Desconhecidos

Capítulo Único

Lucy Heartfilia não esperava passar o dia dos namorados sozinha em um parque de diversões. Mas ela tinha que admitir que aquilo era a cara de Sting Eucliffe, seu namorado. Às vezes a garota se perguntava por que ainda estavam juntos.

Sting já havia sido o príncipe encantado que Lucy sempre sonhou, mas depois de uns meses o relacionamento dos dois ia perdendo o encanto. A loira sabia que o garoto não se importava com datas como o aniversário de namoro ou o dia dos namorados, ele provavelmente havia se esquecido que a tinha convidado para sair. E provavelmente iria ligar mais tarde pedindo desculpas, Lucy pensava seriamente em não aceitar.

A loira já havia mandado uma mensagem, mas duvidava que ele estivesse acordado.

Suspirou cansada enquanto observava as pessoas entrando na fila para comprar seus ingressos. Lucy não tinha mais o que fazer naquele lugar, já havia perdido as esperanças que seu príncipe (des)encantado fosse aparecer.

Contudo assim que se levantou do banquinho uma voz desconhecida a chamou:

— Ei! Moça!

Olhou para trás e viu um garoto que estava sentado ao lado dela. Lucy estava tão distraída pensando em seu relacionamento com Sting que nem notou quando alguém sentou do seu lado. O rapaz que a havia chamado parecia ser bem jovem, talvez um pouco mais velho que ela, era bonito e a olhava como se eles já se conhecessem. Contudo o mais estranho sobre ele não era o jeito que ele a olhava, e sim o fato dele ter um cabelo rosa. Que tipo de pessoa tinha cabelo rosa? Será que ele era um palhaço? Talvez tivesse perdido uma aposta.

— Eu te conheço? — Lucy perguntou.

O sorriso do garoto aumentou.

— Não, mas estamos sentados aqui há mais de uma hora — respondeu.

A loira não conseguiu esconder o sorriso. Ela achou adorável o jeito com que o garoto dizia aquilo, como se virasse conhecido de uma pessoa só por ter ficado mais de uma hora sentado ao lado dela.

— E isso faz com que nós sejamos conhecidos?

Ele fez um gesto em direção ao lugar onde Lucy antes estava sentada. A loira acabou sentando sem hesitar. Ela não tinha nada melhor para fazer, e duvidava que alguém de cabelo rosa pudesse ser um estuprador. Além do mais ela precisava pensar em outra coisa que não fosse Sting Eucliffe, o pior namorado da galáxia.

— Pensei muito enquanto estava sentado no banco — começou o rapaz. — O jeito que você sempre checava o seu celular como se esperasse por algo, você está um pouco arrumada demais para ir à um parque de diversões, e o mais importante: hoje é dia dos namorados.

Lucy o encarou confusa. Ela não imaginava que ele fosse capaz de dizer o que ela achava que ia dizer, mas ele disse.

— Você levou um bolo.

A loira o encarou incrédula. Aquele cara podia não ser um estuprador, porém, sem sombra de dúvidas, era um idiota.

Lucy, se sentindo ofendida e constrangida ao mesmo tempo, fez menção de se levantar. Entretanto o garoto de cabelos rosas foi mais rápido.

— Está tudo bem! — exclamou rapidamente a fazendo voltar ao seu lugar. Ela estava curiosa para saber o que ele tinha a dizer, e eram esses os momentos que Lucy odiava ser tão curiosa. — Eu também levei um bolo — se explicou. — Minha namorada provavelmente está com outro cara. Eu sou Natsu Dragneel, a propósito.

A loira ficou sem reação por um tempo, ela se perguntava como alguém podia agir tão normalmente ao dizer que sua namorada estava com outro cara.

— Lucy Heartfilia — respondeu. — Posso te perguntar uma coisa?

— Claro Luigi — falou sorridente.

— Lucy — ela o corrigiu rapidamente. — Por que você não está irritado ou triste? Quero dizer, sua namorada está com outro cara.

— Hmm... — Natsu pareceu pensar bastante em sua resposta. — Ela está com o pai. Ele está morrendo de câncer.

Lucy ficou sem palavras, ela não esperava por aquilo.

— Nossa, isso é... — tentou encontrar as palavras certas para dizer, contudo ela não sabia o que dizer.

