O que o Acaso Traz escrita por b-beatrice


Capítulo 18
Explicações


Notas iniciais do capítulo

Oi queridas!
Mantendo nosso combinado de 2 capítulos por semana, aí está o nosso capítulo de quarta/quinta! Muito obrigada por estarem dando esse gás! Vocês são maravilhosas!
Boa leitura!



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Ponto de Vista – Edward

A primeira coisa que percebi foi a luz. Apesar dos meus olhos fechados, estava me incomodando, mas como um simples trocar de posição resolveu meu problema, ignorei.

Algum tempo depois, no entanto, havia outra coisa me incomodando. Senti que alguém me cutucava e, quanto mais eu tentava ignorar, mais intensa era sensação ficava.

Sem ter outra escolha, voltei para a posição original, abri os olhos e quase morri quando imediatamente me dei de cara com Anthony me olhando atentamente enquanto a luz da janela atrás dele fazia um efeito perfeito para um filme de terror.

– Eu te assustei? – ele perguntou se afastando um pouco, permitindo que eu tivesse meu espaço, suas mãozinhas segurando uma à outra, em frente ao seu corpo, me deixando seguro de que ele não voltaria a me cutucar de repente.

Me assustou? Não, imagine!

– Não, tudo bem. – respondi tentando controlar minha respiração e os batimentos do meu coração, que queria sair pela boca.

– Por que você dormiu no sofá? – ele perguntou com a curiosidade transbordando de seus olhos que me olhavam atentamente.

– É um ótimo sofá. – respondi defendendo-o.

Eu já havia passado muitas noites em minha juventude naquele sofá após algumas bebedeiras. Aliás, era uma juventude muito recente tendo em vista que eu só resolvera ter pressa de amadurecer quando soube que Anthony viria morar comigo.

– Que horas são? – perguntei ainda meio bobo de sono.

– Quase 7 horas. – Anthony respondeu ainda na mesma posição.

– Por que você está acordado antes das 7 horas de um sábado? – perguntei me dando conta de que o garoto realmente não me puxara.

– Eu só... Acordei. – ele falou dando de ombros.

– Venha conhecer o sofá, é impossível permanecer acordado deitado aqui. – convidei me deitando de lado, colado ao encosto, abrindo o máximo de espaço possível e levantando os cobertores para ele poder se aconchegar, mas ele apenas fez uma cara estranha – Vamos lá, amigão, prometo que em 15 minutos eu levanto e vou fazer o café.

Anthony então veio a passos cuidadosos e deitou ao meu lado. Percebi então que era a primeira vez que ficávamos tão perto um do outro. Ele relaxou algum tempo depois e coloquei o cobertor em volta dele.

– Você não vai se arrepender. – comentei enquanto passava uma mão por seu cabelo, mas eu acidentalmente toquei em seu rosto e o alerta de pai começou a soar em minha mente – Você está quente.

– Bella também disse isso ontem. Foi logo antes dela fazer o chá. – ele respondeu e, com um estalo, minha mente acordou por completo e tudo voltou ao mesmo tempo.

O temporal que estragara meus planos de sair com a Srta. Swan ou Isabella (com quem eu vinha tendo uns amassos e talvez algo mais), a mesma Srta. Swan ou Isabella sentada exatamente aqui nesse sofá, a descoberta de que Isabella Swan era Bella, a babá de Anthony. E que, além de tudo, estava agora em meu quarto, provavelmente adormecida sobre os meus lençóis.

Porra.

Minha cabeça começou a doer como se eu estivesse de ressaca. Eu realmente não usara nem 2 minutos da noite para pensar sobre a situação toda.

Voltando ao alerta de pai, Anthony estava ficando doente.

Oh Deus!

– Tudo bem, amigão, não fique nervoso. Eu sei o que fazer. – falei levantando preparado para ir atrás do remédio que Anthony precisava quando me dei conta de que não sabia o que ele precisava – O que você está sentindo? Dor de garganta? Nariz entupido? Dor de cabeça?

