Once In a Lifetime escrita por selinakyles


Capítulo 8
Hold your head high, Princess.


Notas iniciais do capítulo

Demorei mas cheguei!
Se eu não tiver matado ninguém de ansiedade ou não tiverem desistido de mim, não reparem nos errinhos pois não está revisado.

Divirtam-se!



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Chapter eight -


Quatro anos atrás -


Clarke analisava pela milésima vez o pedaço de papel em suas mãos com o coração se comprimindo dolorido em seu peito e as lágrimas teimosas criando caminho pelas maças pálidas de seu rosto. Lá fora os últimos vestígios do verão se extinguiam com a chegada do outono, e com ele, o frio excruciante.

O escuro de seu quarto nunca fora tão acolhedor quanto vinha sendo nos últimos dias. O frio nunca combinou tanto com seu estado de espírito quanto naqueles últimos meses. Finalmente, ela pensou consigo mesma.

Finalmente aquele tormento estava prestes a ter um fim.

Chicago era longe o suficiente para que ela não precisasse mais lidar com as mentiras e armadilhas de sua mãe. A distância era boa e lhe trazia alguma paz pensar que logo ela não mais precisaria voltar à Arkville, e uma vez longe daquela casa, um retorno não era sequer algo a se cogitar.

Clarke vinha procurando dentro de si a capacidade de perdoar nesses três meses que se passaram, tentativas frustradas e que só a faziam se sentir pior, sentir mais raiva e todo tipo de emoção ruim que poderia vir com ela.

Completaram-se exatos três meses que Jake Griffin morreu, e bem, Clarke ainda era incapaz de olhar no rosto da mulher que lhe trouxe ao mundo sem que sua boca de tornasse amarga de desgosto e desprezo.

Ela avaliou mais uma vez a folha que atestava sua entrada para o curso de Medicina na Universidade de Chicago, levantando as lagoas azuis para o largo mural de fotos em sua parede, enfeitado com alguns pisca-piscas, onde guardava os melhores momentos de seus últimos anos.

Nele continha fotos com Octavia, Raven, Finn, Bellamy, Wells, e até mesmo algumas em família onde o rosto de sua mãe se destacava. Uma foto em questão tomou totalmente sua atenção, e foi como se um punhal fosse cravado em seu peito. Seus olhos se espremeram com força enquanto o momento exato registrado ali se refazia por trás de suas pálpebras.

O dia do baile de formatura, algumas semanas antes de seu mundo desabar.

Jake sorria abertamente ao olhar para câmera, os olhos azuis quais Clarke herdara geneticamente brilhavam em puro orgulho e satisfação. Ela nunca esqueceria o olhar no rosto de seu pai ao vê-la descer as escadas lentamente em seu longo vestido azul claro, pronta para o encerramento daquela fase de sua vida, ansiosa para deixar de vez o ensino médio.

A loira se lembrava perfeitamente do elogio que ele sussurrou em seu ouvido aquela noite, um pouco antes de entregá-la aos cuidados de Finn Collins.

Ótima escolha… Azul realça seus olhos, kiddo. Aproveite sua festa.

Se ela apenas soubesse o que aconteceria naquele baile, se ela apenas soubesse o que as próximas semanas lhe reservavam…

Mas ela não sabia, ela fora a última a saber e jamais perdoaria sua mãe por isso.

Abby Griffin tirou dela algo que jamais poderia ser restituído ao fazer uma escolha que em momento algum fora sua. Sua própria mãe a privou de viver cada último segundo de vida de seu pai ao lado dele por esconder desde o primeiro instante a maldita doença terminal.

Três leves batidas na porta de seu quarto a tiraram de seu transe momentâneo, desviando sua atenção do mural de fotos a sua frente e fazendo com que as mãos limpassem bruscamente o que restava de suas lágrimas.

Clarke inspirou uma lufada de ar, torcendo mentalmente que o nó em sua garganta não a denunciasse.

“Eu já disse que quero ficar sozinha hoje, O. Por favor.”