E foi então que Natsu começou a rir. Ele ria tão alto que várias pessoas começaram a encarar. Lucy não entendia o que estava acontecendo, talvez essa fosse a hora que ela deveria sair de fininho.

— E-eu... estou... brin-brincando... — o rapaz falou secando suas lágrimas. — Você precisava ver a sua cara, Luce.

A garota estava tão chocada que nem reparou que ela havia pronunciado o seu nome errado.

— Você. É. Um. Idiota — Lucy disse pausadamente.

Ela se levantou rapidamente querendo distancia daquele garoto. Porém Natsu foi atrás dela e a segurou pelo braço.

— Me desculpa, Luce — ele pediu fazendo uma cara fofa. Lucy adorava coisas fofas, ela teria que fazer um grande esforço para não aceitar. Deveria existir uma lei proibindo as pessoas de brincarem com coisas sérias como câncer. — Minha namorada está está com outro cara, e eu não estou irritado ou triste porque já sei disso faz tempo.

— Então por que estão juntos? — a garota se repreendeu por sempre fazer perguntas demais, ela não queria começar uma conversar com alguém como Natsu.

O rapaz demorou um pouco para responder, Lucy pensou que ele estivesse planejando outra brincadeira. Ela já ia puxar o seu braço e sair correndo daquele lugar, porém Natsu se pronunciou.

— É complicado — disse por fim, fazendo com que Lucy arqueasse uma das sobrancelhas. O garoto abriu um sorriso que mostrava todos os seus dentes. — Eu vou te contar quando nós formos amigos íntimos.

A loira não conseguiu segurar a risada, ele parecia mesmo achar que os dois seriam mais do que duas pessoas que tiveram uma conversa no banco do parque.

— Amigos íntimos? — indagou.

Natsu soltou o braço da garota e pegou dois papeis amaçados no bolso de trás da sua calça jeans.

— Quero que passe o dia dos namorados comigo.

Lucy mal conhecia aquela garoto, mas já havia notado que ele era expert em deixá-la sem palavras.

— O quê? — perguntou confusa. Se Natsu fosse um cara normal ela pensaria que tinha ouvido errado, entretanto só pelo tempo que passaram juntos ela sabia que ele não era normal.

— Acredito que nos dois vamos ficar sozinhos em casa e super entendidos, então por que não aproveitamos para passar o dia juntos? — sugeriu.

Lucy cogitou a ideia, e parte dela a repreendeu por estar realmente pensando em passar o dia com um desconhecido. A verdade é que a garota iria passar o resto do dia comendo balas de goma, assistindo filmes como “Eu Odeio O Dia Dos Namorados” e checando seu celular a cada cinco segundos. Desde que passou a morar sozinha e tendo que trabalhar para se sustentar, Lucy começou a valorizar mais as coisas mais baratas, e Natsu a estava oferecendo o ingresso de graça — ele não havia dito que queria o dinheiro de volta —, Lucy valorizava ainda mais as coisas que eram de graça.

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— Então você não vai na roda gigante, na montanha russa, no carinho de bate-bate, nas xicaras... — Lucy foi contando nos dedos os brinquedos que Natsu havia se recusado a ir. — Posso saber por que você quis ir à um parque de diversões se passa mal em todos os brinquedos?

Natsu respondeu a pergunta enquanto comia vários cachorros-quentes.

— Pra comer! — falou de boca cheia. Pedaços de comida caíram da boca do garoto de cabelos rosas, Lucy fez uma careta.

— Nojento — murmurou em voz baixa.

Natsu não pareceu notar, pois estava ocupado demais olhando para um barraca.

— Vamos naquele!

Sem esperar Lucy dizer alguma coisa, o rapaz a puxou pelo braço em direção à barraca. Era um daqueles jogos para ganhar prêmios, tinha que acertar as bolas coloridas na boca do palhaço.

Lucy não achava que Natsu ia acertar alguma. Se fosse a garota, ela não ia nem conseguir andar depois de comer tanto.

Entretanto para a surpresa de Lucy e do dono da barraca, Natsu acertou todos a bolas coloridas.

— Eu quero aquele ali! — o rapaz apontou para um ursinho de pelúcia bem estranho. Ele era branco, tinha chifre de unicórnio onde deveria estar o nariz, sua cabeça era redonda e gigante.

