Once In a Lifetime escrita por selinakyles


Capítulo 35
Brave Princess.


Notas iniciais do capítulo

Ma oe! Ma oe oe oe! Olha quem apareceu!
Isso pra mim tá sendo em tempo record, mas se querem saber, voltei mais cedo porque estive inspirada.

Vou dedicar esse capítulo pra minha Zaven family. Wifey, filhos, família, obrigado por divulgarem e enaltecerem OIAL sempre. Esse capítulo veio totalmente do apoio que vocês me deram, a inspiração atingiu níveis astronômicos!

Capítulo betado pela bff mais linda e mais tombada por essa história nesse mundo. Manda, acho que não existe nesse mundo alguém que tenha lido essa história mais vezes que você. Obrigada por betar e ser minha maior fã! Te amo.

E bom, indo ao que interessa... A MÚSICA QUE ELES DANÇAM É ESSA: https://www.youtube.com/watch?v=MgUIlh2h7CQ

Na última cena eu escrevi escutando Kindly Calm Me Down, da Meghan Trainor. Fica aqui o link e a sugestão: https://www.youtube.com/watch?v=VpUvQ3JtUXc

AVISO!!!!!
Esse capítulo tem insinuações de estupro. Se você tem trigger (gatilho) com esse tipo de situação, eu recomendo que pule a segunda cena e vá direto para a terceira. Eu sinto muito, meus amores. Realmente, eu sinto.

Espero que gostem desse capítulo o mesmo tanto que eu gostei de escrevê-lo.
Divirtam-se!



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Chapter thirty-five –


“Quando foi a última vez que fizemos isso?”

Clarke fitava o que seria sua terceira dose de tequila daquela noite com certo receio. O sorriso largo de Octavia e a sobrancelha escura de Raven se arqueando desafiadoramente lhe garantiram a coragem que lhe faltava para virar o líquido amargo de uma só vez, assim como suas melhores amigas também o fizeram.

Se ela ficaria com uma ressaca terrível no dia seguinte, certamente não se importava. Não enquanto a sensação incrível de leveza e plenitude tomasse conta de seu corpo e alma, como há muito tempo não acontecia.

“Eu nem mesmo consigo me lembrar.” Octavia pigarreou, avistando de longe seu irmão e seu marido encostados no balcão com seus respectivos copos de whiskey em mãos.

Caretas.

“Para ser sincera o último porre que eu lembro de ter tomado com vocês foi aquele em que eu encontrei Bellamy e Harper na minha cama no dia seguinte.” A Griffin riu, dando de ombros ao notar a troca de olhares entre suas melhores amigas. “De pensar que ela agora é namorada do Monty...”

Sua atenção foi sugada momentaneamente para onde Gina conversava com Monty, desviando seus olhos claros ao ser flagrada.

A sensação de estar sendo observada lhe incomodou. Havia uma inquietude peculiar revirando suas estranhas, e Clarke gostaria de poder afirmar com toda a certeza do mundo que não era sua intuição lhe avisando sobre algo, mas sim todas as doses de tequila que havia ingerido.

Acontecia com uma frequência quase irritante, praticamente todas as vezes em que ela se permitia ter seus momentos de felicidade. E aquela noite? Era definitivamente uma das mais felizes de seus vinte e oito anos de vida.

Alguns reconheceriam aquilo como um ato típico de auto sabotagem. Isto é, se se ela não tivesse reparado o olhar fixo da noiva de Bellamy queimando em sua nuca desde o primeiro momento em que saíram de sua cobertura, duas horas atrás.

“Sua cunhada não quer se enturmar? Luna, Niylah e Wells foram embora, mas ainda estamos aqui.” O tom de Raven era calmo, mas no castanho de seus olhos era possível ter o vislumbre da curiosidade. “Ela é um pouco estranha...”

Octavia bufou, os orbes esverdeados se reviraram em suas órbitas ao se dar conta que a noiva de seu irmão havia se tornado assunto entre suas amigas. A incerteza sobre o quanto aquilo poderia ou não estragar a noite da sua loira a fez querer mudar o rumo daquela conversa.

“Você já conheceu meu irmão? É tão esquisitona quanto ele.”

Clarke soltou um riso enguiçado, os olhos se estalando levemente assim que seus ouvidos reconheceram a música que explodia pelos alto-falantes da boate.

Oh don’t you dare look back, just keep your eyes on me...”

A loira gesticulou entre seus olhos e Raven, que gargalhou ao puxar sua mão e arrastá-la até a pista de dança. Os dedos delgados da Griffin envolveram o pulso de Octavia, trazendo-a junto para o que se tornaria um dos momentos mais memoráveis de sua existência.

“This woman is my destiny, she said ohhh oh ohh shut up and dance with me!” Elas cantarolavam juntas, jogando os braços para o alto sem preocupação alguma.

A Reyes encostou suas costas na de Octavia, enquanto uma de suas mãos segurava a de Clarke, guiando-a para que andasse em círculo em torno de seus corpos. Seus sorrisos pareciam grandes demais para seus rostos, e a afeição que a aniversariante sentia por suas melhores amigas naquele instante fez com que seu coração se tornasse grande demais para caber em seu peito.

Jasper não demorou muito a se juntar a elas, com Monty e Gina em seu encalço. O sorriso singelo que a futura Blake lhe direcionou fez com que ela deixasse de lado momentaneamente as emoções controversas que ela lhe causava, os olhos azuis buscando pela figura de Bellamy logo em seguida.

Murphy estava ao lado dele como um cão de guarda, detalhe que não lhe passou despercebido durante todo o tempo. Lincoln parecia compenetrado demais em admirar sua esposa sorridente para notar que estava sendo observado, mas não Bellamy.

