My Little Runner escrita por Angie


Capítulo 16
Que se inicie a fase dois! Part. 2/3


Notas iniciais do capítulo

Pessoal eu sei que demorei. MUITO. Sei mesmo. Não tenho desculpas para dar.
O primeiro motivo da demora foi uma viagem, mas depois eu simplesmente não quis escrever. Tive uns problemas, coisa pessoal, internamente não estava com ânimo para isso.
Só peço que me desculpem, ok?
Aproveitem o capítulo ^-^



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Ainda ficaram um longo tempo apenas se fuzilando com o olhar antes de Newt se colocar entre eles.

– Ei, vamos com calma pessoal. Qual é o motivo da vez?

–Pergunte ao nosso amiguinho telepata. –Minho respondeu sem tirar os olhos de Thomas. –Acho que ele perdeu o controle.

–Ah, você é o melhor exemplo de autocontrole, não é Minho? –Thomas respondeu sarcasticamente. –Teresa desapareceu, como queria que eu ficasse? Camille é a única que...

–Não coloque Camille nos seus problemas. –O asiático interrompeu.

Os clareanos apenas os observavam, sem ousar interferir. Camille ainda achava aquilo uma insanidade.

–Se está ferrado por sua namoradinha ter desaparecido desconte nos culpados, não nos amigos. –Minho continuou.

–Não estou descontando em ninguém, quero saber a verdade.

–Olha Tommy, acho que a verdade não tem muito haver com ameaçar atacar a Cammie. –Newt interrompeu. Olhou para Thomas com o cenho franzido. –O que realmente deu em você? Conheço-te há tempo suficiente para saber que é um dos caras mais controlados daqui.

–Curioso; questionador; trolho; idiota; imbecil, mas... É, não perde a cabeça facilmente. –Minho concordou. –Talvez só esteja precisando de uma boa surra para por esses neurônios no lugar. –Deu um passo a frente, mas logo foi impedido por Newt que havia, literalmente, se metido no meio dos dois.

–Isso com certeza é uma grande mértila. –Winston murmurou, expressando o sentimento de todos.

–Me diga Minho, me diga e se fosse a Camille? E se ela tivesse desaparecido e a Teresa estivesse aqui, o que você faria?

–Eu seria menos estúpido. –Minho cuspiu as palavras como num insulto.

–Te conheço há tempo o suficiente para saber que ao menos iria exigir respostas.

–Exigir respostas? –Minho quase riu da cara de Thomas. –Você estava quase para bater na Camille.

–“A Camille” está bem aqui e pode ouvir tudo que falam, sabiam? –Ela se adiantou, pondo-se ao lado dos garotos antes que Thomas ou Newt pudessem falar. –No que estão pensando? Vão mesmo querer brigar, agora? –Os olhou como se discutir fosse a coisa mais ridícula a fazer no momento.

–Espera aí, ele te levanta do chão como se fosse uma boneca, culpa você pelo desaparecimento da Teresa, age como um trolho de mértila e ainda quer mais motivos para eu brigar?

–É, dessa vez até eu concordo com o asiático aí. –Caçarola comentou cruzando os braços, imaginando onde aquilo iria acabar.

–Eu sei que só quer ajudar Minho, sei mesmo. –Camille o olhou com sinceridade. –Mas isso aqui é palhaçada.

–Não vejo graça no desaparecimento de uma companheira. –Thomas argumentou.

–É, e pelo que eu sei também era uma companheira até você começar a me culpar pelo planeta ser redondo. –Camille disse com uma voz cortante. –Está parecendo uma criança birrenta. Caramba, temos pessoas mortas penduradas pela garganta no meio da sala! Pessoas! Vamos achar Teresa, ou ao menos tentar. Quer me culpar? Então o problema é seu. Eu prefiro permanecer calma, de verdade, mas ainda sou um ser humano e estou quase desmoronando aqui! –Disse tudo aquilo numa velocidade frenética, praticamente gritando. Respirou fundo antes de continuar. –Quantos anos eu devo ter, uns dezessete? Muitas vezes podemos parecer ter muito mais que isso, mas poxa, somos só adolescentes. Acha que eu quis que alguma dessas coisas acontecesse?

Ninguém respondeu então ela voltou a se dirigir a Thomas.

–Apenas... Apenas volte a pensar racionalmente. Seria muito bom, para cada um de nós.

