Once In a Lifetime escrita por selinakyles


Capítulo 29
I carry your heart with me.


Notas iniciais do capítulo

Alouuuuuu galero!

Esse capítulo é um verdadeiro monstrengo! O maior até agora, wow.
Está betadíssimo pela minha beta linda, então, divirtam-se!



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Chapter twenty nine –

Os exatos quarenta e cinco minutos em que passou completamente preso no trânsito torturante de New York acarretou ainda mais dúvidas, tornando caótico o estado em que a mente de Marcus Kane se encontrava após aquela tarde.

Ele conhecia perfeitamente Bellamy Blake. Sua irresponsabilidade e imprudência o colocou por trás das grades uma vez, de onde Kane teve que tirá-lo como um favor para Jake. O primogênito de Aurora, fruto de um relacionamento falho e abusivo entre ela e algum dos canalhas que se envolveu.

Sua Aurora, sua amada Aurora. Sempre tão bela e tão cheia de vida, feroz e corajosa. Aurora era uma força da natureza, indomável e destemida. A vida havia tomado conta de derrubá-la incontáveis vezes, e ainda assim ela lutava como a mulher guerreira que sempre foi.

As lembranças eram vívidas como um filme em sua mente.

A primeira vez que ele a viu nos corredores da Arkville High e que levou um belo chute nas canelas por ter feito piada com seu penteado. Depois daquele dia ela passou a desprezá-lo e nunca mais tentou cachear os fios lisos de seu cabelo.

Foram muitos meses de insistência para que Aurora parasse de encará-lo como se mil tipos diferentes de tortura estivessem passando por sua cabeça. Jake ajudou, ele não poderia jamais tirar seu crédito.

O olhar repleto de admiração que ela lhe direcionou quando ele passou quinze minutos argumentando com o diretor os motivos para não a expulsar foi a segunda coisa que surgiu em sua memória. Uma longa tarde de detenção e uma semana de castigo nunca valeram tanto a pena.

Mais de trinta e dois anos se passaram desde a última vez que Marcus teve a oportunidade de encarar diretamente as esmeraldas cativantes que eram seus olhos. E apenas aquele pensamento era o suficiente para seu coração martelar dolorosamente em seu peito.

Como raios Bellamy Blake teve coragem de entregar a outra mulher o símbolo que marcava o sentimento mais puro e único que sentiu em toda sua vida? A voz daquela jovem ecoava como um disco riscado em seu ouvido.

É uma herança de família.

Sim, Bellamy Blake, meu noivo.

O desassossego que comichava na boca de seu estômago fez com que a irritação se espalhasse por todo seu corpo, os dentes se rangendo a medida que seu maxilar se flexionava.

Nem mesmo o fato de sua casa estar entrando em seu campo de visão lhe acalmava. Talvez Abby pudesse clarear seus pensamentos, talvez ela fosse capaz de tranquilizar a tempestade de emoções que se criava dentro de si com seus toques e sua total compreensão.

Ela tinha esse dom. Um toque era o suficiente para desarmá-lo, atenuar a tensão em seus ombros.

Kane passou pelo grande hall de sua mansão apressado, subindo as escadas que o levariam até o andar superior onde seu quarto se encontrava, o cansaço misturado com a inquietação desestabilizando sua respiração.

O rosto surpreso de Abby foi a primeira imagem que seus olhos escuros captaram assim que ele abriu a porta, certamente não esperando vê-lo em casa tão cedo.

“Aconteceu algo?” Ela deixou de lado o álbum de fotos que tinha em mãos, colocando-o sobre a cama. “O que houve, Marcus?”

Suas mãos soadas percorreram pelos fios de seu cabelo escuro, impaciente. Sem perceber, ele vagava pelo quarto como um leão encarcerado em um zoológico.

Abby se levantou, a silhueta caminhando graciosamente até seu marido.

“O anel que eu encomendei com seu pai. Você se lembra?” Seu olhar exasperado se fincou no dela. “O anel de esmeraldas...”

“Que você mandou fazer para Aurora, sim, eu me lembro. Mas o q...”

“Bellamy Blake entregou para a noiva dele. O anel que eu dei para Aurora como símbolo do nosso amor, ele deu de mão beijada para uma estranha.” Sua voz era baixa, rouca, sua frustração transparecia nitidamente. “Tem alguma possibilidade de existir outro?”

Abby permitiu que um suspiro ruidoso escapasse por seus lábios, os olhos castanhos se fechando com pesar.

“Não, Marcus. As peças que meu pai fazia eram encomendadas, e aquela em especial era bastante única. É o anel de Aurora.” Ela encarou o teto por alguns instantes, tentando reformular seus pensamentos e se preparando para o que viria a seguir.

A inquietude daquele homem causou uma sensação desconfortável em sua barriga, o segredo que ela e Jake guardaram a sete chaves por tanto tempo como uma promessa a Aurora surgia amargo em sua boca.

“Eu imaginei que esse momento chegaria...” Abby murmurou para si mesma, voltando a se sentar na beirada de sua cama.

O cenho de Marcus se franziu diante daquelas palavras, parando de súbito as diversas voltas que ele dava para amenizar sua irritação.

“O que você quis dizer com isso, Abigail?” Ele se aproximou em passos vagarosos. “O que você sabe que eu não sei?”

Os lábios de sua esposa se partiram, prontos para proferirem as palavras que ele queria ouvir, se fechando novamente conforme ela estudava a expressão escurecida em seu rosto. As mesmas palavras que morreram em sua garganta se exprimiam em um suspiro repleto da mais crua frustração.

