1000 Anos de Escuridão escrita por Chris Lima, Emanuel Hallef


Capítulo 5
Capítulo 04


Notas iniciais do capítulo

Capítulo escrito por Chris d'Arc.



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Embora estivesse bastante ferido, o corpo de Agnes insistia em continuar vivo. Certamente ela era muito forte. Aos poucos, ela recobrou a consciência e percebeu sua situação: estava sozinha, no meio de um deserto após sofrer um terrível acidente.

O frio congelava as pontas dos seus dedos, ela precisava se aquecer imediatamente, mas não conseguia enxergar muita, pois a neblina estava densa. Algo dentro de si falava que aqueles eram suas últimas horas de vida. Ela estava sozinha, ninguém mais além dela sobreviveu, ninguém que estava no ônibus dava sinal de vida.

No entanto, se existe uma boa notícia em estar sozinha é o fato de que nenhum mal intencionado estaria ali para piorar a situação da pobre garota. Ela sentia medo, dores e estava receosa. Respirar, para ela, se tornara uma atitude de coragem, pois a cada inspiração que tinha, seu tórax doía muito. Era como se algo dentro dela, como um líquido, balançasse à medida que ela se movia. Algo estava errado em seu corpo, mas ela tinha de continuar andando ou seria condenada a morrer naquele frio.

Seus dedos estavam com uma coloração um pouco arroxeada, sua perna sangrava initerruptamente, havia vários hematomas no seu corpo e várias escoriações pela sua face. A situação de sua perna estava deplorável e aquilo não poderia ficar assim... Ela deveria fazer algo para estancar o sangue. Então ela decidiu rasgar parte de sua blusa, em um ponto suficiente para não lhe deixar nua e ao mesmo tempo ser possível dar algumas voltas em sua panturrilha.

“Estou com sorte”, ela pensou, pois não viu seu osso se lançando para fora de seu corpo, ao menos ele estava aparentemente intacto e dessa forma ela conseguiria andar. Dos males, o menor. Após fazer uma compressa direta, ela amarrou as pontas que sobraram do pano e, lentamente, levantou-se daquela areia fria.

Por pouco, ela não caiu novamente. Sua expressão facial era de extrema dor, sua coluna insistia em ficar curvada e suas pernas tremiam muito. Ela olhou em seu termômetro de bolso para ver a temperatura do local, estava fazendo -12°C.

Ela precisava se aquecer imediatamente.

Tentou andar um pouco, mas cada passo que dava exigia muito de si. Sua expressão de dor e seus ferimentos retiraram toda a beleza que havia naquela mulher. Estava retraída, suas mãos envolviam seu tronco. Nem mesmo as lágrimas se atreviam a descer, pois a perda de sangue e a falta de suas forças não permitiam isso.

Ela queria água.

Precisava urgentemente de água.

Aos poucos, seus lábios iam se descorando e a pele da menina ficava cada vez mais pálida. Se alguém a tocasse, logo perceberia que a sua temperatura corporal não estava dentro dos padrões normais e ela também suava muito. Por alguns instantes ela sentiu náuseas, mas logo passava, para minutos depois retornar.

Mais alguns passos foram dados e não conseguindo suportar mais seu corpo ela caiu. Por mais que tentasse levantar, não adiantaria, pois não restara nada. Toda sua vitalidade estava esvaecendo e dentro de poucos segundos a garota morreria.

Um..

Dois..

Três..

Ela contava mentalmente os segundos, sua visão estava ficando turva, ela estava sonolenta. Pôde até ver o vulto de um homem se aproximando. Ele seria real?

— Socorro...

A garota já não sentia ou via mais nada.

[...]

Agnes abriu lentamente seus olhos. A sua respiração estava pesada, sua visão turva. A única coisa que conseguia distinguir era o vulto de um homem a poucos metros dela.

— Que-quem é você? — à medida que ela falava, seu pulmão doía mais, era como se ele estivesse se rasgando em mil pedaços

— Alguém que te salvou da morte. Simples e descomplicado — respondeu o rapaz, que estava se concentrando em preparar alguma coisa em cima da pequena mesa apoiada a um armário de vidro e madeira descascada.

— Mor-morte? - ela tossiu e um pouco de sangue saiu de sua boca — onde es-estou?

— Isso mesmo. Eu te salvei de um destino terrível, se quer saber — o rapaz se virou com um frasco quase transparente em mão, balançando-o com cuidado, como se estivesse misturando alguma coisa ali dentro. Ergueu um sobrancelha, sorriu e agora se aproximava de Agnes — Não vou te machucar. Você está segura agora.

Aos poucos, a memória de Agnes voltou. Ela se lembrou do que estará fazendo antes de parar naquele local.

Seu pai.

Ela precisava falar com seu pai.