Thomas hesitou. De repente olhou para todos como se estivesse acabado de voltar ao normal.

–Eu... eu não sei o que me deu. –Balbuciou num murmúrio. –A Teresa, ela... eu não...

–Estamos juntos nessa, cara. –Newt pôs uma das mãos em seu ombro. –Desde a clareira, lembra? Não vamos perder isso agora.

Thomas concordou com um lento movimento de cabeça. Novamente olhou para Camille e sentiu um misto de vergonha e arrependimento. Abriu a boca para falar, mas as palavras simplesmente não vinham. Por fim acabou por perguntar estupidamente:

– Não está com raiva?

–Raiva? Bem, talvez. Decepcionada. É assim que estou. –Ela o olhou com ressentimento, ajeitou a gola da camisa amassada por Thomas, deu meia-volta e fingiu procurar alguma possível pista do desaparecimento de Teresa, apenas para não ter que falar com ele.

–Iremos encontrá-la. –Minho, quem ele menos esperava que falasse naquele momento se pronunciou. –E tomara que valha a pena, por todo esse circo que você fez.

Foi se juntar aos outros avaliando tudo que estava acontecendo, mas antes se voltou novamente para Thomas, dessa vez a poucos centímetros dele.

–Pode até ter perdido a cabeça, mas fique avisado que se tentar encostar nela novamente juro que irá preferir brincar com os verdugos. E você me conhece, sou o exemplo de autocontrole. –Sorriu ironicamente antes de sair, deixando um Thomas sem palavras para trás.

Minho foi reunir todo o pessoal quando uma movimentação aparente vinda de dentro do banheiro chamou-lhe a atenção.

O barulho de uma descarga. A água jorrando sob a pia. O leve destrancar da porta. O ranger dela sendo empurrada.

Os clareanos se entreolharam.

Teresa? Pensaram.

Mas o que, ou melhor, quem saiu de lá não tinha nada haver com ela. Na verdade, não era nem uma garota.

Ele usava o mesmo tipo de roupa que todos haviam recebido na noite anterior: um conjunto limpo com camisa de botão e calça de flanela azul-clara. A pele do garoto tinha um tom azeitonado, e o cabelo escuro era bem curto, com um corte surpreendente.

Varreu os olhos entre os presentes, totalmente surpreso.

–O que... Quem são vocês?

–Nós é que perguntamos. –Newt se adiantou. –Como veio parar aqui, aliás, onde está Teresa?

–Teresa? –Ele arqueou as sobrancelhas. –Eu não sei de nenhuma...

–Aris? –Camille surgiu pela porta de entrada do quarto. O semblante totalmente confuso. Afinal, o que ele estaria fazendo ali? Não fazia sentido, nada fazia sentido.

–Aris? Quem é... –Minho começou com o cenho franzido, mas logo caiu na real. –Espera aí, o conhece?

Ela apenas acenou positivamente com a cabeça antes de falar.

–Quando eu estava presa na base do Cruel tive uns sonhos estranhos. Acho que eram algumas lembranças. Ainda é difícil lembrar tudo, mas... Mas eu sei que você estava lá, que apareceu em coma e...

–Calma, calma! –Newt interrompeu. –Volta um pouco, lá onde?

–Da clareira. –O garoto, possivelmente chamado Aris, respondeu. –Foi de lá que eu vim, da clareira. Acho que ela quis dizer que eu apareci por lá da caixa e fiquei em coma por dias. –Olhou para Camille como se para receber uma confirmação e ela o fez com um aceno de cabeça. –Mas... mas como sabe disso? De onde vocês vieram?

–Você... você não sabe? –Camille franziu o cenho.

–Não tenho a mínima ideia de quem sejam vocês. –Aris estreitou os olhos dando um passo para trás.

–Calmo aí amigo. –Thomas murmurou. –Acho que temos muito para conversar.

[...]

–Bom... Acho que temos as nossas explicações dadas. –Minho disse por fim, ainda esparramado em um canto de um dos colchões.

Haviam desmontado as camas de cima do beliche e distribuíram-nas pelo quarto, de modo que todos pudessem arranjar um lugar para se acomodar. Tinham acabado de dar as devidas explicações à Aris, este que ainda processava toda a informação.

–Deixa eu ver se entendi. Todos vocês vieram de um lugar extremamente parecido de onde eu vim, com uma clareira; verdugos; um labirinto e tudo o mais.

