Recomeço

Escrita por BastetAzazis

DISCLAIMER: Os personagens, lugares e muitos dos fatos desta história pertencem a Masashi Kishimoto.

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Capítulo 3: A Decisão

O primeiro dia de Sasuke fora do hospital tinha sido um tanto constrangedor. Caminhando pelas ruas da sua antiga vila, ele podia sentir as pessoas olhando para ele como se fosse um traidor que jamais deveria ter voltado. Ele já esperava por isso, aquelas pessoas jamais entenderiam o que era ter todos os seus laços arrancados de uma única vez, sem mais nada que o prendesse àquele lugar. Apenas o Naruto não o julgava. Eles se encontraram quando estavam saindo do hospital e, depois de um abraço apertado demais e seu nome berrado em seu ouvido dezenas de vezes, Naruto lhe prometera que se encontrariam no torneio chuunin, e que desta vez não perderia a luta.

Sasuke sorriu sozinho enquanto caminhava pelas ruas da vila e lembrava do encontro com o velho amigo no dia anterior. Naruto estava realmente mais maduro, mas ainda era o ninja hiperativo que achava que podia derrotá-lo. Será que ele conseguiria decepcionar o amigo mais uma vez e dizer-lhe que não tinha motivos para ficar em Konoha e seguir com essa história de exame chuunin? Afinal, ele ainda não sabia se aceitaria o pedido da Hokage ou se deveria arrumar suas coisas e partir o mais rápido possível. Partir para onde? E por que ficar em Konoha? Simplesmente porque não tinha outro lugar para ir não lhe parecia a resposta certa.

Suigetsu partiria em breve, em busca das demais armas dos sete espadachins lendários. Karin parecia interessada na proposta de Sakura, mas parecia que ela estava esperando alguma coisa antes de dar uma resposta definitiva. E ele ainda não sabia o que fazer com Juugo. Longe do controle do seu Sharingan, Juugo poderia se transformar num perigo a qualquer momento; se ele permanecesse em Konoha, seria um perigo para a vila, mas não podia permitir que o prendessem numa cela fortificada depois de tudo que Juugo fizera por ele.

Entretanto, o futuro dos integrantes do Time Hebi foi deixado rapidamente de lado assim que ele viu Sakura sentada num banco um pouco mais afastado do parquinho que eles costumavam brincar quando criança. Os cabelos, embora curtos, estavam presos num coque no alto da cabeça, e ela usava um jaleco branco por cima de suas roupas, assim como ele a vira no hospital. Mas foi o brilho de uma lágrima escorrendo pelo rosto dela que o fizera esquecer do mundo a sua volta. “Quer dizer que ainda há alguma coisa da antiga Sakura dentro daquela máscara de frieza?” – concluiu.

- Sakura? – ele a chamou assim que se aproximou do banco onde ela estava. – Você está bem?

- Sasuke? – ela virou o rosto para ele, enquanto ele já estava sentando-se ao lado dela. A única coisa que conseguiu fazer foi esfregar as costas das mãos no rosto para secar as lágrimas.

- Você está chorando. Aconteceu alguma coisa? – ele insistiu.

- Não é nada. Não precisa se preocupar comigo – ela respondeu, forçando um sorriso.

Sasuke continuou olhando para ela, os olhos pretos fixos nos verdes, dizendo-lhe que não aceitariam uma resposta tão simples. Apesar da distância que cresceu entre eles com o tempo, ela se sentiu um tanto reconfortada com a preocupação dele, uma vaga lembrança do tempo que ainda faziam parte de um mesmo time.

Depois de um longo suspiro, ela respondeu aos olhos silenciosos que a encaravam:

- Há um menino que estamos tratando no hospital há alguns meses. Ele tem uma doença muito rara e eu e Tsunade-sama estávamos pesquisando uma maneira de curá-lo, mas ele piorou muito e não há mais esperanças. – Ela voltou o rosto para a vista a frente deles. – Eu acabei de dar a notícia para os pais dele.

- Ah... – Sasuke balbuciou. Um raio de desapontamento cruzou seus pensamentos por um breve instante egoísta. Ela não estava chorando por causa dele... – Eu sinto muito – foi a única coisa que conseguiu responder.

- Eu sempre venho aqui depois que alguma coisa assim acontece. A vista do lago é linda, não acha?

Sasuke apenas assentiu com a cabeça. O lago visto ao longe trazia boas lembranças do pai lhe ensinando o ninjutsu do seu clã, mas também o fazia lembrar da sua antiga promessa de vingança contra Itachi e da solidão que sua vida se resumira desde então.