– Não, eu acho que não... Eu só me sinto... estranho. – ele finalmente respondeu me olhando como se houvesse nascido uma segunda cabeça em mim, o que era compreensível já que em geral eu não era um pai desesperado, já que em geral meu filho não estava doente – Talvez eu esteja com a cabeça... pesada?

– Entendi. – respondi com informação suficiente para entender que ele estava começando um resfriado.

Corri para a maleta de medicamentos infantis que tia Esme tão docemente havia providenciado e me explicado assim que soube que Anthony viria para cá. Voltei rapidamente com algumas gotas de antipirético e analgésico, além de uma pastilha com vitamina C.

– Eu vou fazer um leite bem quentinho para você enquanto você fica aqui descansando, tudo bem? – perguntei quando ele terminou de tomar tudo.

– Sim, eu só vou ao banheiro um instante. – ele falou se levantando e resisti bravamente à vontade de prendê-lo no sofá sob os cobertores que o manteriam aquecido.

– Tudo bem, só não vá descalço e grite se precisar. – falei assistindo ele se levantar e partir antes de me dirigir um olhar estranho.

Certo. Ele vai ficar bem. Agora, café da manhã.

Abri os armários e a geladeira tentando imaginar um café da manhã ideal para uma criança resfriada. Nada como começar com leite quente.

– Bom dia. – ouvi a voz de Isabella atrás de mim e quase deixei cair o leite com o susto.

Ela estava com os cabelos soltos e um tanto embolados, ainda vestida em meu conjunto de moletons que praticamente a engolira. Por conta da falta de energia, eu não pude realmente vê-la na noite passada e agora percebi o quão jovem e indefesa ela parecia. E, por mais que eu ainda estivesse chateado, precisava admitir: Ela estava linda.

– Bom dia. – respondi após me controlar e houve novamente aquele silêncio estranho entre nós.

Obviamente, a noite não resolvera magicamente nossos problemas.

– Eu não sei se eu devo te oferecer ajuda ou se eu devo me despedir agora... – ela comentou parecendo extremamente envergonhada – Na verdade, eu realmente não sei o que fazer comigo mesma.

– Eu não acho que eu vá ser de grande ajuda também. – admiti suspirando – Eu não sei se é seguro sair agora por conta do temporal, não tem como saber até onde a cidade foi afetada. Na verdade, eu queria que nós pudéssemos conversar, mas Anthony parece estar resfriado então...

– A luz voltou! – Anthony apareceu praticamente saltitante na cozinha e precisei resistir a um novo impulso de pará-lo e fazê-lo ficar quietinho até estar saudável novamente, mas não precisei fazer nada porque ele congelou quando notou uma terceira pessoa em nossa cozinha – Bella? Você dormiu aqui?

Oh Deus.

Eu nunca vira aquele olhar admirado ou aquele sorriso no garoto. Isabella o tinha em sua palma da mão. Pelo menos agora eu sabia que em alguma coisa ele me puxara.

– Hmm... Bem... Eu meio que... Sim? – Isabella respondeu a ele, mas pude perceber que soara mais como uma pergunta e ao final ela olhava para mim buscando alguma ajuda.

– Ela pode tomar café com a gente? – Anthony perguntou me olhando – Ela poderia ajudar a preparar! Bella cozinha bem. Nós podemos fazer juntos!

Anthony vibrava em excitação e eu começava a me perguntar se ele estava tendo uma overdose medicamentosa ou se ele apenas se curara rápido demais do resfriado.

– Eu não quero atrapalhar. – Isabella respondeu olhando para mim, parecendo mais tensa do que antes.

– Não atrapalha. – respondi percebendo que provavelmente fora a minha demora para responder que a deixara desconfortável.

– Por onde começamos? – Anthony perguntou.

A partir daí a cozinha virou um quartel. Um quartel bem organizado, no entanto, devo admitir.

Isabella comandava e nós dois seguíamos à risca o que ela dizia. O resultado foi uma refeição composta por ovos mexidos, torradas com queijo, três milagrosos bolos em caneca que eu não sabia ao certo como surgiram, chocolate quente e café.