Clarke rebolou sua cintura conforme o ritmo, o ostentar de seus dentes perfeitamente alinhados dando a ela o ar descontraído que raramente se permitia ter. Suas sobrancelhas loiras se arquearam, sua mão chamando-o para que se juntasse a eles naquela pista de dança.

Brevemente, a covinha quase imperceptível em sua bochecha apareceu assim que o moreno respondeu ao seu chamado com um menear breve de sua cabeça e um sorriso desconcertado. Ele parecia estar se divertindo demais observando de longe para ter que ir até elas e demonstrar seus trágicos passos de dança.

Bellamy nunca foi um bom dançarino, não quando se tratava de improvisar – detalhes dele que ela tinha de cor como a palma de sua mão.

She took my arm, I don’t know how it happened, we took the floor and she said...” Clarke se virou para Octavia, um lampejo de divertimento ressaltando o azul cristalino de seus olhos ao recitar os versos seguintes daquela música diretamente para a Blake mais nova.

“Oh don’t you dare look back, just keep your eyes on me...” Ela apontou o indicador para Raven, que colocou a mão sobre o peito ao simular uma expressão de surpresa que a fez sorrir ainda mais. “I said you’re holding back...”

“She said shut up and dance with me.” Jasper se intrometeu no meio das suas meninas, puxando a mão de Gina que tentava se desvencilhar dele com um sorriso acanhado. “This woman is my destiny!”

“She said ooh oh ohh...” Clarke apontou para Monty, esperando que ele continuasse e rindo assim que ele o fez.

“She said shut up and dance!” O Jordan bagunçou os cabelos escuros de seu melhor amigo, pulando assim como todos ali já faziam.

O final da música veio, e com ele os primeiros acordes de Candy Shop fizeram com que Raven soltasse um grito entusiasmado. A loira sentiu sua garganta queimar, um sinal claro de que precisava de mais um drink antes de juntar aos seus amigos novamente na pista de dança.

Ela se afastou ao resmungar um aviso no ouvido de Octavia, se dirigindo até ao balcão um tanto cambaleante assim que a morena assentiu. Com um sorriso para o bartender, optou por um mojito, recostando-se em uma das banquetas quando sentiu o salto incomodar seus pés.

“Noite animada, doutora?”

A Griffin se virou para encarar o dono daquela voz, tentando conter as reações expressadas em seu rosto. No entanto, uma ruga se criou entre suas sobrancelhas ao notar que o homem de mais ou menos trinta e cinco anos não lhe era em nada familiar.

O sorriso de Clarke se esvaiu, dando lugar a um crispar indeciso de seus lábios.

“Eu te conheço?” A atenção da loira desviou das feições másculas para bebericar o drink depositado a sua frente.

“Desculpe, que rude da minha parte, não é mesmo?” Ele abriu um sorriso amarelo, o brilho repleto de malícia em seu olhar a incomodou muito mais do que deveria. “Paxton McCreary, muito prazer.”

A Griffin tombou sua cabeça levemente, os pêlos de seu braço se arrepiando com o jeito apavorante que ele insistia em lhe encarar. Sua mente já nublada pelo efeito do álcool se esforçava em buscar algo naquele cara que lhe trouxesse algum detalhe, alguma lembrança de que o conhecia.

Nada veio.

“Eu sou paciente da dra. Rayen.” McCreary levou seu copo de vodka até os lábios, escondendo o curvar maldoso de seus lábios. “Você não me conhece, mas eu te conheço: a pediatra que passeia pelos corredores com as crianças da ala norte.”

A loira sentiu novamente um arrepio percorrer por toda sua coluna, desviando seu olhar temeroso para o drink em suas mãos. Seu cenho se franziu, e sua capacidade mental estava lenta demais para que ela pensasse em algo que a livrasse daquela presença desagradável.

“Posso lhe pagar um drink?” Sua oferta fez com que Clarke erguesse seu olhar novamente até aquele rosto, o desconforto exalando por sua linguagem corporal.

“Eu já estou bebendo, caso não tenha notado.” Ela disparou, pronta para se levantar da sua banqueta e voltar para a pista de dança onde seus amigos a esperavam.

A mão forte e levemente calejada segurou seu antebraço, impedindo-a de seguir seu caminho. O toque fez com que seu corpo se desvencilhasse rapidamente, um reflexo que se tornou quase exagerado devido a quantidade de álcool em seu sangue.

Os olhos azuis se estreitaram, a apreensão dando lugar a irritação.

“É só um drink, dra. Griffin.”

Os lábios de Clarke se entreabriram, nenhuma desculpa convincente passava por sua mente traidora. A exasperação que borbulhava na boca de seu estômago trouxe à ponta de sua língua as palavras rudes que certamente fariam com que ele se afastasse, sendo impedida de proferi-las assim que o timbre rouco de Bellamy adentrou seus ouvidos.

“Algum problema?” O moreno a checou rapidamente, um breve lampejo de preocupação iluminando o escuro de seus olhos. Ao se levantarem em direção ao homem em sua frente, neles Clarke foi capaz de identificar uma densidade quase ameaçadora.

Seus ombros pareciam mais largos quando o Blake se posicionou à sua frente, defendendo-a com seu corpo. E por mais que ela estivesse longe de ser uma donzela em perigo, os receios dentro de si se aquiesceram ao saber que Bellamy estava ali por ela.

McCreary vacilou sua atenção entre ele e os dois homens que estavam ao seu encalço. Murphy aparentava estar pronto para começar uma briga a qualquer momento, enquanto Lincoln apenas observava tudo com certa placidez em suas feições.

O sorriso ferino que ele direcionou ao Blake trouxe de volta a inquietação que revirava suas entranhas, a tensão se tornando quase tangível entre os presentes ali. 

