdade era uma espécie de porta e, assim como a escada e paredes em volta, feita de um metal cinzento e opaco. Como ela sabia da cor das coisas sem conseguir enxergar? Simples. A porta levava para a luz.

Sim, a luz. Para não ter que dizer o Sol.

Ao abrirem-na uma dor lancinante nos olhos fez a maioria gritar ou gemer, colocando instantaneamente as mãos acima do rosto, alguns até largaram acidentalmente a sacola de água que levavam. O motivo da dor aguda era bem claro. Literalmente claro. Depois de tanto tempo acostumados à escuridão o mundo lá fora era tão brilhante que cegava. Como mil faróis piscando ao seu redor.

Ficaram um tempinho nesse vai e não vai. Fecharam a porta, abriram frestas para irem se acostumando com a luz e por fim abriram-na por completo novamente.

O calor era inacreditável. À medida que Camille terminava de puxar o lençol por cima da cabeça para proteger-se do Sol e voltava a segurar a sacola com água já podia sentir o ar mudando, começando a ficar quente, pesado, ao redor de si.

Ouviu os fracos gemidos de dor de Winston enquanto Caçarola e Jack o levavam para fora. O coitado estava arrasado, os soluços quase inaudíveis, talvez de dor ou talvez pelo trauma que vivenciara. O cabelo desaparecera e o couro cabeludo estava em carne viva, sangrando em vários pontos. As orelhas também estavam sanguinolentas, mas inteiras.

Quando já estavam a decidir finalmente sair, quando acharam que os ataques da escuridão haviam passado, os gritos de Winston degraus abaixo os fez voltarem sua atenção para ele. Mais precisamente para o que estava acima do mesmo. No teto, um grande globo de prata líquida coagulava, minando do metal, aparentemente em processo de derretimento, como uma grande lágrima que cresceu e cresceu, transformando-se numa bola de líquido viscoso, que enrugava lentamente e oscilava. Camille viu com horror quando aquilo simplesmente “caiu”, ou melhor, direcionou-se até o rosto de Winston.

Era assim que o garoto havia perdido a cabeça antes, e aquilo iria acontecer naquele exato momento, diante de seus olhos. Ela não era bem amiga dele, mas também não tinha nada contra o clareano. E mesmo se tivesse, não desejaria aquilo para ninguém. Mesmo assim ficou paralisada, não conseguia se mexer, nem mesmo tirar os olhos daquilo. Por mais que desejasse ajudá-lo, seu corpo simplesmente não respondia, era como se estivesse paralisada de horror. Os gritos do garoto inundando seus tímpanos.

No fim, conseguiram ajudá-lo. Na verdade, Thomas o fez. Ela se perguntou se ele simplesmente buscava pela sensação de adrenalina ou se fora tomado por uma repentina coragem. Mesmo com a ajuda, os resultados eram bem visíveis.

Depois de tudo Camille, observando enquanto Newt o fazia, seguiu seu exemplo e passou o peso dos alimentos que carregava para outro lençol, estes ficando com o dobro do peso que antes já carregava e o restante, agora livre, servia para cobri-la do Sol escaldante que logo teria que enfrentar.

E agora, cá estava Camille olhando para o vazio sombrio onde a coisa metálica rolara após atacar Winston. Ainda o fez por mais alguns segundos antes de sentir uma mão tocar seu ombro.

Virou-se abruptamente, alarmada, apenas para ver Newt parado à sua frente. Camille soltou o ar devagar.

–Não me assuste assim trolho. –Ela resmungou, tentando parecer um pouco animada.

Newt revirou os olhos.

–Melhor eu do que aquela cara feia do Minho.

Camille abriu a boca para retrucar em defesa ao trolho que era seu namorado, mas a voz de Minho vinda do outro lado da escada se adiantou em própria defesa.

–Cala essa boca cara de mértila, e venha logo! –Gritou. –Thomas, você também, nós vamos primeiro!

