1000 Anos de Escuridão escrita por Chris Lima, Emanuel Hallef


Capítulo 4
Capítulo 03


Notas iniciais do capítulo

Capítulo escrito por E H Lewis



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Ainda caído, Argos observava aquela figura significante com rancor e indignação, e logo de imediato sentiu vontade de levantar-se não somente para fugir, mas para retirar sua arma da cintura e apontá-la para a cabeça daquele individuo, que mantinha-se em pé perante o garoto, como se fosse uma figura ilustre e que merecesse respeito. Primeiro por estar ali, pronto para salvá-lo do exército do governador, e segundo por ter tido a clemência de voltar. Mas nada disso importava para Argos, o sentimento de odiosidade era maior do que qualquer demonstração de afeto — de ambos os lados.

— O que você está fazendo aqui? — perguntou Argos, exaltado.

O homem, que fixava seu olhar no pobre rapaz caído, ergueu sua mão ao céu e, com movimentos rápidos e quase imperceptíveis, Argos viu um bicho bizarro atravessando os grandes portões de bronze do quartel-general, derrubando os dois soldados que ali defendiam seus postos e quebrando uma sentinela íngreme. A coisa tinha o corpo, as pernas traseiras e a cauda de um tigre, mas as pernas dianteiras, as asas e cabeça de uma coisa que lembrava águias-colossais, com bicos cruéis cinzas-metálicos e enormes olhos laranja-vivo. As garras das pernas dianteira tinham uns quinze centímetros de comprimento e um aspecto letal — A ave parecia se orgulhar dos membros, pois, ao aterrissar no chão áspero e grosso do quartel-general, cravou suas unhas na lama e ergueu seus olhos fulminantes para Liss, a raposa, que se entreolhou nas pernas de Argos.

— Vim para salvar você, meu caro irmão! Agora, se me permite! — O homem levou sua mão em direção a de Argos na tentativa de ajuda-lo a levantar, mas o menino recusou a ajuda, levantando-se com ajuda de Liss.

— Eu estava ganhando, seu idiota! — respondeu Argos asperamente, agora de pé e retirando sua arma-neutralizadora, a qual apontou para os ombros do irmão, que continuava o olhando, sem medo algum. “Ziiim!!!”, Argos apertou o gatilho e o raio alaranjado saiu com rapidez, passando de raspão pelo homem, que sorriu e, imitando o irmão, virou-se, retirou uma arma que carregava no bolso e a apontou para os vários guardas que se aproximavam.

— Temos que sair daqui, Argos. São muitos e minha arma não está carregada. Preciso te levar para a nossa base secreta lá no deserto de Aibidan.

— E desde quando eu posso confiar em você?

— Eu estou aqui, não estou? É o suficiente. — respondeu o homem, dando as costas para Argos e subindo em cima da grande besta, que se abaixou e reclinou suas asas. Ele esperou que o irmão o acompanhasse, mas isso não aconteceu.

— Não, não é o suficiente. Vocês fugiram e me deixaram aqui. Nossos pais morreram, ficamos órfãos e só tínhamos um ao outro. Eu sinceramente pensei que podia confiar nos meus irmãos... Em você, principalmente, mas me enganei. Infelizmente quando foi tarde demais. Vocês partiram de repente e só esperaram que eu fosse à prefeitura pegar o inquérito sobre a morte dos nossos pais. E quando eu voltei a única coisa que encontrei foi um papel dizendo:

“Você é corajoso. Vai se sair bem!”.

O homem, depois que ouviu aquelas palavras, abaixou a cabeça e Argos chegou a pensar que choraria, mas ao contrário disso, o homem sorriu, desceu da sua besta e se aproximou de Argos, que recuou — E você se saiu bem, não foi? Olhe para você, meu irmão, veja no homem que se tornou. Isso não teria acontecido se você tivesse partido conosco. Nós temos um motivo, Argos, de ter fugido sem te avisar e te deixando para trás. Eu vou explicar tudo, mas preciso que venha comigo, que se salve. Olhe para trás, veja o exército que está vindo ao seu encontro, acha que vai sair daqui com vida?

Argos continuava a olhar seu irmão e a expressão que antes reinava em sua face parecia desaparecer aos poucos. No lugar da desconfiança e do ódio, surgia uma vontade imensa de sair dali e encontrar as respostas que tanto procurou, desde a sua infância. Ir com ele parecia a coisa certa a se fazer.

— Liss... — começou Argos e o homem ficou sério — Suba em cima da águia, vamos embora daqui! Eu confio no Guile.

E, com isso, Guile ajudou Argos a subir na águia e, depois que a besta percebeu que todos estavam seguros e “aconchegados”, bateu suas grandes asas, deixando para trás dois guerreiros que iam retirar suas armas. E com glória e esplendor, o grande pássaro cortou os céus com seu tamanho e velocidade, destruindo os portões de bronze e se afastando, em questão de segundos, do quartel-general. Agora, o chão lá embaixo não passava de um mísero grão de terra apoquentada.

Estavam se aproximando de um imenso salgueiro, que era balançado com violência pelo vento forte do deserto. A águia mecânica se inclinou para a esquerda e agora diminuía sua velocidade, segundos depois, Argos sentiu o cheiro da terra quando o animal aterrissou, espalhando poeira e deixando uma neblina no ar.