Natsu entregou a pelúcia para Lucy. A garota sorriu, Sting havia dado uma cobra de pelúcia para ela uma vez, porém Lucy tinha fobia de cobra e ela se lembrava de já ter dito aquilo para o namorado antes. Natsu a havia dado um bichinho único — único mesmo —, aquilo com certeza melhorou muito o dia da garota. Ela sabia que não era certo comparar um desconhecido com o namorado, mas era difícil não comparar.

— Agora tenho que escolher o nome — Lucy encarou o bichinho de pelúcia desejando saber o que era aquilo, ela tinha que admitir que apesar de tudo ele era fofinho. — Vai ser difícil...

Natsu também pareceu estar pensando em um nome.

— Já sei! — exclamou contente. Lucy o encarou com expectativa. — Isso parece um peixe! Então podemos chama-lo de Glue, porque o peixe faz glu glu.

A loira o encarou como se ele tivesse sérios problemas.

— Um peixe?! — ela voltou a encarar a pelúcia e tentou imaginar como aquilo podia se parecer com um peixe. — Você vai ao psicólogo? Isso parece mais com um cachorro.

— Um cachorro? — dessa vez foi Natsu que a encarou como se ela tivesse problemas. — Depois sou eu quem precisa de um psicólogo...

Lucy o ignorou.

— Glue é um nome horrível — comentou para si mesma. — Mas talvez... Plue!

— Plue? — questionou Natsu. — Quem dá o nome do bichinho de pelúcia de Plue?

A loira o encarou fingindo estar ofendida.

— Quem dá o nome do bichinho de pelúcia de Glue?

— Touché

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— Estou cansado — Natsu disse se jogando no banco na entrada do parque, o mesmo que eles haviam se conhecido. Já estava ficando tarde quando os dois saíram do parque. Só naquele momento Lucy notou que não havia checado seu celular desde que conheceu Natsu, ela sorriu com aquele pensamento.

— É claro que está cansado — comentou se jogando no banco ao lado dela, ela apertava Plue contra o peito. O tempo estava frio e Natsu a havia emprestado o seu cachecol, que de acordo com o garoto, ele só emprestava para os amigos íntimos. Lucy achou fofo e estranho o fato dele já a considerar uma amiga intima. — Você não parava quieto e comeu quase toda a comida do parque.

— Não seja exagerada, Luce — disse colocando as mão sobre a barriga, como se mostrasse que estava cheio. A garota soltou uma risada. Ela não ligava mais para Natsu a chamando de “Luce” ao invés de “Lucy”, até achava fofo.

Os dois ficaram em silêncio por um tempo, até o garoto se pronunciar:

— Lisanna — disse fazendo com que Lucy o encarasse sem entender. — É o nome da minha namorada.

A garota se lembrou de ele ter dito algo sobre a sua namorada estar com outro no dia dos namorados.

— Eu não estou triste e irritado, porque nós não estamos mais juntos — Natsu começou a contar. — Eu amo a Lisanna, mas como uma irmã e o único motivo da gente ter namorado foi por causa dos nossos pais.

— Entendo — comentou Lucy. Ela sabia muito bem o que era ter o pai a pressionando para namorar alguém. — Então vocês fingem que estão juntos para não decepcionarem os seus pais?

— Isso mesmo! — ele exclamou, contente que ela tivesse entendido. — Chamei a Lisanna para ir ao parque comigo, mas acho que ela se esqueceu e ficou com o cara que ela está gostando. Não ligo, só queria que ela tivesse me avisado.

Lucy segurou a mão dele, por impulso. Deveria estar parecendo um pimentão de tão vermelha.

— Você deveria contar para os seus pais que você e Lisanna não estão juntos.

Natsu coçou a cabeça, nervoso.

— Meu pai passou por muita coisa, e ele fica tão feliz quando me vê com a Lisanna — explicou. — Eu não quero magoá-lo.

— Ele é o seu pai, e tenho certeza que vai ficar feliz quando te ver feliz — disse mesmo que não achasse que aquilo funcionada com relação dela e do pai. — Não é justo que você tenha que ficar infeliz.

Natsu mostrou um sorriso que fez com que Lucy também sorrisse.

— Obrigado. Você é uma amiga incrível!

A garota riu.

— Sting — ela começou e Natsu a encarou confuso. — É o nome do meu namorado, e eu posso de contar uma coisa?

— Você pode me contar o que quiser — respondeu animado, fazendo Lucy soltar uma risada.

— Um encontro com um desconhecido foi melhor do que todos os encontros que Sting me levou.