As mãos delicadas puxaram novamente o álbum para seu colo, abrindo uma pequena fresta na contra capa e tirando de lá um envelope.

“Jake e eu fizemos uma promessa, Marcus. Uma promessa daquelas que você dá a vida para zelar.” Abby disse finalmente, os olhos escuros de seu marido queimando-a como brasas. “Aurora nos fez prometer há trinta e um anos que nós não contaríamos nada. Ela tinha fé que em algum momento você voltaria, que ouviria a verdade da boca dela e não por terceiros. Ela queria ser quem contaria a você tudo isso, mas com as interferências da vida, essa foi a única forma que ela conseguiu.”

Kane hesitou em aceitar o pedaço de papel que sua esposa lhe direcionava, o receio esmorecendo pouco a pouco a raiva que o cegava. A confusão reluzia no escuro de suas íris, a sobrancelhas se franzindo ao reconhecer a caligrafia corrida de Aurora.

Ele se sentou ao lado dela, suas digitais vagando pelas letras de seu nome gravadas ali. A mão de Abby cobriu a sua, transmitindo aquilo que ele mais precisava naquele momento: força.

Coragem para ler as últimas palavras de sua amada, ver nelas a despedida que eles foram privados de ter todos aqueles anos atrás. Marcus não se sentia pronto para aquilo, não estava preparado para se despedir dela – mesmo que já não estivesse mais ali há muito tempo.

O sentimento estava vivo, queimava dentro de si sempre que a curva daquele sorriso surgia em sua mente. Definitivamente, ainda não era capaz de deixar todas aquelas lembranças para trás.

Kane ergueu o olhar para Abby outra vez, a mão gentil e afável acariciando seu rosto à medida que o castanho daqueles olhos lhe direcionava toda a ternura e conforto que havia neles.

Arkville, 14 de Maio de 2006.

 

Querido Marcus,

 

Se você está lendo isto, é porque as coisas não correram de acordo com o planejado. A vida como sempre entrou no meio e tomou o rumo que tinha que tomar, e eu... Bem, não me resta mais uma eternidade para ficar ao seu lado. Sinto muito, Marcus, por não poder te esperar. O relógio está correndo para mim, o tempo está escorregando entre meus dedos e eu me sinto fraca.

Nós tínhamos planos, não é mesmo? Um futuro tão lindo que eu me pergunto se a vida não tivesse interferido, se tudo correria como deveria. O que mais me dói é o gosto amargo do que poderia ser, o que me consola é que eu vivi um amor que só acontece uma vez na vida. E foi ao seu lado. Um amor capaz de destruir e também de restaurar.

Você me disse uma vez que não era uma despedida, e realmente não foi. Nunca foi uma despedida, Marcus, porque comigo ficou um pedacinho de você. Ele tem seu jeito de andar, o castanho dos seus olhos também brilha nos dele como uma noite sem luar, e o sorriso de canto que eu tanto amei está eternizado não apenas em minha mente e em meu coração, mas também no nosso filho.

Bellamy tem mais de você do que jamais vai ter de mim, e isso é o que mais me consola. O senso apurado por justiça, o jeito impulsivo e o costume de agir sem pensar, o gênio forte, a mania doce de colocar todos como prioridade e se esquecer dele mesmo. Olhar para ele é olhar para você, e durante todos esses anos, foi ele quem juntou cada pedacinho do coração que se partiu no momento em que você se foi.

Eu não peço que me perdoe, afinal, nada vai reparar todos os anos da vida dele que você perdeu. Mas compreenda, seus pais não eram exatamente pessoas quais eu poderia enfrentar. Não quando se tem a vida de alguém como prioridade, não quando o que estava em risco era a vida do nosso filho.

Thomas Kane era um homem implacável, e fez questão de que eu tivesse noção disso com suas ameaças. E Vera... Vera era apenas seu peão. Eu sei que eles te ameaçaram também, eu sei que você se foi para me privar de sofrer consequências piores. Porém, nada nem ninguém é capaz de destruir um sentimento desta magnitude. Nem mesmo a crueldade de um homem inescrupuloso e sem coração.

Me doeu também, Marcus. Eu chorei todas as vezes que Bellamy precisou do pai e eu era tudo o que ele tinha. Uma metade do que era para ser um inteiro. Um rascunho de uma figura paterna. Fui mãe e pai, e não me envergonho disso. Eu tive que fazer uma escolha, meu amor, e desde o primeiro instante em que eu o ouvi chorar naquela sala de parto e que o segurei em meus braços, eu tive a certeza de que sempre seria ele. Sempre seria o meu garoto teimoso e obstinado. Nosso menino. Tão seu quanto meu.

Se ainda resta algum resquício de sentimento por mim, se eu ainda tiver o direito de te pedir algo, eu te peço que não culpe Jake e Abby. Sou eu que mereço o seu desprezo, a sua raiva, e todo qualquer sentimento ruim que você expressar por todos esses anos perdidos. Jake foi por muitas vezes o que eu não pude ser, ele estava lá para preencher aquele buraco sempre que possível e Abby... Uma pessoa séria e sensata que está deixando de lado seus princípios para proteger o meu segredo, meu fardo.

Ele é um adulto agora. Tão belo e tão formoso, dono de um coração inigualável. Eu tenho certeza que você vai se orgulhar dele tanto quanto eu me orgulho. O destino de Bellamy é grandioso, e completamente diferente do que nós tivemos. Ele tem você agora, Marcus, e isso é o que faz com que eu possa repousar em paz.

