Once In a Lifetime escrita por selinakyles


Capítulo 31
If you need forgiviness.


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu tenho certeza que esse capítulo vai trazer sentimentos bem conturbados em vocês, por isso já preparem o tombo!

Eu escutei Pills, do The Perishers enquanto escrevia. Se quiserem ler escutando a música pra dar aquela dramatizada ainda maior, eis aqui o link: https://www.youtube.com/watch?v=7dA2w49Vxio

Está betadíssimo pela Kida linda, então divirtam-se!



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Chapter thirty one –

“Sente-se.”

A voz de Clarke era calma, pacífica. Estava explícito em suas mãos trêmulas que ela estava tentando se manter firme, controlada.

“Posso te trazer algo? Água? Suco? Whiskey?” Ela ofereceu, a curva simplória no canto de sua boca expressava também seu desconforto.

E para Bellamy não era difícil admitir que vê-la tão apreensiva ao seu lado lhe trazia boas lembranças. Era fácil notar que seu nervosismo estava por cada canto daquele cômodo, emanando por sua linguagem corporal conforme ela puxava um pouco mais as mangas de seu suéter verde-musgo.

“É muito cedo para whiskey, não acha?”

Clarke soltou um riso enguiçado.

“Água então.” Ela se virou em direção a cozinha, sendo impedida pela voz grave de Bellamy.

“Não Clarke, não precisa. Não agora.”

Os olhos azuis lhe encararam, uma de suas sobrancelhas loiras se arqueando a espera do que viria a seguir. Ela o conhecia o suficiente para saber até mesmo o significado por trás de seu timbre, e naquele momento, ele soava extremamente impaciente.

“Você me chamou aqui por um motivo, vamos lá, eu estou aqui.” Ele abriu os braços, sua postura séria se esvaindo conforme um pouco do garoto que ela conhecia vinha à tona. “Fale, eu não tenho muito tempo.”

Clarke se acercou, os braços envolvendo sua silhueta franzina. Ela havia perdido peso demais nos últimos anos, as bochechas sempre tão salientes não mais transmitiam toda a saúde que possuía.

Seu olhar vacilou, rondando por sua sala de estar antes de se fixar no lustre. Os pulmões se encheram com todo o ar que ela pôde respirar quase dolorosamente, enquanto dentro de si, a busca por cada resquício de sua coragem perseverava.

“Eu não sei nem como começar, Bellamy. Eu...”

“Tente começar pelo começo.” Ele a cortou, algo em seu corpo lhe trazendo uma sensação peculiar ao notar que ela se aproximava cada vez mais. “É uma ótima tática.”

Novamente, a loira suspirou. As mãos trêmulas buscando pela caixa azul que permaneceu ali, no mesmo lugar, desde a noite anterior. Os olhos se esconderam por trás de suas pálpebras com pesar, se revelando logo em seguida.

O desconforto na boca de seu estômago piorava diante da presença tão intimidante daquele homem. Tão fechado, tão distante. Notar esses pequenos detalhes tornava ainda mais árduas suas tentativas de expressar o que se passava em seu coração surrado.

Ela se sentou, desferindo dois tapinhas no estofado ao seu lado para que ele a acompanhasse. A tensão em seus ombros largos tão pouco se esvaiu muito pelo contrário, ela conseguia enxergar no castanho de seus olhos o quanto tudo aquilo estava deixando-o receoso.

Uma reação que Clarke deveria entender. Ele não confiava nela, nem mesmo ela confiaria.

“Após tudo aquilo, todo o drama do nosso... nosso momento, eu me casei com Finn e recuperei o hospital do meu pai. Acho que isso não é novidade...” Suas palavras escapavam com dificuldade, seu dedo indicador desenhando a estampa da caixa em seu colo.

“Não, definitivamente.” Ele se sentou no mesmo sofá que ela, porém mantendo sua distância. As mãos se pousaram em seus joelhos, compenetrado no que aquela mulher tinha a lhe falar. “Era difícil não saber quando o seu rosto e o do Collins estavam estampados por todos os jornais e revistas do país.”

“Foram apenas três meses, Bellamy. Eu não dormi com ele, eu não o correspondi em momento algum. Eu tinha um objetivo a cumprir, um legado para recuperar. Nosso casamento não foi consumado, então foi fácil anulá-lo com um bom acordo nupcial e um caso bastante público de adultério.”

“Oh, não tenho dúvidas de que foi muito fácil dar ao Collins tudo o que ele sempre quis.”

Clarke sorriu, o gosto amargo de suas escolhas pinicando em seu paladar.

“É compreensível você pensar dessa forma. Eu não tenho orgulho disso, nunca tive. Na verdade, eu deixei toda a minha moral de lado para que eu conseguisse prosseguir, e toda escolha tem um preço. A vida fez questão de deixar isso claro.” Ela juntou suas mãos, as safiras azuladas o fitando sob seus longos cílios. “Ela me castigou da pior forma que poderia, e é por isso que você está aqui agora, porque você tem o direito de saber.”

O cenho do Blake se franziu, o olhar curioso a observou abrir a caixa em seu colo com toda a delicadeza do mundo, tirando de lá um caderno de cor azul claro repleto de adornos.

Uma lágrima roliça escapuliu pelos olhos claros da loira conforme ela tocava o objeto com apreço, um carinho que ele nunca havia a visto demonstrar em todos aqueles anos.

