Acordou com os raios de sol entrando pela janela e aquecendo-a na cama. Sentou e se espreguiçou levantando os braços. Passou as pernas por cima da cama levantando-se. Foi ate a janela abrindo a porta da sacada. Sentiu o vento úmido com cheiro salgado do mar entrar, passando por seu corpo fazendo-a fechar os olhos para experimentar melhor a sensação de liberdade e de retorno ao lar. Sorriu e trocou de roupa pensando no que faria durante o dia. Prendeu os cabelos rosados e longos em um rabo, saindo do quarto para fazer a higiene no banheiro compartilhado.

Não escutou sons pela casa o que era estranho já que Sasuke falara que não a deixaria em paz. Talvez, ter um pouco de privacidade a ajudasse a pensar melhor no que fazer. Estava tão cansada da viajem que dormiu como uma pedra, não tendo tempo de colocar suas idéias em ordem. Sasuke a fizera sentir-se como uma usurpadora, mas agora mais calma percebia qual era a jogada dele. Queria fazê-la desistir do pai e de seus planos, mas não faria isso. O que restara da sua família estava naquela ilha e seu nome era Yoko, então nada e ninguém a faria mudar de idéia. Precisava do pai e o faria entender isso.

Saiu do banheiro sorrindo. Estava sentindo-se melhor depois de uma boa noite de sono. Fazia muitos meses que não conseguia dormir tão bem. Entrou no quarto largando seus pertences e saiu rumo à cozinha. Estava precisando de uma xícara de café e torrada para saciar a fome.

Chyo estava picando algumas frutas quando entrou na cozinha. A senhora usava um vestido havaiano em tons de laranja e amarelo, o que a deixava com alguns anos a menos.

- Bom dia Chyo. – Entrou sorrindo para a senhora.

- Oh bom dia Saki. Acordou mais cedo do que previa. Esta com fome certo?

- Oh sim. – Sakura sorriu.

A mulher fez menção de parar o que estava fazendo, porém Sakura a interrompeu.

- Pode continuar o que estava fazendo, Chyo. Eu mesma faço meu café.

- Certo. Mas não vá se acostumando por que nesta cozinha quem manda é eu.

As duas sorriram enquanto a rosada pegava uma xícara e preparava o café.

- Como passou a noite?

- Dormi feito uma pedra. Acho que não percebi o quanto estava cansada até estar deitada. – Tomou um longo gole. – Posso pegar uma destas frutas?

Olhou para as frutas no balcão e sorriu.

- Claro. Coma quantos quiser.

- Ótimo.

Pegou um mamão e a faca se preparando para descascar.

- Gostaria que fizesse isso para você? – Chyo olhava para Sakura sorrindo meigamente.

- Oh não. Tudo bem.

Passou as mãos pela fruta cheirando-a em seguida. Pegou a faca com as mãos delicadas e passou a cortá-la.

 Chyo olhava a agilidade e habilidade da garota com a fruta, além da atitude dela de cheirar o alimento anteriormente. Fez uma careta desacreditada no que presenciara.

- Você parece fazer isso sempre. – Chyo comentou voltando a sua tarefa.

- Oh sim. – Sorriu triste. – Parece que até a senhora me acha uma metida e rica madame.

- desculpe-me Sakura. – Chyo a observou e o que viu a deixou magoada. – Oh menina não fique assim.

Largou o que estava fazendo e foi ate a rosada que estava com os olhos marejados. Abraçou-a sem pedir permissão.

- Não queria ofendê-la apenas falei o que sabia sobre você.

- Chyo não sou uma inútil e muito menos uma madame, apesar de minha mãe querer que eu me tornasse uma.

Sakura afastou-se da senhora dando alguns passos para trás.

- Olhe para mim.

Chyo a encarou observando a mulher que Sakura era. Olhou dos pés que naquele momento estavam descalços mostrando os dedos pequenos e delicados. Passou para o corpo e viu como a garota era esguia e pálida. Usava uma bermuda surrada e uma camiseta verde clara curta. Passou enfim para o rosto. Ali foi o local que mais a admirou. Ela tinha um olhar decidido e inocente. Os cabelos estavam longos e lisos diferentes de quando chegara.

