Capítulo 8: A Primavera da Juventude

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Sakura caminhava lentamente em direção ao escritório da Hokage. Como tinham acabado de voltar de uma missão, era o dia de folga do Time 7, mas mesmo assim ela queria saber novidades sobre os pergaminhos que haviam recuperado do último esconderijo do Orochimaru. Sua mestra tinha certeza que eles trariam informações importantes para que elas conseguissem finalizar a cura para o Juugo e, talvez, para os demais portadores do selo amaldiçoado.

Era uma tarde quente e fresca de início de primavera, e as flores que lhe davam o nome começavam a florir em abundância nos arredores da cidade. Ela gostava de caminhar pela vila em dias tranqüilos assim, principalmente depois que não precisava mais se preocupar com o paradeiro do Sasuke; ele estava de volta, em segurança e ao lado dela. Ela ponderou se deveria voltar ao Distrito Uchiha depois que o deixara pela manhã, mas concluiu com um sorriso divertido que ele e o Naruto provavelmente estavam aproveitando a tarde de folga para mais um treinamento onde tentariam provar quem era o mais forte. Ela os encontraria na barraca de lámen mais tarde.

- Ah... aí está você, Testuda!

Sakura parou de andar assim que sentiu a mão da amiga segurando o seu braço.

- E então? - Ino perguntou assim que ela se virou, um brilho malicioso nos olhos azuis. - O Vingador Uchiha é realmente tudo aquilo que aparenta ou...?

Ino deixou a pergunta no ar, com um leve sorriso no rosto. Sakura desviou os olhos verdes da amiga e sentiu seu rosto enrubescer.

- Eu não sei do que você está falando, Ino - respondeu, finjindo-se de desentendida.

- Ora, Sakura! Você não me engana! - ela ralhou com a amiga. - Eu sei muito bem que você não dormiu em casa em hoje.

Sakura arregalou os olhos, mas então se recompôs para responder à amiga, gaguejando:

- Nós... nós estávamos numa missão. Só chegamos hoje cedo.

- Não foi o que o Sai me disse - Ino replicou, cruzando os braços e observando Sakura atentamente. - Eu encontrei com ele hoje de manhã, e ele me disse que vocês chegaram de madrugada. Então eu passei na sua casa, e a sua mãe me disse que vocês ainda não tinham voltado.

Sakura mordeu os lábios, indecisa do que responder. Ino lhe deu um sorriso vitorioso e continuou:

- E então, Testuda? Você vai me contar ou não?

- Eu não vou lhe dizer nada aqui, no meio da rua, Porquinha - ela respondeu com a voz baixa, continuando seu caminho e puxando Ino com ela.

As duas caminharam em silêncio, até chegarem numa área mais tranqüila. Ino não agüentou de curiosidade e obrigou Sakura a sentar-se num banco, onde as duas podiam conversar a vontade.

- Agora trate de falar - ela ordenou. - Eu estava certa, não estava? Você e o Sasuke ontem... você sabe...

- Isso não é da sua conta, Porquinha - Sakura respondeu, desviando os olhos da amiga. - Você está ficando pior que o Jiraya-sama!

Ino abriu um sorriso.

- Então eu estava certa - afirmou. - Esse brilho no olhar te entregou, Testuda. É a primeira vez que vejo você tão feliz, mesmo depois que vocês começaram a namorar.

A loira observou o rosto de Sakura corar mais uma vez naquela tarde, ficando quase da mesma cor que os cabelos.

- Finalmente você decidiu que pode confiar nele - ela continuou -, que ele não vai mais abandonar Konoha.

Sakura assentiu com a cabeça e sorriu.

- Ele prometeu que jamais me abandonaria novamente - respondeu, ainda sorrindo.

As duas amigas se abraçaram. Ino estava realmente satisfeita pela Sakura, ela havia observado de perto a angústia da amiga durante os anos que Sasuke estivera escondido com o Orochimaru e sabia que ela só seria feliz ao lado do Uchiha.

- Mas o que você está fazendo em Konoha? - Sakura perguntou quando as duas se soltaram. - Eu pensei que seu time estava numa missão em Suna.

- E devíamos estar! - Ino respondeu, indignada. - Mas o Shikamaru e a Temari brigaram de novo e a Tsunade-sama acabou mandando outro time.

- Não acredito! - Sakura respondeu, interessada nas últimas fofocas. - Eles formavam um casal tão bonito.

