Regency — Interativa escrita por Clarity


Capítulo 2
♚ Prólogo II


Notas iniciais do capítulo

Hey, there!
Bem, bem, bem. Desculpas pela demora! Houveram alguns imprevistos e para falar a verdade eu sequer esperava que a história fosse 'perdurar'. Vocês são o máximo, meninas! Ah, e aqui apresento o Daniel, que é o primo do Jamie e que terá a "seleção" junto com ele. AME-O LIKE I DO.



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Haverá alguém no mundo a quem a força celestial adore torturar mais do que eu? Maldito seja meu pai, com seu ego interminável, maldito seja o médico que efetuou meu parto, maldita seja minha mãe que não esteve aqui para ver-me crescer! Às vezes me pego reclamando, e são nestas frações de segundo que percebo: maldito seja eu, que deixei que fizessem isso comigo."

De uma carta de Daniel Carstairs, Conde de Cleybourne, para a amada irmã Danielle Carstairs. Jamais enviada por razões óbvias.

Daniel nunca realmente falou com ninguém. Para ser bastante sincero, ele tinha profundas dificuldades até mesmo em encarar seu professor particular, que ensinava-o sigilosamente na Torre do castelo onde vivia. Era preferível que se trancasse na biblioteca por horas e horas seguidas, lendo como se fosse uma necessidade imediata, bebendo as palavras em goladas gigantes. E na pueril idade de quatorze anos já tinha passado mais tempo na companhia de Dante Alighieri e seus clássicos do que na do próprio pai, qual havia visto apenas quatro vezes na vida, desde que conseguia se recordar.

Não era uma criança muito acessível, é verdade, e odiava ter de falar, se apresentar ou levantar da poltrona para qualquer coisa exceto ir à biblioteca. Um menino solitário, diziam, que precisava da companhia de outra criança em sua vida. Mas todo o isolamento do jovem Daniel vinha de uma, e apenas uma, fonte: Holand Carstairs, o pai, e sua fatídica maldição.

É certo que não se pedia para nascer pobre ou bastardo, e a criança Carstairs não era nem um pouco pobre ou bastarda, mas não se pediu também para que o médico que fez seu parto estivesse um tanto distraído no dia, de forma que puxou sua perna de maneira errada, resultando na maldição. O erro foi médico, é claro, mas este, querendo salvar seu pescoço das garras perigosas de Holand Carstairs, disse ter sido devido ao falecimento de Cordelia, a mulher de quem Daniel saiu de dentro.

— Senhor? — o garotinho foi chamado, certo dia, de seus aposentos isolados pelo mordomo, que mantinha a expressão inalterada.

— Hm?

— Lorde Carstairs o chama.

Daniel, que simplesmente odiava ter de deixar seu conforto tanto quanto falar com o pai, suspirou.

— Eu não quero ir.

— Ele diz que lhe tem uma surpresa.

Wilson não era realmente muito bom, pensou o jovem, em fingir entusiasmo. Se perguntou também se todos os mordomos possuíam habilidades mágicas como o seu, mas, bem, não se pode julgar os pensamentos de uma criança de sete anos de idade.

Então se colocou de pé, cambaleante, e estendendo os braços para a criada, se dirigiu até o outro lado do castelo, onde o pai geralmente se encontrava. O viu ali, sentado perto da lareira, os fios grisalhos condenando sua idade avançada, e viu também uma outra criança que não fazia a menor ideia da existência. Era uma menina, provavelmente mais nova que ele, com cachos castanhos e bem modelados caindo nos ombros adoravelmente. Talvez fosse um ano mais nova que ele, e usava aquela camisola rendada e bordada, com fitas por todo lado, tão comum nas meninas na época. Mas não foi sua camisola que lhe surpreendeu, mas sim o fato dela... Estar ali? Dela existir.

— Daniel — escutou a voz desconhecida do pai vir a ele — Conheça Danielle. Ela é sua irmã.

Mais tarde, Daniel aprenderia que ela era mesmo sua irmã, a filha do pai com a outra mulher com quem se casara (casamento qual, sem muita surpresa, ele não foi, já que Holand fazia o possível para manter fora das vistas seu filho manco), e foi a única outra criança que teve contato por um tempo lamentavelmente grande. Exceto pelos Castamere, a família que via tão pouco; seu pai era irmão da Duquesa de Ravenscar, e sempre que a duquesa podia, fazia visitas aos Carstairs, levando aquele mundo (apenas dois, mas o mundo de Daniel era realmente pequeno) de filhos com ela.

