Se houvesse um premio para melhores tios do mundo, Renly Baratheon provavelmente ganharia.

Ele sempre foi legal com os sobrinhos – e olha que ele tinha muitos.

Stannis lhe deu a esperta – e não tão doce assim – Shireen. Renly era apenas uma criança quando a menina nasceu, mas ele se lembrava de todos os detalhes do pequeno bebezinho rosado que viu na maternidade. Ela tinha um tufo de cabelos negros na cabeça e seus olhinhos não estavam abertos, mas ele sabia que seriam azuis como o mar.

Com dois anos a menina foi contaminada com uma doença rara e antiga – escamagris – que quase lhe tirou a vida. O tratamento trouxe saúde para a pequena Shireen, mas deixou uma marca permanente no seu rosto. Uma mancha cinza no inicio da sua bochecha, podia ter sido pior, tinha dito o medico. A sua sobrinha podia ter ficado com o rosto todo marcado.

A ex-esposa do seu irmão – Selyse – ficou devastada ao ver a filha daquele jeito. Renly nunca gostou da mulher – graças aos Deuses Stannis separou-se dela –, a cunhada era uma devota cega que tinha uma visão estreita e fechada sobre o mundo. Provavelmente deve ter achado que a doença da filha era algum tipo de condenação do Deus Vermelho.

Renly temeu que a mancha no rosto e a mãe paranóica fossem fazer da menina uma pessoa reclusa e pouco confiante. Não podia estar mais errado. Shireen era a garota mais corajosa e atrevida que ele tinha tido o prazer de conhecer.

– Ele é bonito sabe, mas é um tremendo mala. – Ela tinha treze anos e estava sentada no balcão da sua cozinha atacando os seus doces. – Está melhor sem ele.

Ela foi a primeira pessoa a fazê-lo ri depois que o namorado o deixou. Shireen havia se voluntariado para a missão de tirar qualquer resquício de Will Piper do seu apartamento.

– Sua mãe sabe que você está aqui?

Selyse o odiava desde que ele assumiu sua homossexualidade e não gostava da filha perto dele.

– Ela deve estar cultuando o Deus Vermelho ou seja lá como chamam. Ela tem essa nova amiga, Meli alguma coisa, fica falando umas paradas estranhas sobre profecia, o escolhido e ver o futuro nas chamas. Nem vai notar que eu sumi.

Outras crianças ficariam tristes ao falar algo assim, mas Shireen não pareceu se importar.

– E o seu pai? – Stannis não teria nenhum problema com Shireen em sua casa, mas era sempre bom saber se o irmão sabia onde a filha estava.

(Quando se assumiu, ele achou que Stannis o condenaria até a morte. Para sua surpresa o irmão disse que já sabia a muito tempo e que tinha até alguns rapazes de boas famílias para apresentar. Renly topou ir a um encontro arrumado pelo o irmão, mas já devia saber que o gosto de Stannis era péssimo.)

– Está em um encontro.

– O QUE?

– Tio Robert fez a mesma cara quando contei. – A menina enfiou o dedo no pote de doce de leite e enfiou na boca. – O tio Davos que arrastou ele para um encontro duplo. Eu escolhi a roupa do papai ontem. Ele ta bem bonito.

– Como, pelos Deuses, Davos convenceu o meu irmão a fazer isso?

– Se existe alguém que pode convencer o meu pai a fazer essas coisas é o tio Davos.

Os dois acabaram rindo e Renly fez a menina prometer que lhe contaria toda essa historia depois.

Já Robert lhe deu nove. Ou seis. A contagem podia mudar.

Primeiro veio Mya. Ela era filha de Delena Florent e foi concebida enquanto os dois ainda estavam na faculdade. Renly era novo demais para lembra-se de visitar a menina na maternidade, tudo o que sabia era o que os irmãos contavam. Stannis dizia que ele e Mya gostavam de brincar no jardim e Robert contava que Renly costumava cantar para a menina quando esta estava chorando muito – sempre funcionava.

