Once In a Lifetime escrita por selinakyles


Capítulo 34
That's something I thought I'd never see.


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus padawans!
Olha quem chegou com mais um capítulo e desta vez betadíssimo? Sim, eu mesma, ha.
As respostas ao capítulo anterior foram maravilhosas, e bem, isso me inspirou a terminar essa atualização mais rapidamente.

Um agradecimento especial pra Manda, minha beta, minha soulsis, minha môzinha. O que seria de mim sem você, uh? Nada, eu bem sei.

Espero que vocês se divirtam.



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Chapter thirty-four –


Não havia nada que pudesse arrancar o sorriso que adornava o rosto de Octavia naquela madrugada.

Depois de muitos gritos – vindos de sua parte, obviamente -, alguns xingamentos, lágrimas que desmancharam toda sua maquiagem e uma ameaça nada vazia de divórcio, ela e Lincoln finalmente haviam entrado em um acordo.

Ele enfim passaria a posição de chefe da família para Anya e voltaria para os braços das duas pessoas que mais amava no mundo. Em sua investida desesperada de tirar da cabeça da Blake o cogitar absurdo de uma separação, ele também fez questão de lembrá-la todos os motivos que a faziam amá-lo em primeiro lugar.

Todos e mais um pouco.

Octavia não era exatamente a pessoa mais favorável a perdoar e, como seu marido, Lincoln tinha gravado em sua mente cada detalhe difícil daquela personalidade. Ele a amava de dentro para fora, de uma forma que nem mesmo ela era capaz de compreender.

Foi ele quem a ensinou a trazer à tona o melhor de si, a ser sua melhor versão, e este foi exatamente um dos argumentos que a Blake se utilizou para fazê-lo remoer cada uma de suas omissões em seu papel como pai.

Ela era e sempre seria sua melhor versão para sua garotinha. E ele? Quantas vezes mais Olivia precisaria ficar doente para que Lincoln entendesse suas prioridades? O quanto mais sua garganta teria que queimar entre gritos e discussões infindáveis sobre sua ausência?

Bem, ele entendia agora. A chave que brilhava entre seus dedos era a prova de que uma nova fase de suas vidas começaria nos próximos dias. Uma onde ela não teria mais que ficar longe de seu marido, nem de seus amigos e muito menos de seu irmão.

Um passo em frente do seu futuro como a família que ela sempre sonhou em ter.

Sua mão delicada bateu levemente na porta do quarto de Clarke, a luz fraca que escapulia pelas frestas denunciava que ela provavelmente permanecia acordada.

A mania de dormir somente perto do amanhecer era mais uma das coisas que não haviam mudado sobre sua melhor amiga. Um hábito nada saudável que ela adquiriu após o enterro de Jake Griffin.

“Clarke?” Octavia chamou baixo, empurrando um pouco mais a porta para que pudesse vasculhar o recinto com seu olhar atento.

Uma finca se criou entre as sobrancelhas negras, só então notando o barulho que vinha do chuveiro ligado no banheiro adjunto. Ela revirou os olhos esverdeados, vagando silenciosamente pelo cômodo até se sentar na beirada da cama, registrando cada detalhe do quarto grandioso e tão confortável da Griffin.

Todas as partes dele gritava seu bom gosto e, como uma profissional exemplar no ramo da decoração, ela tinha a mais perfeita noção de que aquilo fora planejado com esmero por um dos melhores. Nada chocante, pelo contrário, algo que ela particularmente sentia orgulho.

Sua atenção se voltou para o grande caderno de rascunhos que estava ao seu lado na cama, os utensílios que a loira se utilizava para desenhar espalhados não muito longe dali. A Blake o puxou para seu colo, abrindo sua capa dura.

Dentro daquele objeto simplório continha o talento nu de Clarke em cada risco, cada curva. Alguns eram apenas paisagens de Charlie, outros se tratavam de rostos conhecidos como os de Raven e Wells. Um de Olivia sorrindo foi o que mais lhe agradou – e que a fez criar uma nota mental para mais tarde pedir que a Griffin a presenteasse com ele.

O que deveria não lhe surpreender, mas que ainda assim lhe trouxe certa hesitação, foi o que estava rascunhado nas últimas folhas. O rosto de Bellamy cravado em grafite, tão perfeitamente replicado, que por um instante Octavia ponderou a possibilidade de ser uma fotografia.

Ela fechou o caderno, devolvendo-o no lugar onde estava. No criado mudo descansava a agenda pessoal, coisa que a morena tinha consciência que não deveria sequer cogitar abrir, mas que não permaneceu muito tempo longe de seus dedos intrometidos e de sua atitude inconcebível de qualquer forma.

Octavia Blake não fazia o tipo desprezível que espalhava o segredo de suas amigas aos quatro ventos. Pelo menos esse foi o argumento que utilizou para vencer a luta que sua moral e sua curiosidade travavam em sua cabeça.

A última página estava marcada com o colar que Clarke em nenhum momento tirava de seu pescoço. Entre seus dedos afilados, o pingente de coroa deslizava junto de sua corrente dourada. Mais um souvenir de um passado que a loira se recusava a deixar para trás.

Os indícios de umidade pinicaram na linha d’água de seus olhos. A caligrafia corrida da Griffin enfeitando as folhas levemente amareladas com estrofes do que a morena percebeu ser mais uma de suas composições.

Why can't you hold me in the street?
Why can't I kiss you on the dance floor?
I wish that it could be like that
Why can't we be like that?
'Cause I'm yours

When you're with her, do you call her name
Like you do when you're with me, does it feel the same?

Every second, every thought, I'm in so deep
But I'll never show it on my face
But we know this, we got a love that is homeless hopeless


Octavia não precisava saber a data para ter a certeza de que ela havia escrito aquilo há poucos minutos, sobre a noite em que ela e seu irmão dançaram tão intimamente na pista de dança daquele salão, e que claramente não passou despercebido.

Ela era uma péssima amiga por estar se intrometendo nos sentimentos tão íntimos de Clarke, desvendando um pouco mais a emoção que ela nunca deixou morrer, e que tão pouco fazia questão de esconder sempre que seus olhos estupidamente azuis se fixavam em Bellamy.

Era uma maldita tragédia acontecendo diante de seus olhos novamente.

E quando ela fechou a agenda para devolvê-la onde a encontrou, ouvindo o barulho do chuveiro se cessar, não pôde deixar de pensar em como o timing deles nunca parecia certo. Ter a felicidade tão perto e não poder vivê-la deveria ser como a pior das penitências.

Clarke abriu a porta, apenas uma toalha felpuda envolvendo seu corpo curvilíneo quando seus olhos claros se estalaram, surpresos com a presença de sua melhor amiga.

“Achei que não fosse voltar hoje.” A loira comentou, franzindo o cenho antes de curvar um dos cantos de seus lábios gentilmente.

A Blake ergueu a chave em sua mão, direcionando a ela um sorriso cheio de dentes.

“Parece que Lincoln cansou de tentar demonstrar suas mudanças com palavras e decidiu mostrar com ações.” A morena replicou, assistindo-a se direcionar ao closet.