Clarke fungou, limpando o canto de seus olhos com a manga de seu suéter.

E foi ao encará-los novamente que Bellamy pode notar o quão vermelhos eles se tornaram em apenas alguns instantes.

Ele odiava vê-la chorar. A sensação de incapacidade que borbulhava em suas entranhas era tão agoniante quanto à vontade súbita de tocá-la, de aconchega-la em seus braços e sussurrar em seu ouvido que tudo ficaria bem.

Todos aqueles anos haviam passado, tanta coisa havia mudado, contudo, não a forma que ele se sentia ao ver o azul límpido daquelas íris sendo nublado pelas lágrimas.

Custou muito de seu autocontrole permanecer parado, ereto, equidistante.

A Griffin direcionou a ele o caderno, abrindo sua capa no percurso. A foto de um ultrassom estava colada ali, a caligrafia esmerada de Clarke preenchia a legenda abaixo.

Primeiro ultrassom. 12 semanas.

É a primeira vez que eu escuto seu coração. Ele bate tão cheio de vida, retumbante, e me inunda de uma emoção que eu nunca havia sentido com tanta intensidade. É um momento único, cheio de significados, uma nova vida. E quando a realidade vem, eu rio e choro.

Você não estava nos meus planos, mas eu não poderia me sentir mais realizada.

Bellamy fixou sua atenção no rosto corado de Clarke, observando-a cobrir suas bochechas com as mãos. Em sua cabeça, os pensamentos revoltos o impossibilitavam de raciocinar devidamente, assimilar o que ela tentava lhe dizer com tanto afinco.

As safiras azuladas transbordavam as mais variadas emoções, porém uma especial se destacava: a mais genuína culpa. Ele compreendia aquele sentimento tão bem, estava cravado em sua pele e em seu âmago como uma cicatriz.

Clarke passou a página, outra foto ilustrava a folha. Seu riso doce invadindo os ouvidos dele como a mais bela das sinfonias, as lágrimas ainda marcando suas bochechas quando ela o flagrou estudando-a atentamente, direcionando a ele um de seus sorrisos gentis.

Na imagem ela sorria abertamente com sapatinhos de bebês entre seus dedos. Os olhos azuis exibindo o brilho de toda uma constelação, se é que isso fosse possível.

Primeiro presente. 16 semanas.

Tia Raven perdeu as estribeiras ao saber da sua existência. Essa vai ser uma das pessoas que você mais vai amar na vida, e uma das que mais vai te amar também. O pequeno Robert está perto de nascer, e eu só posso desejar de todo o coração que ele possa ser para você o irmão de alma que Raven é para mim.

Tenho certeza que ela está feliz por nós, mesmo com toda a distância.

Ela direcionou seu olhar para Bellamy, que permanecia estático ao seu lado. Nenhuma palavra sequer saía por seus lábios, nem mesmo um grunhido. O silêncio era denso, entretanto estava longe de ser desconfortável. Clarke sabia que dentro dele se iniciava mais uma de suas revoluções, era informação demais para ser digerida.

Suas mãos trêmulas viraram a página novamente, desta vez o rosto de Wells e Abby entraram em seu campo de visão. Sua barriga que já havia adquirido uma certa protuberância estava coberta pelo gel do ultrassom, seus olhos transbordavam as lágrimas de uma alegria que se refletia nos rostos de seus acompanhantes.

Terceiro ultrassom. 21 semanas.

Seu pai uma vez me disse que felicidade não é uma pessoa, e sim um estado de espírito. Não há nada nesse mundo que eu desejo mais do que tê-lo aqui para provar o quanto ele estava errado. Você seria a felicidade dele também, eu tenho certeza. Hoje eu descobri que tenho um garotinho forte crescendo dentro de mim, o resultado de um amor que eu levarei comigo até meu último suspiro.

Jacob, eu mal posso esperar para conhecê-lo.

Clarke sentiu Bellamy se remexer inquieto, inconformado.

Aquelas eram as mesmas palavras que ele havia dito a ela na última vez que a viu cinco anos atrás. As lembranças daquele dia voltavam com força total, assim como a sensação excruciante que lhe tomou por inteiro ao ter que vê-la passar por aquela porta.

Isso, eu e você, não vai funcionar. Não sou sua felicidade! Felicidade não é uma pessoa, é um estado de espírito.

“Você planejava me contar?” Sua voz rouca parecia tão distante quanto seu olhar, fixado em algum canto daquela sala conforme ela o observava.

O coração da Griffin se afundou como uma âncora em seu peito, a distância entre eles aumentando com o correr dos segundos.

“Sim, eu iria. Eu iria lhe contar, Bellamy. Eu só não sabia como, quando.” O nome dele queimava em sua garganta como uma das suas doses de whiskey. “Mas as coisas aconteceram e eu simplesmente... eu simplesmente desabei.”

O Blake passou as mãos pelo rosto, bagunçando os fios ondulados de seu cabelo antes tão bem arrumado. A desordem tomava conta de tudo, a raiva imergia como uma explosão dentro de seu peito.

“Você desabou?” O desgosto em seu timbre e a dor em seu olhar fizeram com que a loira estremecesse, completamente despreparada para enfrentar sua ira. “Você o deixou crescer sem um pai enquanto esperava por sua coragem, Clarke? Você negou a ele o que foi negado a mim todos esses anos? E isso se justifica porque você simplesmente desabou?”

