Once In a Lifetime escrita por selinakyles


Capítulo 25
Heavy lies the crown.


Notas iniciais do capítulo

É NATAL, MEUS PADAWANS!
E aqui estamos nós com a última atualização de OIAL desse ano. Muita coisa aconteceu, uh? Que 2017 venha cheio de Bellarke moments para acalentar nossos pobres corações de shippers.

Está betadíssimo pela beta mais linda e genial desse mundão! Espero que gostem.
Divirtam-se!



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Chapter twenty five –


Vinte e dois anos atrás –

Bellamy observava as paredes excessivamente brancas como se aquele lugar pertencesse a uma dimensão completamente diferente. Para uma criança de quatro anos e meio, tudo aquilo parecia muito interessante, assustador.

E era justamente tentando conter a curiosidade explícita em seus olhos escuros levemente arregalados que Aurora segurava firmemente em sua mão, impedindo-o de sequer cogitar sair de seu lado.

“Mamãe, o que é esse lugar? Nós vamos encontrar com os anjinhos do papai do céu?” A inocência refletida nas palavras do pequeno fez com que um sorriso terno brotasse no rosto jovial da Blake, sua mão livre acariciando a saliência em sua barriga onde sua pequena dádiva crescia forte e saudável.

“Lembra quando a mamãe te explicou sobre sua irmãzinha ser um milagre do papai do céu crescendo aqui dentro da minha barriga?” Bellamy assentiu calorosamente, levando a mãozinha até o abdômen de sua progenitora. “O pequeno milagre da Abby e do Jake nasceu hoje, agora ela é um anjinho do papai do céu, um presente.”

“Um anjinho? Ela tem asas, mamãe? Anjinhos não vivem no céu junto das estrelinhas? Minha irmãzinha também vai virar um anjinho quando sair da sua barriga?” Ele questionava continuamente, hiperativo.

Bellamy coçou a nuca, afastando as ondas negras de seu cabelo para que elas não continuassem caindo em seus olhos. A finca que se criou entre suas sobrancelhas denunciava a confusão que o emaranhado de dúvidas estava causando em sua cabeça.

“Não, ela não tem asas, Bellamy. Ela é um anjinho sem asas que papai do céu enviou para que eu e Abby pudéssemos amar da mesma forma que a sua mamãe te ama.” Jake abriu a porta do quarto, ganhando a atenção do garoto que correu em sua direção logo em seguida, agarrando suas pernas e lhe direcionando as íris escuras repletas de admiração.

Era impossível não sentir a onda de afeição tomar conta de seu peito. A pureza que havia naquela criança o fazia querer ser alguém melhor, trazia o anseio de protegê-lo de tudo e todos. Um sentimento que ele passou a sentir em proporções ainda maiores após ver o rostinho gordinho e delicado de sua filha pela primeira vez.

“Você está deixando-o confuso, Aurora.” O canto de seus lábios se ergueu ao assistir sua amiga revirar os olhos em replica a sua crítica. “Bellamy é um garoto esperto, não complique as coisas para ele.”

Jake o tomou em seu colo, assentindo em direção ao quarto onde Abby estava instalada.

“Jacob Griffin, pai do ano.” Aurora ironizou, a mão ainda acarinhando sua barriga ao passar por ele e então abrir a porta. A esposa de seu melhor amigo segurava em seus braços a mais nova integrante da família, agasalhada por seu cobertor cor de rosa.

O cansaço nítido no rosto daquela mulher não tirava nem por um segundo o esplendor daquela imagem, daquele momento. Abigail tinha em seu colo um pedaço de sua alegria, de seu coração, e dali em diante não haveria nada no mundo que se comparasse com aquele sentimento.

Amor. Do mais puro, mais pleno, mais sincero.

“Aurora, Bellamy, conheçam nossa princesa, Clarke Elizabeth Griffin.”