“Eu estou feliz por vocês, O. De verdade! Eu sabia que isso tudo era só um desentendimento, ele é completamente louco por você e por Olivia.”

A voz de Clarke saía abafada pela porta que abriu assim que terminou de se vestir, com seu semblante iluminado pela felicidade que sentia pela amiga.

“Você vai se mudar? Eu estava tão feliz por ter a casa cheia.”

O sorriso radiante de Octavia se desmanchou assim que reparou a vestimenta da loira. Seus olhos claros avaliavam meticulosamente a camisa branca social que ela usava, a única peça que cobria sua lingerie rendada.

Ela conhecia aquela camisa. Ela quem a comprou cinco anos atrás.

Bem, ela e Bellamy.

O momento de concepção a tirou de órbita por um instante. Os cantos de sua boca se repuxando em um gesto frouxo, forçado. E a sensação de que as coisas estavam muito além do que ela imaginava lhe atingiu.

Uma leve pontada afligiu seu coração, um sentimento empático de alguém que nunca sequer poderia imaginar o que é nutrir um amor como aqueles. Um que estava longe demais de acontecer, mas que ainda assim se recusava a morrer.

E naquele momento, Octavia se perguntou se deveria ser tão doloroso quanto ela imaginava.

“Sim, Lincoln vai passar aqui amanhã de manhã e iremos buscar Olivia na casa do Bell assim que acordar.” A morena desviou seu olhar para a chave em suas mãos, erguendo sua cabeça novamente ao respirar fundo. “Nós nos mudaremos amanhã, mas não se preocupe, eu estarei por perto.”

Clarke assentiu, o sorriso em seu rosto se esvaiu assim que seus questionamentos transpareceram por cada detalhe de suas feições delicadas. Ela mordiscou a ponta de seu polegar antes de levantar as íris sempre tão claras agora repletas de dúvidas até o rosto de sua melhor amiga.

E a Blake soube, ela pôde sentir naquele instante e na linguagem corporal da loira que algo havia acontecido em sua ausência.

“O que foi?” Ela estreitou os olhos esverdeados, apreensiva. “Você está com aquela cara de quem está louca para verbalizar algo que pode se arrepender. Sem segredos, Loira, por favor.”

A Griffin suspirou, se acercando e se aconchegando ao lado dela na borda de sua cama.

“Você sabia?” Começou, receosa com a reação que a mulher ao seu lado teria. “Sobre Marcus ser o pai do Bellamy.”

Octavia manteve seu olhar preso no dela por algum tempo, seu cenho se franzindo enquanto esperava que seu silencio garantisse a ela resposta daquela pergunta. Engoliu a seco, mil e uma possibilidades vagando por sua mente quando a maior questão ali se iluminou em letras garrafais:

Como raios ela sabia disso?

“Ele surtou, Octavia. Você devia ter visto o estado em que o Bellamy ficou ao se deparar com o Marcus.” Aos poucos a visão de Clarke se tornou turva, as gotículas salgadas ganhando vida conforme as lembranças daquela noite voltavam a se reproduzir diante de seus olhos. “Nós duas sabemos do que ele é capaz quando sente demais, nós já vimos esse lado dele muitas vezes, mas... acho que até mesmo a noiva dele não havia presenciado algo como aquilo.”

A morena se manteve quieta, esperando que a amiga continuasse seu relato. Os músculos de seu corpo se retesaram em resposta a preocupação que lhe inundava como um oceano de pensamentos ruins.

Muita coisa poderia ter acontecido. Bellamy era a pessoa que ela mais conhecia em todo o mundo e, obviamente, não era difícil de imaginar a reação explosiva de seu irmão ao se encontrar com a pessoa que mais detestava em sua vida.

Ela deveria saber melhor. Ela deveria tê-lo impedido de ir até aquele evento. Mas como poderia evitar algo estava destinado a acontecer mais cedo ou mais tarde? Foi de repente que seu coração pareceu pesar demais dentro de sua caixa torácica.

“Ele pegou o microfone e envergonhou Kane na frente de todos. Havia tanta raiva no olhar dele, tanta mágoa. Eu só o vi daquele jeito uma vez.” Clarke respirou fundo, as lágrimas manchando as maçãs de seu rosto. “Parecia que eu estava sentindo tudo o que ele sentiu naquela tarde, a raiva por ter perdido Aurora, a mágoa por ela ter partido e deixado vocês sozinhos, mas dessa vez elas eram todas direcionadas ao Marcus. Nunca pensei que o veria daquela forma novamente, O. Eu realmente tive medo de que não seria capaz de acalmá-lo.”

“Mas você foi capaz?” A Blake indagou, o timbre tão baixo quanto um suspiro. “Você o acalmou?”

Com o dorso de suas mãos, ela limpou as lágrimas ao assentir em resposta.

“Ele estava sofrendo. Tudo isso se juntou com os sentimentos que ele reprimiu sobre o que aconteceu com o Jake. Ele se culpa, Octavia. Ele se culpa por algo que nunca foi culpa dele, foi minha. E é tão crua, é tão pura a dor que ele transmitiu quando eu o tirei de lá...” Ela se engasgou com um soluço, as mãos já cobrindo seu rosto. “Ele guardou pra si suas reações na manhã em que eu o contei, tudo para não me ver ter crises de ansiedade novamente. Eu sei que foi, Octavia. Ele fez por mim, para que eu não me sentisse culpada, ele estava tentando me proteger como fez desde sempre...”

“Clarke...”

“Não, O. Eu sei que foi.” As safiras azuladas se levantaram até o rosto de sua melhor amiga, completamente nubladas pelo choro. O bolo em sua garganta parecia que iria dilacera-la a qualquer instante. “Ele não pôde sentir a dor dele porque estava preocupado demais comigo, sobre como eu estava sentindo a minha. Até mesmo quando eu tento não ser egoísta, eu acabo sendo. Eu estou tentando, eu juro que eu estou. Eu devo isso a ele, entende? Eu preciso vê-lo feliz, eu preciso vê-lo em paz, eu...”

Octavia acomodou a cabeça da loira com delicadeza em seu colo, impedindo-a de continuar seu desabafo desesperado, assimilando e compreendendo cada palavra que saiu por sua boca em meio aos seus soluços desacorçoados.

“Eu não deveria ter voltado para vida dele. Ele estava muito bem sem mim...”

“Shhh, eu sei, Clarke. Eu sei.” Seus dedos passeavam lentamente pelas ondas loiras, acariciando-as. “Vai ficar tudo bem, só respire.”

E ela sabia. Ela tinha a mais perfeita noção das próximas palavras que sua melhor amiga confessaria.

Estava nos desenhos minuciosos, em suas composições, na camisa, nos olhares. Estava no colar que ela se recusava a manter longe de seu pescoço, e no sorriso frouxo que a loira direcionou a ele naquela noite, um que ela também sabia carregar uma tristeza que poucos seriam capazes de interpretar.

Os anos certamente haviam passado, mas sua melhor amiga permanecia irremediavelmente apaixonada pelo seu irmão.

De fato, uma maldita tragédia grega.

