P.O.V Tobias

Eu não faço ideia de quanto tempo a pequena ficou olhando pro nada. A única coisa que eu sei é que assim que saiu daquela letargia ela resolveu que me odiava.

Primeiro foi uma cotovelada no peito – que, sinceramente, ate uma mosca bateria mais forte –, mas depois os golpes foram ficando mais fortes e mais baixos. Resultado? Um belo galo na cabeça da caixa que ela jogou pra cima de mim. Tris me ameaçou que se eu contasse alguma coisa pra alguém eu não veria o amanha. Eu aceitei, mas coloquei ela em rédeas curtas.

Agora estava esperando a bendita moça do lado de fora do seu banheiro para esclarecer tudo. Conversava de vez em quando para ter a certeza de que ela não tinha conseguido fugir.

–Ai! Merda! – ela gritou de dentro do banheiro.

–Algum problema Prior? – perguntei. Jurava que tinha ouvido ela bufar de debaixo do chuveiro.

–Nada não Sr. Eaton! – pingava sarcasmo da voz dela. Ela era bipolar, só podia mesmo. Ouvi o barulho da chave girando na fechadura e vi a pequena entrar de toalha no quarto – Vira pra lá Quatro, ainda sou considerada do sexo oposto.

Virei meio que a contragosto, já não confiava cem por cento nela antes agora desconfiava ate da sua sombra. Ela se arrumou rapidamente, pronta pra sair, mas eu segurei seu pulso antes que fosse embora, não ia deixar ela sumir antes de uma explicação.

­–Quatro me solta – sussurrou olhando para o minha mão – por favor, Quatro, eu tenho que ir – me olhou com aqueles olhinhos azuis suplicantes, como se aquele surto tivesse explicação. Engoli a seco e continuei onde estava. A loirinha suspirou de forma tremula, olhando para tudo e para nada ao mesmo tempo, crispou os lábios e assumiu uma forma autoritária e raivosa.

–O que eu preciso fazer para o cachorrinho sair do meu pé?- disse se aproximando de mim, com a testa franzida e aquela cara assassina que não existia há alguns segundos atrás. Ela chegou mais perto, quase colando nossos corpos. Não larguei seu pulso, Tori já tinha me dito que era difícil confiar na Tris em meio aos seus surtos, agora entendia o porquê.

–Quero respostas – ela revirou os olhos.

–Você ainda não entendeu mesmo, não é? Não tem essa de explicação! Eu preciso e vou sumir daqui você gostando ou não! Além do mais o que você esta fazendo aqui mesmo? Que eu saiba babás não se intrometem em questões pessoais dos seus patrões – falou friamente. Continuei apertando firmemente o pulso da loirinha enquanto ela me olhava com aquela cara assassina.

–Pois agora é que você não sai de perto de mim.

Ela trincou a mandíbula – uma coisa que fazia quando decidia atacar – e levantou o joelho tentando me acerta em um lugar critico, mas eu segurei sua perna antes que algum estrago pudesse ser feito. Tris começou a se debater e tentar se livrar do meu aperto. Ela soltou um urro de frustração e me olhou com olhinhos grandes e cheios de lagrimas, tão criveis que uma pontada de pena surgiu no meu peito.

Ela chegou mais perto a ponto de conseguir sentir o cheiro do seu cabelo recém-lavado. Com a mão livre a baixinha se apoiou no meu ombro, ficando na ponta dos pés e quase da minha altura. No inicio achei que era mais um de seus truques, mas depois eu tive completa certeza que ela tinha enlouquecido. Depois de murmurar alguma coisa sem sentido ela simplesmente colou os lábios nos meus, me deixando totalmente sem reação. Devo ter afrouxado o aperto, porque logo depois Tris arranhou meu rosto e saiu correndo como uma doida pela casa.

Fui atrás dela e só vi o vulto negro da baixinha antes de cair na inconsciência.

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P.O.V. Tris

Eu estava fodida!

Não literalmente como algumas semanas atrás, muito pior do que um simples traficante no meu pé querendo casar comigo, estava falando de uma carrada de gente que me odiava pra valer. Estava com tudo pronto para mudar para a Califórnia quando um pensamento invadiu a minha cabeça. Como estaria Quatro?

Ele? Com certeza bem. Ele é durão, não iria cair por causa de um vaso.

Mas e se el...

Mas nada! Ou você já se esqueceu do que tem que fazer? Hayes deve ser morto!

Como assim morto? Você enlouqueceu? Morreríamos antes mesmo de chegar a Chicago.

­–Meu deus, que confusão...

–Posso ajudar moça? – uma garota de quase a minha idade me perguntou se sentando ao meu lado no vagão de trem vazio. Ela tinha a pele morena e os cabelos castanhos escuros curtos, pernas longas e esguias. Ela me olhou com aquele par de olhos chocolate pronta para ajudar.

–Acho que não, fiz coisas ruins demais para receber ajuda – respondi em meio a um suspiro. Ela riu baixinho e se virou melhor para falar comigo.

–Nada é tão ruim que não possa ter redenção... A não ser se você não sabe diferenciar mas de mais, aí não tem perdão! – dessa vez fui eu que ri baixinho. Olhei melhor para ela e de certa forma senti que já tinha visto ela em algum lugar antes. Ela usava uma regata preta e uma coisa me chamou a atenção no seu braço esquerdo.

–Desculpa, mas qual é o seu nome mesmo?

–É Christina, por quê?