A garota não era uma madame, era apenas uma menina em corpo de uma mulher.

- O que vejo quando a olho Saki, é uma garota que me surpreende a cada dia.

Sakura sorriu triste abaixando a cabeça tentando desanuviar os pensamentos.

- Estou passando por varias coisas desde que cheguei à ilha, na verdade, desde que entrei no avião de Sasuke.

- Compreendo. Sasuke é meio que protetor dos que ama. Sempre foi assim, desde muito novo.

- Claro eu entendo. Só não sei o porquê de ele me tratar como uma intrusa sendo que sou filha de Yoko.

- Sakura. – Chyou ergue com a ponta do dedo a cabeça da menina. – você terá que conversar com seu pai. As coisas que não foram esclarecidas.

- Vim para cá com este objetivo, mas esta sendo muito complicado.

- Sasuke não esta colaborando, certo?

A rosada sorriu abertamente.

- Não mesmo.

- Imagino. – Chyo sorriu estimulando a garota. – Não se preocupe mais cedo ou mais tarde vocês irão se entender.

- Assim espero. – Falou baixo e suspirou.

- Agora coma seu mamão.

Ambas voltaram as suas tarefas sorrindo cúmplices.

- Obrigada novamente Chyo.

- Oh não precisa agradecer querida. Sinceramente gostei de você desde que chegou aqui. –Sorriu para a menina. – Quando terminar de comer me ajude com esta salada de frutas que estou preparando para mais tarde.

- Seria ótimo. – Sakura disse animada. – Estava ficando preocupada.

- Com o que?

- Achei que não me deixaria ajuda-la por aqui e, sinceramente, não estou acostumada a não ter o que fazer.

Sakura sorriu erguendo as mãos com gestos desolados.

- Oh não se preocupe, irei lhe dar alguma atividade.

Sorriu com o olhar malvado.

- Acho que não deveria ter falado isso. Agora vai querer me fazer de escrava. – Colocou uma mão no peito e outra a frente da testa.

- Sem drama garota. – Chyo sorriu.

A rosada voltou a comer olhando discretamente para a senhora que tanto a estava ajudando. Não saberia o que fazer se não tivesse Chyo para consolá-la e ampará-la. Apesar de não ter dito nada da sua vida para a senhora, ela a ajudava e compreendia sem muitos atos. Estava feliz por ter alguém com o coração tão grande e bom como Chyo, pensou a rosada.

Passara dois dias desde sua chegada na ilha e ainda não conseguira falar com o pai. Tudo bem que ele ficava praticamente todo o seu dia no aeroporto e só voltava na hora do jantar e depois desaparecia no escritório. Estava começando a achar que Yoko a estava evitando. As conversas que tiveram se resumiam à palavras cordiais e rápidas na hora do jantar. Estava começando a se sentir deprimida e arrependida, coisa que não acontecia desde sua conversa com Chyo. Não sabia mais o que fazer. Sasuke também não a deixara sozinha com Yoko nem por alguns segundos. Sempre estava a espreita de algo, como se ela fosse uma ladra.

- Urgh. – O som saiu de sua garganta sem nem ao menos perceber.

- Você esta bem querida?

Sakura afastou os pensamentos e olhou para a senhora que estava ao seu lado no jardim.

- Na verdade não. – Sorriu pegando a pequena tesoura de poda. – Estou começando a ficar irritada.

Chyo soltou uma longa gargalhada.

- Ei! qual o motivo do riso?

As duas mulheres estavam naquele inicio de tarde, sentadas em meio às plantas e flores fazendo o trabalho de jardinagem.

- Estava pensando até que ponto iria esse seu jeitinho calmo. Mas acabei de me impressionar, pois definitivamente pensava que agüentaria mais uns dias antes de explodir.

Chyo sorriu novamente largando a pequena pá.

- Não tem graça Chyo. Se não fosse esses trabalhos que me dá para ajudá-la já teria explodido a muito tempo.