***

Os olhos castanhos se fixaram mais uma vez no relógio em seu pulso, a impaciência se tornando um ingrediente essencial nos seus encontros com sua irmã mais nova. Sua perna se balançava freneticamente, o molho exagerado do cachorro quente que ele tinha em mãos por pouco não manchando seu uniforme.

Durante a semana o Central Park tinha quase o mesmo movimento que os finais de semana, e ainda assim, não deixava de ser um dos lugares mais adequados para se procurar por sossego e paz de espírito.

“Quantos anos deveriam passar para que você se torne um daqueles velhinhos que jogam xadrez?”

Os lábios sujos de molho se alargaram no instante que o timbre familiar da Blake mais nova adentrou seus ouvidos. A silhueta franzina se sentando ao seu lado no banco e, no momento seguinte, a sua sobrinha passou correndo como um borrão diante de seus olhos.

Sem nem ao menos cumprimentá-lo. Sem se dar ao trabalho de olhar na direção de seu tio Bell.

Definitivamente uma versão miniatura de Octavia. 

“Alguém está empolgada hoje.” Ele ainda mastigava um pedaço de seu aperitivo como um ogro, não se importando se uma quantidade tão pequena de comida seria suficiente para sustenta-lo o dia inteiro. “Xadrez não tem idade, O. Achei que você fosse mais intelectual.”

O riso da morena saiu enguiçado, os olhos claros não desviando nem por um segundo da pequenina que parecia estar se divertindo como nunca junto das outras crianças no parquinho.

“Eu pensei que você nunca responderia minhas ligações.”

“Há dois dias você não deixa minha secretária trabalhar em paz, você não me deu alternativas.” Bellamy deu de ombros, o que restava do cachorro quente em suas mãos lhe parecendo muito mais interessante do que os atentos olhos esmeraldinos de sua irmã.

“Desde quando você se recusa a receber minhas ligações?” A mais nova o assistiu por alguns instantes, logo voltando sua atenção para a pequena Olivia.

O moreno respirou fundo, terminando de mastigar o que restava de seu almoço antes de jogar o papel que usou para limpar sua boca no lixo. Ele conhecia sua irmã o suficiente para saber que ela estava o analisando, buscando por algum resquício de mentira.

“Eu só precisava pensar.” Ele se inclinou, apoiando os cotovelos em suas pernas para que o dorso de suas mãos segurasse seu rosto. Uma serenidade peculiar explicitada em seu semblante. “Foram cinco anos deixando esses assuntos imersos, focando em mim e no relacionamento que Gina e eu construímos. Não havia nada disso, O. É como se eu estivesse vivendo em uma bolha, e essa bolha tivesse estourado no momento em que pisei em New York.”

Octavia gritou pela pequena Omaha, lançando-a um de seus olhares repletos de censura antes de cruzar suas pernas e voltar a observar seu irmão atentamente. O azul esverdeado de seus olhos se suavizou, agora complacentes.

“Ela me contou. Clarke.”

Bellamy escondeu seus olhos por trás de suas pálpebras, uma mecha teimosa de seu cabelo caindo em sua testa no momento em que ele crispou seus lábios em uma linha reta. As lembranças de alguns dias atrás inundando sua mente.

“Ela me disse sobre Marcus. Sobre a culpa que você estava sentindo.” Sua postura permaneceu equidistante, Olivia voltando a monopolizar sua atenção. “E eu te conheço, Bell. Eu sabia como você estava se sentindo no instante em que ela me contou sobre a criança. Eu sei exatamente como você se sente em relação ao Kane. Eu simplesmente sei.”

“Justamente por isso eu não estava te atendendo. Eu precisava de um tempo, Octavia.” Ele revelou as íris escuras, cravando-as no rosto inexpressivo de sua irmã. “Algumas coisas mudaram pra mim, principalmente em relação a... Bom, em relação ao Kane. Eu ainda não consigo contar pra Gina sobre tudo isso, e me assusta o fato de ela não ter insistido em me questionar. Eu não sei, eu estou sentindo que as coisas não serão mais as mesmas.”

“Você tem dúvidas?” Uma das sobrancelhas negras se arquearam em ceticismo, e Bellamy grunhiu. Ela estava o chamando de estúpido, e não precisou sequer vocalizar seus pensamentos. “Não vai contar pra ela?”

“Eu sempre tenho dúvidas.”

A mais nova soltou um riso engasgado, uma faísca de esperança se ascendendo em seu peito. Os acontecimentos das ultimas semanas certamente haviam trazido de volta um pouco mais da versão confusa de seu irmão.

Uma muito parecida com o Bellamy que ela deixou para trás na recepção de seu casamento.

“Você não me parecia ter dúvidas ao entregar o anel da mamãe para Gina.” Ela deu de ombros, chamando pela pequena Omaha.

O cenho do moreno se franziu e Octavia jurou ter visto um lampejo de incerteza no castanho escuro daqueles olhos.

Estava tudo ali, submerso sob a insistência de Bellamy em não enxergar.

Ele ainda era a mesma pessoa, com um corte de cabelo diferente e cinco anos mais velho, mas a mesma pessoa. Com um anel de compromisso em seu dedo que, naquele instante, ela imaginava pesar muito mais do que aparentava. 

Olivia esbarrou em seu tio, sugando-o de volta para a realidade assim que o Blake sentiu os bracinhos rechonchudos envolverem suas pernas. Uma cópia dos olhos claros de sua irmã o encarando com uma devoção quase acalentadora.

“Eu senti sua falta, tio!” A pequena pressionou a bochecha em sua coxa, tirando dele o mais sincero dos sorrisos.

Bellamy vacilou o olhar até sua irmã, o peso em seu coração se esvaindo lentamente ao vê-la sorrir diante daquela cena. As mãos grandes acariciaram os cachos macios de sua sobrinha, puxando-a para seu colo.

“Você me viu há dois dias. Já estava com saudades?” Ele riu, as bochechas coradas trazendo de volta memórias de uma versão mais nova de Octavia.

“Olivia sempre sente saudade, titio.”

Ele assistiu Octavia se levantar, o gesto que se expressava em seus lábios se refletindo nas belas íris azul esverdeadas, as mesmas que ela herdou da mulher que mais amou na vida e que agora também eram herança de sua pequena Olivia.

“Você sabe que dia é hoje, não sabe?” A morena indagou de uma forma quase sugestiva, a afeição dando lugar a sua postura atrevida novamente. “Claro que sabe, muito melhor do que eu.”

Bellamy a olhou enviesado, Olivia requerendo sua atenção ao segurar seu rosto entre suas mãos pequeninas.

“Raven preparou uma festa surpresa e me pediu para que te convidasse.” Octavia bufou. “Ou você aparece por lá ou eu irei ouvir reclamações por um século, por isso me faça o favor de comparecer, certo?”

“O...” Ele a lançou um olhar flácido, repleto de incerteza.

“Bell, o passado tem que ficar no passado. Gina não vai se importar de confraternizar com a enteada do chefe.” A sobrancelha negra se arqueou e o canto de sua boca se curvou provocativamente. “Pelo contrário, do jeito que é puxa-saco, ela vai adorar. Não negue a sua noiva essa oportunidade, estraga prazeres.”