“Não é a O.” Clarke fitou as sardas de Bellamy pela pequena brecha que ele havia aberto na porta, tampando os olhos com uma das mãos. “Está decente?”

Clarke revirou os olhos azuis, prendendo o riso amargo.

“Eu sempre estou decente, Bell.”

Os lábios se repuxando de um só lado – marca registrada de Bellamy Blake – e os olhos escuros brilhando em divertimento, entrando em contraste com a pouca iluminação. Lá estava ele, inerte diante dela, uma mão no bolso de seu jeans desgastado e a outra bagunçando ainda mais os fios negros de seu cabelo.

Bellamy a avaliou por mais alguns instantes da mesma forma que fazia quando queria entender o que se passava em sua cabeça, como se pudesse ver sua alma através daqueles olhos. E por tantas vezes ele soube perfeitamente lê-la como um livro aberto, como um dos seus exemplares de História Romana ou Mitologia Grega.

No entanto, ele não mais era capaz de alcançá-la. Bellamy se tornou incapaz de entender verdadeiramente o que se passava no azul opaco daqueles olhos nos últimos meses.

“Octavia me contou sobre a sua carta de admissão…” Começou ao se aproximar vagarosamente, receoso de que ela pudesse fugir de sua vista a qualquer momento. “Eu sempre soube que você conseguiria.”

Um sorriso tímido iluminou o rosto de Clarke, ressaltando as bochechas levemente coradas. Ele acreditava nela, Bellamy acreditava nela tanto quanto seu pai acreditava. Apenas mais uma das coisas que eles pareciam ter em comum.

A loira levantou os olhos azuis, dando seu máximo em não se sentir intimidada com a presença sempre tão marcante daquele rapaz. A luz fraca da Lua invadia seu quarto pela porta da varanda, aperfeiçoando diante de seus olhos cada traço daquelas feições.

Clarke quase se engasgou ao respirar, segurando consigo a vontade de desenhar cada sarda gravada nas maçãs daquele rosto. Entretanto, ela jamais deixaria transparecer o quanto as amava.

“Você veio aqui só pra isso?” A loira quis saber, desviando os observadores olhos claros para a cortina que dançava conforme o ritmo da fria brisa noturna. “Eu disse para Octavia que eu queria ficar sozinha, sem exceções.”

Bellamy suspirou ruidosamente. Irritadiço, ela pode notar.

“Você já ficou sozinha por tempo demais, Clarke.” A ternura em sua voz quase fez com que a loira vacilasse e encarasse novamente aqueles olhos, se perdesse neles e em todo o oceano de emoções em que eles a inundava.

Contudo, Clarke tinha planos diferentes em mente. Seu coração permanecia partido em milhares de pedaços, proporcionando a ela uma dor que jamais imaginou que pudesse ser sentida, que teria tamanha magnitude.

No fundo, desejava verdadeiramente poder sucumbir e simplesmente deixar tudo de lado, mas tinha tanto a perder… Uma nova vida deveria bastar. Uma nova cidade, novos ares. Não tinha saída, a vida não esperaria que ela se recuperasse para seguir, ela simplesmente seguiria.

Bellamy tirou uma caixinha de um dos bolsos dianteiros de sua calça, retirando de dentro dela um colar dourado, envolvendo-o entre seus dedos.

“Não é exatamente feito de diamantes ou uma das coisas chiques e caras que você está acostumada mas… eu quero que você lembre sempre que em todo momento, alguém acreditou em você.”

A loira o olhava como se estivesse tentando resolver uma de suas equações químicas, sem compreender a verdadeira razão de tudo aquilo. O irmão de sua melhor amiga estava lhe dando um presente repleto de um significado que nem mesmo ela era capaz de entender.

Como sempre Bellamy Blake havia achado uma nova forma de lhe surpreender.