Sua visão se nublou devido as lágrimas que insistiam em cair pelos cantos de seus olhos, o bolo agoniante da culpa incendiando sua garganta. E antes que pudesse conter, os soluços sôfregos escapavam por seus lábios.

“Ele não cresceu, Bellamy. Ele faleceu ainda dentro de mim, com oito meses de gestação, sem que eu sequer pudesse conhecê-lo.”

O significado daquelas palavras trouxe de volta a realidade amarga e dolorosa. O moreno a encarava estático, atônito com o que seus ouvidos acabaram de captar. Ele pôde sentir dentro de si o seu coração se partir diante daquela realização.

As íris azuladas se ergueram até o rosto cheio de pânico daquele homem, o eterno dono de seu coração e todo seu amor. Nada era capaz de fechar a ferida que permanecia ali, aberta, sangrando. Não seria fácil falar de seu filho sem que todos os sentimentos ruins que ela guardava dentro de si aflorassem.

“Eu não pude ouvi-lo chorar, eu não pude ouvir sua risada, não pude vê-lo sorrir ou até mesmo sentir o seu calor. O fruto do sentimento mais lindo e puro de toda a minha vida, o que me daria forças para viver depois de tudo aquilo, morreu dentro de mim, Bellamy. Você entende agora o porquê eu desabei? O porquê eu nunca seria capaz de contar a você?”

Bellamy deu um passo à frente, a vontade de tocá-la comichava sob suas digitais. A insegurança que lhe assolou foi o suficiente para fazê-lo congelar. Os conflitos internos tomando um pouco mais de sua sanidade.

“Como eu iria dizer que nosso filho morreu e foi por minha culpa?” Clarke afundou seu rosto em suas mãos, o peito oscilando conforme os soluços se tornavam cada vez mais audíveis. “Como eu iria contar pra você que eu não fui capaz de mantê-lo vivo?”

Ele a assistiu por mais alguns instantes, grande parte de sua vida passando diante de seus olhos. Os sorrisos que ela lhe direcionava, a forma quando ela o olhava após uma de suas piadas sarcásticas, o gosto de seus lábios ao prova-los pela primeira vez, o conforto de seus braços quando ela o abraçou no enterro de Aurora.

Clarke Griffin sempre foi uma pessoa fechada, tão inalcançável. Ela era capaz de tanto e ao mesmo tempo, parecia ser tão frágil e indefesa. É óbvio que algo grave tinha que ter acontecido para ela desabar de forma tão brutal em sua frente como ocorreu naquele restaurante.

Ninguém é capaz de ser forte todo o tempo.

Ela passou as páginas do diário de seu filho com certo desespero, parando em uma em especial.

Nela, Marcus e Abby estão ao seu lado em uma cama de hospital. O rosto de Clarke era pálido, o azul de seus olhos se mesclava junto do vermelho sem vida. Nunca em todos os anos que conviveu com ela, Bellamy a havia visto daquela forma. Sem emoção, sem luz.

Em seus braços ela segurava o que parecia ser um bebê dormindo pacificamente, mas ele sabia melhor. Era seu filho ali, o pequeno tufo de cabelo escuro herdados de sua genética, sem sopro algum de vida.

Dentro de seu peito, seu coração se partia dolorosamente em milhares de pedaços. A dor ia muito além de algo emocional, era físico. Era como se cada célula em seu corpo reagisse àquela situação do pior modo possível.

Qualquer coisa seria melhor que aquilo, que aquela angústia misturada com o mais puro dos remorsos.

Em apenas um momento, cinco anos foram jogados na lata do lixo. Ele se agachou diante dela, segurando seus pulsos para que ela removesse as mãos que cobriam seu rosto.

Clarke cedeu, fitando diretamente o castanho enternecido de seus olhos. Não restou sinal algum de raiva, a ira havia perdido seu lugar para um sentimento muito maior: a empatia.

Indignação não mudaria o fato de que ela passou por tudo aquilo sozinha, tomou para si a dor que também deveria ser dele. A força daquela mulher estava completamente fora da sua capacidade de compreensão, e em sua mente o rosto sorridente de sua mãe surgia.

Ela se parecia tanto com a mulher que lhe deu a vida. Aurora também havia feito seus sacrifícios, carregou em seus ombros as consequências das escolhas que fez para manter seus filhos como sua prioridade, para dar a eles o que ela foi privada de ter.

O peso do mundo estava sobre suas costas e tudo o que ela soube sentir foi amor incondicional. A pureza daquele sentimento era o que dava a ela a força necessária para lutar contra tudo e todos. Lutar por eles.

E Clarke era assim. Não havia meio termo, nunca existiria um morno quando se tratava dela.

Ela, assim como Aurora, não sabia lidar com a perda. Ela faria as escolhas que evitasse o sofrimento de outras pessoas sem pensar duas vezes. Ela carregaria consigo toda a dor de perder um filho mesmo que a despedaçasse por dentro, se isso o poupasse.

Sacrifícios, ela se revestia deles como se fossem uma simples peça de roupa.

“A culpa foi minha, Bell. Me perdoe. Me perdoe, eu não fui capaz de mantê-lo vivo. Eu matei nosso bebê. Estava tudo planejado, ele nasceria em poucas semanas e eu o sentia chutar tão frequentemente, ansioso para sair de dentro de mim. Para me conhecer.” As palavras eram proferidas com dificuldade, agoniantes em meio aos soluços que se intensificavam. “Ele...”