Ela puxou Olivia para seu colo e Bellamy conferiu as horas em seu relógio. Cinco minutos para o fim de seu horário de almoço.

“A Loira vai adorar te ver por lá, eu tenho certeza.”

O mais velho assentiu e então se levantou, depositando um beijo delicado na testa de sua irmã e um nas bochechas salientes de sua sobrinha. Todo tempo do mundo não seria suficiente perto delas.

E ao adentrar seu escritório naquela tarde, não pôde evitar a sensação inquietante em seu estômago.

O passado tem que ficar no passado.

Definitivamente, isso parecia estar longe demais de acontecer.

***

O pôr-do-sol em New York era diferente.

Como uma boa garota sulista, estava enraizado em seu coração a beleza do céu na Geórgia. A forma como as cores quentes se misturavam e tingiam céu límpido. O Sol se ocultando no horizonte apenas para nascer ainda mais resplandecente no amanhecer do dia seguinte.

Era e sempre seria seu momento favorito do dia, o mesmo que seu pai adorava passar ao seu lado no píer de seu rancho em Savannah, durante quase todos os períodos de férias. O mesmo que lhe garantiu memórias agridoces, lembranças que ela jamais se importaria em manter guardadas profundamente em seu coração.

E ao admirar o Sol se pôr pela janela de seu hospital naquele dia, ela não pôde deixar de se sentir grata. Mais um ano se completava, doze meses nos quais ela passou lutando cada segundo contra seus próprios pensamentos negativos, trezentos e sessenta e cinco dias que se passaram sem que ela sucumbisse aos seus impulsos autodestrutivos.

Ela tinha vinte e oito anos agora. E uma bagagem repleta de cicatrizes e momentos felizes. Incontáveis quedas para que houvessem melhores despertares. Perdas, ganhos. Aprendizados que ela levaria por toda sua vida.

Clarke encarou a caixinha de veludo vermelha em suas mãos, o azul de seus olhos adotando um tom ainda mais claro devido a umidade que já se espalhava pelo canto de seus olhos.

Seus dedos buscaram pelo cordão em seu pescoço, sentindo cada detalhe do pingente dourado de coroa entre suas digitais. Mil e uma inseguranças nublavam seus pensamentos naquela tarde, mas, em seu coração, a certeza ganhava força com o passar de cada fração de segundo.

“Clarke?” A voz melindrosa a tirou do emaranhado de devaneios, fazendo-a esconder rapidamente no bolso de seu jaleco o objeto que segurava.

Seu corpo se virou em direção a cama, e então ela sorriu.

“Você se sente bem?” Indagou, seu olhar preocupado vagando pelo rosto agora aparentemente mais saudável da garota. “Preciso chamar a Becca?”

A menina levou o antebraço até a altura dos olhos, a luz alaranjada que invadia o quarto pela janela causando certa ardência em sua visão ainda anuviada pelo sono.

“Não, eu estou bem.” Ela se ajeitou em sua cama, apoiando suas costas na cabeceira. “Que horas são? Eu dormi demais?”

Clarke se acercou, sentando-se na poltrona ao lado do leito onde a mais nova repousava. Os atentos olhos azuis se fixando nos dela, de uma tonalidade não tão diferente dos seus. Azuis como o céu claro de uma manhã de verão.

“São cinco e meia, Madi. É normal você estar cansada, você sabe. Seu corpo ainda está se recuperando.”

Um muxoxo frustrado escapuliu pelos lábios da garota, que tratou logo de ignorar os pensamentos positivos de sua médica. Ela sabia melhor do que ninguém que quando as coisas iam bem demais, em algum momento próximo uma notícia ruim viria à tona.

Aquela mulher era de uma positividade admirável, no entanto, não era o suficiente para fazê-la nutrir um pouco mais de fé sobre o seu tratamento. Madi havia perdido as esperanças há algum tempo, não seria agora que a vida sorriria para ela.

“Hoje é seu aniversário, não é?” A menor perguntou, o tom claro de suas íris se suavizando ao assistir o sorriso que iluminou as feições tão belas de sua pediatra.

“Sim, é hoje. Você guardou meu aniversário?” A mão gélida de Clarke acariciou a bochecha pálida da menina, que direcionou a ela um olhar enviesado adorável.

“Clarke, passei anos nesse hospital, como não lembraria seu aniversário?”

A Griffin ostentou um sorriso cheio de dentes, algo em seu peito formigava em meio a mais pura afeição. Aquela garota já havia passado por tanta coisa, um sofrimento que nenhuma criança de sua idade merece passar, e ainda assim ela havia conseguido vencer suas batalhas.

Cinco anos atrás quando Clarke pisou os pés no hospital de sua família novamente para sua consulta com Dr. Jackson, a notícia de que uma nova vida crescia em seu ventre foi arrebatadora.

Ela se lembrava de cada detalhe como se estivesse tatuado em sua mente. Wells a olhou com tanta surpresa, envolvendo-a sem demora em seu abraço. Ele havia sido sua rocha quando todo seu chão parecia ter sumido de seus pés.

Naquele mesmo dia, Emori apresentou a ela cada ala de seu hospital. E inevitavelmente, na ala da Oncologia Infantil, ela se deparou com a débil órfã de sete anos que há pouco tempo passara a lutar contra o seu diagnóstico: leucemia linfoide aguda.

Madi não tinha pais, apenas os tutores garantidos pelo sistema e um bom padrinho caridoso o suficiente para pagar pelo seu tratamento em um dos hospitais mais renomados do país. Ela se sentia sozinha, sem esperanças, e os problemas de socialização eram insignificantes perto de sua depressão.

Uma criança de apenas sete anos condenada a passar por um dos tratamentos mais árduos desamparada. Tomou muito de seu auto controle não chorar ao descobrir as injustiças que ela presenciou ali. Algo que por um instante, suscitou questionamentos sobre existir mesmo um Deus ou algum tipo de plano divino.

Foi lentamente que Clarke tentou uma aproximação. Madi não era exatamente uma criança fácil, mas a cada consulta de seu pré-natal, ela sentia algum progresso nas suas tentativas de derrubar aquelas paredes que a pequena ergueu em volta de seu coração.

Ela deu a ela de presente um de seus desenhos, e esse foi um passo crucial para que a garota passasse a confiar, se permitir mais. A loira a ensinou a desenhar e, a cada visita, trazia em sua bolsa um objeto de arte novo caso ela se comportasse com as enfermeiras ou em suas doses de injeção.

Tudo o que fazia era para impulsioná-la a viver, a se expressar melhor, a se abrir para as infinitas possibilidades que ainda estariam por vir. E pelos oito meses em que passou ao lado daquela criança, Clarke criou dentro de si um apego forte demais à ideia de que ela sobreviveria tudo aquilo.

Madi venceria a leucemia e ela a assistiria crescer e atingir seu maior potencial de camarote, ela acreditava fielmente. Foi assim até o dia de sua última consulta naquele oitavo mês.

Perder Jake foi sem dúvida alguma o pior momento de toda a sua vida. Descobrir que ele crescia em seu ventre foi capaz de fazê-la perder o chão, tê-lo sem vida em seus braços mais tarde naquele mesmo dia, a fez perder seu mundo.