“Não, problema algum.” Ele ergueu as mãos em rendição, o alargar debochado de seus lábios aflorando na Griffin a vontade súbita de socá-lo. Não era difícil constatar seu comportamento ardiloso, nem mesmo sob o efeito de todas aquelas doses de tequila.

O mais velho se afastou, e só então Clarke pôde notar que seu ar permaneceu estancado em seus pulmões durante todo o tempo. O alívio que lhe assolou ao ver aquele homem se distanciar parecia ter dissipado todo o peso sob seus ombros.

Bellamy se virou para ela, os castanhos de suas íris se enternecendo de uma forma quase afável. Havia uma urgência dentro de si que clamava por aqueles braços, pela sensação calorosa de segurança que seu enlace trazia a ela.

No entanto, bastou notar o olhar atento de Gina sobre eles para desmoronar todas as sensações boas que criaram morada dentro de si.

Estava destinado a ser assim: ansiar por ele e por todos o sentimentos magnificentes que ele a fazia sentir, quando nunca poderia tê-lo verdadeiramente. O poderia ter sido nunca doeu tanto quanto vinha doendo nas ultimas semanas.

Clarke finalizou seu mojito em goles exagerados, o abrasar do rum em contato com sua faringe misturado com o azedo do limão não amortecendo em nada o ardor que embrulhava seu coração.

Porém, não era disso que precisava.

Não era para vivenciar mais um pouco a dor do seu coração partido que ela estava ali. Por esta razão que, ao murmurar um agradecimento para Bellamy e lançar na direção de Murphy e Lincoln um olhar tranquilizador, a loira caminhou com o que restava de sua dignidade até a pista de dança onde seus amigos se divertiam.

Octavia a recepcionou com um sorriso que seria capaz de iluminar toda uma cidade, e os braços de Raven a envolvendo em um abraço desajeitado foi o suficiente para fazê-la esquecer todo os pesares que por pouco não arruinaram seu humor.

Era uma promessa para si mesma: nada mais estragaria sua noite.

***

Uma gotícula de suor percorreu por de sua têmpora até finalizar seu caminho na ponta de seu queixo, comichando. A felicidade que percorria por cada veia de seu corpo em forma de adrenalina nunca pareceu tão certa, tão pertinente.

Os dedos passeavam pelas longas ondas douradas de seu cabelo, observando atentamente seu reflexo no espelho daquele banheiro. O sorriso que alargava seu rosto e adornava suas feições era o fruto de uma noite inesquecível ao lado das pessoas que mais ama em sua vida.

Clarke retocou o batom rosado, sua visão já não funcionando normalmente. Ela havia perdido as contas de quantos drinks havia tomado depois de seu mojito – muito arrebatada pelo calor do momento e daquelas pessoas para se importar.

Sendo realista, talvez Lincoln fosse o único com o juízo nos eixos no coletivo de bêbados que eram seus amigos. O resto? Bem, assistir Jasper, Octavia e Raven dançarem o twerk ao som de Jason Derulo e Nicki Minaj foi exemplo o suficiente do que a bebida pode fazer com uma pessoa.

Em algum momento daquela noite, Monty, Jasper e Raven se cansaram de tentar fazer com que Gina se enturmasse. Havia algo fora do comum sobre seu comportamento que mesmo que eles tentassem compreender, desistiram ao se darem conta de que provavelmente somente Bellamy seria capaz.

Ela respirou fundo, secou o suor em sua testa com um papel toalha e então sorriu, pronta para se livrar do cômodo abafado que era o banheiro feminino daquela boate. A loira passou pela porta ajeitando seu vestido cinza; o incômodo causado por suas sandálias diminuiu conforme seu corpo se extasiava com a sensação de plenitude.

O corredor até a parte central da casa noturna era pouco iluminado, apenas algumas lâmpadas amareladas guiavam o caminho de volta para onde seus amigos se encontravam. Sua postura distraída foi o suficiente para que ela fosse pega de surpresa pela mão forte que voltou a envolver seu braço pela segunda vez naquela noite.

Os olhos claros de Clarke se estalaram, suas pupilas praticamente dilatadas lhe impediam de enxergar com nitidez o rosto do homem que há pouco lhe atormentava no balcão de bebidas.

“Eu pensei que não conseguiria mais a oportunidade de te ter sozinha.” O timbre venenoso sussurrou em seu ouvido e ela encolheu o seu pescoço o suficiente para que ele não roçasse seus lábios em sua pele. “Mulheres sempre vão ao banheiro acompanhadas. Parece que você é uma exceção, doutora.”

A Griffin tentou se desvencilhar de seu enlace uma, duas, três vezes. A quarta vez fez com que a realização lhe assolasse como o pior dos pesadelos: ela já não tinha reflexos suficientes para se proteger sozinha. Aquele maldito homem provavelmente faria o que quisesse com ela se alguém não aparecesse rapidamente.

Os conhecimentos que adquiriu nas aulas de defesa pessoal não lhe serviam de nada, quando seu corpo ainda sofria com a letargia causada pelo efeito de todos os drinks que ingeriu desde que chegou ali.

Burra. Ela deveria saber melhor que em algum momento algo de ruim aconteceria.

“Me solta!” A loira rosnou, consciente de que se livrar dele se resumiria em tentativas frustradas, mas se recusando a desistir. “Maldito, me solte! Eu não vou pedir novamente!”

“Você não me parece tão corajosa sem os seus cavaleiros, vossa majestade.” McCreary a prensou contra a parede com rispidez, impedindo-a de se mexer ao prender o corpo curvilíneo com uma das suas pernas. “Tem ideia de quanto tempo eu venho te admirando, doutora? E você nunca sequer notou! Eu deveria ter agido antes...”