Não importa o passar do tempo, não importa as barreiras, meu amor é seu e estará sempre com você. Eu carrego seu amor comigo, Marcus Kane, e se existe outra vida, eu irei amá-lo nela também.

 

Meu amor, meu eterno amor, abrace tudo o que lhe faz feliz. Sorria o mesmo sorriso que iluminou meus dias e trouxe sentido a minha vida. Ame novamente, viva, sinta. Encontre um novo ponto de paz, porque com essas palavras, eu encontro um pouco mais da minha.

 

“E esse é o prodígio
Que mantem as estrelas a distância
Carrego seu coração comigo
Eu o carrego no meu coração.”

 

Da sua, e eternamente sua,

Aurora Blake.

As lágrimas corriam ácidas por seu rosto conforme ele tentava controlar os soluços. Abby o envolveu em seu abraço, seus dedos percorrendo pelos fios negros daquele cabelo, acalmando-o.

“Carrego seu coração comigo, eu o carrego no meu coração. Nunca estou sem ele, onde eu for, você vai, minha querida.”

Os lábios de Abby se curvaram em um gesto sincero.

“E.E. Cummings.” Ela atestou, apoiando sua cabeça na dele.

“Era o favorito de Aurora.” A fraqueza se destacava em sua voz conforme os olhos lutavam para se manterem abertos. “Ele é meu filho, Abby. Como eu nunca desconfiei antes? As mesmas sardas que marcavam o rosto do meu pai marcam o dele. A postura e os cabelos também. Tudo nele grita a genética dos Kane e eu me recusei a ver.”

Marcus se afastou o suficiente para que pudesse encará-la, o remorso corroendo-o de dentro para fora. A dor que se expressava em seus olhos fez com que o coração dela se partisse um pouco em pura empatia ao dele, completamente estilhaçado.

“Aquele garoto é meu filho e tudo o que eu sentia por ele era raiva e ressentimento por ter destruído a vida de Aurora. Por tê-la privado de ser tudo o que ela sempre sonhou.” Seu estômago revirava no mais puro asco que passou a nutrir por si mesmo. “Eu sentia raiva dele enquanto ele vivia com um vazio imenso em sua vida, um vazio que eu deveria estar preenchendo. Como tudo isso pode acontecer? Como?”

“Não cabe a nós entender, meu amor.” Abby segurou seu rosto entre suas mãos, limpando as gotículas salgadas ao pousar um beijo casto em seus lábios. “Cabe a nós aceitar e consertar tudo o que puder ser consertado.”

“Eu não acho que exista conserto para isso. Ele cresceu sem um pai, certamente pensa que foi abandonado, rejeitado. Se eu apenas soubesse, se ela tivesse me contado...”

“As coisas seriam diferentes? Você conhecia seu pai, Marcus. Aurora apenas fez o que pensou que era certo. Ele não hesitaria em fazer mal para o próprio neto se isso te mantivesse no caminho que ele queria que você seguisse.”

Marcus refletiu por alguns segundos, a imagem autoritária e dominadora de seu pai surgindo em sua mente como um sonho ruim. Os olhos claros intimidadores, as sardas cravadas na pele apenas um tom mais escuro que a sua, os cabelos negros e ondulados perfeitamente penteados para trás.

Por tantos anos ele tentou compreender seus ideais, entender o motivo que o levava a controla-lo por meio de ameaças e gestos bárbaros. Em seu ponto de vista, após passar muito tempo tentando se colocar no lugar dele, tudo o que Thomas Kane fazia era com o propósito de vê-lo bem.

Aquela era sua maneira deturbada de agir de acordo com o que ele acreditava ser o melhor para seu filho, certo? Errado. Marcus jamais faria algo tão desprezível com alguém que ele deveria amar e zelar pelo resto dos seus dias.

Ele jamais faria com Bellamy o que seu pai fez com ele. Privá-lo de viver o sentimento único que nutria por Aurora em razão de sua ganância, seu egoísmo. Ele não negaria a Bellamy a oportunidade de ser pai, de saber da existência de seu filho.

Porque isso é algo que apenas uma pessoa desprezível como Thomas Kane era capaz de fazer.

“O que eu faço agora? Eu não sei o que fazer, Abby. Não sei como devo agir.” Ele afundou o rosto em suas mãos, exalando todo seu fracasso em um suspiro lento. “Nunca me senti tão perdido em toda minha vida.”

Abby pegou o envelope de sua mão, tirando de dentro dele uma fotografia. O rosto cansado de Aurora segurando um bebê em seus braços preenchia o pedaço de papel, revelando a mesma foto que ela e Jake tinham uma cópia. Eles também estavam lá, ao lado dela, sorrindo.

“Jake estava lá, você estava lá. Eu nunca estive, nunca pude segurar meu filho nos meus braços e dizer a ele que tudo vai ficar bem.” Kane se engasgou com um de seus soluços sôfregos, os olhos ardendo conforme se escondiam na palma de suas mãos.

“Antes tarde do que nunca, querido.” Sua esposa acariciou suas costas, direcionando para ele o sorriso confiante que ela sempre usava para tranquiliza-lo.

Ela detestava a forma como Marcus se isolava facilmente em suas festas de autoflagelação. Ele tinha um dom em tomar para si a culpa do mundo, carrega-la em seus ombros como se fosse seu fardo a ser sustentado e de mais ninguém.