Abby sorriu genuinamente ao ouvir o nome da filha sair como música dos lábios de seu marido, os olhos amendoados expressando a felicidade que dominava todo seu ser ao encarar seus visitantes.

“Mamãe, ela é uma princesa? Não era um anjo?” Sua atenção vacilou entre os três adultos, Jake riu enguiçado da persistência do garoto em fazer milhares de perguntas.

A Blake se aproximou do leito, acariciando os fios desalinhados do cabelo da Griffin mais velha, admirando o pequeno ser humano que permanecia imersa no mundo dos sonhos. As bochechas salientes, o tufo loiro em sua cabeça, as pálpebras ocultando de quem havia herdado a cor de seus olhos.

“Você quer segurá-la?”

Aurora prendeu as esmeraldas receosas no rosto sereno da amiga, não deixando de notar a exaustão em seu semblante. Seus olhos se fecharam por alguns segundos, aos poucos a fadiga lhe consumia.

E então ela assentiu, incapaz de esquecer qual a sensação de ter um ser tão pequeno em seus braços. A pequenina se remexeu em seu colo, Jake abriu espaço indicando a poltrona para que ela se sentasse.

“Ela já está alimentada. A enfermeira irá me chamar quando...” O timbre sonolento e a forma que seus olhos falhavam em se manter abertos dificultavam o sentido em suas palavras. “...quando for a hora.”

Jake colocou Bellamy no chão para que ele fosse até sua mãe. Seus lábios pousaram sobre a testa de sua esposa, afagando seus cabelos carinhosamente conforme ele a assistia sucumbir ao sono. Ela havia suportado demais nas últimas horas, coisas que ele gostaria de poder compartilhar para que ela não tivesse que passar sozinha.

Mas ele ainda era apenas um homem. Suas responsabilidades eram esdruxulas, não poderiam jamais ser comparadas com o sofrimento e a exaustão de colocar uma nova vida no mundo. E por essa razão ele sempre a admiraria, como a mulher forte e determinada que ela sempre fora.

Ele se contentaria em dar a ela tudo o que ela precisasse para que aquela jornada, a mesma que se iniciou há alguns instantes atrás com o primeiro choro de sua filha, não se tornasse um peso e sim algo bom, proveitoso. Jake estaria lá enquanto ela o quisesse, e ele só poderia esperar que isto incluísse um ‘para sempre’.

Aurora admirou a garotinha por mais alguns instantes, só então notando o olhar curioso de seu filho por cima de seu braço. O garoto estendeu a mão, acariciando os dedinhos rechonchudos da criança, sentindo-os envolver os seus.

Os olhos despertavam vagarosamente, e neles se revelavam o mais belo tom de azul que ela já havia visto.

“Ela tem cor de céu nos olhos, tio Jake!” Bellamy exclamou, ficando nas pontas dos pés para que pudesse ter uma visão melhor do bebê que aos poucos abria para ele um sorriso banguela.

Jake os admirava incapaz de tirar de seu rosto o gesto que expressava toda a avalanche de emoções que ele mantinha dentro de si naquele dia. Não queria chorar, não era seu feitio, mas era compreensível tal reação quando palavras não eram suficientes.

Ele bagunçou os cabelos negros do garoto, os olhos claros de Aurora se prendendo nos seus ao se comunicar com a habilidade que só quem nutre muitos anos da mais pura e recíproca amizade é capaz de fazer.

Naquele contato ele era capaz de compreender perfeitamente o que se passava por sua cabeça, a mensagem que ela tinha verdadeiramente a intenção de lhe passar.

Vai ficar tudo bem, você será um ótimo pai.

“Olá Princesa, eu sou o Bellamy! Não sei ainda se você é mesmo um anjo, mas seus olhos tem a cor do céu, então acho que você veio mesmo de lá.”

Aurora riu, assistindo diante de seus olhos toda uma geração se iniciar.

E se tudo corresse como deveria, livre dos erros cometidos por seus pais.