–Só que com garotos. –Newt completou pensativo. –E pelo que nós entendemos você veio deste mesmo lugar que a Camille. Uma clareira com garotas, você era o cara em coma que chegou por último na caixa. A partir daí mil e uma coisas estranhas começaram a acontecer, inclusive o Sol desaparecer do céu, certo?

–Carto. Mas... espera, como pode saber disso tudo tão detalhadamente? –Aris cruzou os braços de modo questionador.

Minho bufou. Apoiou os cotovelos nas pernas e cruzou as mãos uma na outra.

–É o mesmo experimento de mértila. –Disse. –Passamos pela mesma coisa, só que ao contrário. Uma garota, Teresa, apareceu para nós do mesmo modo como você para elas. Sabíamos que havia outra clareira, só não que seria tudo tão igual.

–E... –Aris pareceu pensar um pouco. –E como sabiam da existência de outra clareira?

–Porque depois eu apareci. –Camille se pronunciou pela primeira vez desde que as explicações começaram. –Não sei dizer o motivo, mas me tiraram da clareira que você conhece e mandaram-me para esses garotos através do labirinto. Nunca me lembrei de tudo, e sinto que agora receberei as memórias de volta pouco a pouco, ao menos as de quando estava no grupo B. Qualquer coisa sobre uma vida antes é uma escuridão na minha mente. –Suspirou desapontada. –De qualquer forma, consigo me lembrar de um garoto subindo à caixa, sem muitos detalhes, mas sei.

Aris encarou-a por um tempo antes de por fim dizer.

–Então você é a garota que desapareceu. Todos murmuravam sobre isso depois que acordei, demorou em perceber, mas... entendi que alguém havia desaparecido sem deixar rastros.

–Me pergunto por que só tiraram uma garota de lá para nós e nenhum garoto desapareceu para ser transferido para o grupo B, seja lá o que isso signifique. –Thomas disse, pensando alto.

–Quem sabe, talvez a Cammie realmente tenha sido enviada para nos matar, mas acabou se apaixonando por mim e não pôde completar a tarefa. –Minho declarou com ar brincalhão.

–Há, há, há. Muito engraçadinho Minho. –Camille disse revirando os olhos.

–Péssima hora para piadas. –Newt murmurou. Suspirou e aumentou o tom de voz. –Como veio parar nesse lugar? Quero dizer, tem uma placa no quarto indicando ser da Teresa. Quem o pôs aqui?

–Escapamos alguns dias atrás... Cerca de trinta de nós sobreviveram. As pessoas que nos ajudaram nos mantiveram em um grande ginásio por algum tempo, nos deram comida, deixaram que nos limpássemos. Depois me trouxeram pra cá, ontem à noite, dizendo que eu deveria ficar separado por ser um garoto. Mas ninguém me explicou nada.

–Ainda há algo que não consigo compreender. –Caçarola comentou, ocupado em mexer em um dos tufinhos de sua barba.

–Grande novidade é conseguirmos entender algo no meio de toda essa mértila. –Minho resmungou carrancudo.

Caçarola o ignorou e continuou a falar.

–Se você, Camille, só se lembra dele chegando à caixa em coma... Como sabe seu nome?

Todos os olhares se voltaram para ela, que por um segundo ficou surpresa, como se também houvesse acabado de pensar naquilo.

–Eu... Agora que você falou, eu me toquei. Para falar a verdade não tenho certeza, apenas olhei para ele e o nome me veio à cabeça.

–Como uma coceirinha no cérebro. Você não pode tocar, mas sabe que está lá. –Thomas comentou. –Já senti isso.

Camille assentiu e um novo silêncio se instalou.

(C.L.) – E você era capaz de... -Thomas fez menção de falar, mas hesitou. Todas as vezes que tocava nesse assunto, tinha a impressão de admitir ao mundo que era louco. - Era capaz de se comunicar em pensamento com uma daquelas garotas? Você sabe, uma espécie de... telepatia?

Aris arregalou os olhos, fixando-os com intensidade em Thomas, como se entendesse o segredo obscuro que só mais alguém que o partilhasse podia entender. (C.L.)

Por um tempo indeterminado os dois ficaram se encarando, hora ou outra fazendo umas caretas estranhas.

–Por que estão se encarando aí, o que está acontecendo? –Newt perguntou arqueando uma sobrancelha.

–Ele também pode. –Thomas murmurou.