“Clarke.” As mãos de Bellamy seguraram seu rosto delicadamente, forçando-a a encará-lo. “Escute, Clarke. Olhe para mim, ok? Olhe somente para mim.”

Ele tentava se manter calmo mesmo que dentro de si, apenas o caos causado por todos aqueles sentimentos revoltos prevalecia. Precisava ser assim, ele precisava se manter firme por ela.

Por ela.

E era isso o que brilhava no escuro de seus olhos, a segurança e a tranquilidade que ela necessitava. Tanta dor era expressa por suas palavras, tanta angústia assombreava seu olhar e impedia que Bellamy a decifrasse.

“Não foi sua culpa, Clarke.” Seu timbre era um sussurro complacente, os polegares acariciando as maçãs coradas daquele rosto. “Se é perdão que você precisa, tudo bem, eu te dou perdão, você está perdoada.”

Os olhos surpresos da Griffin se levantaram para encará-lo, vasculhando cada detalhe de suas feições em busca de sinceridade. A vontade de abraça-lo era sufocante, de mantê-lo por perto e se envolver em seu calor.

Ela desejou com todo seu âmago que ele a abraçasse tão forte, que os pedaços de seu coração se uniriam novamente. Clarke desejava mais do que tudo se sentir inteira, se sentir capaz de enfrentar o resto de sua vida sem a sensação agoniante que aquele vazio lhe trazia. Sem a impressão de que um pedaço de si estaria sempre faltando.

Por apenas um momento, ela gostaria de ser egoísta. No entanto, isso não estava e nunca estaria em sua natureza. Bellamy merecia mais, muito mais do que alguém que partisse seu coração e não lhe inspirasse confiança.

“Entenda Clarke, há coisas que estão fora do nosso alcance. Não era para ser, aceite, não foi sua culpa.”

Os castanhos tão abrasadores acalentavam o coração que martelava dolorido em seu peito. O cenho dele se franzia diante da frustração que era assisti-la se autoflagelar por algo completamente fora de seu domínio.

Mas aquela era Clarke Griffin. E Clarke Griffin estava acostumada a tomar para si todo o fardo do mundo. Era uma das coisas que ele amava nela, afinal de contas. Sua sensibilidade, seu altruísmo, sua capacidade de ser forte mesmo quando dentro dela tudo estava em escombros.

Bellamy uniu sua testa à dela, suas respirações se mesclando conforme os olhos se fechavam por alguns instantes. Ele precisava respirar, ela precisava se acalmar. Naquele exato momento eles compartilhavam a perda, suas almas buscando pelo conforto que tanto ansiavam, se contemplando.

E talvez ele devesse estar surtando por tê-la tão perto, por ter quebrado a sua promessa para si mesmo de que nunca mais ele permitiria que Clarke Griffin o fizesse desabar, por simplesmente se sentir incapaz de se afastar dela.

No entanto, nada disso importava mais. Era como estar em outra dimensão, outro mundo, um onde apenas eles existissem. Não havia mais um passado cheio de desentendimentos amargos, somente um futuro onde Bellamy não estava mais disposto a viver sem ela.

Perdoar não estava exatamente em seu DNA, mas ele estava disposto a fazê-lo. Ele seria capaz de perdoá-la porque era disso que seu coração precisava, era isso o que ela precisava.

E não existiria um mundo onde Bellamy Blake permitiria que Clarke continuasse se castigando daquela forma. O tempo passou, tanta coisa aconteceu, e de novo eles estavam ali, compartilhando um pesar que competia somente a eles e mais ninguém.

Bellamy afastou uma mecha dourada que caía rebelde, prendendo-a atrás da orelha da loira antes de depositar um beijo casto e repleto de significados em sua testa. A densidade em seu olhar transmitia o que ela esteve buscando por todos esses anos: a mais genuína paz.

O amargo não mais pinicava em seu paladar, o nó não mais ardia em sua garganta, os rastros de suas lágrimas haviam secado e aqueles olhos, bem, novamente eles lhe proporcionaram salvação.

Era hora de cicatrizar aquelas feridas, e dessa vez, como nunca antes, Clarke se sentia pronta para recomeçar.

***

Octavia segurava a xícara com seu chocolate quente firmemente entre suas mãos, respirando o vapor que o líquido adocicado exalava na tentativa de afastar um pouco a sensação inquietante que o frio de New York lhe causava.

Os olhos esverdeados vacilaram do relógio digital que havia ao lado do sofá para o semblante irritado da Reyes, que digitava algo em seu celular como se estivesse descontando nele toda sua raiva.

“O celular não tem culpa, Raven.” Ela se sentou no sofá ao lado da morena, afastando a caixa azul estranha de Clarke para que pudesse posicionar suas pernas como um indiozinho.

“Wick é um cretino.” A morena resmungou, deixando o celular de lado para puxar o elástico de seu cabelo, deixando-o livre de seu rabo-de-cavalo característico. “Se eu chegar em Chicago e notar que há alguma coisa fora do lugar na minha oficina, Robbie ficará órfão de pai.”

A Blake escondeu o sorriso maroto na borda de sua xícara, respirando fundo.

“Eu não tenho dúvidas que você seria uma ótima mãe solteira, mas se tem algo que eu tenho observado como mãe é que nenhuma criança deveria crescer sem pai.”

Raven a observou por alguns instantes, pronta para usar seu sarcasmo para quebrar o gelo.