Não havia uma grande diferença de idade entre os dois, portanto, era quase como se Mya fosse uma prima – ou uma irmã já que os dois eram muito parecidos fisicamente. Eles conversavam sobre varias coisas e até chegaram a freqüentar o mesmo colégio – ele estava no ultimo ano enquanto Mya acabava de ingressar no ensino médio.

Ela foi a primeira pessoa a quem contou o seu segredo e que mais o apoio a sair do armário.

– Papai não vai se importar e o tio Stannis, ele pode ser estranho às vezes, mas é um homem legal.

– Ele te deu um livro chamado “Como ser uma garota de sucesso em um mundo de idiotas” de aniversario.

Ela riu. Mya tinha quinze enquanto ele tinha dezoito, mas mesmo assim ela parecia muito mais madura do que ele.

– Isso faz dele péssimo em escolher presentes, mas não afeta em nada o seu caráter. Ele vai ficar bem. Confie em mim.

– Talvez você esteja certa.

E ela estava. Como sempre.

Gendry veio dois anos depois de Mya. Lyanna Stark tinha fugido com Rhaegar Targaryen e foi quando Robert perdeu qualquer esperança de ter a garota dos seus sonhos de volta. Renly tinha apenas cinco e também pouco se lembrava do nascimento dele, apenas tinha alguns flashes de um bebê chorando nos seus braços.

O garoto era quase uma copia sua – ou de Robert, já que o próprio Renly era considerado um clone do mais velho. Era muito comum as pessoas acharem que os dois eram irmãos.

Quando cresceram a semelhança tornou-se ainda mais assustadora. A pouca diferença de idade fez com que fosse possível os dois fingirem ser gêmeos para entrar em uma convenção especial para irmãos gêmeos. Eles não eram completamente idênticos, mas todo mundo acreditou e eles conversaram e fizeram amizades sem nenhum problema.

Foi em uma dessas ocasiões que ele conheceu os gêmeos Tyrell.

(Mas essa é uma longa historia)

Depois de Gendry as coisas começam a ficar complicadas.

Robert casou-se com a bela Cersei Lannister – uma mulher um tanto quanto frívola – e teve Joffrey. Ele foi um bebê bonitinho e fofo, mas logo perdeu essas características quando cresceu e se tornou um idiota filho da puta. Dois meses depois nasceu Bella, filha de uma das amantes de Robert – a modelo Mhaegen –, também era um bebê bonito e fofo que tinha todas as cores dos Baratheon – Cersei tentou provar que a menina não era de Robert, mas bastava olhar para o bebê para saber a verdade. Renly adorava a sair com a menina e mãe – ele sempre gostou de Mhaegen – para fazer comprar.

Dois anos depois tudo ficou ainda mais confuso. Delena Forent deu a luz a Edric. Quando o menino nasceu não houve a mínima duvida de quem era o pai, os cabelos negros e os profundos olhos azuis entregavam o jogo. Quatro meses depois do nascimento do menino veio ao mundo Myrcella – filha de Cersei –, parecia um pequeno anjinho com seus cachinhos dourados e olhos verdes. Três meses depois de Myrcella veio os gêmeos Steffon e Lyonel, filhos de Mhaegen – e idênticos a Robert.

Quatro filhos em um ano. Robert sabia como perpetuar a espécie.

No ano seguinte nasceu Tommen – o ultimo que se tem noticia.

Renly costumava fazer festas na sua casa e trazia todas as crianças. Era o único que se esforçava em colocá-los juntos. Cersei não queria nem sonhar em ver seus filhos misturados com o que ela chamava de “Bastardos de Robert”, Delena também não era simpática a idéia das suas crianças fazendo amizade com os outros irmãos. Mhaegen era a única que não se importava, mas também não corria atrás.

Todos gostavam de se reunir. Quer dizer, todos menos Joffrey. Esse foi banido das festinhas por que era um dedo duro de primeira qualidade.