Seu universo havia parado, seu coração se tornou impotente, sua razão para continuar existindo era ínfima. Clarke deveria estar familiarizada com a perda, mas nada em sua vida jamais se compararia com aquilo. Não havia um manual que ensinasse uma mãe a aceitar a perda de seu filho. Sua dor já não era mais emocional, era física.

E foi por passar tempo demais lambendo suas feridas que ela se esqueceu que havia um mundo que girava. Um mundo onde a criança que enfrentava todo o tratamento de uma cruel doença sozinha decidiu que simplesmente não podia mais passar por aquilo.

A Griffin olhou para os pulsos de Madi, agora quatro anos depois, com as lágrimas já pinicando a linha d’agua de seus olhos. As marcas do que resultaram sua primeira e única tentativa de tirar a própria vida agora eram apenas cicatrizes, lembretes de uma fase sombria.

“Só mais um pouco de paciência, Madi, falta tão pouco. Logo você vai estar longe daqui.” Clarke suspirou e a garota se limitou a assentir.

As mãos trêmulas entraram na parte de dentro da fronha do travesseiro, tirando de lá um pedaço de papel enrolado como um tubo e preso por uma fita avermelhada. O olhar atento da loira seguiu cada um de seus gestos, só então se dando conta de que Madi tinha a intenção de entregá-lo a ela.

“Para mim?” Uma ruga de confusão se criou entre suas sobrancelhas, se abrandando no instante em que puxou o laço e o desenho de seu rosto se revelou.

Não havia transmitido para ela nada além de conhecimento artístico básico, não o suficiente para que aprendesse a desenhar tão bem. Foi o talento lapidado com o passar dos anos que a tornou uma artista tão perfeccionista, criadora de peças que ninguém em seu bom juízo acreditaria serem de uma criança de doze anos.

O orgulho que desabrochou em seu peito trouxe as lágrimas que ela esteve tentando conter novamente aos seus olhos. Dessa vez, não houve tanto sucesso em evitar que elas escorressem livremente pelas maçãs de seu rosto.

“É lindo, Madi. É muito lindo!” Clarke fungou, limpando seu rosto com o dorso de sua mão. “Muito obrigada. Você é realmente meu maior presente.”

A garota se arrastou até a beirada de sua cama, envolvendo os ombros de sua Pediatra em um abraço apertado, quase sufocante se não trouxesse a ela tanto alívio.

“Feliz aniversário, Clarke.” A mais nova sorriu brevemente, inalando o perfume levemente adocicado que emanava dos longos fios loiros. “Obrigada por ser meu pilar quando ninguém se propôs. Se um dia eu sair desse lugar, muito disso eu devo a você.”

Ela havia optado pela Pediatria após perder Jake, deixando de lado o sonho de sua mãe de ter uma filha Neurologista, para se entregar de corpo e alma ao seu dever de salvar a vida daqueles mais indefesos.

Madi também era, em partes, sua motivação. A menininha que viveu sozinha desde o instante que veio ao mundo, a pequena guerreira que encarava a morte de frente, e que deu a ela salvação quando mais precisou.

Clarke se afastou da silhueta frágil o suficiente para que pudesse pescar a caixinha de veludo dentro do bolso de seu jaleco. A visão fez com que a mais nova franzisse o cenho, aceitando o objeto que a mão gélida daquela mulher lhe entregava.

“Isso é para mim? Eu pensei que a aniversariante fosse você.”

“Esse é o símbolo da minha promessa.” Havia tanta determinação faiscando naqueles olhos. Eles eram como preciosas safiras azuladas, reluzentes.

Madi não pôde compreender exatamente o que a mais velha quis dizer com aquilo, mas pôde captar a intensidade tangível em seu olhar. Eles eram puros, tão expressivos e afetuosos. Nesses cinco anos, ela pôde descobrir o que era se sentir verdadeiramente amada sempre que Clarke a olhava daquela forma tão amistosa.

Entre elas existia um laço que ia muito além de sua compreensão. Em seu coração, ela era sua pessoa, o mais próximo de uma mãe que ela jamais teria.

“Você vai sair daqui como minha filha, Madi. Eu dei entrada nos papéis de adoção, e meu padrasto está me ajudando com as burocracias. Essa é a minha promessa para você...” A Griffin soltou um riso nasalado, observando a surpresa expressada das feições de sua menina. “Isso é, se você quiser.”

O ar se estancou em seus pulmões assim que a garota abriu a pequena caixa de veludo, tirando de lá uma pulseira dourada adorável. Nela havia um pingente de coroa, e ao lado dele um outro semelhante a uma moeda, com uma data especial registrada com primor.

“Clarke, isso...” Ela levantou os olhos claros até a loira, o coração batendo tão frenético que parecia que iria escapulir por sua boca a qualquer momento. “Você tem certeza? Eu vou ser sua filha? Eu?”

Os dedos delgados impediram que as gotículas seguissem pelas bochechas coradas de Madi, limpando-as com delicadeza.

“Sim, você. Eu também conversei com a Becca. Sua última sessão de Radioterapia é na semana que vem, e ela me disse que seu corpo está se adaptando bem ao transplante.” A mais velha respirou fundo. “Eu pedi permissão para que você comemorasse meu aniversário comigo e minha família hoje. Minha mãe prepar...”

De súbito, os braços de Madi voltaram a envolver seu pescoço, o impulso com que ela se jogou em seu colo fez com que seu corpo se inclinasse o suficiente para se apoiar no encosto da poltrona.

As mãos de Clarke acariciaram o cabelo curto que já voltava a nascer, o conforto que aquele simples gesto trazia ao seu coração parecia tornar tudo muito simples, quase banal.

“Sim, sim! Eu quero! Eu quero que você seja minha mãe, Clarke.” O timbre desesperado de Madi saiu abafado, mas não impediu que um riso aliviado escapulisse novamente por seus lábios. “Eu não consigo imaginar outra pessoa senão você.”

E se houve alguma dúvida sobre tomar ou não aquela decisão, se por instantes ela nutriu suas inseguranças o suficiente para que a fizesse repensar, naquele momento todas elas haviam se desmanchado.

Clarke Griffin teve uma vez seu maior presente tirado de seus braços da forma mais cruel, mas, surpreendentemente, a vida havia se encarregado de lhe trazer outro.

Um reservado especialmente para ela, como o mais belo dos acasos.

Aquele se tornou sem dúvidas seu melhor aniversário.

***

Madi havia se esquecido como era a vida fora daquele hospital.

Foram tantos anos presa entre aquelas paredes exorbitantemente esbranquiçadas e sem vivacidade, esperando que em algum momento a vida sorrisse para ela e sua oportunidade de conhecer o mundo novamente surgisse.

E então ela surgiu. Em forma de gente, mais especificamente, a mulher que havia salvado sua vida de diversas maneiras e que agora permanecia em pé ao seu lado, respirando fundo enquanto encarava a grande porta de sua cobertura.

O vestido cor de gelo moldava seu corpo quase que sedutoramente, porém requintado como sua postura habitualmente impecável. Ele tinha mangas curtas, apenas o suficiente para cobrir seus ombros, e combinavam perfeitamente com os saltos pretos e a maquiagem feita com tanto cuidado.