–Pode o quê? –Caçarola questionou, ainda sem entender nada.

– O que você acha? - retrucou Minho. - Ele é tão esquisito quanto o Thomas. Os dois conseguem conversar mentalmente.

–Eles mataram-na. –Aris murmurou de cabeça abaixada. –Mataram-na.

–Como? Quem a matou? –Thomas quis saber.

–Espera ai, quem matou quem? Da para pararem com esse negócio de magia enquanto estão perto de nós. –Minho disse.

(C.L.) – Ele tinha alguém com quem podia fazer isso, exatamente como eu. Quer dizer... tem alguém. Mas me contou que a mataram. Quero saber quem foi.

Aris tinha abaixado a cabeça; de onde Thomas estava, ele parecia estar de olhos fechados.

– Não sei realmente quem eram. É tudo muito confuso. Não saberia separar os bandidos dos mocinhos. Mas acho que de algum modo fizeram com que uma das garotas, Beth, apunhalasse... a minha amiga. O nome dela era Rachel. Ela está morta, cara. Está morta. - Aris cobriu o rosto com as mãos. (C.L.)

Camille fechou os olhos, como se tentasse se lembrar disso nos sonhos que tivera. A compreensão tomou conta de si como um punhal em seu peito.

–Não. –Disse subitamente, fazendo os olhares se voltarem para ela. –Me diga, me diga que não é verdade. –Olhou para Aris, os olhos em completa confusão e falsa esperança. –Eu conheço Beth, ela nunca. Ah, meu Deus... –Camille murmurou tentando encontrar alguma explicação para aquilo.

–Você viu como o Gally ficou, pode ter sido a mesma coisa. –Minho disse, dando um olhar de esguelha para Thomas, sabia o quanto falar de Gally era complicado. –Depois de tudo ainda estamos caindo nas armadilhas desses malditos criadores.

–Ei! –Um dos garotos chamou. –O que é isso em seu pescoço? –Apontou para Aris.

–O que? –Ele tentou, em vão, olhar.

Minho e Newt se aproximaram rapidamente por trás do garoto, avistando a marca preta logo abaixo da gola.

Propriedade: CRUEL. Grupo B, Indivíduo B1. O Parceiro.

–E então, o que tem ai? –Camille perguntou impaciente, claramente curiosa.

Newt leu as palavras em voz alta, de modo que todos pudessem ouvir.

–Mas o que... –Minho começou atordoado. –Por que tem uma tatuagem com inscrições do Cruel em você? E por que te chamaram de parceiro? Mas que mértila está...

–Uou, uou, uou. –Aris interrompeu. –Eu não sei cara, juro. Isso não estava ai ontem à noite. Eu tomei banho, me olhei no espelho. Teria percebido.

–Pessoal... –Camille começou meio atordoada, sem receber resposta.

–Está dizendo que colocaram uma tatuagem em você enquanto dormia sem que percebesse? –Minho arqueou uma sobrancelha. –Corta essa.

–Eu juro, cara! Isso não...

–Pessoal! –Camille repetiu, dessa vez aumentando o tom de voz. Todos pararam, surpresos pelo repentino pronunciamento da garota. –Antes de falarem dele, acho melhor se olharem no espelho...

Winston franziu o cenho.

–O que quer dizer? –Perguntou.

–Enquanto vocês estavam ocupados discutindo eu percebi uma coisinha. –Ela se levantou, andando até Minho, que estava mais próximo e, tendo abaixado um pouco a gola de sua camisa, apontou para todos o que viu.

Propriedade: CRUEL. Grupo A, Indivíduo A7. O Líder.

–Uou. –Thomas disse.

–O que foi? –Minho perguntou de cenho franzido. –De que mértila está falando?

–Você também está com uma dessas marcas estranhas. –Thomas respondeu boquiaberto.

–Não só ele. –Camille murmurou, fazendo o mesmo com Newt.

Propriedade: CRUEL. Grupo A, Indivíduo A5. Grude.

Não demorou em perceber que todos haviam acordado com aquela estranha marca. Cada um com inscrições parecidas, mas com suas diferenças óbvias. Uma aglomeração de vozes, todos falando ao mesmo tempo. Um puxando a camisa do outro para ler o que estava escrito. A maioria deles não tinha uma designação adicional como as de Aris e Minho, só o termo de propriedade.

– Todas dizem Grupo A.