— Eu não posso ficar aqui — ela tentou ser o mais forte que pôde, mas seu tórax doía muito e sempre que falava espirrava sangue de sua boca — preciso ver meu pai.

— Não, você não vai para lugar nenhum. Você teve um hemotórax, em outras palavras, tem sangue acumulando em seu pulmão. Mesmo que você tentasse sair daqui, não conseguiria, pois você perdeu muito sangue, não tem forças para isso — não era o mesmo rapaz de antes que falava. Esse parecia mais velho,

Agnes deduziu isso pela barba moderadamente grande e pelos poucos fios de cabelo branco que podia enxergar entre os vários outros fios negros que abarrotavam a cabeça do homem. Ele vestia um jaleco branco e sujo de sangue. Agnes se perguntou o que causara aquela sujeira, mas a dor em seu pulmão era tão forte que falar, simplesmente, acabara se tornando uma tarefa muito difícil de ser realizada. O homem se virou para Argos, falou alguma coisa no ouvido dele. Seja o que fosse, o rapaz ficou com uma expressão preocupada, entregou o frasco que segurava e saiu rapidamente da sala, sem olhar nem para a garota — Como é o seu nome? — continuou o homem a falar, agora próximo da cama onde

Agnes se retorcida de dor e sentia uma enorme falta de ar.

— Agnes.

Quando aquele homem se aproximou, ela tentou identificar o que ele estava carregando, mas a luz que estava sobre ela tirava o seu foco. Por mais que se esforçasse, sua visão continuava embaraçada.

— O que vocês vão fazer comigo?

— Sugiro que morda isso, nós não temos anestesia — então ele pôs um pano branco perto da boca da garota.

Primeiro, o homem conectou à garota uma bolsa de sangue, pois ela teria perdido muito sangue com a hemorragia externa. Então tomou outros passos para que sua respiração fosse garantida, como oferecer mais oxigênio para ela. Em seguida, passou a mão pelo externo da garota, tentando encontrar o local exato a se iniciar o procedimento, localizando, dessa forma, o apêndice xifoide – o final do externo, ou seja, o início da barriga.

Após isso, com uma lâmina, ele fez uma pequena incisão um pouco abaixo do seio da garota, fato que lhe fez gritar de dor novamente e pensar em todos os xingamentos possíveis a esse homem. O corte era pouco profundo, mas um rastro de sangue logo escorreu daquele local cortado. Ele então usou um Kelly curvo, na qual é um instrumento que parecia uma tesoura, cujo objetivo era perfurar o corpo da garota para se colocar um dreno.

Agnes agonizava de dor, ora mordia o pano, ora berrava. Cada movimento que o médico realizava era mais sofrimento para ela. Aquela dor parecia que perfurava além do corpo da garota, parecia perfurar a sua alma. Era uma dor aguda, insistente e macabra.

“Seja forte” uma voz soou na mente da garota, aquilo não vinha dela, ela sabia disso, mas tudo estava tão confuso e tão doloroso que ela não deu nenhuma atenção ao que acabara de ouvir ou pensar. Ela gritava, se esperneava, chorava.

— Acalme-se — ele falou, mesmo sabendo que aquilo não iria adiantar.

O Kelly Curvo entrou fechado e quando se chegou ao local desejado o médio o abriu e o puxou aberto para aumentar o espaço da incisão, repetindo mais quatro vezes esse movimento. Enquanto ele fez isso, a garota suplicava para ele parar, sua voz era alta o suficiente para ser escutada a metros daquela sala. Assustados, dois outros homens entraram na sala para tentarem entender o que acontecia. Ela se retorcia continuamente e Guile os pediu que a segurassem, pois ele precisava que ela ficasse imóvel para a cirurgia fosse realizada com sucesso.

Com o mesmo Kelly Curvo, Guile acoplou o dreno e o colocou em Agnes, quando o instrumento saiu, o médico torceu o dreno como uma rosca para que ele ficasse no local exato do corpo daquela mulher. Agnes já não gritava, nem esboçava qualquer dor, ela teria desmaiado. Isso ocorreu, pois seu corpo não aguentava mais sentir tanta dor em tão pouco tempo.

Ele então fez a conexão com do dreno com o sistema para que o sangue acumulado saísse do pulmão dela. Após isso ele fixou o dreno para que não exista movimento no corpo da garota. Nem em seus maiores pesadelos aquele homem pensou em realizar aquilo, ao mesmo tempo que a cirurgia ocorreu com sucesso. Ele sentia dó, compaixão por aquela garota.

— Acabou — ele falou aos seus companheiros.


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Notas finais do capítulo

(Chris aqui!) Gente, como esse capítulo deu trabalho! Sinceramente, eu espero que vocês gostem :D E não se esqueçam de comentar!