Ela parecia um anjo. E de fato, ela era o seu anjo.

“O que foi?” Clarke arqueou uma de suas sobrancelhas loiras, não compreendendo exatamente o motivo daquele sorriso quase zombeteiro estar adornando as feições delicadas de sua menininha.

“Você não acha que está produzida demais para um jantar com a sua mãe?” Foi a vez de Madi franzir o cenho, envolvendo sua mão na dela.

“Não?” Da incerteza em sua voz seguiu um riso engasgado, buscando o celular em sua bolsa para responder a mensagem de texto de Abby. Ela era capaz de sentir a euforia de sua progenitora mesmo pela tela do aparelho. “É uma noite especial, ela e Marcus irão te conhecer pela primeira vez. Ela não comentou, mas acho que Raven e Robbie também vão estar presentes. É importante para mim, eles serão sua família também.”

Madi sorriu novamente, dessa vez um tanto desconcertada. O vestido rodado e florido, assim como a tiara delicada em seus cabelos curtos, não era o suficiente para esmorecer a insegurança sobre sua aparência. Ela sabia que seu rosto ainda denunciava o passado de uma criança doente, algo a incomodava profundamente.

Mas não naquela noite. Ela deixaria seus próprios pensamentos negativos de lado para tentar, pela primeira vez em anos, se relacionar com pessoas que não fosse as que a rodeavam naquele hospital todos os dias.

Aquela noite ela seria uma garota normal, pronta para dar o primeiro passo em direção a um futuro incerto que ela mal poderia esperar para desvendar.

Clarke apertou sua mão novamente, girando as chaves na fechadura e sem receio algum abrindo a porta.

“Surpresa!” Um coro animado de pessoas exclamou assim que a loira acendeu o interruptor da sala.

Seus dentes estupidamente brancos se exibiam em um sorriso de tirar o fôlego. A felicidade que se expressava em seus olhos claros lhe servindo tão bem quanto uma peça de roupa.

Estavam todos ali. Até mesmo quem ela não imaginava que estaria, como Niylah e John Murphy. Todos os seus amigos mais próximos, pessoas que fizeram parte da sua vida desde que ela se entendia por gente e que foram grandes protagonistas em suas melhores memórias.

O primeiro a correr em sua direção e envolve-la em um abraço que a tirou do chão por alguns instantes foi Jasper. Ele a girava levemente, como se estivesse embalando uma criança.

“Clarkey, feliz aniversário! Caramba, você está cada dia mais gata.” Ele sorria como se estivesse com um cabide em sua boca, se afastando brevemente e recebendo uma tapa leve da loira em seu ombro. “Outch! Eu sei, eu sei, sou um moço comprometido. Foi só um elogio.”

“Beleza é para ser apreciada.” A voz de Monty se fez presente e logo ele estava ao lado de seu melhor amigo, puxando o braço de da Griffin para um abraço acolhedor. “Feliz aniversário, Clarke. Sua garrafa de moonshine está garantida esse ano também.”

A loira grunhiu em puro desprazer, relembrando a ressaca terrível que a bebida feita tão carinhosamente por Monty poderia causar.

“Oh, vamos lá, não seja estraga prazeres!” Jasper trombou seu ombro no dela, só então notando a garotinha ao seu lado. “Veja só o que temos aqui! Uma pigmeia!”

Madi apertou a mão de Clarke, um tanto desconfortável com a atenção. Ser telespectadora estava sendo bem mais fácil do que ter todos aqueles olhares em sua direção.

Calma, respire. Vai dar tudo certo. A garota era capaz de captar as palavras da loira apenas por seu olhar, agradecida pela segurança que ele lhe transmitia.

“Então essa é a famosa Madi?” Sua mãe se manifestou ao se acercar da garotinha, o pequeno Robbie em seu colo. Claro que ele havia encantado Abby com seu charme, não era de se surpreender vindo do filho de Raven Reyes. “Muito prazer, meu bem. Eu sou Abigail, mãe da Clarke.”

“E eu Raven Reyes, melhor amiga.” Raven se apressou em estender a mão para a menina, seu olhar receoso buscando o da mulher ao seu lado novamente antes de retribuir o cumprimento.

A Griffin mais nova assentiu, e logo foi a vez de Octavia apresentar sua objeção.

“Ei Reyes, não vá roubando o posto dos outros assim.”A morena sorriu gentilmente, sua mão acariciando os cabelos curtos de Madi. “Meu posto de melhor amiga foi garantido já de nascimento. Eu sou Octavia, amiga de infância.”

“Eu sei.” Seu timbre saiu fraco, e ela se limitou a limpar sua garganta na tentativa de amenizar também seu nervosismo. Ao que tudo indicava, não seria difícil se sentir em casa em meio a pessoas tão calorosas. “Clarke me contou sobre vocês, me mostrou desenhos. Você é Octavia, e ele é o Bellamy.”

Seu dedo indicador apontou diretamente para o Blake, que observava tudo calado no fundo da sala. Seus olhos escuros se estalaram por um breve momento, sua expressão se suavizando assim que o canto de sua boca se curvou sutilmente.

Os olhos azuis de Madi vasculharam seu rosto, guardando detalhes sobre aquele que por tantas vezes obteve o papel principal nas histórias que Clarke lhe contou ao longo dos anos. Ela sabia perfeitamente a importância daquele homem, e conhece-lo pessoalmente era como ver seu ídolo em carne e osso diante de seus olhos pela primeira vez.

“E sobre mim? Eu sou o cara bonito e engraçado, certo?” Murphy questionou, os braços cruzados em seu peito.

“Nem mesmo chegou perto.” Clarke replicou, assistindo Bellamy socá-lo no ombro.

Para ela era reconfortante vê-los se comportando tão amigavelmente. Coisa que jamais imaginaria presenciar há alguns anos.

Ela manteve seu sorriso ao analisar a noiva do Blake ao lado de seu padrasto, eles pareciam bastante compenetrados em seu próprio universo de conversas jurídicas para notar o que acontecia na sala.

Lincoln que observava tudo ao lado de Bellamy se aproximou de Clarke com Olivia em seus braços. Dele exalava uma áurea tão pacífica, a única capaz de acalmar a tempestade andante que era sua melhor amiga de infância. Faziam alguns anos que ela não o via, mas nada demais havia mudado.

“Feliz aniversário, Clarke.” Seu timbre macio trouxe certa nostalgia, os olhos esmeraldinos da pequena Omaha se cravando em seu rosto com euforia.

“Seu aniversário, titia?” A pequenina estendeu os braços em direção a loira, pedindo por seu colo. A Griffin a segurou, sendo envolvida calorosamente por um abraço que fez com que seu coração batesse dormente em seu peito.

As íris azuis se iluminaram em um tom ainda mais claro devido a camada úmida de lágrimas que os nublavam, completamente arrebatada pelo carinho que a filha de Octavia lhe direcionava.

Olivia se afastou o suficiente para entregar à Clarke a boneca miniatura que tinha em sua posse.

