Hoje já era fim de semana, ou seja as crianças acordariam tarde e Hotch chegaria ao amanhecer de acordo com Anne. Já estava quase amanhecendo e eu ainda me lembrava da visita de ontem. A verdade foi que aquela visita me deixou muito mais curiosa em relação a minha vida esquecida. Coloquei mais suco no meu copo, já que não posso ingerir álcool por um bom tempo. O ocorrido do dia anterior veio em minha mente instantaneamente.

Alguém tocou a campainha, logo Anne gritou:

—Eu atendo.

Não demorou muito para que ouvisse o grito de alegria dos gêmeos:

—Vovó!

Eu estava na cozinha com Alex, nós dois fomos ver quem tinha chegado. Congelei com quem vi ali.

—Mãe!? –Eu não pude evitar o tom surpreso em minha voz.

—Olá querida. –Ela disse me abraçando.

E voltando a atenção para as crianças, ela disse entregando uma caixa para Alex:

—Eu trouxe um jogo pra vocês. Que tal vocês irem jogar lá em cima?

Não foi preciso ela dizer duas vezes, enquanto Alex subia as escadas com o jogo os gêmeos o seguiram eufóricos, mas alguém ficou para trás.

—Sabe que esse jogo vai prende-los por muito tempo não é mesmo? –A garota disse com a sobrancelha arqueada.

—Estou contando com isso. –Mamãe respondeu.

—Eu estava com saudades vovó. –Anne a abraçou e logo tratou de subir as escadas atrás dos irmãos.

Sentamos no sofá, o clima parecia tenso, eu estava nervosa, afinal era uma situação inesperada para mim.

—A senhora vai aceita alguma coisa? –Eu perguntei na tentativa de aliviar o clima.

—Não obrigada. –Ela respondeu me analisando milimetricamente.

—Então... O que a senhora faz por aqui? –Disse logo interrompendo sua analise.

Ela não pareceu surpresa e tratou logo de dizer.

—Sempre direta. –Ela esperou para ver como eu reagiria, como não fiz nada, ela prosseguiu –Bem eu vim ver a minha filha, ou não posso?

Ela disse essa última parte amargamente, provocando-me um certo arrependimento com a pergunta. Ah como ela tinha o dom de fazer isso.

—Eu não quis dizer isso, mas como a senhora soube? -Meu lado investigativo estava curioso.

—Seria um pouco difícil eu não saber Emily, eu tenho contato constante com Ariane, e além do mais, no dia que você acordou, Aaron me ligou.

Na menção do nome do ex-marido, o qual eu não me lembro, eu estava um pouco desconfortável. Assim voltei o foco da conversa para nós:

—Como nós estávamos? -Eu perguntei, sei que ela entendeu muito bem o que eu falei.

—Já tivemos momentos melhores. –Ela confessou.

—O que aconteceu mãe? –Perguntei e ela me observava atentamente, talvez pela primeira vez em anos acredito estar me mostrando vulnerável.

—A vida Emily, a vida. Você estudou, o conheceu, namoraram, se casaram, tiveram lindos filhos e se separaram. –Ela disse simplesmente.

—A última coisa que me lembro é de quando fui transferida para cá. –Eu disse melancolicamente, e levada pela emoção eu perguntei –O que aconteceu de verdade mãe, por que nós começamos a namorar? E o mais importante por que nos divorciamos?

Ela parecia pensar no que dizer, suspirando enfim ela disse:

—Não cabe a mim dizer o porquê Emily, o que posso dizer é o meu ponto de vista, e nele o namoro foi apenas uma forma de selar a amizade de vocês, vocês eram melhores amigos, o que vocês faziam e ainda fazem nem é por amizade, é por amor. Mesmo que vocês sejam cabeças duras a ponto de não admitirem.

Eu analisei seu ponto de vista, para alguém que sempre deixou bem claro suas opiniões, minha mãe estava sendo um tanto quanto vaga, e então cheguei a conclusão:

—Ele te proibiu de me contar, não foi?

Ela deu de ombros.

—Talvez tenhamos chegado a um consenso. –Mesmo pega, ela não deu o braço a torcer.

Mesmo assim eu não pude acreditar, ela acabava de admitir que estava me controlando.

—Sem a minha autorização? Desde quando você sabe o que é melhor para mim? -Eu disse me levantando, devo admitir que minha voz estava um pouco alterada em razão da minha frustração.

 _Sou sua mãe, e sei o que é melhor para você. -Ela respondeu se levantando e com aquela voz do tipo eu sei de tudo, não resisti e rolei os olhos irritada, não sei porquê alimentei a falsa esperança que ela fosse me explicar algo, no fim ela ainda era Elizabeth Prentiss, não se importando com ninguém além de si mesma.

—Mas não cabe a mim te contar Emily, isso é entre vocês dois. –Ela tentou e eu apenas a encarei. –Você já está sobrecarregada demais com tudo isso, e não finja que não está por que eu te conheço Emily Prentiss, então apenas deixe essa parte do passado para trás. Quando chegar a hora certa eu sei que ele vai te contar. –Ela usou um tom mais neutro, talvez tentando me acalmar.

—Eu só me sinto perdida mãe. –Confessei, surpreendendo a nós duas.

—Eu sei querida. –Ela disse e então fez um movimento ousado, ela me abraçou e limpou minhas lagrimas, eu mal pude perceber que estava chorando.

Já estava mais calma quando as crianças desceram brigando, pra variar.

—Ethan e Anne roubaram. –Tony disse não muito satisfeito.

—Nós apenas usamos outros meios pra ganhar. -Disseram os dois cumplices.

—Da próxima você ganha garoto. –Mamãe disse bagunçando o cabelo de Tony e então voltou sua atenção para Ariane. –E você mocinha já não falei pra não passar a perna nos seus irmãos?

Ariane rolou os olhos e se justificou:

—É só um jogo vovó.

—Até quando a senhora vai ficar? –Foi a vez de Alex se manifestar.

—Eu não sei querido, mas agora está tarde é melhor eu ir. –Ela se despediu de nós, quando fui leva-la até a porta ela me disse –Não cometa os mesmos erros duas vezes querida.

Então qual foram os meus erros? Como me envolvi nessa situação? Provavelmente nunca me arrependi de ter sido mãe, mesmo convivendo com as crianças a tão pouco tempo, sinto-me tão feliz por tê-los. Minha vida sempre foi cheia de idas e vindas, quando criança me mudava constantemente, sempre se passava pessoas em minha volta, sem falar que minha relação com minha mãe também é assim. Não sei ao certo o que aconteceu, mas irei descobrir custe o que custar.

Já havia amanhecido, quando ouço a porta da entrada ser aberta.

—Acordada até agora? –Ele me pergunta, acho que ele realmente me conhece bem.

—Como era nossa relação? –Eu perguntei enquanto ele tomava um copo de água, creio que a pergunta deve tê-lo assustado, já que ele se engasgou.

—No começo cheio de idas e vindas, mas não do jeito que você está pensando, não éramos do tipo que se separava por qualquer coisa, apenas enfrentávamos nossos momentos bons ou ruins juntos. Quando Alex nasceu, prometemos um ao outro que faríamos de tudo para o bem dele, e a medida que os outros foram nascendo, reforçamos essa promessa. –Ele finalizou com um sorriso de canto.

—E por que nos divorciamos? –Perguntei.

Ele pareceu ficar triste com minha pergunta, após me encarar por alguns segundos ele respondeu:

—Isso não vem ao caso agora Emily, vá dormir um pouco. Daqui a pouco eles acordam e com certeza o dia de hoje promete.