Nós comemos sentados à mesa e a maior parte da conversa foi feita por Anthony, que não cansava de contar a Isabella sobre nossos cafés da manhã e não cansava de me contar sobre as coisas incríveis que “Bella” fazia na cozinha. Como se eu não comesse avidamente cada jantar que ela vinha deixando pronto durante a semana.

Quando a última migalha foi engolida, entramos no processo de lavar a louça. Isabella lavava, Anthony enxugava e eu guardava. Foi bem funcional, mas havia aquela sensação de que estávamos encaixados demais, quando ainda havia muito para ser colocado em pratos limpos.

Fomos para a sala e liguei a televisão para sabermos as notícias sobre os estragos do temporal, mas só havia reportagens superficiais, nada do que realmente fosse importante.

Anthony voltou a ficar sonolento, então o coloquei de volta na cama enquanto Bella continuava acompanhando o noticiário. Ele não parecia estar com febre, então antes de entrar em pânico aceitei que seu corpinho só estava precisando de mais algum descanso.

– Ele é outra criança com você por perto. – Bella falou assim que voltei para a sala – Geralmente eu preciso me esforçar ao máximo para conseguir arrancar uma frase dele.

– Achei que era a sua presença – respondi estranhando – Ele não é falante assim comigo também. Aliás, eu nunca o vi desse jeito.

Ficamos em silêncio novamente enquanto uma repórter mostrava o jardim destruído de uma senhorinha que chorava por suas roseiras tombadas.

– Acho que é hora da conversa, não é? – ela perguntou, apesar de estar olhando para seu colo e não para mim.

– Honestamente, se você não planejou isso, porque você não me contou? – perguntei voltando a sentir a frustração.

– Eu te disse! Eu tentei, mas nunca dava certo! – ela respondeu como uma adolescente teimando com seus pais – Eu disse a você que precisava conversar, mas você sempre postergava! Ao menos eu tinha a intenção de te falar o que estava omitindo.

– Você não pode estar falando sério! – respondi espantado – Você não pode comparar o que eu omitia e o que você omitia! Era uma escolha minha te falar ou não sobre Anthony. Ele faz parte da minha vida e ponto. É um assunto pessoal meu e eu tinha todo o direito de guardar isso para mim. Você não estava omitindo algo que era somente a seu respeito, você escondeu de mim o fato que vem frequentando a minha casa e convivendo com meu filho, pelo amor de Deus!

Incrível como em dois minutos de conversa as emoções já estavam à flor da pele.

– E o que você esperava que eu tivesse feito? – ela perguntou com o olhar raivoso.

– Eu não sei! – respondi frustrado – Você deveria ter tentado mais vezes e com mais afinco! Me empurrado, me ligado, gritado para eu ouvir... Não existia momento certo para uma conversa como essa, mas você tinha que ter me contado.

Isabella ficou quieta por alguns segundos e percebi que ela não tinha argumentos contra aquilo.

– Aparentemente acabou sendo no pior momento possível dada à sua reação. – ela falou e senti como se eu estivesse recebendo uma facada.

Não que eu não merecesse uma, dado o modo como eu a havia tratado.

– Eu realmente sinto muito. – falei sentindo mais uma vez o arrependimento e o remorso por tê-la expulsado daquela forma – Eu nunca vou conseguir me desculpar o suficiente.

– Você poderia deixar eu explicar o meu lado agora? – ela perguntou voltando a parecer uma menina indefesa e eu só pude confirmar – Eu e Sue somos vizinhas. Ela vem sendo uma espécie de mãe e fada madrinha para mim desde que eu vim morar aqui por causa da faculdade. O marido dela, Harry, teve um ataque cardíaco na semana passada e ela me ligou pedindo ajuda. Você me viu saindo da escola e conseguiu um táxi para mim naquele dia. Harry ficou bem, mas precisa de alguém com ele o tempo inteiro agora e eu só posso dizer que Sue deixou bem claro o quanto ela gostaria que eu assumisse o lugar dela aqui enquanto isso. Ela falou muito bem sobre a criança da qual ela cuidava e disse que tinha um ótimo patrão, mas nunca citou nomes e, mesmo que ela citasse, nunca me passou pela cabeça que era você. Eu já conhecia Anthony da escola e só descobri que ele era a criança de quem eu cuidaria quando Esme apareceu se apresentando. Eu não fazia ideia de que você tinha alguma relação com eles, eu não sabia o sobrenome de Anthony e sua tia tinha um sobrenome diferente do seu. Eu nem sequer tinha te visto naquele dia. Eu só soube quando cheguei aqui e vi as fotos.

