A ideia de comemorar seus dezessete anos com uma festa foi exclusivamente de Sansa e sua mãe. A garota planejava sair com Shireen e Myrcella – provavelmente teria de arrastar esta ultima – e passar o dia inteiro no fliperama novo que tinha acabado de inaugurar. Ela tinha até juntado dinheiro para isso.

Claro que sua irmã precisava colocar idéias idiotas na cabeça da senhora Catelyn.

– Não precisa ser algo grande, podemos fazer aqui mesmo em casa.

– Não é necessário.

– Essa é uma ideia maravilhosa Sansa, – sua mãe a ignorou completamente – o que acha Ned?

Seu pai a conhecia bem demais para saber que Arya não queria aquilo. Na verdade ela até lhe mandou um olhar que claramente dizia “diga não”, mas quando foi a vez que Eddard Stark disse um não a Catelyn Tully?

– Acho que será bom.

Nem seus irmãos a defenderam. Robb estava ocupado demais para interferir, Rickon não se importava e Bran... Bem, esse apoiou a ideia pelo o simples fato de que iria irritá-la.

Mas ela ainda poderia opinar na decoração, certo? Talvez pudesse fazer algo ao seu gosto.

Errado.

Como se Sansa fosse lhe deixar opinar.

– Desfaça essa cara. – Shireen disse jogando-se no seu pufe. A menina deixou os saltos escorregarem dos pés e tirou um espelhinho da bolsa para verificar o batom vermelho. – A decoração está linda, ainda bem que não te deixaram fazer nada.

– Eu vou chutar você daqui.

– Você me ama demais para isso. – Shireen piscou e sorriu. – O que a senhorita faria sem mim? Seu aniversario não teria ninguém se eu não tivesse distribuído os convites.

– Muito obrigado por isso. – Respondeu sarcástica.

– Quando você vê o quão gostoso o Dayne está...

– Cala a boca.

Pelos Deuses, ela tinha dito uma vez que o Dayne era bonito – o que ele era – e Shireen havia ficado louca com isso. O fato dela e de Edric também terem protagonizado uma cena que para as românticas de plantão seria considerada fofa não ajudou muito. Cara, os dois tombaram e deixaram os livros caírem, eles pegaram, Edric foi educado com ela e Arya acabou sorrindo gentilmente – sim, ela era capaz de fazer essas coisas. Para a Stark aquilo foi uma simples trombada, para Shireen foi inicio de um amor eterno.

Shireen era tão estranha. Dizia que ela e Edric nasceram um para o outro, mas também achava que ela e Gendry formariam um casal incrível. Vai entender.

– Cella pode pegar o meu presente? Está ai do seu lado, – Shireen pediu apontando para o embrulho cor de rosa na mesinha do computador. Myrcella que até então tinha estado calada levantou-se e deu o embrulho a Shireen. – Depois vou querer saber o que, pelos Outros, aconteceu com você.

– Nada demais.

– E o que foi aquilo com o Robb lá embaixo? Você gostou dos livros? Que tipo de pergunta foi aquela?

– Nada demais Shireen. – A Lannister ficou vermelha que nem um tomate.

Arya sorriu. Era fácil fazer a loira corar.

– Não importa... Bem, aqui está o seu presente. – A Baratheon depositou o embrulho no seu colo. – Abra e me diga o que você achou.

Oh merda. Shireen herdou do pai a inabilidade de dar presentes normais para as pessoas. Não pode ser pior que o ano passado.

Arya então abriu e descobriu que estava errada.

– Perfeito, não é?

Era um álbum de foto e assim que ela abriu viu Myrcella arregalar os olhos surpresa.

Oh meus Deuses, que a Mãe não estivesse vendo isso.

O álbum estava cheio de fotos de Gendry, o que não seria tão ruim assim se não fosse pelo o fato do rapaz estar quase despido em todas elas. Arya lentamente subiu os olhos, suas bochechas provavelmente estavam vermelhas.

– Como você conseguiu isso?

Ela corou ainda mais forte assim que chegou a ultima pagina e viu fotos de Gendry no banho. Ele estava de costas e pelos detalhes da foto, Arya podia dizer que quem tinha segurado a câmera havia se escondido em algum tipo de armário. A foto não mostrava tudo, mas era o suficiente para fazê-la respirar com dificuldade.

– Eu sabia que você iria gostar.

– Você não podia ter simplesmente me dado um CD?

– Que graça teria isso? – Shireen voltou a sentar no pufe.

– Você tirou foto dele no banho! – Myrcella estava chocada.

– Bem, não fui eu que tirei. Dei cinqüenta pratas para os gêmeos.

Os gêmeos, claro. Ela devia saber.

– Agora vamos descer que eu preciso secar os amigos gatinhos do seu irmão.

No andar de baixo um monte de gente andava para lá e para cá. Todos foram até ela e lhe disseram o quão bonita ela estava. Sansa foi responsável pelo o vestidinho vermelho e a maquiagem. Diferente do que muitos pensavam, ela não era alérgica a vestidos e maquiagem, Arya só se sentia mais confortável com um bom e velho short. Os gêmeos passaram por ela e a olharam como se ela fosse um tipo de Alien.

– Cara, você usa vestido? – Steffon ou Lyonel disse. Ela nunca soube diferenciá-los.

– Cala a boca.

Depois deles apareceram seus primos, Damon e Jon. O mais novo trazia um urso de pelúcia vermelho nas mãos e o mais velho segurava um embrulho fino e comprido.