- Ah, Sakura, você conhece aqueles dois. Amanhã ou depois eles estão de volta. Eu e o Chouji apostamos que na próxima reconciliação, ele a pede em casamento.

- Mas isso não é bom para você - Sakura a provocou com um olhar malicioso. - Se os dois se casarem, o Shikamaru não vai mais fazer tanta questão de ir para Suna, e você não verá mais o Gaara-sama com tanta freqüência.

- Aff, Testuda! O Gaara já é passado. É muito complicado namorar o Kazekage - Ino respondeu. - Eu já deixei o Sasuke para você porque não gosto de homens complicados!

- Sei... - Sakura continuou, cínica. - E você acha que um ex-integrante da ANBU raiz é uma pessoa extremamente fácil de se relacionar...

A loira deu um longo suspiro, olhando para o horizonte, e então respondeu:

- Eu não sei mais o que fazer com ele. O Sai está sempre me dizendo coisas tão bonitas... mas sempre com aquela expressão indefinida no rosto. Eu nunca sei se ele está falando sério ou apenas brincando comigo com aquele sorriso falso.

Sakura franziu o cenho, tentando imaginar o Sai falando alguma coisa gentil para alguma garota. Mas então lembrou que vira Ino e ele várias vezes juntos quando estavam de folga. Se Sai gostava da companhia da loira de olhos azuis, é porque realmente estava começando a sentir alguma coisa por ela.

- Você tem que ter paciência com o Sai - Sakura a aconselhou. - Afinal, ele não sabe lidar muito bem com os sentimentos. E num nível muito pior que o Sasuke ou o Gaara - acrescentou, rindo.

- Acho que você tem razão - ela riu também. - Eu sou péssima para escolher namorados...

As duas foram interrompidas quando o assunto da conversa apareceu bem a frente delas. Sai segurava um livro na mão e parecia confuso.

- Ino-san - ele a chamou, mas depois se corrigiu: - Ino.

Ela o encarou profundamente, deixando-o ainda mais confuso.

- Eu... eu estava lendo este livro e... bem... tem uma coisa que não entendi aqui.

- E o que é? - ela perguntou delicadamente, interessada no que ele tinha a lhe mostrar.

- Bem - Sai começou -, aqui diz que quando duas pessoas se gostam muito, uma maneira de mostrar seus sentimentos é através de um beijo.

- Sim - Ino assentiu -, e qual é o problema?

- Bom, é que... quando eu estou com você, é diferente de estar com a Sakura-san ou a Hinata-san. E quando eu estou sozinho em casa, às vezes, eu acho que tenho vontade de vê-la novamente.

Ele disse tudo aquilo numa entonação só, sem tirar o sorriso falso do rosto. Sakura apenas observou, feliz pelos dois amigos. Sai parecia estar realmente tentando melhorar suas habilidades sociais, e a Ino estava com aquele olhar que só os apaixonados possuíam.

- E por isso eu fiquei em dúvida - Sai continuou, depois de uma pequena pausa. - Eu gostaria de beijá-la, mas não sei se isso seria apropriado...

No mesmo instante, Ino pulou do banco onde estava sentada para os braços dele, impedindo-o de continuar falando com um beijo. Sakura achou melhor deixar os dois a sós, afinal, Ino parecia ter um jeito muito peculiar de ensinar traquejo social ao Sai.

Ela estava quase chegando ao escritório da Hokage quando Shizune apareceu correndo, chamando pelo nome dela.

- Sakura! Eu sei que é o seu dia de folga, mas você precisa ir até o hospital.

- O que aconteceu, Shizune?

- O Neji-san - ela respondeu, respirando com dificuldade por causa da corrida. - Ele foi trazido por um grupo de médicos ninja. Parece que foi atacado e chegou aqui quase sem chakra.

- E onde está a Tsunade-sama? - ela perguntou, assustada e preocupada com o estado de saúde dele.

- Ela e a Karin já entraram em cirurgia - Shizune respondeu -, mas a shishiou pediu para que você ficasse alerta, caso ela precise de reforços.

- É tão grave assim?

Shizune apenas assentiu com a cabeça, permanecendo em silêncio. Entendendo que sua mestra podia precisar dela a qualquer momento, Sakura saiu correndo em direção ao hospital. Assim que chegou, foi conduzida imediatamente para a sala de cirurgia onde Neji estava. Tsunade e Karin estavam concentradas nos procedimentos de cura, mas ela logo percebeu que sua mestra precisaria de ajuda em pouco tempo.