“Eu poderia dizer que Octavia me ajudou a escolher, mas bem, você pode ver claramente que não precisei muito da opinião dela para saber que era o presente perfeito.” Ele sorria, as bochechas levemente rosadas em meio ao seu próprio constrangimento.

“Claramente, sim.” Seu timbre era fraco, não fora capaz de camuflar a surpresa em sua voz.

“Posso colocá-lo?” Indagou, apreensivo ao ver a loira assentir e segurar os longos cabelos loiros de um só lado.

Logo ele estava atrás dela e o pingente em forma de coroa se ajeitava em seu pescoço. Os dedos quentes de Bellamy em contato com sua pele, os arrepios percorrendo sua espinha como correntes elétricas. Acontecia sempre que ele a tocava, por mais simples e insignificante que fosse seu toque.

Sua respiração se entrecortou ao sentir o hálito quente em seu ouvido.

“Toda princesa deve ter sua própria coroa.”

Bellamy envolveu seu pulso, fazendo com que ela se virasse para ele novamente. O olhar determinado preso no seu, as íris negras sempre tão misteriosas se realçando com a claridade que entrava pela janela, e Clarke jurou ali nunca ter visto algo mais belo.

“Cabeça sempre erguida, Princesa.” Ele tocou seu queixo com o indicador, erguendo-o o suficiente para que os lábios de Clarke estivessem mais acessíveis aos seus. “Nunca deixe a coroa cair.”

Aquelas palavras saíram como um suspiro, como um segredo a ser compartilhado, selado assim que sua boca encontrou a dela com uma tranquilidade quase tangível. Bellamy sentiu os músculos de Clarke se relaxarem sobre seu toque assim que puxou o lábio inferior entre seus dentes, aprofundando o beijo.

Os dedos gélidos da loira passeavam afoitos por seus cabelos, se enroscando nas ondas negras ao apreciar sua textura macia. Os braços fortes se encaixaram na cintura fina, dissipando o que restava da distância entre eles, mesclando seu calor ao dela da mesma forma que suas línguas faziam ao se encontrarem.

E foi quando Clarke percebeu que estava prestes a seguir um caminho sem volta que ela o afastou, quebrando todo o contato, sentindo seu próprio corpo protestar em resposta. A respiração instável, os lábios formigavam assim como cada centímetro de sua pele, o peito descendo e subindo em uma velocidade quase agoniante.

“Eu acho…” Ela começou, levando uma das mãos até a cabeça como se tal gesto fosse fazê-la raciocinar melhor. “Eu acho que você deve ir.”

Bellamy permaneceu ali, parado em sua frente ainda a olhando como se Clarke tivesse acabado de falar um idioma completamente diferente, tão desnorteado quanto ela mesma.

Quando a loira levantou os receosos olhos azuis, o moreno já não mais estava ali. Tudo o que ouvira fora o barulho de sua porta se fechando, aquele perfume se impregnando em seu olfato como uma droga e seu coração tamborilando em seu peito na mais constante melodia.

Clarke havia aprendido da forma mais árdua que a vida acontece, e que ela não tem poder algum sobre o que é ou não pra ser. O máximo que tinha controle era de suas escolhas, e a partir daquele momento ela havia escolhido não sentir.

Escolheu não ter mais nada a perder. Escolheu não se sentir mais daquela forma. Escolheu reprimir todo e qualquer sentimento que pudesse vir a lhe proporcionar tamanho sofrimento, intensidade. Escolheu afastar todas as lembranças que alimentavam as esperanças que jamais seriam correspondidas.

Ela escolheu não se permitir, e não se importaria se só por um momento ou por uma vida toda tivesse que carregar sozinha o peso da solidão.

Afinal, essa havia se tornado sua melhor amiga de qualquer forma…



Dias atuais -



O coração de Clarke pulsava forte em seu ouvido, enquanto sua razão travava uma batalha contínua contra seus desejos, seus sentidos. O braço de Bellamy ainda se moldava em sua cintura, enquanto a mão dele pousou-se na maçã de seu rosto para mantê-la ainda mais próxima do dele.