(Uma vez ele levou Cersei para pegá-los em flagrante, mas Renly teve a sorte de estar na varanda quando o carro vermelho dela chegou e escondeu os sobrinhos na casa do vizinho)

Foi em uma sexta feira – em pleno verão – que a contagem reduziu.

Renly raramente se envolvia nos assuntos da empresa da família. Essa questão de sucessão não lhe importava muito – não é como se ele fosse ser escolhido –, Joffrey provavelmente iria herdar a maior parte e continuar com o nome da família. Stannis, no entanto, descobriu algo que mudou tudo.

Os filhos de Cersei Lannister não tinham o sangue de Robert.

Seu irmão tinha um bom coração, mas podia ser o maior dos hipócritas. Mesmo tendo vários filhos fora do casamento, ele jamais aceitaria que sua esposa desse a luz ao filho de outro homem – ele não queria ver nenhum Lannister na sua casa. Foi Renly quem hospedou Joffrey, Myrcella e Tommen quando a briga entre os pais tomou proporções gigantescas.

(Na época eles eram apenas crianças. Tommen tinha nove, Myrcella dez e Joffrey doze.)

O escândalo ganhou as paginas das revistas e a separação do casal foi acompanhada por dezenas de jornalistas. Todos especulavam quem era o pai das crianças.

(Stannis lhe partilhou sua suspeita de que Cersei cometia incesto com o irmão gêmeo. Renly o convenceu a ficar quieto. Incesto era crime de acordo com a lei e as crianças já estavam sofrendo demais.)

Cersei levou os filhos para sua casa e os proibiu de qualquer relação com os filhos de Robert – ou com o resto dos Baratheon em geral. O que não durou muito, pois todos passaram a estudar na mesma escola.

(Robert casou-se com Delena depois da separação e a nova mulher do seu irmão quase mudou os filhos de escola. Com muita persuasão, Renly a fez mudar de idéia.)

Poucos tios eram tão bons quanto ele. Modéstia a parte, seus sobrinhos tinham a maior sorte do mundo de ter um cara legal, descolado, bonito e generoso como tio.

Então quando ele entrou em casa e se deparou com a festa surpresa não ficou nem um pouco espantado.

– Parabéns tio Renly. – Todos gritaram ao mesmo tempo.

Mya tinha feito o bolo e foi ela quem segurou para que ele pudesse soprar as velinhas. Gendry foi responsável pela a bebida – e por não deixar os menores beber –, trazia nos braços tequila, Vodka e cerveja. Bella, Shireen e Myrcella decoraram todo o seu apartamento com fitas douradas e pretas – suas cores prediletas – e também pintaram um cartaz que dizia O MELHOR TIO DO MUNDO – novidade.

Edric, Tommen e os gêmeos escolheram as musicas. Os quatro divergiram bastante quanto ao gosto musical – portanto teve de rock até musica clássica.

Por fim eles lhe deram o seu presente – que está listado entre os momentos mais constrangedores da sua vida.

Bella e Mya arrastaram no quarto um rapaz de cabelos castanhos cacheados e bonitos olhos dourados. Ele estava todo enrolado em fitas vermelhas e tinha vários laços rosas colados pelo o corpo.

– O que, pelos Deuses, é isso?

O que Loras Tyrell fazia amarrado na sua casa? Seu rosto ganhou varias tonalidades de vermelho e ele achou que iria desmaiar.

– O seu presente oras. – Bella falou como se estivesse se referindo a um livro ou uma blusa.

Loras o olhava com um sorriso malicioso.

– De quem foi essa idéia? – Perguntou exasperado.

– Quem tem a mente maléfica o suficiente para isso? – Gendry disse como se fosse obvio.

E era.

– Shireen.

A menina sorriu.

– Em minha defesa, o Loras adorou a idéia.

Ele definitivamente iria desmaiar.

– Dá próxima vez eu espero um livro ou talvez um filme. – Seu olhar se dirigiu para Shireen. – Nada de homens amarrados no meu quarto.

– Às vezes o senhor pode ser tão sem graça.