“Você vai encontrar uma forma de se aproximar de Bellamy, eu tenho certeza. Seja paciente, racional, e pare de se culpar por algo que não lhe condiz. Você não precisa de perdão, seu pai precisa. Ore para que exista um Deus piedoso, eu tenho pena da alma daquele homem.”

Kane se empertigou, limpando os resquícios de suas lágrimas com o dorso de sua mão. Não havia nada a se perder, ele já desperdiçou tempo demais. Era o momento ideal para conquistar a confiança de seu filho, tomar para si o papel que ele foi privado de ter mas que era seu por direito.

“Eu não.”

Foi tudo o que ele se limitou a dizer antes de se levantar se seguir seu caminho até o banheiro.

E se realmente existisse um inferno, Marcus só esperava que seu pai estivesse queimando nele. Lenta e dolorosamente.

Como as coisas deveriam ser.

***

Precisou muito mais do que o pouco que lhe restava de paciência para estar ali naquele momento, em frente a porta do apartamento de John, encarando a típica carranca desmotivada e tediosa.

A forma que ele encarava a vida era algo que nunca faria sentido para ela. Sempre tão descuidado, não se importando com nada e ninguém além de si mesmo, como se não tivesse medo de morrer nem mesmo por um segundo.

Clarke acreditava que John tinha uma tendência um tanto suicida. E ao olhar para o rosto cheio de hematomas e as diversas bandagens que envolviam seu abdômen e braços, ela teve certeza.

“Você está horrível.” Declarou ao passar por ele para entrar em seu apartamento.

John limpou a garganta, segurando sua vontade de revirar os olhos. Até porque, mesmo o mais simplório dos gestos lhe causava dor nos últimos dias.

“Obrigada, você também.” Ela o olhou por cima do ombro, ajustando sua postura assim que ele fechou a porta caminhou com extrema dificuldade até o sofá. “Posso saber o motivo da visita? Oh não, não é hoje um daqueles dias em que nós conversamos sobre as nossas vidas amorosas enquanto trançamos os cabelos um do outro, é?”

Clarke bufou, depositando a sacola de comida chinesa sobre a bancada da cozinha antes de encará-lo com escarnio.

“Vida amorosa? Desde quando você tem uma?” Sua sobrancelha loira se arqueou, desafiando-o.

“Rude.” Murphy deu de ombros, não se dando ao trabalho de encará-la.

A Griffin arrumou os pacotes do que seria seu almoço, levando-os até a mesa de centro onde John apoiava a perna enfaixada. Não era daquela forma que ela se imaginava passando um dos seus raros dias de folga, aguentando os comentários atrevidos de uma versão ainda mais aborrecida de seu amigo.

Niylah estava certa sobre ele arrumar alguém. Ninguém conseguiria viver daquela forma por muito tempo, nem mesmo John Murphy e seu bendito talento em se meter em confusão.

Clarke distribuiu as caixinhas de comida, ajustando seus hashis entre seus dedos antes de direcionar um sorriso simpático em direção a máscara de indiferença que cobria aquelas feições.

“O que há de errado?” Ela avaliou a expressão contemplativa de seu amigo, notando sua falta de interesse perceptível em sua comida.

Algo nada característico de John e sua fome interminável.

“Eu tenho algo para te contar, mas não sei como. E nem se devo.” Ele brincava com os palitos de madeira, qualquer coisa naquele cômodo bagunçado parecia ser mais interessante que o rosto de Clarke.

O cenho da loira se franziu em pura confusão, estranhando o comportamento peculiar que Murphy manifestava. O silêncio se prolongava como uma forma de consentimento para que ele prosseguisse o que quer que seja que estava passando por seus pensamentos.

John direcionou os olhos claros inexpressivos para a mulher sentada descontraidamente ao seu lado. Uma das poucas pessoas por quem ele conseguia sentir afeto, manter um laço sem que fosse destruído por suas atitudes autodestrutivas.

“Bellamy está em New York.” Seus lábios se umedeceram, os palitinhos em suas mãos cutucando a comida na embalagem. “Ele é o chefe da força tarefa para que eu fui transferido. O destino não é lindo?”

“E você está todo ferrado porque decidiu acertar as coisas com ele.” Clarke completou, o olhar vago fixado na televisão que permanecia ligada em algum romcom. “Você é burro ou o que?”

Murphy emitiu uma risada engasgada, repleta de seu sarcasmo.

“Se chama ‘ficar quites’. Eu preciso ter uma relação saudável com o cara que eu ajudei a espancar há cinco anos, então eu deixei que ele me espancasse como trégua.” O canto de sua boca se curvou em um sorriso preguiçoso. “Eu já sei que eu vou para o inferno, não precisa fazer essa cara.”

“Que cara? A de incredulidade? É a única que eu tenho.” A Griffin sentia a fome se esvair, assistindo John se deliciar com sua refeição. “Como você pode estar tão calmo? É permitido espancar companheiros onde você trabalha? Porque isso é uma forma muito deturbada...”

“Clarke. Respire.” Os olhos azuis a censuravam.

“Eu estou respirando, John. Só é inacreditável que Bellamy tenha concordado com algo tão esdrúxulo. Quantos anos vocês tem? Dez?”

“Tão chocante ele ter concordado, não é mesmo?” Murphy revirou os olhos, voltando sua atenção para sua comida. “É dessa forma que homens lidam com esses assuntos.”