“Me solta, McCreary! Eu nem ao menos te conheço, que diabos...?”

“Não me importa, doutora.” Ele a cortou, suas mãos fortes envolvendo os pulsos delicados com brutalidade, causando dor. “Você vai ter todo tempo do mundo para me conhecer depois que eu te fizer minha.”

Clarke sentiu as lágrimas de seu desespero umedecerem as maçãs de seu rosto e, no azul claro de seus olhos, o asco e a raiva faiscavam ao tentar fixar perfeitamente cada detalhe das feições daquele homem em sua mente. Ele pagaria caro por aquilo, ela se garantiria disso.

“Eu venho sonhando com isso por um bom tempo...” Sua língua deslizou pela orelha da loira – e ela pôde jurar que a qualquer momento tudo o que havia em seu estômago escaparia por sua boca. “E eu não vou perder.”

A Griffin sentiu as náuseas aumentarem, o medo se alastrando por todo seu corpo. Não havia saídas. A força com que ele a continha completamente presa contra aquela parede gélida a impossibilitava de qualquer gesto, restringindo completamente a sua liberdade.

“Eu não estaria tão certo disso.”

Os olhos claros se fecharam com afinco, seu coração martelando em sua caixa torácica como se fosse explodir a qualquer instante. Era ele ali, ela reconheceria aquela voz mesmo que se passassem mil anos. Estava registrada em sua mente e seu coração como uma tatuagem.

Quando Clarke realmente pensou que não se livraria daquele acontecimento aterrorizante, ele veio em seu resgate. Ele a salvou, como já havia feito milhares de vezes, mesmo sem sequer saber.

Tudo aconteceu rápido demais. Sua visão completamente anuviada pelas lágrimas e pela embriaguez captou somente vultos, murmúrios desesperados de quem ela imaginou ser Raven e Octavia. Murphy e Lincoln estavam ali também, ela não precisava distingui-los para saber.

“Lincoln, ele vai matá-lo!” Octavia gritou agoniada, seus braços e os de Raven amparando o corpo praticamente sem forças de Clarke.

“Desgraçado!” A loira ouviu Bellamy rosnar, os gritos desesperados de Gina não passando despercebidos por seus ouvidos. “Eu vou matar você! Está me ouvindo? Eu vou te matar.”

“Murphy, pelo amor de Deus, solta ele! Solta ele!” Dessa vez foi Raven quem clamou, sua ansiedade vibrando por todo seu corpo enquanto ela ajudava a Blake a manter sua melhor amiga firme.

A Reyes segurou o rosto da Griffin entre suas mãos trêmulas. Além das vozes e dos gritos exasperados, os lábios cobertos pelo batom vermelho e o castanho escuro de seus olhos eram as únicas coisas que ela era capaz de reconhecer sob a baixa iluminação.

“Eu não vou soltar, ele merece! Maldito sujo, por que você não tenta abusar de alguém do seu tamanho, uh?” Murphy cuspia suas palavras como veneno, segurando os braços do homem que Bellamy não hesitava em atingir continuadamente com seus golpes.

“Lincoln, por favor! Por favor!” Octavia rogou, só então assistindo seu marido responder ao seu pedido e conter o corpo frenético de seu irmão.

“Encosta nela de novo e eu vou fazer questão de te enterrar vivo!” O Blake vociferava, ainda tentando se livrar do enlace de seu cunhado. “Tá me ouvindo, seu pedaço de lixo? Eu vou te matar se você chegar perto dela de novo! Covarde de merda!”

O corpo de Clarke reclamou e foi tempo suficiente de tirar Raven de sua frente com um empurrão, para que seu estômago agisse em reflexo e expulsasse todo o conteúdo que possuía. O amargo ardia desde seu sistema digestivo até sua língua, queimando como brasa pelo que restou de sua bile.

“Meu Deus, Loira!” A Griffin sentiu seu corpo ser guiado em direção contrária, voltando para o banheiro de onde havia saído há pouco. “Lincoln e Murphy, levem o Bell daqui. Jasper, liga para uma ambulância. Monty, cuida da Gina que eu e Raven iremos cuidar da Clarke. Mantenham os celulares ligados, pelo amor de Deus.”

Era como se sua cabeça fosse cair de seu corpo a qualquer instante. A agonia. A dor. O pânico. Um alvoroço de sentimentos ruins pressionando seu peito a ponto de lhe causar dormência. Os soluços começaram a escapulir no instante em que Raven segurou seu cabelo para que ela lavasse sua boca, a mão de Octavia passeando por suas costas na tentativa de acalmá-la.

O banheiro estava completamente vazio. Nem mesmo uma alma viva além delas para contar história.

“Por que isso acontece comigo?” Ela balbuciou, erguendo as íris azuis revestida pelas lágrimas até o rosto de suas melhores amigas.

Seu estômago doía, mas nem todas suas dores físicas seriam capazes de se comparar a rachadura que se criou em seu emocional. Haveriam marcas arroxeadas em seus pulsos por dias, como um breve lembrete do pesadelo que acabara de vivenciar.

Ela sentiu. Ela previu. Mais uma vez a sua intuição estava certa.

Era aquele tipo de situação que aconteceria com ela de tempos em tempos, até que nem mesmo sua alma fosse capaz de se recuperar. Era aquele tipo de castigo que a vida havia se encarregado de dar a ela, não havia como fugir.

Tudo o que mais desejava no mundo era que esses fossem apenas pensamentos pessimistas, instigados pelas adversidades que insistiam em acontecer com ela no decorrer daqueles anos, e não sua realidade.

