Acordei no outro dia no horário normal, fui tomar café e Emily estava já estava lá, assim que ela se virou para me encarar eu disse:

—Bom dia.

E ela respondeu com um simples:

—Bom dia. –Achei um pouco seco, devido ao abraço de ontem a noite, ela poderia ao menos ter perguntando se eu estava bem.

Aaron Hotchner, tire esses pensamentos absurdos da sua cabeça, me repreendi, afinal ela é minha ex-esposa.

Não demorou muito e as crianças desceram também, estavam todos uniformizados, exceto Ariane.

—Onde está o seu uniforme? –Eu perguntei a encarando seriamente, embora eu não tenha repreendido ela ontem a noite, nós dois ainda teremos uma conversinha.

Ela se enrolou e não conseguiu me responder, fitei então Emily, com certeza ela tinha deixado alguma coisa de fora ontem.

Minha esposa respondeu por minha filha:

—Ela está suspensa.

Eu abri a boca para repreender Ariane agora mesmo, mas no mesmo instante Emily me olhou com uma expressão não muito amistosa, por poucos segundos senti até medo, então apenas permaneci em silêncio, não por medo lógico, apenas por respeito à ela, ao menos é o que me convenço.

Fomo levar os meninos para a escola, como Anne estava suspensa ficaria com a babá, dessa vez eu esperei Emilly, para podermos ir juntos e com certeza conversar um pouco.

Quando já estava apenas nós dois no carro, eu finalmente expressei minha frustração:

—Você não ia me contar que ela foi suspensa? –Espiei ela pelo canto do olho, ela não demonstrava um pingo de arrependimento e isso me deixou irritado, então eu disparei sem pensar  –Ou você se esqueceu?

Pude sentir seu olhar me fuzilar instantaneamente.

—Achei que essa discussão tinha se dado por encerrado ontem à noite Hotchner. –Emily diz usando aquele tom de voz que usa quando interroga um suspeito.

Virei para encará-la na menção do sobrenome, então seria assim agora?

—Teria se você não tivesse me escondido o fato que minha filha foi suspensa, mas certas coisas nunca mudam não é Prentiss? –Respondi à minha ex-esposa a altura.

Eu a ouvi bufar e cruzar os braços, para uma mulher adulta as vezes suas atitudes me lembram uma criança mimada.

Pensei que ela falaria mais alguma coisa, no entanto por incrível que pareça, ela ficou em silêncio, algo raro para Emily Prentiss que não é de levar desaforo para casa.

E assim acabamos de chegar no trabalho em total silêncio, mal chegamos na UAC quando Morgan nós avisou:

—JJ disse que temos um caso, na sala de reuniões em dez minutos.

Eu assenti.

Durante esses minutos fui a minha sala, não demorou muito para que JJ aparecesse para me fazer uma introdução ao caso de costume, mas ao invés de abordar o assunto ela apenas me disse que era local e precisávamos resolvê-lo rapidamente.

Cheguei a sala de reuniões e pouco a pouco o restante da equipe foi chegando. JJ começou a abordar o caso:

—Três mulheres na faixa etária de trinta a quarenta anos, mães de família e trabalhavam fora. Encontradas em becos mortas e torturadas.

Foi quando ela mostrou as fotos das vítimas e embora não tenha demonstrado eu me assustei, ao desviar os olhos da tela, percebi que não foi apenas eu.

Ninguém teve coragem de falar nada, mas foi Reid que expressou o que garanto ser o pensamento unanime das pessoas ali naquela mesa:

—Elas se parecem muito com Emily.

Tentando então desviar o foco de Emily, que percebi está um pouco incomodada, afinal elas não se assemelhavam apenas fisicamente, perguntei:

—Por que o caso não chegou até nós antes JJ?

—Foram encontradas em locais distantes, não ligaram o caso até a última vítima. –Ela justificou.

Mandei Rossi e Callahan para o local de desova. Reid, Morgan e Emily, essa que insistiu muito para poder ir, embora eu não queria deixar, foram conversar com os familiares. JJ e eu fomos para a delegacia, ver se conseguíamos mais sobre o caso.

Quando todos nós reunimos, Emily parecia um pouco perturbada, deixei para conversar com ela depois, afinal de contas no momento temos um assassino em série casando a próxima vítima.

—O que as vítimas tem em comum? –Perguntei quando toda a equipe se reuniu.

—Não faziam as mesmas coisas, e arrisco que nunca se encontraram. –Morgan falou.

Foi então a vez de Reid fazer as comparações:

—Todas as três mulheres tinham filhos, eram casadas e trabalhavam fora.

—Elas foram deixadas em locais sujos, o que deixa claro que o descon sente desprezo por ela. –Rossi disse.

—Talvez pelo que elas representem? –JJ arriscou.

Garcia acabou por descobrir casos semelhantes em outros estados, o que deixa claro que é um assassino em série, vi que Emily estava abalada e decidi conversar com ela.

Ela estava pegando café quando a abordei:

—Você está bem?

Ela forçou um sorriso, o que só deixou claro que não estava.

—Sim Hotch, eu estou.

Eu tentei acalma-la e assim acabei colocando a mão em seu ombro.

—Você sabe que é normal sentir como se fosse você, especialmente dada as circunstancias, mas não é.

Ela fez que sim com a cabeça e me confessou:

—O marido da terceira vítima estava tão apavorado que chegou a me confundir com ela.

—Mas não é, e não deixarei que seja. Nós pegaremos ele. –Eu não sabia muito bem ao certo o porquê eu garantia isso à ela.