“Homens? Você quer dizer neandertais, não é? Honestamente, eu esperava mais de você.” Clarke cerrou suas pálpebras por alguns instantes, inalando uma lufada de ar para que seus nervos se tranquilizassem. “Niylah não sabe mais o que significa ter bom humor depois que você passou a descontar nela as suas malditas frustrações. Faça o favor de se recompor, Murphy, ou quem vai quebrar o que resta de você sou eu.”

O jeito que ele a encarava lhe estimulava a quebrar sua ameaça com um riso inoportuno, qual ela fez questão de matar em sua garganta. As sobrancelhas se arquearam, surpresas e ao mesmo tempo reforçando o ar cético que sua linguagem corporal exalava.

O que ela esperava? Que John Murphy, de todas as pessoas, fosse leva-la a sério? Oh por favor.

“Eu achei que você ficaria mais abalada.” Confessou distraído, quase derrubando um dos seus rolinhos primavera. “Você sabe, sobre o Blake estar na cidade. Pelo jeito para ficar.”

A amargura se acumulou como um nó em suas cordas vocais, as safiras azuladas avaliando seu amigo a espera de uma elaboração melhor de suas palavras, um sentido exato do que ele queria dizer com aquilo.

Nada veio, apenas a calmaria de sua presença e os gritos de Phoebe Buffay vindos da tevê.

“Eu sei o que ele significou pra você, provavelmente o que ele ainda significa. Eu só espero que você seja sincera com a minha irmã, afinal, eu realmente gosto da nossa amizade e não quero ter que rompe-la por você ter sido uma babaca com ela.”

A seriedade que se manifestava nas palavras de Murphy lhe causou certa surpresa. Não era comum aquele tipo de atmosfera entre eles. As conversas com John sempre envolviam sarcasmo em níveis excessivos, piadinhas de mau gosto, olhares entediados e comentários impertinentes.

Aquela poderia ser uma das únicas vezes em que ele colocava sua sinceridade em jogo, e aquele tipo de emoção lhe cabia como uma luva.

“Esse título já é meu, então não ouse tentar roubá-lo.”

O riso que escapou pelos lábios de Clarke era genuíno, tão franco que refletiu em seu rosto o sorriso largo, satisfeito e cheio de dentes. 

John Murphy não era exatamente um cidadão exemplar, um irmão perfeito, um amigo carinhoso. Ele tinha seus modos de demonstrar afeto, e por mais estranhos que eles fossem, ela os admirava.

Se apenas ele permitisse que enxergassem além da sua máscara de tédio e indiferença, talvez mais pessoas conhecessem o coração puro e cheio de boas intenções que John insistia em esconder à sete chaves.

Para Clarke, aquela amizade correspondia a um valor imensurável. E no que dependesse dela, permaneceria desta forma por muito tempo.

***


O barulho das chaves girando impacientemente no miolo da fechadura fez com que os olhos escuros de Raven se estalassem, erguendo a atenção que antes permanecia fixada em seu celular para a porta exageradamente luxuosa.

Dentro de seu peito, seu coração pulou uma batida assim que seu filho de quatro anos correu em direção a silhueta de Clarke, completamente tomado por uma alegria contagiante.

A Griffin resmungou alguns palavrões antes de ser recepcionada pelos pequeninos braços de Robbie envolvendo seus joelhos como se sua vida dependesse disso, só então levantando o olhar para o rosto sorridente de sua melhor amiga e confidente.

E caramba, o tempo estava fazendo maravilhas para aquela mulher.

“Oh, então esse é o motivo da minha porta estar destrancada.” Os lábios de Clarke se alargaram, exibindo os dentes perfeitamente alinhados antes de tomar o garoto em seus braços, apertando-o contra seu peito com toda a afeição que nutria em seu ser. “Eu nem acredito que meu chiquito está aqui, que saudade.”

“Muito feliz em me ver também, eu notei.” Raven se acercou, abraçando-os e aconchegando sua cabeça no ombro da Griffin por alguns instantes, o conforto de sua proximidade dizimando a instabilidade que a saudade lhe causava.

“Tia Clarke, mama deixou que eu passasse a hora de dormir hoje para te esperar.” Robbie emoldurou o rosto de sua madrinha com as mãos pequeninas, o sorriso ressaltando a covinha em sua bochecha. “Estive com tantas saudades. Por que você não foi mais nos visitar, tia? Eu não gosto de ter que escolher entre sentir saudades de você ou do papa.”

A loira o fitou ternamente, o azul de seus olhos se suavizando ao estudar a feição tristonha de seu afilhado. Raven a observava da mesma forma meticulosa que costumava fazer, as mãos acariciando os cabelos loiro escuro de seu menino.

“Desculpe, Robbie. Sinto muito que seu papa não pode vir. Tia Clarke tem passado muito tempo cuidado de pessoas doentes, não pude te visitar antes por isso.” Ela depositou um beijo estalado na bochecha rosada do garotinho antes de descê-lo de seu colo. “Você já conheceu a Charlie? Tenho certeza que ela vai adorar você.”

“Vá, chiquito. Pode voltar a brincar com ela, mas assim que nos acomodar nós iremos dormir.” Raven direcionou a ele uma de suas advertências maternas, vendo-o se sentar empolgado ao lado da cachorra que o recebeu alegremente.

Clarke assistiu toda a cena com a mais plena satisfação estampada em seu rosto, se perguntando se aquele instinto maternal sempre esteve na essência de sua amiga. Desde que a conheceu, Raven tinha o dom de mandar em outras pessoas, de cuidar delas também. Seu zelo e sua dedicação eram características admiráveis.