— Olá — Danielle sorriu. Tinha um sotaque estranho, estrangeiro, definitivamente francês.

— Olá — ele estava no chão, olhando para ela com curiosidade.

Danielle foi uma companhia agradável por muito tempo, juntos se sentaram na floresta e esculpiram um pedaço de madeira para servir de apoio à Daniel, que mancava com a perna esquerda devido às complicações no parto. Ela lhe ensinou francês e ele lhe ensinou a apreciar os verbos em latim e conjugações em grego, e juntos aprenderam alemão. Também assaltavam a cozinha em busca de bolo de chocolate e compartilhavam a mesma ama de leite.

— Vamos logo — ela sussurrou, impaciente, para ele — Nina pode voltar a qualquer segundo.

— Estou indo — ele tentou se apressar — Elle, a Senhorita Tanner não vai gostar de estarmos fazendo isso.

— Vamos logo — ralhou novamente.

Naquela noite, conseguiram realmente assaltar à cozinha e roubar a torta de chocolate.

Quando tinha treze anos, foi convocado ao escritório do pai novamente. Este, por sua vez, estava com uma aparência realmente doentia.

— Venha aqui — o velho chamou, e Daniel obedeceu — Por Deus. Se parece muito com sua mãe.

Ele se assustou, sendo a primeira vez que alguém lhe dizia isso.

— Ela sempre quis ter filhos, sabe? Um primogênito forte e viril, que guardasse o restante da família. — Holand balançou a cabeça — Creio eu que tenham amaldiçoado seu ventre. Maldito! Cinco anos de tentativa e todos morriam. Mas então funcionou, e quando estava realmente funcionando, ela morreu na metade e... E te deixou danificado.

Ninguém jamais havia falado com tanta certeza com ele. Já ouvira comentários desagradáveis a respeito de sua dificuldade, mas jamais pensou que alguém, muito menos seu pai, fosse chamá-lo de danificado, como uma mercadoria desgraçada por vermes. E doeu mais do que esperava.

— Pode levá-lo, Wilson.

O mordomo abriu a porta e dispensou o garoto. Alguns meses depois, Holand Carstairs faleceu e Daniel sequer se dignou a chorar.

Mas então veio o pior momento de sua vida: o dia em que Danielle se foi. Não muito depois do falecimento do pai, quando uma tia intrometida, Lady Annalisa, irmã da segunda esposa de seu pai, resolveu que ela deveria ser criada devidamente, para ser apresentada à sociedade londrina em seu debute escandalosamente pomposo quando chegasse a hora.

A despedida foi penosa, e o jovem rapaz chorou mais numa só noite do que em toda sua vida, mas pela manhã estava pronto para dizer adeus, afinal, Lady Annalisa a traria à passeio de vez em quando.

Daniel, que já era uma criança quieta e isolada, escondida nos muros frios do castelo pelo pai, se fechou ainda mais. Principalmente ao ver a carruagem na qual Lady Annalisa e Danielle iam derrapar numa curva molhada para dentro do lago congelado. Ele tentou correr, mas nunca foi muito bom sequer andando. Caiu e observou a irmã morrer, afogada, dentro do lago. Foi o pior dia de sua vida. Se tornou mais reservado, quieto, escondido, seus movimentos reduzidos entre seus aposentos e a biblioteca, dolorido. Aos quinze, havia lido todos os livros do acervo milenar da família pelo menos duas vezes. Suas palavras foram reduzidas a acenos de cabeça e murmúrios grutais, como 'hm', 'hum-hum', 'hmhm', 'huh'. Lia como se necessitasse dos livros para sobreviver.

— Senhor — o fiel mordomo, Wilson, pigarreou.

— Hm?

— Há visitas.

— Estou indisposto— estava acostumado aos curiosos, afinal, o lugar onde vivia se tratava de um castelo medieval bem conservado e magnífico, e a resposta para visitantes era sempre a mesmíssima: indisposição. Já era sabido na região que o solitário e recluso conde era bastante indisposto.

— Receio que Lady Ravenscar não vá aceitar desculpas, meu Senhor. Ela veio de muito longe, e está desabando água lá fora.

— Lady Ravenscar? Oh, Deus, peça que entre já. E mande as criadas esquentarem-lhe água para o banho e preparar um quarto. Ah, e sirva alguma coisa para ela na sala de espera. Já estou descendo.