Oh aqueles lábios. Deveria ser proibida forma com que eles devoravam os seus, o calor que se espalhava por todas as partes de seu corpo, o desejo que lutava para se soltar das amarras que ela o colocou há tanto tempo.

Clarke sabia perfeitamente o que aconteceria depois, uma vez que se permitir era o mesmo que cair de cabeça no poço de emoções que ela se recusava sentir. Claramente, ela havia provado do proibido e se livrar de tal pecado seria seu maior martírio. Ele já havia se infiltrado em seu coração uma vez, de forma alguma ela permitiria que acontecesse novamente.

Bellamy Blake era o tipo de pecado sem volta que ela sempre quis cometer.

Os passos de Bellamy a guiavam devagar até a planície mais próxima em busca de suporte. Seu polegar acariciava as bochechas rosadas que queimavam sob seu toque, a pele macia e leitosa se arrepiando sob suas digitais.

E foi ao sentir os dedos dele ganharem vida por debaixo de sua blusa que sua sensatez deu sinal de vida, se afastando como a reação súbita de quem acaba de se queimar. Os olhos claros o encaravam sem realmente ver o que estava diante de si, atônitos demais para conseguir se livrar da névoa que embaçava sua visão.

Sua pulsação acelerada em sua audição, o coração parecia grande demais para caber dentro de si, os lábios levemente inchados tão dormentes quanto suas pernas, as pupilas tão dilatadas que por um momento ele jurou não ser capaz de encontrar o azul daquelas íris.

Em todas as imagens que sua mente fazia para atormentá-la, Clarke jamais sentia como estava se sentindo naquele momento. Naqueles devaneios havia um Bellamy compassivo, carinhoso e sereno. Seu ser se preenchia do sentimento mais puro, fazendo-a viva, trazendo a luz que dizimava toda a escuridão que lhe envolvia.

Ela não sentia o peito doer tanto como se fosse explodir, ela não sentia dor alguma. Ela sentia a leveza de estar livre das amarras, tinha a sensação da brisa da manhã que invadia a janela de seu quarto para acariciar seu rosto. Era ameno, amistoso, e tão avassalador que lhe tirava a capacidade de enxergar algo além dele.

Ele. Sua salvação. Sua ruína.

Mas ainda assim, eram apenas devaneios. Desejos que leva guardava a sete chaves bem longe do alcance de qualquer tipo de emoção traiçoeira que pudesse enfraquecê-la, tomá-la.

E bem, Bellamy estava muito perto de abrir todos seus segredos submersos com apenas um beijo. Um ato impensado e baseado em raiva, frustração, e nenhum desses sentimentos cabia no que ela idealizava como verdadeiro. Clarke não via ou sentia qualquer autenticidade ali.

Apenas o Blake mais velho tentando enlouquecê-la. Nada muito especial, ela dizia para si mesma. Mesmo que cada parte de seu corpo lhe dissesse ao contrário, queimando em tentação.

“Saia daqui.” Sua voz saiu em um sussurro, ainda abalada demais pela falta de oxigênio em seus pulmões. “Saia daqui antes que eu faça algo que eu me arrependa.”

A fúria era compatível com seu estado de espírito. Era isso, raiva.

Raiva que tinha de si mesma, por ter pensado em sucumbir por um momento, por uma fração de segundos ter se permitido. Ódio por saber que ele conseguira o que queria, havia lhe atingido em cheio com mais um de seus truques para deixá-la fora de si como sempre acontecia.

Clarke o viu passar pela porta de seu quarto como um raio, sem palavra alguma. Em seu rosto, ela fora incapaz de reconhecer a mesma expressão desnorteada que ele adotara ao beijá-la pela primeira vez, ao contrário, tudo o que ela pode identificar foi o sorriso amargo e cínico.

Seus olhos se fecharam por longos minutos conforme ela engrenhava seus dedos em seu coro cabeludo.