– Propriedade: CRUEL, assim como a dele.

–Você é Indivíduo A13.

–Indivíduo A19.

–A3.

–A10.

Camille ficou um pouco afastada, perdida em pensamentos. Tentava desesperadamente dar um significado às inscrições, mas não conseguia se lembrar de nada que ajudasse. O que mais a perturbava era o modo como aquilo aconteceu, nem sequer haviam percebido.

Saiu de seus devaneios quando notou Minho, Newt e Thomas à sua frente, como se esperassem uma resposta.

–Hm? Vocês falaram alguma coisa? –Ela perguntou.

–Você também tem uma tatuagem? Deixe-nos ver. –Newt repetiu pacientemente.

–Não sei, estava ocupada demais com meus pensamentos. –Ela se justificou. –O que tem escrito? -Virou-se, retirando o cabelo das costas e passando-o para frente. –Agora que parei para pensar quero saber em que grupo estou, já que fiz parte dos dois.

–Certo, deixe-me ver... –Minho murmurou, puxando um pouco a gola dela para baixo. Leu em voz alta as inscrições:

Propriedade: CRUEL. Grupo de transferência, Indivíduo 1. A Leal.

–Grupo de transferência... Bom, isso faz todo o sentido. –Newt murmurou sarcástico.

–Talvez faça mesmo. –Camille disse sem pensar, ignorando o sarcasmo de Newt.

Thomas estreitou os olhos.

–Lembra-se de algo sobre isso?

–Lembrar? Bom, não. Eu encontrei umas coisas quando estava com o Cruel. Teremos tempo para falar disso depois, acho que discutimos sobre coisas demais hoje.

Ninguém queria dizer nada, mas cada um deles compartilhava da mesma dúvida. Do que estava na placa do quarto.

Teresa Agnes. Grupo A, Indivíduo A1. A Traidora.

Não podiam negar que pensavam na relação que aquilo teria. Teresa era a traidora. Camille era a leal. Mas ninguém ousou falar aquilo em voz alta.

Em vez disso Newt tentou mudar de assunto.

–E a minha, o que acham que significa Grude?

–Provavelmente porque você é a liga que nos mantém unidos. –Thomas respondeu. -Não sei... Leia a minha.

Ele a mostrou, todos leram, mas ninguém se pronunciou.

–E então? –Insistiu.

–Você é o Indivíduo A2 - respondeu Newt. Em seguida, baixou os olhos.

E aí? - insistiu Thomas.

Newt hesitou, depois respondeu sem olhar para ele:

–Não o chamam de nada. Aí só diz... "a ser morto pelo Grupo B”.

–Que maravilha... –Thomas resmungou. –O que é isso, uma sentença de morte?

Camille e Minho se entreolharam hesitantes. Antes que pudessem falar mais alguma coisa uma sirene, tão estridente quanto a da clareira, que indicava a chegada de mais um clareano, fez-se ouvir de tal modo que Camille tapou os ouvidos por puro impulso.

Já estavam acostumados àquele som, de todo o tempo na clareira. Mas havia um pequeno detalhe.

Eles não estavam mais lá, não havia mais uma caixa por onde os novatos chegavam e aquilo definitivamente não estava certo.

O que mais irritava era que o som continuava; se Camille já não estava quase com dor de cabeça agora sim poderia ter certeza que ficaria.

O olhar dos Clareanos oscilava de um lado a outro, o espanto os consumindo, enquanto observavam paredes e teto, todos tentando imaginar a origem daquele ruído. Alguns se sentaram sobre as camas, as mãos pressionadas contra as laterais da cabeça, protegendo os ouvidos.

–De onde veio isso? –Um dos garotos gritou.

–Parece que vem de todas as direções ao mesmo tempo! –Camille gritou em resposta, mesmo sem saber para quem.

Caçarola tentou abrir a porta inúmeras vezes, empurrando e até mesmo se jogando contra ela. Porém nada parecia funcionar, fazendo-o soltar inúmeras pragas e xingamentos.

E então simplesmente cessou-se.

O alarme parou tão repentinamente que Camille cambaleou tonta pelo silêncio ensurdecedor. E não é uma simples figura de linguagem, cada mínima respiração ou suspiro parecia um enxame de abelhas dentro de suas mentes comparadas ao silêncio. Ela levou as duas mãos às têmporas, massageando-as levemente em uma tentativa de acabar com a repentina tontura.