Clarke se recusava acreditar que ela fosse uma pessoa tão ruim a ponto de merecer algo como aquilo.

“Por que comigo?” Raven secou a umidade no rosto da loira, assistindo-a se aconchegar nos braços de Octavia como uma criança que acaba de ter um sonho ruim. “Eu não entendo.”

“Não foi sua culpa, Loira. Não foi sua culpa.”

As mãos gentis da Reyes limpavam o que restou de sua maquiagem, a luz do banheiro finalmente garantindo a ela uma visão decente de sua melhor amiga e do pesar que se refletia em seu olhar.

“Não tinha como você saber que aquele psicopata faria aquilo, não foi sua culpa.” Octavia reafirmou, acariciando os longos fios ondulados dos cabelos da Griffin. “Por favor, Clarke, não se culpe. Não some isso com todas as dores que você já tem. Você é a vítima aqui, não a culpada.”

Os soluços eram impiedosos, privando-a momentaneamente de sua capacidade de respirar devidamente. O seu único desejo era que tudo aquilo acabasse, que aquela noite se findasse e ela nunca mais voltasse a deixar sua guarda baixa. Mesmo na presença de todos seus amigos.

A porta do banheiro se abriu de súbito, o rosto aterrorizado de Monty transmitindo a gravidade do que viria a seguir.

“Bellamy foi preso.”

***

Gina caminhava de um lado para o outro como um animal enjaulado. O dedão que ela mordiscava freneticamente não aliviava em nada a grande dose de estresse que pesava em sua cabeça – e muito menos a tempestade de pensamentos que monopolizava sua mente.

“Não vai adiantar ficar dessa forma, Gina.” O timbre de Octavia era macio, calmo até demais para alguém que tinha acabado de ter seu irmão preso.

Mas no final das contas, ela entendia. A Martin era capaz de compreender a lealdade que sua cunhada nutria quando se tratava da melhor amiga, como ela se mantinha sua calma e serenidade para que elas servissem de apoio para Clarke.

E sinceramente? Era admirável. A força que aquelas três mulheres pareciam expedir entre elas, a amplitude de uma conexão que permite que uma se mantenha forte pela outra independente das adversidades.

“Eu sei, só estou apreensiva. Vai passar quando a solução chegar.”

Bellamy era o pilar de Octavia, ele era parte de seu coração. E ainda assim, diante daquela situação absurda, tudo o que a morena era capaz de transmitir era uma tranquilidade invejável, suas mãos afagando os cabelos de Clarke enquanto esta fazia seu colo de travesseiro.

Raven segurava as mãos da Griffin como se sua vida dependesse disso. Havia tanto cansaço exalando por cada parte de seu corpo; contudo, os seus olhos escuros remetia a comoção que ela sentia pela amiga.

Observá-las serviu como algum tipo de distração para seu coração agoniado. Como uma garota crescida na cidade grande, amizades nunca foram exatamente seu forte. No fundo, parte de si até mesmo as invejava.

Os passos pesados e apressados ecoaram pelo corredor praticamente vazio da delegacia, e logo Marcus Kane entrava em seu campo de visão. Era como ver o sol em uma semana nublada. Gina nunca desejou tanto em toda a sua vida estar na presença de seu chefe.

“O que aconteceu?” Kane indagou, a placidez em sua voz não alterando em nada sua postura autoritária. “São duas e meia da manhã, o que pode ter acontecido que não poderia esperar até a manhã seguinte?”

“Bem, senhoras e senhores, temos aqui o vencedor da categoria de pai do ano.” Octavia ironizou, direcionando ao mais velho um olhar exasperado.

Lincoln a censurou, e ela se limitou a dar de ombros.

“Bellamy espancou um homem.” Gina tentou explicar, levando a mão até a cabeça como se o gesto fosse o suficiente para colocar seus pensamentos em ordem. “Clarke estava sofrendo uma tentativa de estupro e Bellamy... Bellamy perdeu completamente as estribeiras. Se não fosse por Lincoln, ele teria matado o infeliz.”

Marcus se acercou do banco onde Clarke permanecia deitada com uma expressão consternada em seu rosto, assistindo-a dormir. Seu olhar encontrou o de Raven, que assentiu com pesar enquanto mantinha seus dedos enlaçados nos da loira. 

Os olhos verdes de Octavia – tão familiares e parecidos com os da mulher que mais amou na vida – lhe encaravam inexpressivos. Era difícil para ele admirá-los e desejar que eles lhe direcionassem a mesma complacência que sua Aurora o direcionava, afinal, havia um passado cheio de erros que ele não seria capaz de consertar.

Toda uma vida que ele não esteve presente.

“Da última vez que algo parecido aconteceu, você o tratou como se fosse um cachorro vira-lata.” A Blake mais nova começou, o esverdeado de suas íris adotando uma nuance cativante de azul. “Eu espero que dessa vez, você se lembre que está aqui porque Gina fez questão e não porque ele precisa de você.”

Jasper e Monty se entreolharam, se mantendo no silêncio que estiveram desde que chegaram ali.

“Eu sou a família dele, Kane. Isso é tudo o que eu sempre fui.” Ela manteve o tom contido em suas palavras, mas não havia nelas resquício algum de emoções negativas. Apenas uma sinceridade que o deixou sem palavras. “Eu torço para que você consiga compensar todos os anos que não foi capaz de fazer seu papel, por isso, tenha paciência com o Bell. Ele não vai te aceitar do dia para noite.”

O mais velho permaneceu fitando-a por mais alguns segundos, o canto de seus lábios se curvando ligeiramente. Aurora estava presente não só naqueles olhos, mas também na essência da geniosa Blake.

“Quais são as acusações?” Ele se virou na direção de sua advogada assistente, assistindo a preocupação em seu olhar se suavizar.