“E você precisou ser mãe para descobrir isso, gênia? Muito sagaz da sua parte.”

Ela ignorou a crítica da melhor amiga, dando de ombros.

“Pessoas como nós sabemos muito bem como é crescer sem pai.” Seus olhos esverdeados se tornaram vazios, sua mente voltando todos os momentos em que ela sentiu falta de uma figura paterna em sua vida. “Não que minha mãe não tenha sido o suficiente, ela foi muito mais do que isso, mas nada substitui o vazio que fica ali. Por essas e outras que eu admiro o esforço dela, e falho todos os dias ao tentar ser um terço do que ela foi.”

A Reyes suspirou, não se sentindo paciente o suficiente para entrar naquele assunto com a Blake. O relógio digital ao seu lado marcava onze e meia de uma noite nada aconchegante, e no andar de cima, Robbie e Olivia dormiam como anjos nos quartos que Clarke resignou à suas melhores amigas.

Os olhos escuros se demoraram um pouco sobre a caixa azul ao lado de Octavia, se perguntando como as coisas poderiam ter corrido naquela manhã. A apreensão se instalou na boca de seu estômago e tudo o que Raven mais desejava naquele momento era que sua amiga loira voltasse logo para casa.

Havia mais uma conversa a acontecer ali naquele dia. E por mais que ela soubesse que talvez Clarke não estivesse em condições de tê-la, nada poderia evitar. Já se passou tempo demais. Muitas coisas necessitavam ser esclarecidas entre elas.

E a Reyes sabia que se não fosse agora, não seria nunca mais.

“Você está pensando alto demais.” Octavia a olhou enviesado, bebericando seu achocolatado. “O que anda passando nessa sua cabecinha?”

“Ah, tenho certeza que você não vai gostar de saber.” Os lábios se apertaram em uma linha fina, e o alívio inundando seu corpo como uma onda relaxante assim que ouviu o rodar das chaves anunciarem a chegada de Clarke.

O que ela não esperava era encontrar a face pálida da loira manchada por lágrimas.

Desespero, do mais absoluto e autentico. Não demorou muito para que ela estivesse ao lado da Griffin, puxando sua bolsa para que ela a deixasse de lado e a acolhendo em seus braços.

Os soluços cruéis tomavam o fôlego, a instabilidade de sua respiração fez com que os olhos de Raven procurassem pelos de Octavia, atônitos. Ela sabia o que viria a seguir, o que acontecia quando Clarke chorava tão copiosamente como estava acontecendo ali.

Logo Octavia as amparou, guiando a loira até o estofado mais próximo.

“Clarke, o que houve? O que aconteceu?”

“Alguém te fez algo? Te machucaram?” A Blake vasculhava o corpo da amiga em busca de algum hematoma ou qualquer resquício de algo fora do normal.

As mãos trêmulas da loira cobriram seu rosto, limpando as gotículas salgadas que o marcavam.

“Eu...” Sua fragilidade a impedia de completar sua sentença, e somente após respirar fundo até que seus pulmões ardessem foi que ela recuperou a força em suas palavras. “Eu normalmente não ajo dessa forma, eu estou acostumada a perder pacientes, mas... mas eu realmente tinha esperanças de que essa iria melhorar.”

Raven e Octavia trocaram olhares cúmplices, se acomodando uma de cada lado da loira. Os dedos longos da Reyes deslizavam pelas longas ondas douradas de Clarke, enquanto a Blake envolvia a mão gélida nas suas, quentes.

“Charlotte era apenas uma criança. Uma criança que tinha uma vida inteira pela frente, todo um futuro destruído por um câncer.” O azul de seus olhos havia adquirido tons mais claros devido ao choro, se contrastando ainda mais com o avermelhado. “Eu sou uma médica, caramba, por que raios eu estou permitindo que isso me afete tanto?”

“Porque no final do dia você é humana como todos nós.” Octavia se pronunciou, compreensiva. “Você não é uma divindade, Loira. Não tem como garantir quando ou qual a hora que alguém deve partir. Você fez seu melhor, eu tenho certeza.”

Clarke suspirou mais uma vez, mais lágrimas ardidas escapulindo pelos cantos de seus olhos. Aquele havia sido um plantão e tanto, nunca apenas onze horas de trabalho lhe trouxeram um desgaste emocional tão grande. Ela estava acostumada a perder pacientes, fazia parte do trabalho.

Entretanto, quando o assunto envolvia crianças, isso desencadeava uma emoção bastante profunda em seu psicológico.

“Não o suficiente. Eu deveria ter feito mais.” Sua cabeça se ergueu, com a mão livre ela limpava o que restava de umidade em seu rosto.

“Eu nunca te vi desmoronar dessa forma por um paciente.” Raven constatou, puxando para si o queixo de Clarke com delicadeza para que pudesse estuda-la melhor. “Não tem outros motivos por trás?”

Clarke fitou sob os longos cílios a caixa azul ainda deixada de lado no sofá, a agonia fazendo com que seu estômago se revirasse em sua barriga. Talvez fosse as longas horas sem uma refeição decente, talvez fosse o cansaço que parecia corroer seus músculos como soda cáustica.

Contudo, a lembrança do acontecimento daquela manhã se tornou vívida diante de seus olhos. A paz que a inundou, a sensação libertadora que somente o perdão é capaz de trazer, a salvação que a acolheu ao se perder novamente na escuridão daquele olhar. Ela era capaz de sentir seu toque novamente, de inalar seu perfume como se sua vida dependesse disso.