Newt foi o primeiro a resolver se manifestar.

– Não me digam que ainda vão trazer malditos Calouros pra ficar com a gente.

– Onde fica a Caixa nesta mértila de lugar? - perguntou Minho com sarcasmo.

–Quem apagou as luzes? –Thomas perguntou, olhava para a porta, agora entreaberta em um pequeno vão, o suficiente para perceber o estalito seguido de uma imensa escuridão do lado de fora.

–Maravilha, de volta ao filme de terror. –Camille murmurou um resmungo.

–Filme de terror? –Minho a olhou com uma sobrancelha arqueada.

–E tem um nome melhor? –Ela disse dando de ombros.

No fim das contas Minho com toda a sua coragem, ou idiotice, resolveu ir procurar novamente o interruptor, sem se importar com possíveis serial killers à espreita. Quando Camille tentou dizer isso a Minho ele a olhou como se ela tivesse acabado de dizer que porcos aprenderam a voar; e, claro, como sempre teve de dar aquele sorriso.

Aquele extremamente irritante que Camille bem conhecia.

–Ah, não se preocupe, eu tomarei cuidado, mas se alguns zumbis começarem a comer minha perna, por favor, me proteja. –Ele dissera rindo.

Ela quase havia esquecido o quanto ele podia ser irritantemente irônico. Quase.

Mas, bem, de qualquer maneira lá estava ele, tomado pela vasta escuridão. Ninguém dizia uma só palavra, tornando possível escutar os passos suaves sobre o carpete e o som sibilante de sua mão deslizando pela parede enquanto caminhava.

–Achei! - gritou Minho de algum ponto na ala comum.

Ouviram-se alguns estalidos e depois as luzes piscaram em todo o salão.

Mas o que viram ali não foi nada comparado à imagem anterior que fez muitos quase passarem mal.

E nada descreve muito bem o local.

O cheiro podre; os corpos em decomposição; as cordas que os penduravam. Tudo isso havia desaparecido, como se nunca tivessem estado ali.

–Mas que... –Minho começou.

–Quer fazer mais alguma piadinha sobre meu medo de filmes de terror? –Camille que, assim como os outros clareanos, havia adentrado na ala comum, disse para Minho varrendo os olhos em busca de algum indício deixado.

Mas como já disse, não havia absolutamente nada.

Dessa vez Minho não respondeu. Pela primeira vez havia ficado completamente sem palavras.

–Impossível. –Newt, do centro do salão, disse. –Não tem como alguém ter tirado tantos corpos daqui tão rapidamente. Teríamos percebido a movimentação!

–Ninguém mais pensou que estamos trancados por dentro? –Camille disse sem acreditar. –Não tem como...

– Sem falar que o mau cheiro desapareceu - acrescentou Thomas.

Minho concordou com um gesto de cabeça.

– Bem, seus trolhos, se querem bancar os espertos, tudo bem - disse Caçarola, um tanto ofegante. - Mas olhem ao redor. Eles desapareceram. Portanto, pensem o que quiserem, de algum modo conseguiram se livrar dos corpos.

– Ei - disse Winston -, aquela gente louca parou de gritar e gemer.

– Pensei que não fosse possível ouvi-los do quarto de Aris. Mas você está certo... eles pararam. –Thomas concordou.

–Espera, calma aí. Agora quem está confusa sou eu. –Camille interrompeu. –Quem estava gritando o que?

–Ah é, você não os viu. –Newt lembrou-se.

–Não vi o quê? Da para alguém me explicar. –Sua face era estampada por completa confusão.

–Resumidamente? Acordamos com um bando de loucos deformados, com cicatrizes, ferimentos, manchas esverdeadas e toda essa mértila mais por todo o corpo agarrados às nossas janelas e gritando coisas sem sentido. Nós os chamamos de Cranks, pois foi assim que eles estavam se autointitulado. –Newt explicou rapidamente como se fosse a coisa mais simples do mundo. –Ah, e eles gritavam para que os matássemos.

Camille olhou para Newt como se ele tivesse acabado de bater a cabeça.

–E vocês só me falam disso agora?

Newt passou a mão pelos cabelos sem saber o que dizer.

– Só pode ser brincadeira! – A voz de Minho se fez presente. Antes que todos percebessem ele adentrou no dormitório maior, onde os garotos antes estavam.