Nunca houve dúvida alguma de que a Reyes seria uma ótima mãe, e vendo seu afilhado tão educado e bem cuidado, ela não conseguia evitar a faísca de orgulho que se ascendia em seu peito.

Raven a tirou de seus devaneios para envolve-la em mais um abraço, dessa vez um mais demorado, mais preciso. A loira respirou fundo, o nariz se afundando no ombro de sua melhor amiga, o calor que emanava de seu corpo lhe trazendo o pouco de paz que ela vinha precisando.

E tomou muito de seu autocontrole para não começar a chorar ali mesmo, enquanto inalava a fragrância adocicada do shampoo de Raven, se permitindo ser amparada por seu porto seguro.

“Eu sei que você está se segurando para não chorar.” A morena murmurou, suas palavras se abafando nos cabelos dourados. “Não precisa se segurar mais, eu estou aqui agora, Clarke. Me desculpe por não estar antes.”

A Griffin apertou-a ainda mais em seu abraço, ouvindo-a grunhir em resposta. As lágrimas queimavam os cantos de seus olhos, umedecendo seus longos cílios. Era aquilo que a saudade fazia, ela doía, machucava.

Estar novamente na presença de Raven Reyes significava ter que tirar sua máscara, sem mentiras ou omissões. Ela era uma das únicas pessoas que a conheciam melhor até mesmo que sua própria mãe, um dos pilares essenciais que a mantinham de pé.

Clarke não sabia exatamente o poder que um abraço tinha até sentir os braços de sua melhor amiga lhe acolherem. Sem dúvidas, aquela poderia ser a maior medicina de todas.

 “Eu precisava disso.” A voz embargada a denunciou, fazendo com a Reyes se afastasse o suficiente para encará-la.

Os dedos gentis limparam os rastros das lágrimas que escorriam ousadas pelas maçãs de seu rosto, deslizando pelos círculos escuros que envolviam as safiras opacas. Ela estava cansada, perdida. Seus olhos vagos refletiam tudo o que seus lábios falhavam em proferir.

E Raven sabia melhor do que ninguém como ela se sentia. Sua dor era também a dor dela. Sempre foi assim e sempre seria. A conexão que ela e Clarke possuíam ia muito além de sua amizade de anos, além de laços sanguíneos ou meros rótulos. Era algo de alma, de âmago.

Um vínculo único que ela só sentiu duas vezes na vida, e uma foi ao ter seu filho pela primeira vez em seus braços.

“Eu sei.”

Clarke assentiu, o canto de sua boca se curvando debilmente antes que um riso engasgado escapulisse.

“Octavia vai ficar tão feliz, mal posso esperar para nos reunirmos novamente.”

Raven sorriu ao escutar o nome da Blake mais nova, imaginando como seria maravilhosa sua estadia naquela cidade. Algo lhe dizia que tudo daria certo, que finalmente os coelhos sairiam das cartolas e a paz reinaria.

Talvez as coisas não voltassem a ser como antes, não é assim que funciona quando algo se quebra. Porém, nela crescia aquela sensação de que tudo seria ainda melhor, uma positividade que emanava no castanho caloroso de seus olhos e na determinação de seu sorriso.

Sua boca se abriu para mais um de seus comentários sarcásticos, sendo interrompida pelo toque incessante do celular de Clarke.

“Falando no demônio... Hey, O! Você não sabe-”

“Clarke, é uma emergência. Onde você está? Eu preciso da sua ajuda.” Octavia disparou. “É Olivia, eu não sei o que ela tem, eu-”

A Blake soava chorosa, desesperada. Os músculos de Clarke se retesaram na mais pura preocupação, os olhos alarmados se fixando nos inquisitivos de Raven.

“Calma, Octavia. Respire. Respire. O que aconteceu? Eu estou em casa, onde você está?” A Griffin tentou acalma-la, sussurros tranquilizantes ecoando do outro lado da linha.

“Olivia. Clarke, eu não sei o que ela tem, está queimando em febre e eu não sei o que fazer. Estamos no carro, eu estou presa no trânsito, meu Deus.”

“Vá para o meu hospital, ok? Eu estou indo para lá. Em quinze minutos eu te encontrarei na entrada da Emergência, tudo bem? Fique calma O, está me ouvindo? Tenha calma. Te vejo daqui a pouco!”

A loira desligou o celular, a preocupação que estampava seu rosto também se refletia no da morena.

“Eu preciso ir para o hospital, Rav. Octavia está precisando de mim, aconteceu algo com Olivia.”

Raven foi até Robbie, puxando-o para seu colo antes de parar na frente de Clarke.

“Mostre o caminho, Griffin.”

Clarke assentiu, agarrando sua bolsa antes de passar pela entrada de seu apartamento como um foguete em direção ao elevador, Raven em seu encalço.

Com certeza, aquela seria uma longa noite.

***

Mais um dia de papelada para preencher e relatórios a serem avaliados e ele certamente precisaria de uma licença médica para que sua mente não lhe traísse. A parte burocrática de ser um agente federal nunca lhe atraiu, e em momentos como aquele, se tornava ainda mais desagradável.

Bellamy era um soldado de campo. Sua vida era a adrenalina, os machucados, as cicatrizes. Tudo passava a fazer sentido quando crimes eram resolvidos e justiça era servida. O gosto da satisfação pinicando em sua língua, a sensação de dever cumprido tranquilizando seu corpo e mente.