Ninguém protestou, apenas Newt que ainda xingou o asiático de algo parecido com “trolho imbecil” antes de atravessarem a porta.

Alguns minutos se passaram com eles lá em cima, Camille os ouviu reclamar e resmungar coisas que ela não entendeu. Conteve a vontade enorme de subir atrás deles, precisava ser paciente.

A cabeça de Minho surgiu de cima da porta, na verdade, parecia mais a saída de um alçapão.

– Ei, seu bando de maricas, trolhos inúteis! Recolham toda a comida e venham logo pra cá!

Camille bufou.

–Maricas é sua avó. –Ela resmungou subindo mais uns degraus e empurrando Minho de leve para que saísse da frente.

Thomas, que estava ao lado do asiático riu.

–Se é que ele tem uma avó.

Camille deu de ombros e finalmente saiu.

Diga olá para o mundo exterior. Ela pensou.

Ou melhor, quis pensar. Apenas quando colocou os pés para fora que pôde perceber, com horror, o que teriam de enfrentar.

A mértila do lençol não serviu de nada para protegê-la do calor absurdo. Camille já imaginava os ombros vermelhos e ardidos, nem queria pensar nas costas e no rosto. O clima estava tão absurdamente quente que ela, meio que de imediato, curvou-se um pouco para frente com uma repentina falta de ar. Tentou se lembrar de alguns exercícios de respiração que fazia na clareira antes de correr, mas tudo parecia ter fugido de sua mente. Só enxergava a terra seca, amarronzada e poeirenta no chão.

–Tudo bem, respire devagar Cammie. –Ouviu a voz de Minho falar atrás dela, sentiu os dedos dele roçarem em seus ombros.

Ela se forçou a fazer isso. E finalmente o bom oxigênio veio como num alívio. Voltou a ficar ereta, e piscou algumas vezes com o cenho franzido, tentando olhar ao seu redor. Os outros pareciam ter a mesma dificuldade pera respirar. Ela ouviu alguém resmungar algo como:

“-Conosco você nos chama de maricas e trolhos inúteis; com ela manda respirar devagar”

Camille não sabia quem havia dito aquilo, e antes que respondesse ouviu Minho dar uma risadinha.

–E o que você quer cara de mértila? Um beijo de consolo? –Perguntou ironicamente.

–Olha que eu fico com ciúmes. –Camille disse no mesmo tom brincalhão com um sorriso fraco. Ainda não respirava normalmente, precisaria se acostumar com o novo ar, mas tentava de todas as formas mostrar que estava bem e que ninguém deveria se preocupar com ela.

–Ta legal, o que fazemos agora? –Jack perguntou para ninguém em especial. O clareano, assim como todos os outros, olhava o lugar onde haviam parado.

(C.L.) Era uma terra devastada.

À frente deles, uma planície de terra seca e sem vida estendia-se a perder de vista. Nenhuma árvore. Nenhum arbusto. Nem colinas, tampouco vales. Só um mar amarelo-alaranjado de poeira e rochas. Correntes oscilantes de ar quente fervilhavam no horizonte, flutuando para o alto, como se toda a vida ali evaporasse na direção do céu azul-claro e sem nuvens. (C.L.)

–Nossa melhor opção é irmos naquela direção. –Thomas disse, apontando com o braço para a direção oposta a eles. –Sem contar, que o homem-rato mandou seguirmos para o norte, portanto...

(C.L.) Uma linha de montanhas pontiagudas e estéreis erguia-se ao longe. Diante das montanhas, talvez a meio caminho entre aquele ponto e o local onde se encontravam agora, um grupo de prédios escorados uns nos outros se amontoava como uma pilha de caixas abandonadas. Devia ser uma cidade, mas era impossível arriscar seu tamanho àquela distância. Um vapor quente vibrava à frente dela, impedindo uma visão mais apurada. (C.L.)