“Feliz aniversário, titia!” A menina sorriu, fazendo com que Clarke segurasse a boneca enquanto se engasgava com seu próprio riso. “Tenho certeza que você vai cuidar melhor da Alice, igual quando Olivia quando ficou dodói.”

Octavia se acercou, limpando a umidade que maculava o rosto belo de sua amiga.

“Você está ficando mole, Loira.”

A Griffin direcionou sua atenção para a morena. Atrás dela, o olhar incisivo de Bellamy lhe tirou de órbita por uma fração de segundos.

Ele estava tão perto, ela sequer havia o notado.

A Blake puxou de volta sua criança para seus braços, vacilando o olhar entre seu irmão e a mulher ao seu lado que o encarava como se fosse a única pessoa naquele recinto, alheia a todo o resto.

“Eu não imaginava te ver aqui.”

Ela o observou atentamente, registrando com primor cada detalhe dele. Os cabelos geralmente penteados para trás agora estava como ela sempre lembrou: as rebeldes ondas negras escondendo sua testa e enegrecendo ainda mais o castanho escuro penetrante de seus olhos.

O sweater vinho marcava perfeitamente seus bíceps, um atributo garantido por sua profissão. Um sorriso contido fazia com que a pequena cicatriz em seu lábio superior se tornasse quase imperceptível, e em suas mãos estava uma caixinha preta que a fez franzir o cenho.

“Eu também não imaginava que viria, mas...” As palavras pareciam morrer em sua boca, seu olhar se desviando do dela por um momento.  “É seu aniversário, e eu sei o quanto eles significam para você. Assim como sei o que isso significa.”

Ele estendeu o objeto para ela, as safiras azuladas estudando a caixeta com curiosidade e um lampejo de confusão.

Mais ao longe, Abby, Raven e Octavia os analisavam, atentas com o que se desenrolava diante de seus olhos.

“Eu passei a tarde pensando em um presente adequado e, de verdade? Acho que nada que eu pudesse pensar seria. Nada teria o valor sentimental que eu queria, afinal, eu precisava te agradecer de alguma forma, Clarke.”

A loira abriu seu presente, seu olhar se erguendo de encontro ao dele ao expressar o emaranhado de emoções que a deixaram completamente sem ar. O relógio de seu pai, o mesmo que ela jurou ter perdido e que trouxe à tona as mais agradáveis memórias do homem que mais amou na vida.

O mesmo que ela perdeu sem sequer se despedir.

Não haviam palavras, apenas um aperto sufocante em seu peito. Dessa vez, não era uma reação derivada de sentimentos ruins, mas sim de tudo o que havia de bom em sua vida. Clarke se surpreendeu por tamanha retribuição, sinceramente grata por Bellamy Blake estar novamente em sua vida.

Ela fechou a caixinha, dois passos dissiparam qualquer espaço entre seus corpos quando ela o abraçou, completamente tomada por sua comoção. O ar que queimava estagnado em seus pulmões escapuliu por seus lábios e, pela primeira vez em anos, parecia que finalmente era capaz de respirar de novo.

Seus olhos voltaram a arder, sua bochecha pressionada contra o tórax firme de Bellamy. Ele hesitou por um instante, no entanto logo seus braços a envolveram. O moreno afundou seu nariz nas ondas douradas do cabelo da Griffin, fechando seus olhos ao inalar a fragrância suave de seu shampoo.

Ela parecia tão pequena em seu enlace, tão vulnerável.

E novamente naquela semana, Clarke chorava. Não por dor, não por mágoa, não por culpa, mas pela mais pura gratidão. As lágrimas escapavam, roliças e quentes, mas dessa vez por notar que o coração dele ainda batia apressado e no mesmo ritmo do seu.

“Isso é algo que eu não imaginava que veria.” Octavia analisou de longe, uma sobrancelha se erguendo ao encontrar os olhos castanhos de Raven fixados na cena.

“É, nem eu.” Foi tudo o que a Reyes se limitou a responder.

***

Abby Griffin não media esforços e muito menos dinheiro quando o assunto eram os membros de sua família, ou então seus eventos de caridade.

O chef que tomou conta da cozinha americana de Clarke, preparou para eles os mais diversos tipos de refeições. Algo que deixou Raven extasiada, mas que não deixou de fazer com que a Griffin mais nova revirasse os olhos exasperada.

Exagero seria um eufemismo para definir sua mãe, mas, de qualquer forma, nada daquilo tornou sua noite menos especial. Faziam tantos anos que Clarke não sentia aquela sensação acolhedora de ser amada, apreciada, querida. O escuro de seu apartamento e seu vinho importado era tudo o que ela passou a conhecer.

Wells e Luna chegaram um pouco depois dos parabéns, não escapando da briga de glacê que Murphy, Raven, Octavia e Jasper deram início. Até mesmo Madi, Robbie, Bellamy e Niylah haviam se tornado reféns do comportamento infantil. Por extensão, Gina acabou tendo seu nariz sujo com o creme esbranquiçado enquanto ria de toda a situação.

A atmosfera era leve, descontraída, e trazia nada além de paz. Uma que ela passou muitas noites desejando sentir novamente e que agora lhe era entregada de bandeja como o melhor dos aniversários.

Clarke não poderia estar mais feliz.

Seus olhos azuis observaram Madi mais distante, sentada na bancada da cozinha ao lado de uma Olivia sonolenta, mas perseverante em seu desejo de se manter acordada. E em um pulo, ela se surpreendeu com os braços de Jasper a envolvendo.

“Raven disse que sua mãe e seu padrasto vão ficar com as crianças.” Ele sorriu, tão jovial que sequer parecia um homem de vinte e sete anos. “E nós vamos festejar em uma boate que um amigo do Lincoln recomendou.”

“Não sei se é uma boa ideia deixar Madi soz...”

“Clarke, não comece.” Raven a cortou, e logo Octavia se juntava a elas com seu suco batizado em mãos. “A garota é um anjo, e pelo que eu vejo já criou uma ligação com a sua mãe.”

Ela voltou sua atenção para Madi novamente, sorrindo ao ver sua mãe entregar a ela e Olivia mais folhas e lápis de cera. O brilho que se reluzia no azul cristalino daqueles olhos fez com que seu coração comichasse.

Realmente, ela estava pensando demais.

“Vamos festejar, vadias!” Octavia agarrou o pescoço de Lincoln, depositando um beijo demorado em sua bochecha.

Talvez Monty tivesse exagerado na quantia de moonshine que despejou naquele suco.

Mais afastado dali, Gina se sentou em uma das banquetas e acariciou a testa de Olivia, afastando os cachos negros que impediam sua visão de continuar sua empenhada obra de arte.

“Você pode olhá-las por um momento? Eu preciso colocar Robbie na cama. A noite foi meio pesada pra esse malandrinho.” Abby sorriu gentilmente, assistindo a jovem sorrir abertamente em retorno.

“Claro que não, senhora Griffin, fique à vontade. Eu fico com elas.”

Madi ergueu seu olhar meticuloso para o rosto da mulher sentada ao seu lado, só então notando sua presença. Ao seu ver, ela parecia uma pessoa gentil. O que a garota não entendia muito bem era a relação exata que a morena tinha com as pessoas presentes, ela era a única ali que não havia se apresentado formalmente.