Gina mais do que ninguém sabia que Marcus Kane não pisaria fora daquela delegacia naquela manhã sem ter seu filho ao seu encalço. Sua fé naquele homem era cega, mas, honestamente? Quem poderia julgá-la?

Ela o colocou a par de tudo, vendo-o se dirigir até a sala onde o Blake mais velho permanecia detido. Pelas acusações, não era difícil de se presumir que aquela delegada não estava nem um pouco para brincadeiras.

A postura de Bellamy se tornando mais ereta ao ouvir sua voz foi a primeira coisa que Marcus notou. A delegada, Charmaine Diyoza, era uma velha conhecida dos tempos que exerceu a posição de professor assistente em Havard. Chamá-la de mulher difícil seria um eufemismo.

“Ora, mas veja só se não é Marcus Kane em carne e osso.” Ela se levantou, estendendo sua mão para cumprimentá-lo formalmente.

E por um instante, uma mera fração de segundos, ele pôde jurar que viu Bellamy revirar os olhos assim que ele tomou a cadeira ao lado dele.

“Ao que tudo indica, nosso garotão aqui é um agente federal.” A mulher direcionou a ele um sorriso quase intimidador. “Quase se borrou inteiro quando eu disse que iria entrar em contato com o chefe dele. Me sinto como uma diretora de fundamental prestes a ligar para os pais de um aluno infrator.”

“Que ironia do destino então, você estar com o aluno e o pai na mesma sala.” Bellamy riu enguiçado, o tédio em sua voz era acompanhado do seu sarcasmo. “E eu já disse, foi legítima defesa.”

Diyoza ergueu as sobrancelhas, surpresa com a percepção que a atingiu. Ela apontou com a cabeça para o Blake, encarando o advogado com os olhos claros levemente arregalados. Kane assentiu, vendo-a segurar o riso que aquela confirmação provocou.

“Legitima defesa? Em que país você vive, senhor Blake? Você enviou a vítima para o hospital. As testemunhas viram você tentando enforcá-lo na saída daquela boate.”

Bellamy sabia que o seu temperamento estava prestes a tomar o melhor de si, tentando se conter ao flexionar seu maxilar e lançar até aquela mulher um de seus olhares nada amigáveis.

“E a tentativa de estupro, uh? Não conta? Aquele maldito teria abusado dela se eu não o tivesse parado a tempo. Na conta de quem ficaria o trauma da Clarke? Na sua, delegada?”

Marcus o censurou com o olhar, tocando brevemente a mão que se apoiava na cadeira. O Blake bufou, assistindo Diyoza arquear uma sobrancelha desafiadoramente.

“É dessa forma que você quer se livrar das acusações, senhor Blake?” Havia certa provocação em seu timbre, algo que só fez borbulhar ainda mais a raiva dentro do mais novo. “Esse é seu filho, Kane? Eu pensei que vindo de você ele teria mais respeito.”

“Eu peço desculpas, Charmaine. Bellamy ficou muito abalado, a vítima é minha enteada e cresceu com ele. Acho que dá para compreender as motivações, não é?” Marcus explicou, a tranquilidade que ele emanava deixava o homem ao seu lado ainda mais frustrado. “Estamos todos entre operadores da lei aqui. Bellamy é um agente federal, e não pode ter sua ficha suja por um infortúnio desses.”

A delegada riu, sua expressão debochada se solidificando em uma mais séria subitamente.

“E o que você sugere, Kane?”

“Se você ligar para o chefe dele, de qualquer forma essas acusações serão retiradas. O máximo que pode acontecer é ele sofrer uma suspensão. Não há motivo para estendermos tanto esse acontecido.”

Bellamy o observou por sua visão periférica. Os olhos tão escuros quanto os seus permaneciam fixados na mulher a sua frente, esperando que ela concordasse com suas colocações e finalmente os livrasse daquele impasse.

Jamais admitiria, mas naquele instante ele se sentiu como o garoto de vinte anos novamente. O mesmo que admirava e também temia a figura tão imponente daquele homem.

Quando naquele tempo ele poderia imaginar que o mesmo cara que ele venerava em silêncio era seu pai? Mesmo no agora, ainda lhe parecia surreal.

“Tudo bem.” Ela suspirou derrotada, os olhos claros vacilando entre os dois. “Mas ele vai ficar uma noite na prisão.”

“Diyoza.” Kane a chamou, a complacência em sua voz era um pedido silencioso para que ela reconsiderasse.

“Não mesmo. Ele vai ficar uma noite na delegacia, doa a quem doer.”

A porta de sua sala se abriu abruptamente, revelando o semblante descontente de Clarke.

“Se ele vai ficar, eu também vou.” A loira afirmou com toda sua convicção. Seus olhos continuavam levemente inchados e avermelhados. Seus cabelos estavam desgrenhados e, em seus pulsos, as marcas do ocorrido eram como souvenir de uma das piores coisas que já lhe aconteceu.

E mesmo com tudo isso, ela ainda era uma das mulheres mais fortes que Bellamy já havia conhecido em toda sua vida.

“Senhorita Griffin, já ouviu falar que entrar nos lugares sem ser anunciada é falta de educação?” Diyoza a censurou, se levantando de sua cadeira ao estudar a determinação ressaltada por cada detalhe de suas feições. “A senhorita cometeu alguma infração?”

“Bellamy estava me protegendo, delegada. Se ele vai passar a noite por ter me salvado do pior pesadelo da minha vida, eu vou estar aqui com ele.”

“Clarke, você ainda está muito fragilizada.” Kane se aproximou de sua enteada ao olhá-la com ternura. “Não é certo, sua mãe nem sabe de tudo isso.”