- É a única coisa que ainda não me acostumei depois que comecei a treinar técnicas médicas – ela quebrou o silêncio, sem encará-lo –, dar as más notícias. É como se tudo o que fiz e treinei tivesse sido inútil. – Sakura se viu confessando sua maior angústia tão facilmente, como jamais fora capaz de se abrir para qualquer outra pessoa.

- Você não é inútil – Sasuke replicou, fazendo um sorriso triste aparecer no rosto dela, junto com as lágrimas que haviam voltado a cair livremente.

Os dois ficaram sentados lado a lado, em silêncio, observando o sol que começava a descer na direção do lago, deixando sua superfície avermelhada.

- Sakura – Sasuke falou após alguns minutos –, eu sinto muito.

Ela virou-se para ele com um sorriso terno, enquanto respondia:

- Eu já disse que você não precisa se preocu... – mas parou de repente, assim que seus olhos se encontraram e ela entendeu que ele não estava se referindo ao garoto.

- Você tentou me alertar que a vingança contra Itachi não me faria feliz – ele continuou, seus olhos escuros fugindo do olhar dela. – Eu devia ter escutado.

- Não, Sasuke – Sakura disse, firme. – Você fez o que achava que devia fazer. Eu era apenas uma garotinha irritante que ainda sonhava com um príncipe encantado que nunca existiu. Eu não tinha o menor direito de tentar te impedir.

Ele voltou a encará-la, os olhos sempre tão inexpressivos agora mostravam um brilho afetuoso.

- Você nunca foi irritante, Sakura – ele respondeu.

Ela continuou em silêncio, os olhos fixos nos dele, e as lágrimas finalmente desistindo de cair. Sasuke levou uma mão até o rosto dela para um carinho, mas quando estava prestes a tocá-lo, ela recuou.

- Eu... eu tenho que voltar ao hospital – ela disse, levantando-se do banco. – Adeus, Sasuke.

Sasuke ficou observando a kunoichi médica se afastar dele. Quando foi que ele começou a desejar mais atenção de Sakura? Ele não odiava todas aquelas vezes que ela o abraçava e gritava seu nome quando eles eram genins? E onde estava aquela garotinha que ele sempre precisava proteger? Ele só conseguia enxergar uma mulher, uma ninja cuja força ele testemunhara recentemente, por baixo daquele jaleco terrivelmente largo, que escondia suas curvas.

Quando ela se misturou aos demais habitantes de Konoha, ao longe, ele se virou e seguiu para o abandonado Distrito Uchiha. Foi só então que uma lembrança há muito enterrada em sua mente estalou para fora. Uma vez, quando perguntado sobre suas ambições, ele respondera que desejava restabelecer seu antigo clã. Ele poderia se tornar um jounin facilmente depois de todo o treinamento dos últimos anos, e logo a força dos Uchiha novamente seria respeitada. Mas ele jamais reconstruiria todo um clã sozinho...

Sakura-chan... Ele a perdera quando deixou Konoha, e agora teria a chance de reconquistá-la se permanecesse. Ser ignorado por ela lhe mostrou o quanto ela ainda era importante para ele, o quanto ele se importava. Ainda virou para trás uma última vez, na esperança de discerni-la na multidão, mas ela já tinha desaparecido.

Voltou para casa pensando como o corpo dela estava diferente, e o quanto aquilo lhe parecia importante de repente. Então se lembrou dos meninos que se diziam apaixonados por ela quando ainda tinham doze anos. Havia aquele sobrancelhudo estranho do Time Gai que vivia pedindo-a em namoro, e o baka do Naruto. Este não deveria ser problema, afinal ela sempre se esquivava dos convites dele para um encontro na barraca de lamen. Entretanto, também parecia que eles ficaram muito unidos durante o tempo que treinaram para trazê-lo de volta. Será que ela o tratara com tanta indiferença desde que voltara porque seus sentimentos agora estavam voltados ao outro integrante do time 7?

Ele tinha que averiguar isso, precisava apenas de uma desculpa para se encontrar com o Naruto. Isso era fácil, concluiu; se ia ficar realmente em Konoha, precisava se preparar para os exames chuunin, e quem melhor que seu antigo companheiro de time, que também prestaria os exames, para treinar?

Sasuke entrou em sua antiga casa com uma ou duas decisões tomadas. Ele tinha um objetivo para ficar, e já tinha até uma nova missão. Precisava apenas comunicar aos seus hóspedes, o Time Hebi, que não pretendia partir e que eles poderiam permanecer em Konoha o tempo que quisessem, embora ele ainda precisasse pensar o que fazer com Juugo.

Continua...