Aquele era claramente o norte, Camille constatara, e não perguntem como ela sabia dizer isso.

–Estamos a mais ou menos uns cinquenta quilômetros de lá. –Minho anunciou.

–Ou até menos. –Camille acenou com a cabeça, analisando as distâncias. –Eu diria quarenta.

Minho balançou a cabeça.

–Ainda aposto em cinquenta.

–Quem sabe, analisando por...

–Ta legal; parem de exibir suas habilidades como corredores. –Newt interveio revirando os olhos. –O que interessa é que vamos naquela direção. Ah, e antes que todos tenham uma queimadura de terceiro grau e que nossa água evapore acho melhor organizarmos tudo por aqui.

Os outros assentiram em concordância. Camille, juntamente com Minho, Newt e Thomas já tinham se organizado antes, mas aqueles que ainda não haviam o feito passaram a ajustar-se. A comida e as sacolas de água foram adicionadas em metade dos fardos originais.

–Beleza trolhos, o restante dos lençóis vai ter que servir para nos proteger. –Minho anunciou. – Não que adiante de muita coisa para amenizar o calor, mas ao menos não ficaremos torrados. –Ele deu de ombros. –Não vai dar parar todos ficarem com um exclusivamente seu, portanto organizem-se em pares e revezem o peso dos fardos.

Ninguém contestou, logo a maioria tinha seus pares. Camille ficou em dúvida se deveria desamarrar o que a cobria para que pudesse dividir com alguém. Antes que fizesse qualquer movimento Mark, um dos clareanos, a olhou como que prevendo o que ela pensava.

–Está claro que nós, homens, aguentaremos melhor essa jornada. A dama pode ficar com um lençol só para ela.

Ele estava, claramente, zombando dela. Ou mesmo se não estava, Camille, sendo Camille, não aceitaria aquele tipo de machismo.

Sua expressão se fechou, teimosamente.

–Não preciso de nada exclusivo.

–Eu apenas comentei. –Ele deu de ombros com as sobrancelhas arqueadas. –Afinal, parece que você tem mais importância que nós.

Ele quer mesmo fazer isso? Ela pensou incrédula. Porém tudo que fez foi revirar os olhos.

–Ah, pois então não se incomode. –Ela disse. –Se quer tanto essa mértila então pegue.

Mesmo sabendo que não deveria fazer isso, e que provavelmente iria ficar com uma insolação, a teimosia falou mais alto. Ela tirou o lençol que estava em volta de seu corpo e o jogou na cara do clareano que estava totalmente surpreso. Virou-se e começou a marchar decidida em direção ao norte.

Ouviu alguns clareanos zombarem ou fazerem comentários sarcásticos atrás dela.

–Se eu fosse você não me meteria com essa corredora não. Ela pode ser baixinha, mas não leva desaforo. –Minho comentou, seguido com uma risada.

Eu não sou baixa. Ela pensou. Esses brutamontes é que são altos.

Mas em vez de dizer aquilo em voz alta, poupou fôlego e continuou andando.

Agora ela entendia o sentido da expressão “O orgulho mata”. Ter um pouco dele é bom, mas não em ocasiões como aquela. Depois de passar sete minutos daquela forma ela já estava rogando por uma sombra.

Por vezes os garotos chamaram-na, até Mark disse que só estava brincando.

–Camille, pelo amor de Deus, volta logo pra cá. Vai ter um grave problema de queimadura se ficar mais tempo descoberta. –Newt advertiu, mas ela fingiu não ter escutado.

Minho revirou os olhos.

–Não adianta, ela não vai ouvir.

–E o que vamos fazer, deixá-la fritar os miolos? –Newt perguntou, com um forte sotaque britânico.

–Se ela não escuta, então vai na marra mesmo. –O asiático concluiu, apressando o passo.

Camille resmungava algo sem sentido quando sentiu-se ser puxada de lado.

–...Ei! –Ela soltou uma exclamação de surpresa. –Minho, me larga!