Dias atuais -

Pesada é a coroa!

Sucessor das Collins Consolidações se casa com herdeira de um dos maiores hospitais do país em cerimônia privada, neste último domingo (14), no belo jardim da mansão Collins em Arkville, Georgia.

 The DC Sun –

 

Conto de fadas!

Tudo sobre o casamento inesperado de Finn Collins, o queridinho do mundo dos negócios.

 Star – Sua fonte número um em notícias de famosos

 

É oficial!

O casamento secreto de Finn Collins em sua cidade natal.

Tudo sobre a noiva, seu amor de infância e como se conheceram.

 In Touch Magazine –


Bellamy sentiu seu estômago se revirar em puro asco ao ler as capas daquelas revistas, sentado em uma das poltronas da recepção, cansado e bastante irritadiço com toda a espera. Obviamente, aquele momento em particular estava tornando o que era para ser um de seus melhores dias em um de seus piores.

E no final das contas, tudo realmente girava em torno do umbigo do maldito Finn Collins e seu conto de fadas com a princesa prometida. Ele bufou impaciente, o mau humor se fundindo em seu estado de espírito como um maldito parasita.

Eles não mereciam isso. Não mereciam que ele passasse o seu primeiro dia em Washington com um humor de cão por algo que sequer lhe dizia respeito, não mais. Clarke e Finn poderiam dar as mãos e sair pelo mundo, para ele não fazia mais diferença alguma.

A raiva era inevitável, mas daria uma trégua em algum momento. Afinal, ele estava mesmo começando uma nova etapa onde tudo poderia acontecer. Seria questão de tempo para que seu passado deixasse de interferir em seu cotidiano, trazendo a amargura familiar em seu paladar.

Tudo aquilo, aqueles acontecimentos, aquelas escolhas, só provava o que seu subconsciente estava tentando lhe dizer todo esse tempo.

Não era para ser, Bellamy. Nunca daria certo porque simplesmente não era para dar certo. As coisas acontecem quando elas têm que acontecer, não há como burlar algo que já estava fora do seu alcance.

Ele entendia agora, muito obrigado. Por mais que quisesse permanecer naquele ciclo vicioso mais do que tudo, por mais que aceitar que ela nunca seria completamente sua lhe doesse como uma maldita faca rasgando suas entranhas, ele tinha que ter em mente a hora de parar.

E a hora era aquela. A hora é esta.

A secretária se posicionou atrás de sua mesa, deixando de lado o livro que tinha em sua posse. Sua postura era quase impecável, exceto pelo sorriso bastante desconcertado ao notar que ele tinha revistas de fofocas em mãos e certamente um semblante nada amigável.

“Elas são minhas, Sr. Blake. Lugar errado.” A mulher – que na percepção de Bellamy não deveria ser muito mais velha que ele – se manifestou, juntando as revistas em seus braços e escondendo-as nas gavetas de sua mesa. “Imagino que estivesse se perguntando o que revistas de fofocas fazem em um ambiente tão profissional, peço perdão pela indiscrição.”

O Blake cerrou os lábios na tentativa de conter o riso, dando de ombros. Não era da sua conta se a secretária de seu futuro chefe gostava de se informar sobre a vida dos outros, não condizia a ele expressar seus julgamentos.

Mesmo que àquela altura, eles já estivessem explícitos em seu semblante.

Os olhos castanhos se fixaram no livro que ela a pouco segurava, tentando ao máximo conter sua curiosidade.

“Você gostou?” Ela o encarou com o castanho claro de seus olhos se perdendo em confusão.

A mulher se remexeu, um gesto claro de desconforto. Charles Pike sairia daquela sala a qualquer momento, e Bellamy compreendia o porquê de ela estar tão incomodada com sua pergunta.

“Das revistas?”

“Do livro.”

Os dedos passearam atrapalhados pelos fios cacheados, a pele tão branca e suave se contrastando com o leve rubor em suas bochechas – detalhe que o moreno não deixou passar despercebido, assim como o fato de a cor de seus olhos parearem com as de seu cabelo.