Na verdade Clarke se sentia grata por Bellamy ser tão enfurecedor. Ela gostava de manter a versão amável e afetuoso para si mesma, nos devaneios que ela se privou de ter há tanto tempo.

Estava contenta em amá-lo odiando. Como sempre, não mudaria nada.

A porta da frente bateu com força, anunciando que ele havia deixado seu apartamento. Mais do que isso, Bellamy a deixara com os restos de uma grande bagunça sentimental para limpar.



***



Clarke estava aproveitando a paz de estar sozinha em seu apartamento pela primeira vez em semanas, sentada em seu sofá com seu caderno de rascunho em mãos enquanto a música clássica ecoava por toda a sala de estar.

Oh, fazia tanto tempo que ela não sentia tamanha tranquilidade.

Tal pensamento foi interrompido assim que Raven Reyes entrou pela porta com a rapidez de um ladrão, tirando suas botinas e pendurando seu casaco antes de notar que a loira a observava durante todo o tempo.

As íris claras de Clarke vasculharam suas feições, estudando-a como um de seus livros de biologia que ela tinha decorado.

“Existe essa coisa nova que inventaram e se chama celular…” Sua voz era calma, mas ainda continha uma pitada de sarcasmo e aborrecimento. “Você quase me deixa doente de preocupação, Rav.”

A morena coçou testa com o dedo indicador, o rosto antes inexpressivo ganhava alguma emoção ao fitar a loira um tanto constrangida. Ela havia feito o que ela mais odiava que fizessem com ela: ser deixada no escuro se remoendo em apreensão.

Raven nunca havia passado tanto tempo fora de casa sem dar notícias. Raven também não mantinha segredos para si mesma, não os omitia. Mas também, Raven Reyes claramente não vinha sendo ela mesma nos últimos dias.

Clarke pode perceber pelo seu embaraço e suas atitudes impulsivas e peculiares que algo estava errado, porque como sempre, ela de fato conhecia aquela mulher como a palma de sua mão.

“Meu celular morreu… Perdi a noção do tempo jogando Silent Hill com os garotos e decidi que era melhor ficar por lá.” Ela respondeu ao dar de ombros, jogando o celular descarregado sobre a mesinha de centro e se aconchegando no sofá.

Sua atenção foi sugada para o caderno de rascunhos que Clarke tinha em seu colo, assistindo-a fechá-lo bruscamente ao perceber que estava revelando demais o desenho em que esteve trabalhando na última hora, desde que Bellamy havia deixado o apartamento.

A loira a olhou, tentando não transparecer o ceticismo que aquela resposta lhe causou, mas ao contrário disso, apenas agiu normalmente como se não tivesse acabado de ouvir a maior mentira que Raven havia contado na vida dela.

“Octavia?” A Reyes quis saber, arqueando uma de suas sobrancelhas negras ao perceber que a outra morena não estava perambulando pelos corredores com sua hiperatividade irritante.

“Com Lincoln. E bastante chateada que você perdeu a última noite do filme.”

Clarke pegou o iPod, abaixando o volume de sua música clássica para que ela e Raven pudessem ter a conversa que tinha em mente. Depositou o caderno de rascunhos sobre a mesinha ao lado do celular da morena, escutando o ar escapulir dos lábios de sua amiga em um gemido de exaustão.


A loira puxou as mãos quentes envolvendo-as nas suas em cumplicidade. Agora mais de perto ela examinar melhor o rosto de quem claramente estava escondendo algo, a pele morena sempre tão cheia de vida agora parecia pálida, aguçando seus instintos superprotetores.

“Rav, você tem comido direito?” As lagoas azuladas se arregalavam levemente em preocupação, as mãos vagando pelas bochechas sem cor da amiga.

“Claro que eu tenho comido. Comida é algo sagrado, Griffin, não se recusa.” O fantasma de um sorriso se criou no canto de seus lábios, não tão atrevido como de costume.