Sim, Minho faltava arrastá-la pela cintura. Os clareanos conteram risos vendo a cena cômica do líder segurando-a e ela se debatendo em vão. Quase que o fardo de alimentos escapulia dele.

–Minho, eu mandei me soltar.

–E eu ignorei a ordem. Agora deixe de ser manhosa.

–Não me dê lição de moral, você é o mais cabeça-dura daqui.

–Exatamente. E só basta um teimoso na relação. –Ele retrucou.

–Não estou sendo teimosa.

Minho arqueou as sobrancelhas.

–No mínimo emburrada.

Ela revirou os olhos.

–Não vai me soltar?

–Contanto que a princesa tire esse biquinho amuado do rosto e divida esse maldito lençol comigo, ai eu solto.

Camille pensou por dois segundos.

–Ta legal, essa frase teve muito duplo sentido. –Concluiu.

Minho deu de ombros.

–Eu aceitaria dos dois jeitos. –Disse, fazendo-a corar.

–Ah, cale a boca Minho.

–Você está vermelha.

–É o Sol.

–Eu sei que não é por isso.

–Qual parte do “Cala a boca Minho” você não entendeu?

Atrás deles os garotos se entreolharam.

–Sinistro... –Um deles murmurou.

–Acho que estou bem sem uma namorada. –Caçarola disse.

Newt arqueou uma sobrancelha.

–E quem ia querer namorar com você? –Disse, fazendo Caçarola fechar a cara.

Camille finalmente aceitou dividir a “cobertura” improvisada com Minho. Depois de andar um pouco pareceu se lembrar de algo.

–Ai! –Exclamou. –Por que fez isso? –Perguntou confuso. Ela havia acabado de lhe dar uma cotovelada.

–Por me chamar de baixinha antes.

–Camille, -Ele a olhou sério enquanto caminhavam. –Você é baixinha.

Ela lhe lançou um olhar que dizia: “Você quer outra cotovelada?” Mas em vez disso apenas disse calmamente:

–Eu tenho estatura média, ou seja, normal. Tem garotos aqui da minha altura.

–Esses são minoria.

–Só porque você, Newt e alguns outros...

–Ou seja, quase todos. –Ele interrompeu, mas ela o ignorou.

–...São um pouco mais altos não quer dizer que eu seja baixa.

–Continua sendo pequena; -Minho deu de ombros casualmente.

–Ah, mas quanto a isso eu não tenho culpa. Quem mandou ter esses músculos? É claro que eu pareceria pequena.

–Não reclame, eu sei que você gosta do meu físico.

–Sinceramente, você precisa começar a ter mais humildade. –Balançou a cabeça em reprovação. –Aliás, eu fico me perguntando o que vocês faziam lá para ficarem assim, apenas correr não adianta, eu sou a prova viva disso.

–Flexões, de vez em quando abdominais. Era bom para pensar.

Ela o olhou incrédula.

–Bom para pensar? Isso não faz o menos sentido. –Camille disse, pensou por um segundo e deixou um sorriso lhe escapar dos lábios. -Você me lembra uma garota da outra clareira, Janete.

–Por que eu te lembraria uma garota? –Minho franziu o cenho com desgosto. –Aliás, está se lembrando de mais coisas?

–Apenas algumas memórias vagas, eu te conto se lembrar de algo importante. Enfim, não que sua aparência me lembre da Janete, mas sim toda essa coisa de flexões e abdominais. Por ela, seriamos um mini exército de garotas musculosas. –Camille fez uma careta provocando uma risada no asiático. –De qualquer forma, isso nunca funcionou comigo mesmo. –Suspirou, dando de ombros.

Minho a olhou de esguelha por algum tempo antes de, como se fosse a coisa mais normal do mundo, comentar:

–Eu acho que fez bem. Você tem belas pernas, e cintura fina, e, cá entre nós, um belo quadril e...