“Ilíada. É um dos meus favoritos.” O sorriso cantineiro se criou em seu rosto, o assunto fazendo maravilhas para seu humor fadigado. “Grécia antiga é uma paixão particular.”

O brilho que a mulher adquiriu em suas íris ganhou sua completa atenção pelos segundos seguintes em que ela se manteve calada, olhando-o.

A porta se abriu abruptamente, revelando Charles Pike com uma disposição de causar inveja, o encarando com um sorriso quase intimidador, se não exacerbadamente entusiasmado.

“Blake! Você me enrolou tanto que eu realmente pensei que teria que ir até Chicago busca-lo.” O mais velho lhe estendeu a mão, apertando-a firmemente ao retribuir o gesto. “Vejo que Gina fez um ótimo trabalho lhe recepcionando.”

Gina era seu nome, a garota dos belos olhos em um tom enigmático de castanho e com um gosto único em revistas de fofocas. Fazia sincronia com os traços latinos de suas feições e as bochechas levemente rosadas que acrescentavam charme ao marfim de sua pele.

“Não acredito que seria necessário, senhor. Estou aqui, não estou?” Bellamy a fitou por mais alguns instantes, assistindo-a desviar sua atenção para os pertences em sua mesa, acanhada. “Gina é bastante simpática, sim.”

Pike riu, indicando a entrada de sua sala para que ele passasse.

“Foi um prazer, Gina.” Sua voz era firme, rouca.

“Seja bem vindo a Washington, Sr. Blake.” Foi a vez dela de repuxar seus lábios carnudos, realçando a marca de expressão em sua bochecha.

O Blake assentiu, seguindo o mais velho e fechando a porta logo após sua entrada. Charles mostrou a cadeira para que ele se sentasse, fazendo o mesmo assim que o mais novo se acomodou de frente para ele.

Os olhos escuros o encaravam determinados, por mais que por dentro Bellamy estivesse sentindo ondas de ansiedade atravessar sua espinha e se alojarem em seu estômago. Elas eram terrivelmente desagradáveis, tanto quanto a tensão explícita em seus ombros.

“Bem, eu adoro talentos. Eu posso farejar potencial da mesma forma que um perdigueiro fareja sua caça.” Pike começou ao cruzar os braços em seu peito, soltando seu peso no encosto de sua cadeira. “Eu vejo isso em você, Blake. Você é uma estrela em ascensão, e eu quero isso na equipe tática que eu estou montando. Você é o diamante bruto e eu serei aquele que irá te lapidar.”

Bellamy segurou a vontade súbita de franzir o cenho diante daquelas comparações inusitadas. Charles o encarava firmemente, demonstrando toda a seriedade que o assunto demandava.

Ele era o chefe, no final das contas.

“Para isso eu preciso que você passe três meses na academia do FBI. Quântico vai dar a você todo o conhecimento que necessita para começar, vai conhecer novas pessoas, ver novos rostos. Vai ser bom pra você, Blake. Vai crescer profissionalmente, ter uma carreira que possa se orgulhar.”

O moreno crispou os lábios, umedecendo-os antes de se manifestar. Aquele homem tinha a certeza em suas palavras, uma determinação contagiante em sua voz, e por mais que seu ego fosse inflamado, ele lhe transmitia uma segurança acolhedora.

Era daquilo que ele mais necessitava naquela fase de sua vida: estabilidade, solidez.

Bellamy sentiu intensamente dentro de si a convicção de que era aquilo, aquele era seu futuro, aquilo era para acontecer, era para dar certo.

Não haveria nada no mundo que o impedisse de crescer, se jogar no desconhecido de suas novas escolhas, enfrentar seus medos para alcançar o que o destino lhe reservou.

“Quando começo?”

E caramba, aquela sensação de vida nova era deliciosa.