Seu sexto sentido gritava para que ela deixasse toda aquela farsa de lado e fosse direto ao ponto, encurralasse a morena em busca da verdade, não se importando com o fato de que Raven detestava aquele tipo de aproximação. Clarke sabia que se quisesse saber o que de verdade estava acontecendo por trás daquela máscara de desculpas esfarrapadas de Raven Reyes, ela teria que ser paciente como uma mula.

O que se tornava ainda mais difícil levando em consideração o quanto vê-la aparentar tamanha fraqueza a agoniava.

“Se você estiver escondendo algo de mim, Raven Reyes, eu juro por Deus que arranco seus olhos fora.”

Raven se desvencilhou da loira, desviando sua atenção para um ponto vazio qualquer. Os olhos escuros nublados pela camada de água que logo escorreu por suas bochechas. Ela precisava de um pote de sorvete, e era melhor Octavia ter reabastecido seu estoque se quisesse permanecer viva até o dia de seu bendito casamento.

“Rav…” Clarke chamou, buscando seu olhar sem sucesso algum. “Raven, olha pra mim.”

A morena relutou por mais alguns instantes, inalando uma lufada de ar para que se tornasse mais fácil se recompor, não escondendo a tristeza que emanava de seu ser por meio das grandes íris castanhas. Logo Clarke a envolvia em seu abraço, deixando que o calor que vinha de seu corpo a consolasse, aconchegando-a em seu colo como uma criança que precisa de amparo.

Os soluços se tornaram audíveis, perversos, e a loira pode perceber o quanto estava sendo difícil para ela respirar.

“Você não vai perguntar o motivo de tudo isso?” A voz de Raven saiu embargada pelo choro preso em sua garganta como um maldito nó, enfraquecendo-a como a mulher patética que se sentia.

Clarke acariciou os longos fios marrons daquele cabelo, desfazendo o rabo de cavalo para que seus dedos pudessem correr livremente enquanto sua outra mão percorria em um vai e vem incessante por suas costas, na tentativa de acalmá-la.

Por tantos momentos Raven a escutou, a acolheu e a consolou. Clarke perdera as contas de quantas vezes aquela mulher agora parecia tão vulnerável em seus braços havia sido sua força, seu pilar, mantendo-a sã e compreendendo-a quando muitas vezes nem mesmo Octavia conseguia.

E era por isso que não importava o que tivesse acontecendo, ela retribuiria todo carinho e afeto à altura.

“Você irá me contar quando estiver pronta.” Clarke respondeu, o timbre abafado pelos cabelos escuros da amiga.

Essa era sua única certeza.


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Notas finais do capítulo

Entre tapas e beijos, é ódio é desejo, é sonho é ternuraaaaaa (8)

Só b.o ein, galera? Começando por meu sumiço, qual eu me desculpo sinceramente. Eu tive um sério problema de falta de concentração durante todo esse tempo, e só piora com a faculdade, hahaha. Ultimamente eu vivo em modo standby, tá complicado ein. Mas enfim, deixando meus mimimis de lado, voltei com um capítulo cheio de emoções e ficaria muito muito muito feliz e agradecida se vocês me dissessem o que achou dele. Pra ser sincera é um dos meus capítulos favoritos e esse flashback saiu do jeitinho que eu queria, então logo é minha cena preferida! O mistério de Raven só sabe aumentar, huh? Quem tá prontinho pra quando essa bomba estourar? Hahahahaha. Só tiro, porrada e bomba.

Para quem quer ter uma imagem exata do vestido de formatura da Clarke, eu fiz um post no meu Polyvore: http://www.polyvore.com/prom/set?id=158028934

Tem também um post dos vestidos de madrinha que as meninas experimentaram no capítulo três: http://www.polyvore.com/bridesmaid/set?id=146177333#scroll_position=82 Seguindo os vestidos da Clarke, Lexa e Raven.

Espero de verdade que não tenham me abandonado, pois mesmo com a demora, não abandono vocês, viu? Os xingos, sugestões, dicas, críticas, estarei esperando nos comentários, ein!

Beijinhos!