Aos poucos o coração desenfreado em seu peito se acalmava pleno. O polegar de Octavia fazia círculos no dorso de sua mão, levando a loira a deixar a preocupação de Raven de lado por alguns instantes para encará-la.

Ela também merecia a verdade. Aquela mulher que estava ali, ao seu lado, sua melhor amiga e parceira desde o berço, havia passado tempo demais fora da sua vida. Clarke sentiu naquele mesmo instante toda a frustração de perder seu paciente se transformar em medo de perdê-la novamente.

Octavia estava ali agora, porém nem sempre esteve. Foram nesses momentos em que ela pensou que nunca mais seria capaz de ser a mesma novamente. Na essência de Clarke Griffin havia também muito de Octavia Blake. Desde seus primeiros passos até aquele momento, a morena era tão permanente e duradoura em sua vida quanto uma marca de nascença.

E por este motivo é que ela não permitiria mais que aquele abismo existisse. Clarke não voltaria a permitir que seus erros a afastasse de tudo aquilo que tinha de mais valioso para ela.

“Seu irmão esteve aqui hoje.” Ela começou ao erguer seu olhar para fixa-lo no de sua amiga. “Eu contei para ele a minha verdade, tudo o que ele precisava ouvir. E acho que você também tem esse direito, eu também devo isso a você.”

Os olhos azuis procuraram pelos castanhos de Raven por um instante, encontrando um pouco mais da segurança que precisava para continuar. Poderia até mesmo jurar que neles reluziam uma pitada de orgulho.

“Os anos que passamos distantes foram de longe os piores da minha vida. Eu tinha Raven, eu tinha Wells, tinha minha mãe e até mesmo Kane, mas nenhum deles preenchia o vazio que somente você era capaz de preencher. Nenhum deles era capaz de transmitir a coragem que você me transmitia. E eu fraquejei.”

As mãos de Clarke se desvencilharam das dela para buscarem a caixa azulada, a mesma que ela revelou a Bellamy mais cedo naquele mesmo dia.

“Eu estava grávida quando casei com Finn.” Ela disse simplesmente, estudando cada detalhe das expressões faciais da Blake. “Por isso eu tive que fazer tudo o mais rápido possível, ou todo meu plano de recuperar o hospital do meu pai iria por água a baixo. Ou eu simplesmente teria perdido sua amizade e magoado Raven em vão, então isso, falhar, não era uma opção.”

Octavia abriu a caixa, estudando o conteúdo dela antes de voltar às esmeraldas sempre tão expressivas para o rosto da Griffin.

“Ele era seu sobrinho, O. Fruto da noite de seu casamento, de uma declaração de amor, do sentimento mais genuíno e intenso que eu senti em toda a minha vida. Eu sinto muito, sinto mesmo, por você não saber disso antes. Passar por tudo isso sem você ao meu lado, sabendo que talvez você nunca voltasse a me olhar nos olhos novamente, foi também parte do meu castigo.”

As gotículas se formavam na linha d’água dos olhos sempre tão claros da Blake, tornando azuladas as nuances em torno de suas pupilas. Sempre tão puros e expressivos, era por meio de seus olhos que ela transparecia tudo o que se passava em sua mente e seu coração.

E Deus, como eles eram belos.

“Era?” Foi tudo o que ela se limitou a indagar em seu timbre frágil.

“Você se lembra que eu estava tratando meu problema de endometriose, não lembra? Que eu sofria muito mais do que o normal com as minhas cólicas, e muitas vezes você foi quem me acompanhou nas idas até o postinho do campus?”

Octavia assentiu, encorajando-a para que continuasse.

“Faltavam algumas semanas para que ele nascesse, para ser mais exata, cinco.” Clarke pausou por um instante, reunindo um pouco mais de coragem para continuar. “Ele costumava chutar bastante, meu pequenino. Até o momento em que seus movimentos se tornaram cada vez menos frequentes, o que não me assustou tanto, afinal, qual seria a possibilidade? Eu já tinha tudo planejado, o parto, seu quarto estava mobiliado, minha mãe seria quem me ajudaria a trazê-lo ao mundo.”

Raven apertou sua mão, as lágrimas corriam por seu rosto sem que ela sequer notasse. Como sempre, ela sentia sua dor. Aquela mulher lhe presenteava com a sua empatia, revivendo junto dela o pior momento de toda sua vida.

Mesmo que ela não estivesse presente por ter um bebê recém-nascido dependente de seus cuidados.

“Foi em um dos últimos ultrassons de rotina que Dr. Jackson me deu a notícia de que meu garotinho não tinha mais batimentos. Trombofilia, ele disse. E eu, uma estudante de medicina, não fui capaz de reconhecer que meu bebê estava em perigo. Meu corpo não foi capaz de mantê-lo vivo. Oito meses, eu estava esperando para conhecê-lo e ele a mim. E bem, não foi assim que aconteceu.”

Um soluço sôfrego escapou, mas Octavia se manteve firme em contê-los. Ainda assim, tanto ela quanto Raven choravam como se tudo aquilo estivesse acontecendo com elas, diante de seus olhos.

Clarke, no entanto, já não se sentia mais capaz de derramar uma gota sequer. Ela havia feito as pazes com seu passado, estava pronta para aceitar aqueles acontecimentos, para cauterizar aquela ferida.

