Capítulo 67

Príncipe Louis

Coer de Pirate – Place de La Républic

Voltar ao lado da França ao qual pertencia era uma tarefa terrível. Mesmo com Miguel e Mei ajudando, a comida não era abundante e os vilarejos pouco tinham a oferecer. A cidade grande mais próxima estaria há dois dias andando em um bom ritmo e suas pernas começavam a doer. Imagine suas meninas. Virou-se para olhá-las pelo canto do olho, e depois para Johanna e Francis, bocejando em suas costas. Teria de conseguir logo uma carruagem, talvez ir para a estrada principal fosse o melhor caminho para arranjar ajuda. Mas seria arriscado. Havia camponeses que simplesmente o matariam caso soubessem que é o príncipe. Não queria admitir que tinha medo de seu próprio povo. E a cada momento que pensava sobre isso, notava que aquele nunca fora o seu povo, as pessoas nunca pertenceram a ninguém. Como podia chamá-los de seus?

Talvez fosse essa a revolta deles, mas nada implicava em invadir o castelo e matar o rei em sua cama. Piscou os olhos. A medida que o tempo passara, tinha guardado essa lembrança debaixo de um tapete, onde não encontrasse tão cedo. Ouviu Robbyn cantarolando uma melodia que conhecia vagamente. Escutá-la se tornou um entretenimento durante a viagem. Até mesmo Catarina, que terminara seu livro e o emprestara a Anny, estava gostando da voz da garota pequena. Louis poderia dizer que aqueles eram, entretanto, os melhores dias que já vivera. Por toda a fome, por todo o sofrimento e os sentimentos confusos. Esta era a maior aventura que vivera. Com pessoas querendo matá-lo, companheiros e aliados, com o risco de morte e... Tudo mais. Só gostaria que Johanna e Francis estivessem seguros, junto da mãe na Corte Espanhola.

– Olhe! – exclamou Anny, com o livro debaixo do braço, apontando para a estrada que cortava as árvores ao redor. – Uma carruagem! E não possui as bandeiras da França.

Os olhos de Louis encontraram o que ela estava apontando. Realmente uma carruagem se deslocava com grande velocidade. Já estava quase ao lado deles, quando de súbito soltou Francis nos braços de Johanna e acenou, saltando. Chamou Miguel, que acenou juntamente para o cocheiro. O homem ergueu as sobrancelhas e parou a carruagem a poucos metros. Olhou-os, procurando qualquer indício de assalto ou quem sabe uma recompensa. Por fim, Louis abriu seu sorriso mais simpático e que sabia que arrancaria a afeição do cocheiro.

– Bom dia, senhor. Não faz uma bela manhã hoje? Como vão as estradas?

O homem o observou de cima a baixo e respondeu em tom seco:

– Como sempre, cheias de buracos e armadilhas para homens despreparados.

– Que pena, pensei que com a seca a terra se acentuasse – suspirou – Para onde vai?

– China. Estou em viagem com uma mensagem de Rainha Louise para o Imperador Chinês.

Rainha Louise, só havia uma mulher chama Rainha Louise, e era sua mãe. Abriu um sorriso tão grande quanto a lua cortada ao meio. Abriu os braços e soltou um grande suspiro, desta vez de alívio.

– Que prazer encontrá-lo, meu senhor! Pois estou agora mesmo indo visitar minha mãe, a Rainha, mas não possuo condução. Se puder me levar contigo até a China, poderei pedir ao Imperador para me levar a Península, onde encontrei minha mãe e minhas outras duas irmãs. – e com isso, apontou para seus irmãos menores.

O cocheiro avaliou—os com reprovação. Só então Louis notou como deveria parecer: um homem maltrapilho, com cabelos vermelhos, sujeira debaixo das unhas, com duas crianças nas mesmas condições, cinco garotas com vestidos longos e caros e um outro rapaz que se aparentava com um americano (o que não era mentira).

– Me mostre seu anel de Família Real e o levarei até o Imperador.

– Temo que não possa fazê-lo. Meu castelo foi invadido por camponeses no meio da noite e sai apenas com as roupas do corpo. Minhas selecionadas tiveram mais sorte que eu.

Os olhos do cocheiro brilharam.

– Selecionadas? As garotas que disputam a coroa?

– Bem, sim. – concordou, tentando ganhar a confiança do velho.

– São meninas bonitas e vestem boas roupas. Acho que elas realmente podem ser da alta classe. Mas suspeito muito de você e desses outros. – ele apontou para Miguel e Mei. A garota asiática abriu um sorriso.

– Eu sou Meiying, da Seleção do Príncipe Syaoran, da China. Apostou que se me levar até ele, poderá ter a comprovação e mais uma recompensa.

– E o quê a selecionada do príncipe chinês faz o sul da França?

– Fui raptada por malfeitores, mas consegui fugir, graças a meu guarda pessoal Miguel. – apontou para o rapaz – Nós encontramos Príncipe Louis quase morto, mas cuidamos dele e de suas selecionadas. Essas crianças possuem os selos de sua Casa. – apontou então para Johanna e Francis – Observe o rosto, os traços arredondados, os cabelos vermelhos e as sardas. Olhe com atenção a cor de sua pele e seu sotaque. Eles falam com polidez, e saberiam falar mandarim, japonês, inglês e espanhol, caso você ordenasse. Isso porque são príncipe e princesa.

O cocheiro observou-os com atenção e então seus olhos se voltaram para Louis.

– Tudo bem, apostarei em sua palavra. Mas não me responsabilizo pela mentira. Caso o Imperador se zangar, não irei me preocupar com vocês. – e em seguida olhou por cima do ombro, para a carruagem. – Subam logo, antes que mude de ideia. Algumas terão de sentar nas pernas das outras e as crianças também. Mas é melhor que ir a pé.