Era realmente estranho, o próprio Daniel ponderou, que estivesse a dar ordens. Odiava dar ordens, agir como o Conde daquela maneira tão autoritária com os empregados do castelo, pois, apesar de tudo, eles o criaram. Mas Lady Ravenscar era sua adorada tia, irmã de seu pai, a única família que mantinha ligeiro contato. Se recordava também da infância escura, com pequenos traços de felicidade, que tivera com a presença dos primos na casa. Eram sempre bem-vindos.

Levantou-se, ajustando a gravata sufocante e colocando trajes devidos, pois ainda usava a blusa que vestia para dormir. E então encarou o próprio reflexo no espelho; não era feio, de forma alguma. A pele era pálida, já que eram raras as ocasiões em que saía na luz, os olhos bem azuis, com o cabelo negro que nunca parecia ficar no lugar. Porém, haviam olheiras profundas em baixo dos olhos, que talvez o deixassem com o aspecto mais velho do que seus vinte e quatro anos. Guardou os óculos de leitura que usava na ponta do nariz e esfregou os olhos antes de seguir pelo corredor.

A perna o incomodava, principalmente na hora de andar. Às vezes doía, uma dor bastante distante, mas constante. E ele ainda mancava, e precisava usar a bengala para se mover com mais rapidez.

— Lady Ravenscar!

Isobel Castamere, que estava sentada elegantemente no sofá com uma manta em cima dos ombros para aquecê-la devido à chuva que havia pegado no caminho.

— Poupe-me das formalidades, Daniel — ela sorriu, levantando-se — Como vai, querido?

— Sobrevivendo, tia.

Ela soltou o ar, retirando as luvas e as entregando ao mordomo.

— Era o que temia — balançou a cabeça — Sobreviver não é muito bom.

— É quase viver. Acredito que conte — sorriu — Enfim, a que devo esta maravilhosa visita? Onde estão James e Arabella?

— E John e Lílian. São os meus mais novos, não creio que os tenha conhecido.

Ele virou a cabeça, se recordando.

— Estava grávida de John quando eu era criança. Depois não o vi mais. Creio que era jovem demais para brincar conosco — pigarreou — E Arabella? Lembro-me que ela e... E Danielle costumavam ser boas amigas.

Lady Ravenscar sorriu tristemente, tomando um gole de seu chá.

— Sim, elas eram — sentou-se novamente, batendo no lugar ao seu lado para que ele se sentasse — Ficamos desoladas ao saber que não pôde comparecer ao seu casamento. Oh, e Wilson, traga um chá para o Senhor Carstairs, por favor — Daniel quase se surpreendeu, mas então lembrou-se que a tia fora criada naquela casa, com Wilson a servindo.

— Me desculpe. Estava me sentindo...

Indisposto. Sim, eu sei. — Colocou açúcar no chá e tilintou a colher — Voltando ao assunto. Tenho um favor a te pedir.

— Diga. Sabe que faria tudo para a Senhora.

— Bem, gostaríamos de passar um tempo aqui... Minha mansão de veraneio na Áustria foi tomada por oficiais, maldito seja meu falecido marido. Estou trazendo algumas moças para que James possa escolher.

— Algumas moças. Quantas?

— Por volta de vinte boas moças— franziu os lábios — Pode escolher algumas para si, também, é claro. Foi este o meu raciocínio ao pensar no Castelo Valiard; é espaçoso, confortável e você precisa se casar, oras.

— Não preciso, tia.

Isobel bufou, um gesto bastante inadequado para uma dama, e se aprumou no sofá, olhando para o sobrinho com uma pontada nostálgica.

— Por Deus! Você e James são tão iguais — revirou os olhos — Mas sou mais velha que você, sua parente mais próxima. É meu dever que o case com alguém decente para que possa ser feliz e ter herdeiros.

— Não sou sua responsabilidade, tia. Sinceramente. Não precisa fazer isso.

— Ninguém disse que eu precisava. Eu quero. — houve um silêncio — Quero vê-lo feliz, Daniel.

O rapaz olhou para o chão.

— Eu sou feliz.

E soube que estava mentindo. Era um bastardo solitário e infeliz. Amaldiçoado.


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Notas finais do capítulo

Sooooooooooo! Espero que tenham gostado. Dan-Dan é o amor da minha vida, sz Ah, e gostaria de pedir à vocês trechos de cartas ou do diário que sua personagem já escreveu. Se forem trechos de cartas, coloquem de quem para quem, e se forem trechos de diário, coloquem "do diário de Fulana de Tal, logo após/antes/durante o 'falecimento de seu bichinho de estimação, Robbie'". :D