Ele não trocaria tudo aquilo por nada. Exceto, talvez, a parte da papelada que faziam as horas de reclamação de Octavia sobre seu casamento parecerem fichinha.

Naquele dia, em especial, se tornava ainda mais difícil manter o foco. As imagens da noite anterior brotavam diante de seus olhos com a mais simples das distrações, criando vida e se espalhando por seu consciente como ervas da ninha.

Nada era capaz de extinguir a sensação de ser sufocado que aquele ponto e vírgula lhe causava. Não havia desfecho algum, longe disso um ponto final. A porta que garantia acesso a todos aqueles sentimentos estava mais aberta do que jamais esteve, uma fachada com letras garrafais em neon piscando em sua cabeça.

Frustrado, ele bufou ao jogar a caneta que tinha em mãos sobre seu gabinete rispidamente. O gesto se tratava de mais uma tentativa falha de aliviar seu aborrecimento, um lembrete para si mesmo que nada jamais iria funcionar de acordo com suas vontades.

Bellamy pescou o celular no bolso de sua calça cargo escura, o número de Miller sendo discado para mais uma de suas sessões de desabafos.

E só Deus sabe o quanto elas estavam se tornando cada vez mais frequentes.

“Blake, me diz que é um caso de vida ou morte, ou serei obrigado a desligar na sua cara.” O timbre de Nathan soava como resmungos sonolentos de alguém que havia sido acordado, seu mau humor acentuando cada palavra. “Já tentou ter uma vida? Ou então algumas horas de sono, sabe como é, para não atrapalhar a dos outros.”

Um riso enguiçado escapou pelos lábios do Blake logo após ele jogar todo seu peso no encosto de sua poltrona.

“Muito bom ver que nossa amizade é um fardo pra você, Nate. Vou me lembrar disso enquanto decido se você será ou não um dos meus padrinhos.”

“Isso não precisa ser decidido, é subintendido.” O moreno suspirou. “Ao que devo o prazer dessa conversa? Se está trazendo à tona o assunto de padrinhos é porque a noite correu como tinha que ser, uh? Pronto para encarar a realidade do mundo dos casados? Louça suja e discussões não faltarão.”

O silêncio causado pela hesitação se manteve por tempo demais, tanto a ponto de fazer com que Nathan pigarreasse para trazê-lo de volta para a realidade, longe da tempestade de devaneios que transbordava suas ideias.

“Não acho que seja muito diferente do que a gente já vive há alguns anos, mas sim. Me respeite Nate, eu já nasci pronto.” Seus lábios se alargaram em um de seus sorrisos marotos. “Tem algo me incomodando e eu precisava conversar com alguém, exterminar esses fantasmas.”

Bellamy pode jurar que o escutou grunhir do outro lado da linha. Nathan Miller, sempre tão prestativo. Um melhor amigo exemplar em seus momentos de mau humor.

“Você está familiarizado com ataques de pânico?” Bellamy indagou ao tirar o óculos de descanso que usava para leitura. “Eu jamais imaginei que eles fossem tão assustadores.”

“Eu tenho um ataque de pânico sempre que Bryan começa a falar sobre adoção. Acho que conta, não?”

“Oh, seu senso de humor já renasceu das cinzas.” Os olhos do Blake se reviraram em suas órbitas, seu corpo deixando o conforto de sua poltrona para admirar a vista que seu escritório proporcionava pela janela. “Estou falando sério, Nate. Eu vi Clarke ter um diante dos meus olhos, e literalmente não sabia o que fazer.”

A ligação ficou muda por alguns segundos, as palavras fugindo da boca de Miller que se abriu e fechou por vezes demais antes de se manifestar sobre o assunto.

“Em qual parte disso tudo entra Clarke Griffin?” Sua pergunta soou despreocupada, mas Bellamy o conhecia bem o suficiente para saber as intenções por trás dela.

“Entra na parte que ela estava lá, no mesmo restaurante em que eu propus casamento para Gina, assistindo tudo a apenas alguns metros de distância e me deixando completamente desesperado ao encontra-la tendo um ataque de pânico alguns minutos depois.” Sua mão se escondeu no bolso de sua calça, o olhar vago transportando-o momentaneamente para a noite passada.

“Wow. Só... wow. Não sei nem o que dizer, porque claramente o destino gosta bastante de tirar com a sua cara. Essa coincidência infeliz é prova viva disso.” O riso de seu melhor amigo fez com que ele soltasse um resmungo frustrado ao se perguntar se tudo aquilo realmente era coisa do destino. “E o que mais? Quero dizer, deve ter tido um significado para você.”

Não fazia sentido existir um Deus que gostasse tanto de tirar com a sua cara. Mas mesmo com tudo isso, ele se sentia incapaz de largar sua fé. Se sua mãe havia lhe ensinado algo, isso era aceitar que as coisas aconteciam porque elas tinham que acontecer.

Nada acontece por acaso, e sim por parte de um plano maior, completamente fora de seu entendimento.

Bellamy nunca foi e nem seria exatamente um cara religioso, porém essa era a sua forma de ver as coisas, de aceita-las. E talvez por essa razão ele gostava de acreditar que Clarke Griffin havia aparecido por um motivo.

Era uma ótima maneira de impedir que sua sanidade fosse pelos ares junto de seu bom senso.

“Eu não sei... olhar para ela é lembrar como eu me senti ao tocá-la, é reviver o sonho lindo que tivemos juntos, é trazer de volta seu gosto e a sensação de senti-la.” Bellamy piscou freneticamente, tentando se manter são em meio a suas próprias palavras. “E é como se não tivéssemos passado cinco anos longe. Como isso é possível, Nate? Como alguém pode fazer com que eu me sinta dessa forma tão... vulnerável?”