Os ferimentos de Neji não eram tão graves quanto Sakura imaginara, e logo que começou a ajudar Tsunade com o seu chakra, o ninja começou a manifestar melhoras. Em pouco tempo, Sakura e Karin deixavam a sala de cirurgia, enquanto Tsunade ainda dava ordens para os enfermeiros sobre os cuidados pós-operatórios.

Foi estranho trabalhar ao lado de Karin depois do que tinha acontecido de manhã, e as duas permaneceram num silêncio constrangedor por um bom tempo depois que deixaram Tsunade. Assim que Sakura tinha acabado de se arrumar, trocando as roupas que usara na cirurgia para suas roupas normais, Karin a chamou antes que ela pudesse alcançar a saída.

- Acho que você vai gostar de saber que eu falei com a Tsunade-sama hoje de manhã.

Sakura voltou-se para ela, com uma sobrancelha levantada em sinal de dúvida, segurando a porta entreaberta.

- Eu vou deixar o hospital - ela continuou - e a vila. Não vou mais importunar o Sasuke ocupando uma das casas da família dele.

Sakura desistiu de sair e fechou a porta novamente. Deu alguns passos na direção de Karin, e então falou:

- Eu realmente não me importo se você vai ou não deixar a vila. Mas eu pensei que você gostasse de trabalhar aqui no hospital.

Karin não respondeu imediatamente. Ela desviou os olhos de Sakura, encarando a porta fechada que separava a ante-sala onde estavam da sala onde a cirurgia de Neji acabara de ocorrer.

- Quando estava com o Orochimaru-sama, minha sensibilidade ao chakra era útil para cuidar dos prisioneiros dele. Eu era enviada em missões para identificar e capturar novas cobaias com potencial para as experiências dele. Jamais imaginei que poderia usar meus jutsus para salvar vidas também...

Sakura a considerou por um momento. Ela sempre odiara a Karin por causa da constante rivalidade entre as duas pelo Sasuke, mas agora que ela não lhe fazia mais nenhuma ameaça, passou a enxergar a kunoichi do som com outros olhos. Ela não conhecia a história da Karin, mas realmente parecia que ela havia encontrado em Konoha algo que nunca tivera com o Orochimaru e que se adaptara muito bem a essa nova realidade.

- Você sabe que, mesmo com a cirurgia, o Neji-san ainda vai precisar da sua ajuda para se recuperar totalmente - Sakura argumentou. - Sem você aqui, para monitorar a resposta do chakra dele ao tratamento, essa cirurgia foi inútil.

Karin virou-se para encarar Sakura e estava prestes a responder quando a porta da sala de cirurgia se abriu.

- Sakura - Tsunade a chamou assim que entrou na ante-sala -, eu sei que é seu dia de folga, mas gostaria que você me acompanhasse. Tenho algumas novidades sobre o caso do Juugo. - Voltando o olhar para Karin, ela ordenou: - Karin, você pode acompanhar Hyuuga Neji até o quarto? Gostaria que você monitorasse as reações dele até eu voltar, aí poderemos continuar aquela nossa conversa.

As duas kunoichis assentiram a cabeça perante as ordens de sua mestra, e Sakura a seguiu, deixando Karin sozinha. Ainda no hospital, numa sala reservada para a Hokage, Sakura foi a primeira a receber a notícia que, graças aos últimos pergaminhos recuperados de Orochimaru, uma espécie de antídoto contra os efeitos do chakra no corpo de Juugo fora desenvolvido pela própria Tsunade ainda pela manhã, e ela esperava poder testá-lo no mesmo dia. Para isso, Juugo deveria ser internado e seus sinais vitais monitorados no hospital.

- Eu já avisei o Sasuke - Tsunade continuou com sua explicação. - Ele deve acompanhar o Juugo caso precisemos do Sharingan se ele se descontrolar.

- Eu entendo - Sakura respondeu. - Eu ficarei por aqui caso precise da minha ajuda.

- Obrigada, Sakura - a Hokage agradeceu e dispensou sua pupila.

Enquanto Sasuke e Juugo não chegavam ao hospital, ela pensou em verificar como Neji estava reagindo à cirurgia e começou a caminhar em direção ao quarto do Hyuuga, quando ouviu uma voz gritando seu nome logo atrás dela.