Sem pensar duas vezes todos seguiram o exemplo, imaginando o porquê da exclamação do asiático.

Não demorou em descobrirem. E também não demorou para que todos fizessem suas próprias exclamações de surpresa.

Em todas as janelas, sem exceção, fora erguido um muro de tijolos vermelhos do lado de fora das grades de ferro, bloqueando por completo cada centímetro da vista. A única luz do salão vinha dos painéis no teto.

– Mesmo que tivessem trabalhado rápido com os corpos - Newt falou -, tenho certeza absoluta de que não teriam tempo para construir esses malditos muros de tijolos. O que está acontecendo aqui?

A construção nem mesmo parecia recente, como se sempre estivesse estado ali. A argamassa estava seca e o muro era firme, duro e sólido. Minho constatara isso depois de umas batidinhas dos tijolos.

–Como fizeram isso? –Alguém perguntou. –Não tem como... Não estamos ficando loucos, isso nunca esteve aqui.

–De algum modo eles nos enganaram. –Thomas constatou.

– Enganaram? - indagou Caçarola. - Como?

Os trinta minutos seguintes se passaram num misto de confusões. Alguns apenas discutiam, outros perambulavam pelo local, procurando alguma saída. Camille andou até Minho, que ainda examinava os muros de tijolos com uma ruga na testa.

Acompanhou o olhar dele enquanto o mesmo dava batidinhas no muro.

–Não entendo, por mais que eu quebre minha cabeça não consigo entender essa mértila. –Ele murmurou irritado. –Droga, eu devia fazer algo.

–Não há muito a fazer, a culpa não é sua, sabe disso. –Ela disse com suavidade.

–Leu aquela tatuagem idiota na minha nuca, não foi? –Ele perguntou retoricamente. –Não sou o líder de nada, Alby era, e ele não está mais aqui.

Camille sabia, não era preciso dizer. Apenas não comentara nada a respeito, era um assunto complicado.

–De qualquer forma, -Minho continuou com as duas mãos pressionando o muro, o olhar perdido em um ponto qualquer. –Eles colocaram isso aqui por algum motivo, eu deveria poder fazer algo, sei que deveria.

O Líder.

A inscrição veio forte à mente de Camille. Ela o olhou de esguelha.

Você está ponto, só não sabe ainda. Falou em pensamento o mesmo que dissera para si mesma no sonho, mas não colocou aquilo em palavras, ele conseguiria mesmo sem elas.

–Se lembra dos besouros mecânicos que se incendiaram no labirinto aquela vez? –Disse.

Minho confirmou com um aceno de cabeça.

–E depois simplesmente pararam.

–Sim, mas aquilo foi real. Eu senti o calor me sufocando. Sinto que estamos passando pela mesma coisa.

Minho bufou.

–Como eu disse, o mesmo experimento de mértila. O CRUEL não vai descansar enquanto não nos ver todos mortos.

–Ei. –Newt chamou, já se aproximando. –Todo mundo está percebendo outras leves mudanças aqui. –Contou. - Todas as camas do nosso dormitório estão arrumadas e não há o menor sinal dos trapos imundos que usamos antes de trocá-los pelos pijamas que nos deram ontem. Os armários mudaram de lugar, embora quase não vejamos diferença, não que isso importe. De qualquer modo, cada um foi abastecido com roupas limpas, tênis e um novo relógio digital.

–Você disse que querem nos ver morrer. –Camille se dirigiu à Minho. –Parece mais é que estão nos preparando.

–É, mas para o quê? –Newt indagou.

–Seja lá o que for, -Minho disse. –Não gosto disso.

–Mais uma coisa, substituíram a placa do quarto de Teresa. Agora é:

Aris Jones. Grupo B, Indivíduo B1. O Parceiro”

–Essa é a última coisa com que devemos nos preocupar agora. –Minho comentou. –Algum sinal de comida?

Newt fez que não com a cabeça.

–Não somos tão sortudos assim, cara.

O asiático suspirou.

–Ainda acha que não querem nos ver definhar? –Disse para Camille que, em resposta, apenas encolheu os ombros.

[...]


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Notas finais do capítulo

O capítulo ficaria bem maior, mas pensei que vocês se cansariam de ler, então o dividi em duas partes. E mesmo assim esse aqui ainda ficou bem grande.
Vou completar o que falta no outro e provavelmente daqui a dois ou três dias eu já posto. :)