Guile desceu primeiro, retirando da mochila, ao mesmo tempo, um aparelho que tinha uma forma de cadeado. Pegou uma chave do bolso e encaixou no buraco debaixo do objeto, girou a chave e na mesma hora o vento cessou e o salgueiro abriu seus galhos como se tivesse espreguiçando-se, abrindo caminho para uma pequena porta de madeira que se escondia por várias folhas verdes-amareladas. Argos desceu da águia com Liss e acompanhou Guile até a porta.

— Open immedjatament! — ordenou Guile, colocando seu olho em um pequeno objeto que se parecia com um helicóptero.

A porta de madeira se abriu e uma luz forte, muito, muito, muito forte clareou seus olhos e todo o espaço onde estava. O menino teve que colocar as mãos sobre os olhos para poder enxergar alguma coisa. Sentiu, igualmente, um calor tão gostoso, tão diferente de tudo que sentiu, que fora atraído, assim como Liss, para dentro daquele lugar. E não acreditou no que viu...

Era um sol.

Isso mesmo. Aquela luz e aquele calor vinha de um grande sol no centro daquela base que parecia mais o interior de uma bola de futebol. Argos ficou sem palavras por alguns instantes, admirado e perplexo com tudo que via. A base era dividida em três compartimentos: o primeiro ficava várias plantas, árvores e todo tipo de flor que você imaginar. O segundo carregava vários botijões de ferro com grandes correntes envolvendo-os. E no terceiro Argos teve que se aproximar para ver melhor, pois várias casas de modelos estranhos se esgueiravam por um espaço muito pequeno. O menino deduziu que ali morava seus irmãos e, possivelmente, os habitantes daquela base.

— Sei que está com muitas dúvidas, Argos!

— Você tem muita coisa para explicar, Guile. Primeiro, pelo amor de Deus, que sol é esse?

Como aqui tem um sol?

— É um sol artificial criado por minha impressora 3D. Levei 3 anos para construí-lo. Ele emite os mesmos raios que um sol natural e a luz é semelhante um terço da luz do sol, que é contida por vidros transparentes, que regulam a quantidade distribuída para a base, para não prejudicar minha floresta particular e não queimar nosso estoque de água. Todos nós vivemos aqui e acredite, não há lugar melhor. — E onde estão meus irmãos?

— Devem ter ido buscar mais água. Passando algumas horas, Argos se encontrou com seus irmãos, que não acreditaram no que viram.

— Mas como, meu Deus? Eu sair por 2 horas e acontece uma revolução por aqui?! Não acredito que está aqui, meu irmão — falava Meredith, limpando suas mãos em um pano que carregava na cintura. Aquela menina que costumava dar trabalho a Argos havia se transformado em uma mulher linda, com longos cabelos ruivos e olhos verde-esmeralda.

— Você realmente se saiu muito bem, Argos — completou Jonas, seu outro irmão, o do meio, que também era forte e corpulento assim como Guile, mas bem menos que Argos.
Os três se abraçaram ao mesmo tempo e, depois disso, Argos os bombardeou a procura de respostas.

— Vamos falar tudo, mas depois que descansarmos. Já é tarde, já passa das três horas da manhã.

Guile levou Argos até o terceiro compartimento e o colocou em um quarto muito aconchegante que ficava ao lado dos irmãos. Fizeram em silêncio, tomando cuidado para não acordar as outras pessoas que habitavam os quartos ao lado.

Depois que o irmão saiu, deitado na cama e olhando para cima, Argos esperou que o sono viesse e o dominasse. Suas pálpebras estavam cansadas e ele começou a delirar. Via um homem muito estranho diante dele, com grandes olhos felinos e uma juba semelhante a de um leão. Ele o observava com bastante atenção e parecia querer dizer alguma coisa, mas, ao invés disso, ele apenas ergueu sua mão e começou a desenhar alguma coisa no ar. Argos se levantou da cama e se aproximou do homem, que deu alguns passos para trás e sumiu, deixando apenas uma frase escrita em itálico: “O deserto esconde as suas respostas”.

Ao ler aquilo, o menino sentiu uma vontade imensa no peito de salvar alguém. Era superior ao seu sono e aos questionamentos que sua mente oferecia. Ele sabia que tinha que sair dali e ao deserto imediatamente.

E foi isso que fez.

Saiu de mansinho do seu quarto, tomando cuidado para não acordar seus irmãos e Liss o acompanhou.

Chegando à porta de madeira, ele pegou as chaves que ficavam em cima de uma bancada e abriu a fechadura com cuidado. Deixou a porta aberta, pois não se lembrava da senha para abri-la. Não sabia para onde ir, mas Liss o olhava com um aspecto de sabedoria, apontando um caminho com sua pata esquerda. Argos confiava no seu animal de estimação e decidiu segui-la. Caminharam por alguns minutos e Argos começou a se arrepender de ter vindo, mas não podia conter e simplesmente dizer não ao desejo ardente que queimava seu coração. Obedeceu e sabia que aquilo traria consequências. Então foi quando o rapaz chegou a uma pista asfaltada e viu um ônibus pegando fogo. Assustado, ele saiu correndo em direção as chamas na esperança de encontrar alguém vivo, mas a única coisa que via era cadáveres sendo devorados pelas chamas.

— Socorro...

Ele ouvia uma voz fraca, quase inaudível e, ao se virar, deu de cara com uma menina coberta de sangue e com a mão erguida implorando compaixão.


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