1000 Anos de Escuridão escrita por Chris Lima, Emanuel Hallef


Capítulo 2
Capítulo 01


Notas iniciais do capítulo

Capítulo escrito por E H Lewis



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Liss o acompanhava cautelosa. De vez em quando se assustava com o barulho mecânico das lâmpadas que iluminavam o quartel e Argos a confortava dizendo: “Estão enferrujadas. O governo não se importa em trocá-las...” e continuavam caminhando em direção aos grandes portões do quartel-general.

A ferida na sobrancelha esquerda de Argos ardia como se estivesse sendo queimada com ferro quente. O sangue deslizava pelo seu maxilar quadrado e salpicava sua blusa rasgada e aberta. Sentiu o vento se chocar contra seu peitoral exposto e, agora, mais do que nunca, sentia vontade de chegar ao seu quarto e pegar, pelo menos, uma blusa, já que a sua fora rasgada pelos arames.

Como nem mesmo a lua aparecia mais no céu, as estrelas não tinham mais brilho e só eram vistas por grandes holofotes que emanavam um calor artificial quase semelhante ao calor do sol, mas o frio continuava lá... O vento soprava uma camada fina e transparente de flocos de neve petrificados e sujava as vidraças do quartel. Argos não precisou se abaixar quando passou em frente à sala do comandante geral.

— Preciso limpar esse ferimento, Liss — comentou Argos com a raposa, que continuava alerta e perspicaz, com o focinho abaixado e farejando o caminho a procura de qualquer tipo de perigo que aparecesse ou, ainda mais, com as bombas que eram escondidas. O governo guardava os alimentos ali perto e sempre acontecia muito roubo, pois mesmo com a pena de morte, as pessoas costumavam exercer suas funções de egoísmo, roubando o que era pra ser distribuído por igual.

— Argos, Argos... — era uma voz fria e calculista. Baixa, mas ao mesmo tempo aguda. O pobre rapaz reconheceu de quem se tratava e parou imediatamente. Com movimentos automáticos, colocou a mão sobre a arma-neutralizadora que estava presa em sua calça e virou lentamente, com Liss preparada para atacar.

— Pensei que estava enchendo o saco do chefe! Só é pra isso que você serve, não é mesmo? Ah, e antes que comece... Eu descobri o que você fez com a filha do governador. Encontrei uma mancha roxa no parapeito da janela do seu quarto. Claro que colhi amostras e levei ao laboratório, onde comprovaram que...

— Não continue, Argos. Não precisa continuar! Só fico fascinado pelo seu desejo de liberdade. Não, de liberdade não. De rebelião! Porque liberdade você tem aqui. E ainda tem a cara de pau de me falar que quem bajula o chefe sou eu. Me diga, Argos, quem foi o autor daquele acidente no banheiro do governador? Acidente a qual o fez o nosso chefe perder seu olho direito e metade do seu braço. Ele está à procura do responsável...

Argos olhava aquele homem barbudo e baixo com um olhar de pena. Ao mesmo tempo que sentia isso, ele se lembrou de todos os motivos que o levou a sentir isso... Nada mais que isso. Essas lembranças ainda o atormentavam e aquilo mudou completamente sua visão de mundo. Esse mundo não é mais o mesmo. Se antes as pessoas matavam por míseros 10 reais para comprar uma droga, hoje eles matam só de olhar pra você e não ir com a sua cara...

O capitão deu alguns passos se aproximando de Argos e o rapaz nem mesmo recuou, ao invés disso, cauteloso, sutil e encolerizado, ele retirou sua arma-neutralizadora e a apontou para o capitão, que também não acuou — Vai me matar, Argos? Eu pago pra ver...

E quase que imediatamente, Argos apertou o gatilho da arma e o raio amarelado se chocou violentamente contra a perna esquerda do capitão, que fora arrancada do corpo do homem como se fosse um simples galho de árvore. O sangue começou a jorrar para cima e o capitão sentia uma dor forte e aguçada penetrar seus membros interiores e sua própria mente. E, como último caso, apertou o botão que carregava consigo e vários homens surgiram como um estalo ao redor de Argos, todos muito bem armados. Alguns traziam em mão chicotes feitos de um liquido letal que fora extraído das plantas da Escócia, na região sudeste. Caso aqueles chicotes se abalroassem em qualquer tipo de pele humana, todo o couro seria nivelado e o vírus se espalharia por todo o corpo, até engolir e devorar todos os órgãos. Começando pelo coração... O uso é ilegal, mas, escondido e em casos extremos, os guardas do governador o usam para matar seus adversários mais rapidamente.

