Seria uma de minhas manias me preocupar com ela? Não, é mais do que isso, é um hábito. Tão antigo que já nem lembro mais como começou. Quem sabe quando trabalhei para a mãe dela e tive que protegê-la ou até mesmo quando nos casamos. A verdade mais dura e imutável é que me preocupar com ela era talvez um dos meus mais antigos hábitos.

Mesmo após o divórcio eu continuei a me preocupar, a prova disso era que as vezes eu me pegava sondando um de seus novos colegas ou até mesmo JJ e as crianças. Rossi sempre disse que a razão de me preocupar tanto com ela é porque eu a amo, lógico que depois do nosso divórcio eu apenas dizia que eu me preocupava com ela por causa das crianças, mas a quem eu queria enganar? Meu amigo que tinha um dom para conselhos amorosos alheiros ou a mim mesmo um homem que ainda ama a ex-mulher?

Me peguei lembrando da minha conversa com Dave antes de chegarmos ao aeroporto no dia que Emily fez a loucura de conseguir salvar aquela garotinha.

—Rossi como você pode deixar Emily fazer aquela loucura? -Eu dizia furioso, mas Rossi pareceu não se importar.

—Que loucura Hotch? Deixar agente Prentiss fazer o seu trabalho? –Ele teve a audácia de me responder isso.

—Você sabe que ela não está cem por cento Rossi, ela poderia... –Eu disse mais calmo, ele notou meu medo e tentou me tranquilizar:

—Mas não foi Hotch, Emily pode não se lembrar da vida de mãe e esposa, mas ela sabe muito bem fazer seu trabalho.

—Oh sim e com sabe. –Respondi ironicamente.

Ele me repreendeu:

—Aquilo foi apenas um trabalho Hotch, pare de remoer o passado. Você a ama e é isso que importa.

Eu fiquei calado e ele sorriu triunfante antes de dizer:

—Agente Hotchner está admitindo seu amor pela agente Prentiss.

Eu apenas dei de ombros, ignorando seu olhar vitorioso eu disse baixo, mas não baixo o suficiente para que ele não escutasse:

—Bem lá no fundo eu ainda a amo Rossi e você sabe disso.

Rossi estava tão contente, quanto uma vitória no poker.

Sim, eu admiti em voz alta que eu ainda amo minha ex-mulher, isso não seria problema, exceto pelo fato de que antes dela perder a memória ela estava furiosa comigo. Tivemos uma discursão feia e não muito tempo depois recebi uma ligação do hospital dizendo que ela havia sofrido um acidente, enquanto dirigia para o hospital não pude deixar de me arrepender por aquela frase que disse a ela antes dela sair: “Eu não te amo mais Emily, tudo o que faço é pelos meus filhos e não por você”. Se eu disse aquilo para ofende-la e mascarar a verdade, porque me sinto um monstro? Deixo minha mente vagar pelos acontecimentos do nosso fim de semana, foi tão bom, foi como se aquilo nunca tivesse acontecido, o que de certa forma para ela não aconteceu.

—Então pai quando vamos começar? –Ariane me perguntava ansiosa.

—Espera sua mãe descer, para podermos jogar. –Eu disse na tentativa falha de acalmá-la.

Emily tinha ido colocar os gêmeos na cama, tivemos um dia cheio o que os deixou cansados, mas aparentemente não teve o mesmo efeito sobre Ariane e Alex. Logo após o café da manhã, fomos ao shopping como uma família normal, e acabamos por chegar em casa ao final da tarde. Foi como quando ainda éramos casados, pude ver que as crianças gostaram muito, desde o divórcio não fizemos mais isso, e o efeito que esse dia causou nas crianças era realmente perceptível. Alex e Ariane pareciam mais unidos e sorridentes e até mesmo os gêmeos estavam mais calmos do que realmente são.

—Cheguei. –Emily disse sorridente e quando eu percebi, até mesmo eu sorria.

Seria uma noite de Pôquer assim como fazíamos antigamente.   

Noite passada dormimos juntos, mas não do jeito que vocês pensam. Eu estava sem sono, por algum motivo o que ela fez me deixou tão preocupado, que nem mesmo consegui dormir, sim eu senti medo de perde-la novamente. Quando vi uma movimentação no corredor, a segui pensando ser alguma das crianças, porém me surpreendi ao ver que era Emily sentada no sofá, fiquei ali alguns minutos a observando, tomando coragem para ir até ela. Quando me sentei lá com ela, nossa conversa fluiu tão bem, como nos velhos tempos e acabamos por adormecer no sofá, com ela em meus braços eu senti que podia protege-la de tudo e todos.

De repente sinto a necessidade de olhar para a mesa dela, com certeza deve estar fazendo algum relatório, porém me surpreendo quando vejo que ela não está lá. Saio para fora da minha sala, e observo o local. Nem um sinal dela, certamente ela não foi embora, mesmo hoje eu tendo acordado bem cedo e vindo para cá, fazendo com que ela dirigisse para cá ela não iria embora sem ao menos me informar.

—Procurando alguém? –Dave me pergunta.

—Não, apenas olhando o movimento. –Eu respondo, logico que eu não iria contar a ele que estava procurando ela, seria mais um motivo para ele falar que eu estava ficando neurótico.

—Ela recebeu uma ligação, estava com pressa e me pediu para te avisar que ela teve que ir embora mais cedo.

Eu o encarei e perguntei curioso:

—Há quanto tempo?

—Há uma meia hora. –Ele me respondeu normalmente.

—E por que você não me disse?

Ele desviou o olhar lá pra baixo e sem me encarar respondeu:

—Você parecia tão concentrado em olhar pro nada, que achei melhor não incomoda-lo.

Eu fiquei tenso, talvez pelo fato de ter sido visível minha distração, mas principalmente pelo fato de Emily ter saído com tanta pressa que nem me avisou.

—Aconteceu algo grave? –Perguntei o que temia.

Ele deu de ombros voltando a me encarar disse:

—Acredito que não, ou ela teria lhe avisado.

Mal pude esperar dar o horário para poder ir embora. Emily não voltou, e eu estava absurdamente preocupado com ela. Fiz o possível para me manter indiferente quando os outros me perguntaram sobre ela, eu não poderia demonstrar minha preocupação para eles, mesmo sendo meus amigos não seria legal eles terem a ideia de um chefe extremamente preocupado. Então quando deu o horário, parei meus relatórios e fui embora, pois eu tinha que descobri o que aconteceu.