Ela falou apontando para um porta-retratos que continha uma foto minha segurando Anthony quando ele ainda era um recém-nascido.

– Eu estava uma bagunça naquele dia. – admiti – Eu queria conversar com você sobre o que quer que havia entre nós, mas você meio que estava me ignorando no fim de semana. Ao mesmo tempo, eu precisava urgentemente de uma babá para Anthony, mas estava difícil encontrar alguém confiável em tão pouco tempo e Sue estava de mãos atadas com seu marido. Eu estava torcendo para que a vizinha dela, que ela tanto indicara, aceitar a proposta, mas estava perdendo as esperanças. Para piorar eu fiquei preso em uma série de reuniões na escola então não tive como continuar procurando. Tia Esme é minha tia por parte de mãe, por isso a diferença nos sobrenomes. Ela passaria aquela tarde com Anthony, até que Sue me disse que a vizinha dela aceitara experimentar o trabalho. Eu só pude pedir para tia Esme fazer a entrevista por mim, sabendo que ela com certeza saberia escolher alguém. Eu sei que poderia confiar nela de olhos fechados.

– Ela foi muito doce. – Isabella respondeu e um meio sorriso surgiu em seus lábios pela primeira vez desde que o caos se iniciara – Ela disse que ele havia se mudado há pouco tempo para a cidade.

– Ele morava com a mãe. – respondi decidindo abrir o jogo com ela, afinal a menina já estava mais mergulhada na minha vida do que eu mesmo – Nós namoramos no ensino médio. Ela ficou grávida, mas não quis tentar começar uma família. Ela me quebrou por completo quando decidiu se mudar com Anthony, mas eu estava convencido de que seria um crime separá-lo da mãe. Ela finalmente o entregou para morar comigo quando o dinheiro que eu conseguia mandar não era mais suficiente para sustentar suas vontades e pagar tudo o que ela precisava para mantê-lo afastado dela.

Percebi que não consegui impedir que a raiva jorrasse em minhas palavras quando percebi que Isabella me olhava assustada.

– Eu sinto muito. – ela falou.

– Não mais que eu. – admiti fechando os olhos e me odiando mais uma vez por ter demorado tanto a tomar as rédeas da situação.

– Ela fez um belo número com ele, não é? – ouvi-a falando tristemente – Quero dizer, ele é um amor de criança e um menino incrível, mas é como se ele mesmo não conseguisse perceber o quão maravilhoso ele é.

– Ele não é bom em interagir ou se abrir com os outros também. – comentei antes de confessar minha maior angústia – Ele nem ao menos me chama de pai.

– O que? – ela perguntou parecendo perdida.

– Ele não me chama de pai. – repeti – Ele dificilmente toma iniciativa para começar qualquer conversa e, quando o faz, não usa vocativo algum para se referir a mim.

– Ele te chama de pai quando fala sobre você. – ela falou me olhando intensamente, como se dividisse minha mágoa e eu sorri surpreso com o quanto aquela pequena informação me fizera feliz – Você realmente o ama, não é?

– Ele é tudo para mim. – respondi – E eu sei que não justifica, mas é por isso que me assustou tanto o fato de alguém com quem eu mesmo vinha me relacionando ter tanto acesso a ele. Eu não posso expor ele a qualquer risco. Eu não posso me permitir errar com ele de novo.

– Não, isso não justifica, – ela respondeu com o olhar ainda preso ao meu – mas pelo menos explica.


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Notas finais do capítulo

- lembram que havia algo na relação Edward/Anthony que eu perguntei se alguém havia percebido? aí está!
.
Gostaram? A continuação dessa conversa deve vir no fim de semana (o capítulo estava ficando gigante!). Comentem bastante para eu conseguir concluir o próximo o mais rápido possível!
.
Beijinhos!



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