***

Um casamento porcamente planejado, muitas brigas, uma anulação e três meses depois foram o suficiente para que Clarke alcançasse exatamente o ponto que almejava em sua vida.

O que ela havia feito causou repercussões que ela jamais imaginou que poderiam ser possíveis. Ao que parece, o mundo dos negócios não estava preparado para ter o rosto do herdeiro das Collins Consolidações estampado em tabloides como o trapaceiro mulherengo que era.

A verdade dói, e isso era tão incontestável quanto o acordo nupcial que Finn havia concordado em assinar para que Clarke estivesse finalmente em sua posse, após todos esses anos de tentativas frustradas. Não por muito tempo, era o que parecia.

Afinal, ele não pensou duas vezes em deixa-la sozinha nas diversas ocasiões em que foi se encontrar com uma determinada morena – a mesma que os paparazzis tão eficientes reconheceram como Echo Omaha, em carne e osso.

Margareth Collins nunca se sentiu tão envergonhada, e tal razão a fez escolher a dedo os advogados tubarões que contratou para que tudo aquilo ficasse por debaixo dos tapetes. Para que a sua tão sonhada nora não deixasse para ela o fracasso de seu filho e levasse a única coisa que a prendia àquela família: as ações de seu tão afeiçoado hospital.

Mas não dessa vez. Não havia contratos que não poderiam ser desfeitos, exceto quando eles eram minunciosamente elaborados por um dos melhores advogados de todo o país. Neste caso, nem mesmo um cardume de tubarões, todos muito bem pagos, seria capaz de apagar o sorriso sórdido explícito em seu rosto ao sair do ninho de cobras que era aquela mansão.

Então, realmente, não foi uma escolha difícil de fazer.

Echo recebeu sua parte do acordo, decidindo estender por mais alguns meses a relação ridícula que tinha com o atual ex-marido de Clarke. Não que ela acreditasse que o que aqueles dois tinham pudesse envolver qualquer tipo de sentimentos, mas no final das contas, ela era incapaz de se importar.

Provavelmente não havia nada e nem ninguém capaz de fazer com que Raven e Octavia a perdoassem. Nada além do tempo, e ela gostava de acreditar que em algum momento este estaria ao seu favor.

Escolhas sempre vêm com um preço, e a loira estava muito mais do que disposta a pagá-lo. Seu coração se apertou ao lembrar-se da última ligação da Blake, sua voz tão cheia de mágoa e decepção que fez com que ela até mesmo se odiasse por alguns minutos. A Reyes pedindo por um tempo para que ela pudesse compreender verdadeiramente o que tudo aquilo significava.

E para Clarke aquilo significava dever cumprido, significava liberdade e muito mais do que isso, significava o legado de seus pais.

Então, por que ela parecia tão incapaz de se sentir completamente em paz?

As portas do elevador se abriram, revelando um Wells Jaha tão sorridente quanto uma criança após a ceia de Natal.

“Você conseguiu!” Ele a abraçou, fazendo com que a mala em suas mãos caísse no chão junto das outras.

Clarke afundou seu nariz no suéter azul de seu melhor amigo, se aconchegando em seu abraço e se deixando levar pela fragrância amadeirada tão familiar. O conforto que os braços de Wells traziam ao envolverem seu corpo parecia ser tudo o que ela vinha precisando todos esses meses, todos os anos que ele passou longe.

E era exatamente por toda essa intimidade, pela conexão que eles tinham desde antes mesmo de se entenderem como gente, que a loira falhou completamente em segurar as lágrimas roliças que já manchavam seu rosto pálido, acompanhadas de um soluço lastimoso.

“Você conseguiu Clarks.” Wells se afastou para poder analisa-la. As mãos grandes segurando seu rosto como se aquela garota fosse quebrar a qualquer momento, os polegares limpando as lágrimas conforme seus olhos escuros procuravam pelos dela, incapazes de encará-lo. “Por que raios você não está feliz?”