- Não me parece uma mulher irritada. Na verdade parece-me uma dama controlada, até neste momento que sua voz se altera sua expressão continua igual.

- Fui bem treinada. – respondeu simplesmente erguendo os ombros.

- Hnm. Então quem foi que a treinou?

- Meus pais é que não foram. – Sakura sorriu tentando evitar falar sobre o passado. – Acho que hoje irei à praia.

- Oh claro. Você irá adorar.

- Me lembro vagamente do lugar. – Sakura sorriu ao recordar de quando era criança e brincava a beira do mar.

- Não mudou muito apesar dos anos. – Chyo falou. – Os turistas não vêm para essa parte da ilha, então a praia é deserta e cheia de plantas típicas. Alem dos corais e abrigos para os animais.

- Bom acho que terminei por aqui. – Levantou batendo as mãos na bermuda para tirar a terra. – acho que irei subir e colocar a roupa de banho.

- Vai lá querida, eu continuo por aqui.

- Certo.

Sakura correu para dentro subindo as escadas de dois em dois degraus, estava agindo como quando tinha cinco anos de idade. Sorriu para si mesma ao lembrar disso. Entrou no quarto tirando a roupa e o chinelo jogando tudo a um canto para depois lavar. Abriu a gaveta retirando de lá o biquíni que conseguira emprestado de sua colega de trabalho. Colocou-o olhando-se a seguir no espelho. Virou-se levemente para poder visualizar como estava na parte de trás e sorriu satisfeita, afinal não ficara de todo mal. A cor verde musgo combinava com seus olhos assim como com a sua pele claríssima. Tudo bem que preferia a parte de baixo um pouco maior, mas era emprestado então não podia exigir. Vestiu um short jeans curto e uma blusa longa de tecido leve que a amiga também emprestara dizendo para ela usar por cima do biquíni como saída de praia. Admirou-se mais uma vez no espelho sorrindo com o resultado. Pegou a bolsa com os utensílios necessários inclusive o protetor que a secretaria de Yoko, Ino, lhe dera quando chegou à ilha.

Desceu as escadas e saiu da casa sorridente. Tinha que se desligar um pouco antes que acabasse tendo um infarto de tão nervosa que andava nos últimos dias. E uma visita a praia com algumas horas de descanso sobre a areia branca e o mar azul era perfeito.

Sorriu com o pensamento e continuou passando pela trilha que levava ate o paraíso. Percebeu que as arvores não pareciam tão grandes quanto quando era criança. Talvez por ser mais alta agora. As plantas continuavam por todos os lados misturando-se com os coqueiros e flores típicas, dando um colorido ao lugar. A areia branca já se misturava a área verde sinal de que estava próxima ao seu destino. Caminhou um pouco mais rápido escutando ao fundo o barulho das ondas se quebrando, até que finalmente pode visualizar o mar. Trancou o ar nos pulmões absorta ao resto do mundo. A paisagem continuava linda ou até melhor do que lembrava. Finalmente soltou o ar e sorriu como uma criança diante do brinquedo novo. Olhou ao redor e descobriu-se só. A praia estava deserta até onde os olhos podiam ver.

Largou a bolsa e retirou a roupa largando no chão. Correu por entre as pedras levantando areia a cada passo até o mar. Sentiu a água nos pés e soltou um suspiro de satisfação. Continuou, caminhando desta vez, mais ao fundo até cobrir a cintura. Mergulhou quando a onda veio e sorriu ao voltar para a superfície. Podia ver os pequenos peixes nadando a sua volta, alheios a sua presença. Estava definitivamente no paraíso.

Passou a tarde a brincar como criança. Saiu diversas vezes se recostando em alguma pedra grande e passando o protetor que Ino lhe dera. Leu um livro sentada sobre a toalha que levara na bolsa e distraiu-se com a historia. Só percebeu que ficara muito tempo ali quando observou o sol descendo no horizonte.

Esta na hora de voltar, pensou após um longo suspiro. Voltaria para o seu destino. Colocou a roupa e juntou as coisas colocando na bolsa virando-se de costas para o paraíso e entrando na trilha.