–Ta legal, eu não preciso ouvir isso! –Ela o cortou, já sentindo o rosto arder de vergonha.

–O quê? Eu tentei te fazer um elogio... –Minho defendeu-se.

Camille o olhou como quando se olha para uma criança antes de ensiná-la algo. O problema é que Minho não era uma criança, tampouco tinha pensamentos de criança, se é que me entendem.

–Tudo bem Minho e obrigada, eu acho... Enfim, apenas... Apenas tente não falar de coisas como minhas pernas ou meu quadril quando eu estiver ouvindo. –Ela desviou o olhar.

O asiático gargalhou.

–Não entendo garotas, não preferem que falemos para vocês do que para outra pessoa? Mas eu não vou discutir, você manda princesa.

Minho ainda insistira teimosamente que poderia carregar o fardo de água/comida sozinho. Mas é claro que Camille não o deixaria fazer aquilo sem ajuda, tão logo que outra quase discussão se iniciaria caso o garoto não revezasse o peso com ela. Eles precisavam poupar fôlego para o resto da jornada, sem perder tempo com coisas banais, portanto ele acabou concordando com o revezamento.

Alguém contava uma piada no exato momento em que Caçarola agitou-se, gritando e apontando para algo vindo ao longe.

À distância, vindas da cidade, duas pessoas se aproximavam correndo, os corpos apenas linhas fantasmagóricas no calor da miragem, pequenas nuvens de areia lhes subindo dos pés.

Como num comando silencioso todos pararam de caminhar, apenas observando enquanto as duas pessoas corriam em sua direção. Minho de repente ficou rígido. Toda a sua expressão mudou para algo mais sério. Ele se voltou para todos com um claro ar de liderança.

– Agrupem-se todos - instruiu Minho. - E estejam prontos para lutar contra aqueles trolhos ao primeiro sinal de encrenca.

Camille duvidava de que as pessoas representavam uma ameaça, já que os clareanos estavam muito mais numerosos que eles. Mesmo assim, não pôde deixar de se alarmar.

Quando eles estavam há uns cem metros de distância, Camille notou que se tratavam de um homem e uma mulher, pela silhueta sinuosa de um deles. (C.L.) A não ser por essa característica, exibiam a mesma compleição - altos e magros. A cabeça e o rosto estavam quase totalmente envoltos em trapos sujos de um tecido bege encardido, com pequenas fendas cortadas grosseiramente para que pudessem ver e respirar através delas. A calça e a camisa eram um amontoado de remendos, tiras de tecido azul desbotadas costurado em alguns pontos. Nada ficava exposto à violência do sol, a não ser as mãos, e estas eram vermelhas, rachadas e escamosas. (C.L.)

Eles pararam há dez metros do grupo, circulando-os, como se avaliando sua presa antes de matá-la. Os dois estranhos anunciaram em certo momento serem Cranks. Logo as perguntas dos clareanos começaram. Camille ficou um pouco de fora, mas entendeu perfeitamente que falavam sobre aqueles que contraíram a doença dita pelo Homem-rato. Mesmo não tendo visto com os próprios olhos como os garotos antes, pela descrição que deram notou uma diferença visível. Os Cranks que eles tinham visto no dormitório pareciam totalmente insanos, semelhantes a animais. Essas pessoas não; estavam conscientes o bastante para perceber que o grupo surgira do nada. Não existia coisa nenhuma na direção oposta à cidade.

Tiveram um breve diálogo com as duas pessoas, mesmo que ainda um pouco desconfiados. Minho perguntara sobre o Cruel e se aquilo fazia algum sentido para eles. E a resposta que deram se cravou na mente de Camille.

Não responderam nada sobre o Cruel, ainda falando sobre eles também terem contraído a doença.

– Se não contraíram a doença ainda, vão contrair em breve. O mesmo aconteceu com o outro grupo. Aquele que deve matar você.