Aquela dor já havia sido dividida com Bellamy naquela manhã. A culpa não mais lhe perfurava incessantemente como uma maldita adaga. Ela finalmente entendeu que no final das contas, tudo aquilo foi o que lhe fez crescer, que a moldou na mulher que havia se tornado.

“Eu passei pelas horas de parto, passei por toda a dor física, mas nada disso se equiparava ao que acontecia no meu emocional. Eu não o ouvi chorar, eu o segurei em meus braços e vi seus cabelos escuros, toquei suas mãos pequeninas. Não foi possível saber de quem ele puxou a cor dos olhos, mas eu gosto de pensar que eles seriam tão negros e acolhedores quanto os de Bellamy. Parte de mim morreu junto dele naquele dia, mas hoje...”

Ela encarou a Blake, limpando as maçãs de seu rosto com seus polegares. Os lábios rosados se esticaram em um sorriso franco, satisfeita consigo mesma por ter conseguido relatar tudo aquilo sem desmoronar completamente.

“Hoje eu sei que ele veio com o propósito de me fazer crescer, para me fazer conhecer o amor incondicional, e não para ser somente dor e pesar. Talvez eu tenha mais filhos, ou então vou me contentar em mimar os de vocês...” Octavia riu e Raven revirou os olhos ao segurar seu riso. “Mas meu menino vai ter sempre parte do meu coração onde quer que ele esteja.”

Clarke enlaçou seus dedos nos de suas amigas, compartilhando com elas o conforto. A plenitude daquele vínculo estava ali, como se nunca tivesse sido fragilizado ou desfeito antes. Ela era capaz de sentir, naquela troca de olhares simplória, que as coisas voltariam ao normal agora.

Ela abriu completamente as portas de seu coração para que elas pudessem enxerga-la, compreendê-la, senti-la.  Talvez nada fosse como antes, mas a loira tinha a mais absoluta certeza de que seria dez vezes melhor.

“Bellamy foi capaz de me perdoar, e um dia eu sei que eu também vou chegar lá.” Seus olhos observavam os dedos entrelaçados, voltando a analisa-las com toda a seriedade que tinha em si. “E você, acha que conseguirá me perdoar um dia, O?”

A morena lançou seu corpo contra o da Griffin, envolvendo-a em seus braços com toda a força que guardava em si. Octavia a abraçou como se seu gesto fosse capaz de curá-la por inteiro, todas as feridas que aqueles últimos cinco anos lhe causaram.

“É óbvio, sua tonta. Eu não tenho mais nada o que perdoar.” Sua voz foi abafada pelos cabelos da loira, e Clarke não precisava ver seu rosto para saber que ela sorria.

Seus olhos se fecharam, a serenidade preenchendo cada vala obscura em seu ser. Aquela era a sensação de se sentir plena, de não mais ter o peso do mundo em suas costas, de ser perdoada e permitir se perdoar.

Se tudo o que passou naqueles últimos anos seria o necessário para passar por aquele momento, se tivesse que reviver tudo aquilo para poder se sentir daquela forma mais vezes, talvez tudo tenha valido a pena no final das contas.

“Agora solta, Blake. Vamos, solte porque é minha vez.” Raven puxou o braço de Clarke para si, abraçando-a logo em seguida. “Sua ridícula, se você me assustar dessa forma novamente eu acho que eu arranco seu fígado com as minhas unhas.”

O riso que reverberou pela garganta da loira era genuíno, verdadeiro. Há tanto tempo ela não se sentia amada daquela forma, não se sentia completa como estava naquele instante. Não havia cansaço capaz de apagar o sorriso contente em seu rosto.

“Acho que nunca me senti tão amada e disputada na vida!”

“Não se acostuma não, Griffin. Eu ainda não te perdoei por ter renegado as minhas torradas hoje de manhã, e ainda compelir meu filho a fazer o mesmo.” O lábio inferior de Raven se curvou em um bico.

“Oh, pobrezinha! Tive que intervir antes que o conselho tutelar batesse na sua porta por alimentar mal uma criança de quatro anos.” Clarke riu quando sentiu o ombro da Reyes bater no seu, a carranca orgulhosa em seu rosto se desmanchando em um sorriso largo. “Octavia, espero que você esteja alimentando bem a pequena O, porque se depender da Raven eu acho que ela passa fome.”

“Oh Clarkey, você não fez isso!”

A Reyes parou o que seria sua vingança contra a loira quando o celular da Blake começou a vibrar ao som escandaloso de “Everytime” da Britney Spears. O nome de Lincoln brilhava na tela logo acima da foto onde ele e a morena beijavam as bochechas adoráveis de sua filha.

O sorriso que antes iluminava o rosto de Octavia se desmanchou, apertando o botão de bloquear do aparelho ao ignorar a chamada.

“Eu queria perguntar o que está acontecendo...” Raven indicou com a cabeça o celular que agora brilhava com incontáveis mensagens de texto, todas de Lincoln. “Mas não tenho certeza se você quer falar sobre isso.”

A Blake suspirou, os olhos se fechando no mais puro pesar conforme as sobrancelhas de Clarke se uniam em confusão. Claramente não era algo que deveria estar acontecendo, não entre Octavia e Lincoln, um dos únicos casais que alimentavam suas esperanças sobre amor puro e verdadeiro.