A Griffin sugou uma lufada de ar ao tentar cessar o choro, o azul de seus olhos denunciando toda a dor e confusão que se alastrava em seu âmago. Para Wells, Clarke nunca pareceu tão quebrada em toda sua vida.

Aquela realização lhe acertou como um soco no estômago, cruel e certeiro.

“Eu estou feliz. Eu estou!” Clarke se desvencilhou, assistindo-o carregar suas malas para dentro de sua cobertura. “Eu só... Eu... Meu Deus. Eu não sei o que vou fazer, Wells. Eu não sei o que fazer!”

Ele a olhou por mais alguns instantes, percebendo que aquela reação não era exatamente devido aos últimos acontecimentos. Havia tanto que aquele homem não sabia, tantas coisas sobre a vida da sua melhor amiga que ele não fez parte. Ainda assim, ele era capaz de vê-la e decifrá-la perfeitamente.

Nada parecia ter mudado, exceto que aquela Clarke Griffin estava longe de ser a adolescente que andava pelos jardins de sua casa como se fosse o próprio Sol, tão viva e resplandecente quanto.

Sempre tão forte e destemida e ao mesmo tempo tão sensível e delicada. Ela era capaz de lutar pelo que quer que seja, mesmo que por dentro seu coração estivesse em pedaços. Clarke sorria, porque era isso o que o mundo esperava dela. Contudo, Wells via no mar cristalino que eram seus olhos o quanto ela estava desolada por dentro.

“Você não precisa fazer nada agora, Clarks. Nada além de tomar um bom banho, um leite quente e ter uma boa noite de descanso.”

A loira o olhou por mais alguns instantes, a mente se esvaziando conforme seus olhos vacilavam e seu corpo começava a ceder a uma força maior.

“Ei, ei, Clarke! Clarke! O que diabos você tem?” Wells não poupou seu desespero, segurando-a em seus braços e guiando-a até seu sofá.

“Nada, não é nada demais.” Se ela curvou ao esconder o rosto entre suas mãos, o estômago pulando dentro de seu abdômen como se estivesse prestes a sair por sua boca. “Me sinto enojada, Wells.”

Ela levantou seu olhar para que pudesse prendê-lo no de seu amigo.

“Eu perdi o amor da minha vida. Eu o perdi. Sabe qual é a sensação? É como se eu estivesse constantemente me afogando. Eu não consigo respirar!” O Jaha segurou as mãos trêmulas, prendendo-as nas dele. “Eu paguei a mulher que eu mais desprezo para que ela seduzisse meu futuro marido e pudesse metê-lo em um escândalo, para que eu recuperasse o hospital do meu pai e saísse dessa história como a mocinha traída.”

“Não é assim, Clarke. Você sabe que não é. Você não é a pior pessoa do mundo por querer recuperar o que é seu por direito. Não tem nada de deturpado nisso, não faz de você a vilã da história.” As íris escuras se suavizaram em pura empatia, encarando-a da forma que somente ele era capaz de fazer.

“Eu perdi minhas melhores amigas. Raven está grávida e eu não estou lá para vivenciar isso com ela, Octavia me odeia por eu ter partido o coração do irmão dela em milhares de pedaços e logo depois me casar com um cara que é incapaz de ter apenas uma mulher.” Novamente as náuseas faziam com que ela se sentisse desorientada.

“Bellamy? Sério? Wow.” Ele desviou sua atenção por alguns segundos, as lembranças em que os Blake faziam parte criando vida em frente aos seus olhos. “Acho que não é tão chocante assim, ele sempre te olhou como se você estivesse segurando a Lua e as estrelas. E eu pensando que era coisa da minha cabeça...”

Clarke levou a mão até os lábios, a convicção de que algo estava muito errado se alastrando por seu consciente.

“Elas vão voltar atrás, eu tenho certeza. Vocês são inseparáveis, não é um mal entendido que vai acabar com uma amizade de anos.”