“Marcus, não tem discussão. Se ele vai passar a noite aqui, eu também vou. Eu não vou sair daqui!” A Griffin vacilou seu olhar entre cada um dos presentes, pousando-o fixamente no rosto irritadiço de Bellamy.

Ele flexionou sua mandíbula, claramente insatisfeito com sua atitude. Mas as coisas eram como elas tinham que ser, e se para se livrar daquelas malditas acusações ele tivesse que dormir no chão frio de uma cela, ela estaria com ele sem ao menos hesitar.

“Não. Na-ah.” Seu indicador se apontou na direção do Blake, que abriu e fechou a boca duas vezes, impossibilitado de continuar sua objeção. “Não tem discussão, Bell. Não tem, não insiste.”

“Eu sinceramente não sei o que você e sua namorada pensam.” Diyoza soltou o peso de seu corpo em sua cadeira, bufando ao revirar seus olhos esverdeados. “Certamente minha delegacia parece algum tipo de circo para estarem fazendo todo esse show.”

Kane prendeu o riso, levando o punho até seus lábios.

“Certo, ambos vão passar a noite. E reze, senhor Blake, para que nada de mais grave aconteça com o agressor. Não vai ter legítima defesa que te safe de passar pelo júri.”

Eles se levantaram e Diyoza chamou um de seus policiais para acompanhá-los até a cela.

“Por sorte, seu pai é um grande advogado criminalista.” Ela comentou, e talvez se ele não estivesse lendo demais nas entrelinhas, poderia afirmar que ela havia se divertido com todo o acontecido.

Kane pousou a mão sobre o ombro de Bellamy, enquanto a outra descansou nas costas de Clarke ao serem guiados porta a fora. Antes de sair, o Blake encarou pela ultima vez a delegada por cima do ombro.

Uma noite inteira detido? Um preço justo a se pagar pelas condições em que aquele maldito havia sido recepcionado no hospital.

E sua única certeza ao adentrar aquela cela com a loira ao seu lado era de que se fosse preciso, ele faria tudo novamente.

***

Não havia barulho algum naquele cubículo além o de suas respirações.

Bellamy havia se cansado de andar em círculos, finalmente cedendo a todo seu nervosismo, e se sentando em um canto. Não era necessário olhá-lo para saber que logo ele deslocaria sua mandíbula se continuasse a flexioná-la com tanta força.

Ela compreendia melhor do que ninguém. Após o seguimento de infortúnios que se transformou aquela noite, a sensação fixa de culpa aos poucos era substituída pela raiva. Um sentimento ardente e devorador que ela canalizava arduamente por si mesma.

Por quê não notou antes? Por quê se permitiu? Por quê não foi capaz de se defender? Por quê?

As lágrimas que voltaram a umedecer seus cílios foram contidas pelo bolo amargo e dolorido que se criou em sua garganta. Os dedos gélidos deslizavam pelos hematomas em seus pulsos como se seu toque fosse capaz de curá-los, de apagar os resquícios de tudo o que ela mais desejava esquecer.

O seu maior momento de fraqueza.

“Eu sei o que você está fazendo.” A voz de Bellamy ecoou pelo recinto, usurpando o silêncio que se perdurou entre eles dentro daquela cela.

Aquelas orbes se ergueram até seu rosto, tão sólidos e sinceros que fizeram algo dentro de sua barriga comichar.

“É sua festa de autoflagelação.” Um sorriso débil criou vida em seu rosto, e logo o moreno se levantava para se aproximar um pouco de onde ela se encontrava. “Você não teve culpa.”

Clarke abaixou seu olhar novamente, suas íris adotando um tom ainda mais claro de azul. Ela sabia que aquelas marcas sumiriam eventualmente, mas aquelas memórias? Essas ela carregaria consigo como um elemento a mais em seu fardo.

As mãos grandes e quentes se aproximaram das suas, e não foi difícil perceber sua apreensão. Ao notar que ela não se afastaria dele e nem se distanciaria de seu toque, o moreno acariciou seus pulsos com uma delicadeza que a trouxe certa surpresa.

Seu olhar se fixou no dele e, por um instante, ela desejou não o ter feito.

“Por quê?” Sua voz fraquejou, fazendo-a engolir a seco a angústia em sua garganta.

O Blake permaneceu em silêncio, aguardando que a loira complementasse sua pergunta. Seu polegar se movendo em círculos leves sobre as manchas levemente arroxeadas.

“Por que você me salvou?” A ardência que se apoderou de seus olhos já voltava a umedecê-los. Respirar se tornava cada vez mais difícil ao ser arrebatada por aquelas sensações. “Foi a promessa, não foi? A promessa que você fez ao meu pai, você não a esqueceu.”

O castanho tão belo de suas íris se suavizaram, o sorriso que ele esboçou já não demonstrava indício algum de tristeza ou pesar. Aquele era um de seus gestos favoritos. A forma como seus lábios se esticava o suficiente para que sua cicatriz sumisse e uma covinha tímida surgisse em sua bochecha.

“Princesa corajosa...” Bellamy se recompôs, desviando seu olhar por um breve momento e inalando o ar que de alguma forma ele imaginou lhe trazer um pouco mais de coragem.

O apelido fez com que o coração dolorido de Clarke adotasse um ritmo desenfreado. O mesmo que tanto detestava, mas que durante os anos que se passaram, desejou com todo seu âmago que pudesse ouvir novamente.

Ela não estava preparada para tê-lo tão perto. Não quando tudo sobre ele ainda parecia causar reações tão intensas a ponto de lhe fazer perder o compasso de sua respiração, não quando não se sentia capaz de controlar os impetuosos impulsos de seu emocional já abalado.