Nós dois estávamos tão perto, eu podia sentir sua respiração, em um momento de fraqueza cheguei a me aproximar dela para um beijo, mas me recuperei a tempo, eu não poderia me aproveitar dela em um momento de fraqueza como esse.       

Nos reunimos com os policiais para liberar o perfil.

—Ele é um homem branco, com idade entre 30 a 40 anos... –Rossi começou a liberar o perfil para os policiais ali presentes, mas minha mente não estava ligando para isso, ela estava totalmente focada em Emily, que tentava se manter inabalável, realmente vi ela fazer isso muitas vezes ao longo dos anos, mas em nenhuma dessas vezes ela parecia com tanto medo como agora.

Confesso que ver a mãe dos meus filhos nessa situação me incomodou, assim quando estava nós dois juntos eu aproveitei o momento.

—Emily se você não estiver se sentindo bem, pode ir para casa. –Eu disse, não admitiria a ela que eu sabia que ela estava com medo.

—Tudo bem Hotch, eu estou bem, posso lidar com isso. –Ela inutilmente tentou me convencer.

Oh sim, ela era Emily Prentiss era lógico que ela conseguiria lidar com isso, quem mais poderia fazer algo quando se está com tanto medo, mas é orgulhosa o suficiente para não admitir? Emily Prentiss.

Ela saiu e logo Rossi se aproximou de mim, era sua vez de me dizer o que praticamente toda a equipe já me falou:

—Você não acha que deveria tirar Emily do caso?

—Eu tentei Rossi, mas ela não quer. Você conhece Emily com memória ou não, ela não irá parar até que o caso esteja resolvido.

Ele fez que sim com a cabeça e começou:

—Mas você já pensou na possibilidade....

Eu o interrompi instantemente:

—Não!

Sim, desde que eu vi a foto daquelas mulheres eu não pude parar de pensar que Emily poderia estar em perigo, mas dizer isso em voz alta tornava ainda mais real e mil vezes pior.

—Ela não se encaixa na vitimologia Dave, ela não é casada. –Usei o argumento que estava usando para me convencer já há algum tempo.

—Mas você vive com ela, o que aos olhos de um estranho é um casamento, além do mais vocês tem filhos, ela trabalha... –Dave continuou ignorando meus protestos.

—Chega Dave, ela não vai ser uma vítima nós o pegaremos antes que possa machucar qualquer outra mulher. –Dei fim a discussão.

Já era noite, eu havia dispensado o resto da equipe por hoje, afinal não tínhamos pistas e precisamos descansar para quando tivermos o que procurar, mas não antes de pedir um favor a Garcia, que o atendeu muito bem.

Eu queria poder ir para casa com Emily, mas Strauss queria falar comigo, o mais rápido possível, então pedi a ela que fosse de carro para casa, afinal ela estava cansada e eu não a forçaria a me esperar enquanto Strauss falaria horas a fio e conhecendo Emily o suficiente sei que embora ela provavelmente nunca admitirá, mas ela quer ir embora o mais rápido possível.

Bati na porta de Strauss, ouvi um entre e assim o fiz.

—Agente Hotchner como está o caso? –Ela me pergunta assim que eu adentro a sala.

—Iremos resolvê-lo o mais rápido possível senhora. –Respondo.

—Assim eu espero. Fique sabendo que se não estiver conseguindo lidar com o caso, poderia tirar alguns dias de folga. –Ela me surpreende com suas palavras.

Será que ela está bem? Ou teria surtado de vez?

—É só mais um caso horrendo senhora, eu posso lidar com isso. –Eu disse profissionalmente.

Ela ergueu uma sobrancelha e fez uma nova pergunta:

—E agente Prentiss?

Eu queria poder pedir a ela para que tirasse Emily do caso, e se possível até mesmo colocasse ela sob algum tipo de proteção, mas Emily me mataria se ao menos sonhasse que eu pensei nessa possibilidade.

—Agente Prentiss é uma excelente agente, ela consegue lidar com isso. -Eu garanti, se foi a mim ou à ela só Deus sabe.

Erin Strauss me olhou fixamente antes de finalmente me dispensar. Quando sai da sala de Strauss, passei em minha sala para pegar minhas coisas e notei que havia uma chamada perdida de Jessica, nossa baba, então retornei a chamada.

—Olá Jess o que aconteceu? –Eu perguntei.

—Nada Hotch, apenas liguei pra saber se o senhor e Emily vão passar a noite no trabalho. –Ela me respondeu.

Rapidamente olhei meu relógio, fazendo os cálculos se o tempo já havia sido suficiente para Emily chegar.

—Emily não chegou? –Perguntei preocupado.

Ela respondeu inocentemente:

—Não.

Olhei mais uma vez meu relógio, meu Deus ela já deveria ter chegado! Ela teve tempo mais que suficiente.

Com um coração disparado nem vi quando desliguei a chamada de Jessica e disquei o terceiro número da discagem rápida, eu não sabia como, mas sabia que algo estava errado.

—Olá Hotch. –JJ disse assim que atendeu o telefone.

—JJ reúna a equipe aqui na UAC imediatamente. –Eu não tinha tempo para os bons modos.

—Por que? O que aconteceu? –Ela perguntou deixando evidente sua preocupação.

— Uma coisa muito ruim. –Foi a única coisa que eu consegui responder, porque se eu dissesse o que pensava em voz alta isso tornaria tudo real e eu simplesmente não posso e não quero estar certo dessa vez.