“Não, Wells. Eu não acho que dessa vez vai ter conserto, pelo menos não com Octavia. Ela e o Bell...” Ela engoliu a seco, erguendo a cabeça para que a sensação horrenda em seu estômago aliviasse. “São muito unidos.”

O Jaha ponderou, os olhos negros nunca deixando de observá-la. Tinha algo em sua cabeça que gritava em malditos ecos que Clarke estava lhe escondendo algo. O tom de sua pele poderia ser claro, mas nunca seu rosto sempre rosado esteve tão sem vida.

Seu peito se apertou na possibilidade de que ela pudesse estar doente, na simples hipótese que Clarke pudesse carregar em seu sangue a mesma doença que tomou Jake de suas vidas. Ele sentiu seus olhos arderem com sua concepção, assistindo-a se conter diante de sua visão.

“Está tudo bem, Clarke. Vai ficar tudo bem.” Seus dedos impediram novamente que as lágrimas seguissem seu caminho, segurando seu queixo para que ela lhe cedesse sua atenção. “Eu estou aqui agora e eu vou cuidar de tudo o que você precisar. É normal estar se sentindo perdida, você vai superar isso.”

A Griffin o abraçou novamente, a bochecha se apoiando na curva de seu pescoço conforme seus pensamentos se dispersavam em milhares de fragmentos dentro de sua cabeça. Estar na presença de Wells parecia certo, trazia conforto, revivia alguma esperança de que em algum ponto as coisas fossem voltar ao normal.

E se tudo aquilo era para ser todo um ciclo se fechando, não era dessa forma que Clarke se sentia.



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Notas finais do capítulo

Ohhh, poor Clarke!
Eu disse pra vocês todas as vezes que alguém a xingava nos comentários que a parcela dela de sofrimento iria chegar. Que em algum momento, o Bell iria ficar de boa com a vida dele e ela seria a que se arrependeria. A gente sabe que isso não vai ser pra sempre né? É meio óbvio que o tempo vai servir para consertar esses problemas que eles tem com eles mesmos (ou então complica-los ainda mais?), pra fazer com que eles cresçam. E o próximo capítulo vai começar cinco anos depois, então preparem seus forninhos, meus amores, porque vem tiro por ai.
Esse capítulo me serviu para fechar alguns nós. Acho que vocês meio que já esperavam que ela faria isso, só não sabiam que ela teria coragem. E ela fez. Ela casou e descasou depois de três meses. Ela recuperou o hospital da família. Mas e agora? O que isso vai custar? Porque claramente, vai ter um preço e não vai ser baixo, uh? Pesada é a coroa, Princesa. E por essa razão mesmo que eu quero teorias, eu quero opiniões, eu quero ver o que se passa na mente de vocês depois desse capítulo. Já recebi uma teoria genial da minha beta, quase morri surtando, agora quero saber de vocês!

Pra finalizar (que eu já falei demais, pra variar), queria saber como foi o natal de vocês! Eu comi tanto que até agora estou tentando processar tanta comida. Gente, como natal é uma época maravilhosa, né? Tem coisa melhor nesse mundo que comer? Eu quero mais é que o mundo acabe em comida! E tambéeeeeeemmmm, desejar um feliz 2017 para todos meus leitores queridos por quem eu nutro uma afeição sem tamanho. Eu conheço cada um dos rostinhos (e nominhos) frequentes na minha caixa de comentários. Vocês fizeram meu 2016 ser incrível, sem vocês essa história não iria pra frente e eu não me canso de dizer isso e o quanto eu sou grata. Que esse novo ano nos traga tudo o que 2016 não trouxe: BELLARKE! MWAHAHAHAHAHA. Sem mais delongas: feliz ano novo, meus padawans lindos! Que a Força esteja ainda mais conosco nessa nova jornada, hahaha.

Beijinhos,
nos vemos em 2017! Mwa!



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