Era difícil não o respirar quando ele estava por toda parte.

O Blake sentiu o impulso de dizer a ela tudo o que se passava por sua mente. Contudo, sabia que as consequências de suas palavras talvez fossem grandes demais para serem restringidas. E por essa razão, ele se conteve.

Bellamy se controlou porque, no final das contas, a realidade ainda era pesada demais para ser ignorada. Ela sempre seria.

“Eu costumava ter essa visão errada sobre você, como se estivesse sempre esperando alguém para te salvar. Eu sempre quis ser essa pessoa, Clarke. Esse alguém que move céus e terra para que absolutamente nada te atinja; alguém que impede qualquer coisa de te fazer se sentir dessa forma que você está se sentindo agora. Eu queria isso, ser seu escudo, ser seu abrigo.”

A loira manteve seu olhar, a vulnerabilidade que ele demonstrava era crua. Sua nudez era emocional – e tão intensa que por um instante ela cogitou estar em um universo paralelo. Uma realidade alternativa onde ela e o dono de seu coração se encontravam novamente, sem máscaras ou armaduras, sem muros ou qualquer obstáculo.

Apenas ele. Bellamy Blake. Sua ruína. Sua salvação.

Seus dedos calejados ainda acarinhavam seus pulsos, galáxias se escondendo por trás do castanho escuro denso de seus olhos.

“Mas a verdade é que você não precisa e nunca precisou ser salva. Sua força é admirável, e eu estava errado. Você não é e nem merece ser o tipo sensível e indefesa na minha metáfora deturpada de conto de fadas. Isso não é um conto de fadas e nunca vai ser, isso é a nossa realidade.”

E mesmo nela, você sempre será a minha princesa.

Clarke o contemplava sem realmente entender o que ele queria dizer.

“Não foi por causa de uma promessa que eu quebrei anos atrás, quando te deixei atravessar aquele inferno sozinha...”

“Bellamy–” Suas mãos se viraram para segurar as dele, sua urgência sendo interrompida pelo timbre rouco.

Ali, com aquele simples gesto, ela soube.

“Não Clarke, não.” O moreno meneou a cabeça negativamente, as mãos se livrando das dela para segurarem aquele rosto. Os polegares limpavam as gotículas que manchavam as bochechas salientes com a ternura que ela se sentia muito longe de merecer. “Não foi por promessa alguma, não foi por culpa, não foi para que eu pudesse compensar o erro de ter te deixado. Não foi por nada disso.”

A iluminação fraca não era suficiente para ofuscar o brilho que aqueles olhos a remetiam, nada seria capaz de amenizar a intensidade que eles expressavam. Ela viu ali, entre as mais diversificadas emoções, o que desejou ver novamente em todos os seus mais belos sonhos.

“Eu... Eu fiz por você. Eu faria novamente. E eu farei sempre mesmo sem que você precise.” Bellamy sentiu sua garganta queimar, a serenidade em seu rosto não demonstrando nem mesmo um terço da bagunça que acontecia dentro de si. “Eu fiz porque isso é o que eu sou, Clarke.”

Totalmente, completamente, inteiramente devoto a você.

A Griffin sorriu em meio a suas lágrimas, seu rosto se aconchegando entre as mãos quentes e fortes. Uma sensação familiar se alojava na boca de seu estômago, e seu coração... Bem, este havia se tornado uma causa perdida.

Provavelmente ele tinha razão, aquele não era um conto de fadas.

Ela não era uma princesa, e ele não era seu cavaleiro em uma armadura brilhante. No entanto, foi a um conto de fadas que sua realidade se assemelhou no momento que a realização lhe atingiu como uma bola de destruição...

Bellamy Blake a amava.

A vida era realmente uma caixinha de surpresas.





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Notas finais do capítulo

HAHAHAHAHAHAAHAAHAHAHA!

Olha, se a gente depender de Jason Rothenberg pra sermos alimentados por Bellarke nessa temporada estamos ferrados. Graças a Deus temos OIAL, não é mesmo? E melhor do que isso, temos Bellarke. Tá tendo muito Bellarke sim! Bellarke até a gente se enjoar e dizer "nossa, quanto Bellarke". Pois então!

Eu peço desculpas pela cena, eu sei que ela foi um tanto realista. Mas vejam bem, ele realmente é um psicopata. Ele menciona ser paciente da Luna, que é psiquiatra. Clarke não precisava de mais uma desgraça acontecendo com ela, eu tbm acho. Mas é assim que as coisas são, as coisas ruins acontecem para que as boas venham em seguida. Ela é forte, ela é uma guerreira, e Clarke Griffin vai superar tudo isso. Se Deus quiser com a ajuda de Bellamy Blake.

Sobre a Gina, eu sei que vocês irão trazer isso a tona. Próximo capítulo isso terá foco. Será que vai tudo se acertar? Bellamy vai sucumbir aos sentimentos dele ou vai "aceitar a realidade"? Clarke realmente o conhece como a palma da mão, não é mesmo? Ela sabe até o que ele está pensando antes mesmo de ele se pronunciar. Isso é conexão, meus queridos. Isso é Bellarke sim!

Teorias sobre como as coisas irão correr daqui em diante? Cheguem na caixinha de comentários. Eu tenho notado que vocês tem sumido, e isso tem sido realmente desanimador. É minha culpa? A história ficou entendiante? Muito extensa? Conversem comigo, poxa! Estou aqui pra ouvi-los e trocarmos papo sempre. Me digam o que acharam desse tiroteio que foi esse capítulo.

Até mais, padawans. Logo estarei aparecendo por aqui com um dos últimos capítulos de OIAL, me aguardem. Que a Força esteja com vocês! Mwa ~