- Sakura-chan! Sakura-chan!

Ela virou para trás com os olhos estreitos de raiva.

- Naruto! - ela o repreendeu, com a voz baixa, mas severa. - Isto aqui é um hospital. Pare de gritar!

- Ah... desculpa, Sakura-chan - ele respondeu, levando a mão a nuca. - Mas é que eu vi a Hinata correndo para cá e... Aconteceu alguma coisa? Ela está bem?

- A Hinata? - Sakura refletiu. - Ah, claro! Ela deve ter vindo por causa do Neji-san. Ele foi atacado durante uma missão e teve que passar por uma cirurgia muito arriscada. Mas já está tudo bem, você não precisa se preo-

Ela parou de falar assim que percebeu que o loiro já tinha saído correndo. Encontrou-o no final do corredor, perguntando para algumas enfermeiras onde ficava o quarto de Hyuuga Neji.

- Naruto! - Sakura o censurou mais uma vez, agarrando-o pelo braço e arrastando-o junto com ela. - Eu estava justamente indo para lá. Por que você não esperou eu terminar de falar?

Mas ela não obteve nenhuma resposta. Assim que viu Hinata sentada na sala de espera, Naruto se desvencilhou da amiga e correu até onde a jovem Hyuuga estava.

- Hinata-chan, você está bem? Eu vi você entrando correndo no hospital, mas a Sakura disse que você deve ter vindo saber notícias do Neji e... e...

Ele começou a falar tudo aquilo de uma vez só, sem parar para respirar, mexendo os braços para todos os lados.

- Na- Naruto-kun... - Hinata tentou interrompê-lo, só conseguindo quando ele mesmo teve que parar porque havia perdido o fôlego. - Vo- você veio aqui só por... er... por minha causa?

Os olhos perolados estavam com um brilho que fez Naruto pensar que ficavam ainda mais lindos, mas logo em seguida suas pálpebras se fecharam, escondendo-os.

- Ahhh! Sakura-chan! - Naruto berrou no mesmo instante. - A Hinata-chan está doente, ela.. ela...

- Cala a boca, seu baka - Sakura interveio, abanando Hinata. - Ela só desmaiou por sua causa!

- O quê? - Naruto perguntou, franzindo a testa e voltando a coçar a nuca. - Mas por que a...

Mas ele parou de falar assim que Hinata abriu os olhos novamente, graças ao amparo de Sakura.

 - Hinata-chan? - Naruto sentou-se ao lado dela, nervoso. - Você está bem?

- Es- estou sim, Naruto-kun - ela respondeu. - O- obrigada - acrescentou com um sorriso.

Naruto também sorriu e, quase sem perceber, colocou sua mão sobre a dela. A garota Hyuuga corou novamente ao sentir o toque em sua mão, mas recusou-se a desmaiar. Virando-se para Sakura, perguntou:

- Você tem alguma notícia do Neji-san?

Sakura olhou de relance para as mãos unidas. Desde quando o Naruto e a Hinata...? Parecia que ela não tinha prestado muita atenção no amigo depois que começara a namorar o Sasuke, mas ficou feliz que ele finalmente parecia começar a perceber a existência da Hinata. Ela abriu a boca para responder a pergunta, quando duas vozes a interromperam:

- Sakura! Hinata! Alguma notícia do Neji-kun?

- Ele já saiu da cirurgia? Como ele está?

Ten-ten e Lee estavam parados atrás dela e não paravam de fazer perguntas. Sakura teve que pedir silêncio, e só então explicou:

- Ele não corre mais risco de vida. Mas a cirurgia não foi suficiente para restabelecer o fluxo de chakra normal dele. A Karin está acompanhando a recuperação e monitorando os sinais vitais. Assim que a corrente de chakra estiver totalmente regenerada, ele poderá receber visitas.

Hinata, Ten-ten e Lee suspiraram aliviados. Sakura ainda observou, com um sorriso no rosto, Naruto passar um braço pelos ombros de Hinata, fazendo-a recostar a cabeça nele. Virando-se para o outro lado, ainda observou Lee e Ten-ten, de mãos dadas, sentarem-se para esperar mais notícias. Sentindo que estava sobrando ali, Sakura deu as costas para os casais com um sorriso ainda mais largo; estava feliz por ver que seus amigos também tinham encontrado alguém para dividir suas alegrias e temores.