Argos analisou aquela situação e sorriu, pois ele não depende de armas para se defender. Muito mais simples que isso, ele não herdou esse corpo sarado de um simples desejo aos gênios de Akadami. Todo o seu esforço e empenho o tornou aquilo. À medida que ele sempre acordava às 5 da manhã para treinar na sala do Averso, onde um dia aqui fora equivale a 6 meses lá dentro, sua maturidade e suas aptidões físicas aumentavam. Devido a isso, ele tem esse ar de maturidade, quando, na realidade, só tem 17 anos.

Argos olhou para aqueles homens ao seu redor e guardou sua arma. Liss, a raposa, fechou seus pequenos olhinhos e, ao saltar, transformou-se em uma enorme fera de 3 toneladas e maior que uma casa. Tomou todo o espaço daquele pequeno cubículo, derrubando e quebrando ao meio dois guardas que estavam desorientados. Com uma pata para frente, ergueu seu focinho e rugiu, um rugido tão forte e intenso que os vidros do quartel se quebraram e o capitão, que continuava se debatendo de dores, recuou para longe, se arrastando.

— Estamos preparados... Podem vir! — anunciou o garoto.

Mas antes que os guardas pensassem em atacar, Argos retirou uma espada transparente das costas. Apenas o cabo de madeira era visto, mas, por ser assim, não quer dizer que seja inofensiva.

Com um movimento rápido, ele começou a girar ao redor de si e pegou velocidade, segundos depois, estava lutando contra todos os 8 homens que o rodeava. Liss ficou com Mamute e com o Leopardo-Águia que apareceu de repente, enquanto Argos, facilmente, arrancava cada cabeça de cada guarda que ali estava. Alguns chegavam a duelar com ele, frente a frente, e a espada, que antes era transparente, reluzia uma luz alentada e robusta, deixando faíscas para trás quando se chocava com as armas dos guardas. Tudo aconteceu rápido demais e, o que era um lugar cheio de ameaças, se tornou um cemitério de cadáveres decapitados e de animais místicos mortos, pois Liss estava acabando de rasgar a garganta do grande Mamute Branco.

— Obrigado, Liss! — disse Argos, sorrindo, satisfeito pelo grande feito da raposa, que agora havia voltado ao normal.

Depois de falar, o menino guardou sua espada e agora se aproximava do seu ex-capitão.

— Eu não vou te matar, idiota! Vou fazer muito melhor que isso. Você sempre teve inveja de mim por ser sempre a segunda opção do governador. Por mais que erga seu título de capitão a todos os seus subordinados, não passa de um qualquer. Ao contrário de mim, que sempre fui o preferido do governador. E por causa dessa inveja você está aqui, agora, agonizando e à beira da morte, dependendo da minha clemência. Eu nunca precisei passar por cima de ninguém para conseguir ser alguém aqui dentro. Ao contrário de você... E sim, não aceito o que o governo faz com as pessoas e a lei que acabaram de aprovar. Como pode? Se o ser humano parar de procriar isso nos levará a extinção. Faz 1000 anos que o sol não aparece mais e tudo por culpa do próprio ser humano, e ao invés de vocês tentarem serem melhores para os deuses se arrependerem da decisão, continuam sendo egoístas e prepotentes.

— Que discurso mais lindo, Argos. O que você esqueceu é que agora não é mais um por todos e todos por um. E se quer um conselho, eu iria embora agora. Porque... — e então o capitão apertou o botão que carregava nas vestes sujas de sangue — Eu já acionei a segurança total.

E então o medo o abocanhou. Argos, juntamente com Liss, saiu correndo dali em direção aos grandes portões, que já eram vistos por eles quando se afastaram da área A. De repente o chão começou a se abrir e esburacar, os guardas estavam atirando neles lá do céu e Argos chegou a pensar que não conseguiram sair daquele quartel-general com vida, quando, a poucos centímetros dos portões, se chocou com alguém e caiu de cara no chão.

Aborrecido e com a mão em cima de sua arma, ele ergueu sua cabeça e deu de cara com a última pessoa que poderia ver naquele quartel-general — O que você está fazendo aqui? — perguntou, assustado e nervoso, a figura sombria que apareceu triunfante diante do pobre rapaz.


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Notas finais do capítulo

Para entender melhor, acesse: emanuelhallef.wordpress.com
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