Então os dois estranhos deram meia-volta e regressaram correndo rumo ao amontoado de prédios no horizonte.

O outro grupo. Camille pensou.

–Imagino que tenham falado do meu grupo. –Aris disse casualmente.

–Acha que já chegaram à cidade? Quero dizer, o grupo B.

– Uou! - bradou Minho. - O que importa? Se pensam que esse negócio de nos matarem era só pra chamar atenção, o que me dizem sobre o que falaram do Fulgor?

Os garotos começaram a discutir sobre o grupo B ter armas, ou saberem lutar ou sobre quem eles pretendiam matar.

–Não fariam isso. –Camille disse repentinamente, as palavras saíram antes que pudesse impedi-las. Todos os garotos silenciaram, olhando-a com curiosidade.

–Cammie? –Newt chamou.

–Não importa o que esses cranks falaram, eu conheci aquelas garotas. Elas não fariam isso, não mesmo.

–Você não pode ter certeza. –Um outro garoto falou.

–Eu tenho. –Ela os olhou de forma convicta.

–Mataram a Rachel. Beth a matou. –Aris disse olhando para Camille como se ela tivesse algo haver com aquilo. –Mataram-na. Eu não duvido que possam fazer isso novamente.

–Aquilo foi diferente. Foi como o Gally. –Olhou em volta, buscando a compreensão de alguém. –Elas não fariam isso. Ao menos... Ao menos não comigo aqui.

Todos se entreolharam como se quisessem dizer algo, mas foi Minho que quebrou o silêncio.

– Gente... - Minho soltou um suspiro exasperado. – Dá pra todo mundo fechar a matraca e se acalmar? Chega de perguntas. A menos que tenham uma ideia que não envolva a morte absolutamente certa, engulam o apito e vamos aproveitar a única chance que temos. Sacaram?

Ninguém reclamou, para o alívio de todos..

– Certo. Newt, você vai na frente desta vez, mesmo mancando. Thomas, você fica na retaguarda. Jack, consiga alguém pra ajudar o Winston, assim você ganha um descanso. Vamos embora.

Prosseguiram na sua longa caminhada. Com a medida que andavam aproximando-se do horizonte, o Sol parecia prestes a se pôr. O céu se tornara laranja-avermelhado, e o clarão intenso de seus raios começou a se desvanecer em um brilho mais agradável.

Um tempo depois todos já haviam dispensado os lençóis, a noite caia como um enorme lençol negro; o clarão das estrelas e o brilho do luar iluminando seus passos por aquela terra devastada. Agora o calor não era mais insuportável, sentiam, hora ou outra, uma leve brisa mansa abraçá-los.

Mesmo cansados, continuaram em frente. Encaminhavam-se rumo à cidade com suas fracas luzes cintilantes.

O crepúsculo se fora por completo, instalando uma escuridão sombria. Ninguém conversava, apenas o leve sussurrar de suas respirações o que tornava todo aquele clima mais amedrontador.

Camille estava inquieta, parte por estarem no meio do nada sem poder enxergar muita coisa, salvos apenas pelo brilho dos astros noturnos; parte por não conseguir tirar um pensamento da cabeça.

Ainda ficara realmente perturbada pelo que os tais cranks disseram. E mais ainda por não ter tanta certeza quanto alegara aos garotos.

“Mataram-na” Aris dissera.

Camille engoliu em seco, não permitiria mais ficar tão distraída com aquilo. Afinal, conhecia aquelas garotas.

Sim. Pensou por fim. É claro que eu as conheço, elas não se voltariam contra nós. Elas... Elas não fariam isso... Certo?


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Notas finais do capítulo

Eu esqueci de dizer, mas as partes em itálico no começo era apenas para mostrar o que havia acontecido antes. Tipo flashbacks.
E então? *o* Gente... Estou seriamente pensando sobre essas outras ideias que falei nas notas lá de cima. Fico me perguntando o que vocês vão achar :D