– Parabéns prima. – Damon sorriu exibindo seus dentes perfeitos. Sua mãe estava certa ao dizer que ele seria tão bonito quanto o pai. – Você ta gata, olha, eu tenho um amigos para te apresentar...

– Não começa. – Jon o repreendeu.

– Você não quer que ela fique encalhada para sempre né? – Seu rosto esquentou de raiva e ela quis bater na cabeça dele com aquele ursinho de pelúcia ridículo. – Eu te dou o numero dele...

Não ouviu o resto, pois Jon a puxou para o canto.

– Vim te dar o meu presente. Esconda da sua mãe, não acho que ela vá gostar muito.

Arya sorriu e pegou o embrulho das mãos de Jon.

– O que é?

– Abra e descubra.

Ela o fez. Rasgou o papel e arregalou os olhos quando viu o que era. O melhor presente de todos. Arya olhou para Jon e voltou a olhar para o objeto como se quisesse confirmar que estava vendo certo.

– Isso é o que eu to pensando?

Ele balançou a cabeça como resposta.

– Como você conseguiu? Isso é incrível! É da edição limitada!

– Eu comprei na internet, meu pai pode ter me ajudado. – Ele riu. – Eu sabia que você iria gostar.

Em suas mãos estava a replica da espada usada pela sua personagem predileta no jogo A casa do preto e branco. Agulha. Aquele objeto tinha sido seu desejo de consumo desde que começou o jogo, mas sua mãe nunca permitiu que ela comprasse. Aquele jogo é violento Arya, você não devia jogá-lo.

– Obrigada, obrigada, obrigada. – Ela pulou no pescoço do primo sorrindo.

– Vou colocar escondido no baú de presentes, não se esqueça de retirar antes que a festa acabe. – Jon pegou a Agulha da sua mão e a colocou no baú atrás dele. – Feliz aniversario.

O sorriso dele morreu ao ver algo que acontecia atrás dela. Assim que se virou viu Sansa sorrir encantada para Aegon Targaryen, irmão mais velho de Jon.

– Esse idiota... Eu vou até lá. – E Jon andou rapidamente até os dois e agarrou o irmão pelo o ombro e o puxou em direção da cozinha. Arya riu.

Sansa pareceu surpresa, mas logo voltou a si quando a avistou no canto. Ótimo.

– Vamos tirar uma foto irmãzinha.

Arya empurrou um balão que foi direto na sua cara.

– Ok.

Ela estava muito feliz com o presente que tinha ganhado, podia fazer um agrado para a irmã.

– Gendry, segure a câmera.

Seu rosto esquentou quando o rapaz se aproximou – quem deixou Robb e Sansa convidarem os amigos mesmo? –, ela logo se lembrou do álbum de fotos que foi guardado no seu quarto.

– Vai ser um prazer.

Ele tinha um sorriso charmoso e, pelos sete infernos, como era bonito.

Arya sorriu e a foto foi tirada.

– Nossa, está linda. Vai para o meu perfil já.

Sansa saiu e gritou por Jeyne, Arya olhou para os lados procurando uma forma de escapar.

– Parabéns Arya.

– Obrigada.

– Você está bonita.

Não ouse ficar vermelha.

– Obrigada.

Você também, ela quase disse.

– Eu vi o presente do Jon. – Ele se divertiu com a sua expressão. – Vê se não vai matar ninguém hoje.

– Cala a boca e vai procurar seus amiguinhos.

– Que garotinha mais brava.

Ela lhe mostrou o dedo do meio e saiu batendo o pé dali.

Em algum momento tudo desandou. Sem nenhum adulto na casa é claro que as coisas ficariam loucas. Arya se lembrava de beber uma bebida feita por Sansa – nota mental: nunca mais fazer isso – e então tudo se tornou um conjunto de memórias confusas. Sua irmã estava dançando encima da mesa com Bella Baratheon e logo depois Loras Tyrell juntou-se a elas. As garotas Martell – amigas de Jon, Robb e Sansa – chegaram trazendo garrafas de vinho e tequila dornesa. Loras começou a tirar a roupa e Renly Baratheon começou a gritar vermelho. Aegon cantou em algum lugar da sala e aparentemente ele estava sendo puxado por Jon que tentava controlá-lo.

Shireen dançou loucamente junto de Obella Martell e o irmão de Jon subiu no sofá para acompanhar Loras com o show de stripper. Arya se lembrou de ficar enjoada depois de gritar TIRA TUDO LORAS – sim, ela tinha gritado isso –, ela cambaleou até a cozinha onde viu Theon Greyjoy encarando uma menina morena... Jeyne Poole ou seria Elia Martell? – Disso ela não lembrava.

Foi com dificuldade até a portinha que dava acesso aos fundos da casa e avistou Myrcella olhando para Robb com o rosto vermelho como um tomate.

– Eu sou incrível ta legal... I-N-C-R-Í-V-E-L... – E a loira estava completamente bêbada. – E eu beijo muito melhor que aquelas quengas que você arruma.

Ela vai se arrepender tanto disso. Tinha pensado antes de voltar para dentro da cozinha e ignorar completamente o casal se encarando. Arya andou tateando as paredes rindo como louca.

E nesse momento tudo ficava ainda mais confuso. Ela se lembrava de encontrar alguém no corredorzinho da área de serviço, lembrava de que era um menino e que o achou extremamente bonito. Oh, ela também se lembrava de agarrá-lo pela a gola da camisa e arrastá-lo até o quartinho da dispensa aos beijos.

Quem quer que fosse era incrivelmente talentoso nesse quesito.

Mas o que Arya Stark não lembrava?

Quem, pelos Outros, ela arrastou para aquele maldito cubículo?