“Não tenho muito o que falar, Rav. Basicamente, é aquilo que conversamos mais cedo.” Ela observou o aparelho por mais alguns instantes antes de levantar as esmeraldas repletas de decepção até o rosto de suas melhores amigas. “Nenhuma criança deveria crescer sem pai, e enquanto Lincoln não se tocar disso, eu não quero falar com ele. Não é esse tipo de comportamento que Olivia merece, muito pelo contrário, ela merece muito mais e eu estou aqui para garantir isso.”

Clarke olhou para Raven, que franzia o cenho ao vagar seus olhos escuros pela sala como se estivesse absorvendo aquelas palavras. Os olhos claros então se fixaram na Blake, a fragilidade daquele momento tornando-a vulnerável.

E ela sabia perfeitamente o quanto aquele tópico era seu calcanhar de Aquiles. Octavia sempre teve uma personalidade forte e determinada, e isso tornava as coisas mais difíceis quando algo a magoava ou lhe tirava do sério.

Lincoln deveria saber melhor do que ninguém onde estava pisando quando negligenciava sua família daquela forma.

“Não soa como o Lincoln, O. Ele sempre teve você e Olivia como o centro de tudo, por que agiria dessa forma?” A Griffin indagou, nada daquela situação parecia fazer sentido em sua cabeça.

Ela conhecia Lincoln. Sempre tinha em mente que sua intuição era como seu super poder, e ela nunca errava. Ele era um homem bom, honesto, dedicado e seria capaz de dar a vida por sua família.

“Ele agiria dessa forma se fosse assim que a família dele designasse.”

Octavia amarrou os fios longos de seu cabelo escuro em um rabo de cavalo, o desgosto se impregnando em seu paladar ao lembrar-se das últimas atitudes de seu marido.

“Lexa decidiu que não vai assumir os negócios da família, e obviamente, toda a responsabilidade caiu no colo de Lincoln. E nisso tudo, quem se dá mal é Olivia, que não sabe mais o que é ter um pai presente desde que ele decidiu que os negócios dos Omaha são mais importantes que a própria filha.”

Os lábios de Clarke se partiram, em sua mente nada palpável surgia. Nada que amenizaria todo o desapontamento que Octavia passou a nutrir por seu companheiro. O homem que ela jurou amar pelo resto de seus dias, e que Clarke sabia que ela amava.

Seria tudo questão de tempo e uma boa conversa para que as coisas se ajeitassem. Ao ver da loira, não existe e jamais existiria um relacionamento tão belo e admirável como o deles. O sentimento que eles tinham superaria todos os empecilhos que o sobrenome colocava em seu caminho, ela tinha a mais absoluta certeza disso.

Porém, sua certeza não era o suficiente para que Octavia se sentisse melhor. E isso lhe causava uma sensação agoniante de impotência.

“Ele poderia me tratar dessa forma, eu não daria a mínima. Mas eu não...” A morena engoliu a seco o bolo que se formava em sua garganta, os olhos já queimando com suas lágrimas. “Eu não admito que ele deixe Olivia de lado.”

Clarke puxou a amiga pelo ombro, fazendo com que ela tombasse em seu peito. Raven parecia distante demais para compreender completamente o que se passava ali, absorta. Era como se ela estivesse revivendo algo em suas memórias, presa em sua própria bolha.

“As coisas vão melhorar, O.” Clarke começou, e ao seu lado a Reyes voltava a si assim que o primeiro soluço escapou pelos lábios de Octavia. “E mesmo se elas não melhorarem, nós não vamos a lugar algum.”

Os olhos claros de Octavia se ergueram até o rosto da melhor amiga, recebendo um sorriso acolhedor em resposta.

A sensação de que ela poderia enfrentar qualquer coisa borbulhou em suas entranhas, como se tê-las ao seu lado fosse tudo o que ela necessitava naquele momento.

“Nós estamos aqui, e de agora em diante, sempre estaremos.”

E elas eram e para sempre seria tudo o que ela precisava.


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Notas finais do capítulo

Eu sou sim um clichê ambulante. Sim, muitas de vocês acertaram as teorias.

Acho que MUITAS coisas giram em torno desse capítulo. Soou muito como uma cena de encerramento? Sim, soou. Porque de certa forma foi. Pelo menos para a Clarke, foi. É um tema bem pesado, um acontecimento que marca MUITO e cria traumas. Acho que explica bastante o comportamento dela, não é? Precisava ser algo forte, algo que o Bell poderia ser capaz de compreender para perdoar. Ainda mais agora, esse Bellamy mais maduro. Tem taaaaaaanta coisa envolvendo esses personagens, cada atitudezinha deles vem de um histórico. Por isso mesmo que eu quero agora mais que tudo, vocês na minha caixa de comentários falando o que estão pensando, o que está passando pela cabeça de vocês. E agora, o que vocês acham que vai seguir daqui? Parece tão final, né? Mas não é. Sim, estamos chegando no final de OIAL, mas ainda tem água para passar por debaixo dessa ponte. Vocês não vão ficar sem esse final feliz, isso eu prometo!
E pra finalizar: NOSSAS MENINAS ESTÃO DE VOLTAAAAAAAAAAA! [AAAAAAAAAA]

Enfim, já falei demais! Não espero ter atingido as expectativas de todos, mas ainda assim ficaria muito grata se me deixassem um alou, ok? Eu não mordo, pelo contrário, eu me alimento de comentários, hahaha.

Um beijo de luz em cada um dos meus padawans lindos! Que a Força esteja sempre com vocês, mwa!