Havia um conflito gigantesco causando caos dentro de si. Relembrar tudo aquilo, se ouvir proferir tais palavras com tanta sinceridade lhe desestabilizava, o fazia esquecer por um instante tudo de ruim que havia acontecido em seu passado.

Foi um erro tê-la tocado. Mesmo sabendo que ele era o único que poderia libertá-la do estado caótico que se encontrava naquele momento de desespero, nada disso o fazia se sentir melhor.

Mas quando Bellamy Blake se colocou em primeiro lugar em sua vida? E novamente, ele tinha que pagar pelo preço de suas escolhas.

E sim, ele escolheu salvá-la. Ele escolheria salvá-la um milhão de vezes.

“É como um déjà vu mal feito de cinco anos atrás.” Nathan suspirou, a calmaria em sua voz se transformando em compreensão. “Você sempre vai se sentir dessa forma quando ela estiver por perto. É como fogo e gasolina, e acho que nunca vai mudar.”

“Isso é realmente reconfortante, Nate.”

A porta de seu escritório se abriu, o rosto bonito de Mel entrando em seu campo de visão conforme ele lia as palavras que seus lábios proferiam silenciosamente. Leitura labial não era exatamente um de seus fortes, mas se ele estivesse certo, algo bastante urgente havia acontecido.

“Eu vou ter que ir Nate, surgiu algo para ser resolvido. Nós falamos mais tarde, tudo bem?” Seus olhos não desviaram nem por um instante da moça impaciente diante de sua presença.

“Por favor Bellamy, não faça nada que vai se arrepender, certo? Coloque suas prioridades em mente. Nos falamos depois, de preferência em um momento em que você não me acorde no meio da noite.”

Bellamy desligou a chamada, a sensação de que algo estava muito errado se alojando na boca de seu estômago à medida que o timbre melodioso de Mel penetrava seus ouvidos.

“Sua irmã ligou, disse que não conseguia falar com você. Aconteceu algo com sua sobrinha.”

A visão de Bellamy se escureceu por uma fração de segundos, o pânico lhe invadindo como resposta ao pesadelo que se criava em sua mente diante do que aquelas palavras significavam.

“Elas estão no Griffith Memorial. Vá!”

E a última coisa que ele se lembra antes de pegar sua jaqueta e passar por aquela porta como um borrão, era de ter pedido a qualquer força maior que nada de mau tivesse acontecido com suas meninas.

Bellamy Blake era capaz de resistir a tudo, menos a possibilidade de perder sua família.


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Notas finais do capítulo

Primeiramente, mil perdões pela falta de Bellarke nesse capítulo. Eu seeeeeeeeei que vocês são MUITO ansiosas pra ver como as coisas vão acontecer, como os dois vão se encarar, e vocês vão ver isso no próximo capítulo que já está 2/3 escrito, eu prometo prometidinho mesmo. Entretanto, porém, contuudo... esse capítulo uma porta se abriu (ou se fechou? nem sei mais, to cafusa). Bell pode conversar com o bestie dele como ele se sentiu, e acho que isso abre expectativas, ne nom? O sentimento tá lá mais do que nunca, mas e agora com o casamento? E agora com a Clarke prestes a contar o segredo que tanto agonia ela? O momento que tanto esperávamos aconteceu, e eu precisava MUITO dar um desfecho pra cena do Kane com a Gina, afinal, assim como o Bell, ele não ia simplesmente conseguir deixar a coincidência de laaaaaaado. Vocês não tem noção do quanto eu amei essa cena, do quanto foi especial escrevê-la... Eu espero de coração que vocês tenham gostado tanto quanto. E o Murphy ein? EU DEIXEI UNS EASTER EGGS PRA VOCÊS E NINGUÉM NOTOU. Né possível que eu fui tão sutil assim!!11 Raven chegandoooooooo... o que será que vai sair disso? Sempre algo bom quando nossa gênia mecânica tá envolvida.
E quanto as expectativas e a espera pela próxima cena Bellarke, o que eu posso dizer é que o tombo está mais perto do que vocês imaginam. Não desistam de mim ainda, eu tenho pontas nesses plots para dar nós e buracos para serem fechados para que tudo faça sentido. Tenham paciência comigo, próximo capítulo eu PROMETO compensar vocês.

AS TEORIAS. MEU DEUS, AMO DEMAIS. VOCÊS ESTÃO ARRASANDO! CONTINUEM ME MANDANDO ELAS, EU TO ABSOLUTAMENTE EXTASIADA COM ELAS. E me deixem comentários, ok? Se vocês não conversarem comigo eu não tenho como saber se estão gostando, o que estão esperando, o que estão pensando, o que vocês querem, o que imaginam, o que sonham, enfim... NÃO TENHO COMO SABER. A Força não me permitiu ter poderes advinhos ainda! AINDA. Por isso, me amem um pouco, ok? Porque mamain aqui ama vocês.

De qualquer forma, finalizando essa nota final que nunca acaba: próxima atualização tá quase lá. Mais uma cena crucial e eu fecho. Por isso, ACHO que não irei demorar, porém as provas do primeiro bimestre tão aí, talvez fique um pouco corrido pro meu lado. De qualquer forma, tentarei voltar com att o mais rápido possível ok?

Beijinhos, meus padawans. Que a Força esteja com vocês sempre! Mwaa!



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