De certo se tratava de uma amiga de Clarke? Dos Blake? Era o que tudo indicava, visto que sua presença ao lado de Bellamy fora constante durante todo o decorrer daquela noite.

“Você deve ser Madeline.” Gina esticou seus lábios, os ternos olhos amendoados e sua linguagem corporal diziam que ela estava tentando uma aproximação.

A garota tentou conter seu desconforto, um sorriso frouxo adornando suas feições inexpressivas.

“Madi.” Corrigiu, observando o semblante pacífico da mais velha. “E você?”

“Oh, desculpe. Eu sou Gina!” A Martin estendeu a mão para a menor, sua simpatia demonstrando ser algo autêntico. “Muito prazer em conhecê-la, Madi.”

Havia algo sobre aquela mulher. Madi sempre foi uma criança observadora, sensitiva. Ela acreditava fielmente que os olhos eram as janelas da alma e que neles tudo poderia ser encontrado. Sentimentos bons, sentimentos ruins. Boas ou más intenções.

Ela reconheceria uma pessoa má de longe, apenas com sua intuição. E raras eram as vezes em que errou um de seus palpites.

Gina tinha um brilho próprio, algo que faiscava no adorável tom caramelo de suas íris e no repuxar de seu sorriso. A Clarke cheia de vida e de alegria que conheceu há cinco anos atrás surgiu em sua mente e, por ora, a tensão de estar na presença de alguém desconhecido esvaiu por seus ombros.

“Sou advogada assistente na Kane & Associados. Eu estou cuidando dos seus papéis da sua adoção.” Seu olhar atento assistia a garotinha voltar ao seu desenho, aperfeiçoando-o com o lápis de cera em mão e uma dedicação invejável.

Madi levantou o olhar até ela novamente, a ruga concentração que criou vida entre suas sobrancelhas negras se desmanchando.

“Ah, Clarke comentou sobre isso.” Deu de ombros, retornando aos seus rascunhos.

Gina pareceu ponderar suas próximas palavras, apoiando os cotovelos na bancada e sustentando seu queixo com suas mãos enquanto estudava a cena que acontecia no outro canto daquele imenso apartamento.

“Ela me aparenta ser tão jovem pra ser mãe...” A morena comentou, contemplativa. “E nada disso deixa de fazer a maternidade algo natural para ela. É admirável a forma que ela fala e se dirige a você.”

“Ela era quando teve Jake também.” Um sorriso genuíno salientou as bochechas adoráveis da menor, suas palavras captando a atenção da Martin totalmente.

“Jake?”

“Oh não, não. Não o Jake pai, obviamente.” Madi riu, erguendo suas íris azuladas até o rosto curioso de Gina. O jeito quase adorável que seu rosto se contorceu em confusão trouxe a ela certo divertimento. “Jacob, o filho da Clarke.”

“Eu não sabia que a senhorita Griffin tinha tido um filho...” A Martin manteve seu cenho franzido, tentando buscar em sua mente alguma menção de Marcus ou Bellamy. Até mesmo no processo, nada daquilo havia sido apontado.

Bem, considerando a delicadeza do assunto, ela era capaz de compreender.

“Ela teve.” A garota encarava um ponto fixo, como se estivesse revivendo algo em sua mente antes de seu semblante vago se abrilhantar com um sorriso nostálgico. “Ela gosta de dizer que se ele tivesse nascido com vida seria minha versão masculina.”

Gina tombou levemente sua cabeça, assistindo a veneração que tomava cada parte daquele rosto pequenino ao falar de sua mãe adotiva. Era algo admirável para ela conhecer a história das pessoas, o que, em partes, fazia sua profissão se tornar algo ainda mais agradável.

Era para dar finais felizes para histórias como a de Madi e Clarke que morena se empenhou tanto ao se especializar no Direito de família.

“Com os olhos azuis da Clarke e o cabelo escuro e as sardas do pai dele. Encontrando-o pela primeira vez sem ser por desenhos e fotos antigas, eu consigo ver que ela tinha razão...”

Os olhos devotos de Madi se fixou no outro lado do cômodo, onde Bellamy permanecia de pé em sua postura excêntrica. Os braços cruzados e a expressão fechada em seu rosto, denunciava que ele se mantinha absorto demais em seus pensamentos, enquanto a luz do luar ressaltava o brilho envolvente de suas íris tão negras quanto uma noite sem estrelas.

Ele observava a paisagem pela parede de vidro alheio ao que acontecia ao seu redor.

E foi ao seguir o olhar da garota que Gina se deu conta o quão subitamente tudo parecia girar ao seu redor. Seus pés buscaram o chão, na tentativa frustrada te se manter firme. Toda a força que havia em seu corpo parecia ter se esvaído com aquele momento de realização.

Não podia ser. Ela saberia, não?

“Bellamy?”

Madi a fitou, meneando suavemente sua cabeça em um gesto afirmativo.

Se aquilo era uma piada do destino, certamente era uma de mau gosto.




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Notas finais do capítulo

Vish? Que tombaço, bicho.

Esse capítulo é repleto de detalhes. Perceberam, certo? Achei que a visão da Octavia - como a pessoa que mais conhece as duas pessoas que estão com ela desde que nasceu - seria algo interessante. Não só o amor que Clarke sente, e todo o sentimento que claramente tá nublando os pensamentos do Bell, mas a visão daquela que esteve lá desde o primeiro dia. Claramente, Octavia é uma das maiores Bellarke shippers não só na série como em OIAL também, hahaha. Eu não aceitaria de outra forma.
Madi, nosso bebê Madi. Eu nunca mostrei muito da profissão da Clarke, né? Ou como foi pra ela nos meses durante a gravidez. Por que não entregar à ela um pouquinho da felicidade que ela merece, não é mesmo? Eu quero muito saber o que vocês acharam disso, desse primeiro passo da nossa loira em direção a uma vida mais feliz e saudável, e além de tudo, em paz.
Bellarke, Bellarke, Bellarke! Ah, nosso amado Bellarke. Não foi exatamente com o desespero do abraço que teve no 2x05, mas tão significativo e cheio de emoção quanto. Bellamy com dúvidas? Gina descobrindo mais uma omissão? Oh uhh. E Nossa Clarke que só sabe se apegar às lembranças do "poderia ser" deles? Será que ela vai fazer algo sobre isso ou vai guardar os sentimentos dela pra assistir de camarote ele se casar com outra? Eu quero teorias!
O que vocês acham que vai acontecer daqui pra frente, uh? Quero seus pontos de vistas, quero suas opiniões, quero interação. Venham conversar comigo, ok? Eu não mordo!

A música do diário da Clarke é Secret Love Song (part II), das Little Mix. Escutem, sério! É um hino desses dois.

Próxima atualização termos a continuação do aniversário da Clarke, dessa vez, NA BOATE BITCHES!!!! Como será que vai ser pros nossos delinquentes se soltar sem precisar se lembrarem que agora tem todo o peso da vida adulta nas costas? Hahahaha. Isso e muito mais na próxima atualização de OIAL, que inclusive, está chegando ao final.

Um beijo no coração de vocês, padawans. E não se esqueçam de mim, ok?