Your Selection - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 67
Príncipe Isao


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que demorei séculos! Mas não há tempo a perder! Boa leitura.



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Capítulo 66

Príncipe Isao

“O melhor modo de viver em paz é nutrir o amor próprio dos outros com pedaços do nosso” – Machado de Assis

Tom Odell – Can’t Pretend

Abriu os olhos, sentindo todos os ossos do corpo quebrados. A dor pousava sobre sua cabeça, pressionava suas costelas e oprimia os pulmões. Não conseguia erguer um braço, nem os músculos conseguia retrair. Onde estava seu pé, ou seu ombro. Não sentia nada senão a dor. Estava tudo escuro, e não conseguia recordar nada que acontecera nas últimas horas. O mais estranho, porém, era que não ouvia. Nem a sua respiração, nem os sons que provavelmente seu corpo fazia ao se arrastar (não se sabe como) para fora dos escombros da estação de metrô. Era tanto silêncio que logo notou que estava surdo.

As mãos pousaram sobre as pernas e viu as roupas em frangalhos. Estava sujo, machucado e preso. Seu pé parecia completamente esmagado, o cotovelo com certeza não estava melhor e sempre que respirava fundo, as costelas reclamavam. Mas seus pensamentos se apagaram de si por um momento e não houve nada em que pensasse com mais vigor: Cosette. Sabia que ela estava ali, sabia que estava entre os escombros. Apenas imaginar sua delicadeza sendo sufocada por todos os blocos de concreto fez seu coração disparar e gritou seu nome, embora não tenha ouvido a própria voz. E então mãos geladas seguraram seu rosto e o viraram em sua direção, para um sorriso meio-morto, mas mesmo assim caloroso, se uma garota meio-morta, mas mesmo assim calorosa.

– Isaac – ela dizia, embora não ouvisse sua voz. Para Isao, bastava estar viva. E então sua preocupação voltou: Marina. Olhou ao redor e sentiu a cabeça doer, porém não cessaria suas buscas até encontrá-la – Isaac, por favor, pare – de repente conseguiu distinguir o pedido de Cosette. Ela falava roucamente, com seus cabelos desalinhados e as roupas puídas. Piscou. – Por favor, descanse.

– Mas, Marina...

– Por favor, Isaac! – ela mordeu os lábios, segurando as lágrimas, e então ele entendeu. Marina morrera. Respirou fundo. Não. Não, não, não! Não era assim, estava tudo certo, tudo planejado. E Marina não morreria, ela vivia, ela tinha de viver. Tinha de brigar, falar, tinha de correr. Piscou, atônito.

– Mas...

E então Cosette fez algo que mudou completamente sua vida: ela lhe deu um tapa. Pegou sua bochecha, os dedos gelados chicotearam. E ele soube que não poderia falhar novamente, que não iria fracassar, não iria cair, nem chorar, e seria forte. Pois era isso que Marina queria, queria que ele fosse forte, o suficiente para sustentar tudo, mesmo os pais. Tinha de cuidar de Cosette, tinha de cuidar do Japão. De repente aquela fuga pareceu algo tão irresponsável e ridículo que sentiu vergonha de si mesmo. Arriscou sua vida, arriscou a vida de seus primos e de suas selecionadas. Provocou uma guerra, matou milhares de pessoas, inclusive Marina. Sim, ele matou Marina.

Cosette engoliu em seco e envolveu-o com um abraço fraco. E ele a alcançou com seus próprios braços, erguendo o cotovelo machucado não se sabe como, e passando-os sobre o corpo da garota, a ergueu e a apertou. Não sabia se podia, não sabia se a machucava, mas queria apertá-la. E então a soltou, sentindo que o grande buraco em seu coração havia sido preenchido com um tapa certeiro na bochecha direita. Ergueu a cabeça e procurou por alguma saída. Não havia trem nas linhas, a entrada do metrô estava bloqueada pelos blocos de concreto, destruídos pelos bombardeios da guerra. Tinha de encontrar um meio de sair de lá e voltar para o Japão, para cuidar de sua última selecionada, de sua mãe e do Japão. Tinha de acabar com uma guerra.

– Há alguma saída? – perguntou a ela, porém a menina balançou a cabeça negativamente.

Assentiu, como se já soubesse que seria assim. Levantou-se e olhou ao redor, ignorando todas as dores. Havia um caminho pelos trilhos que poderia levá-los até outro lugar, talvez o outro lado daquela cidade na França, a vinte minutos da China. Isao pensou nos primos e em onde eles estariam agora. Talvez com seu pai, talvez no castelo. Ou na mesma situação que ele. O que haviam provocado? Quanta destruição acumulada? Era tudo sua culpa. Mas não se importava com isto, pois já havia acontecido. O que realmente importava era o que estava para acontecer, o que acontecia e o que ele poderia impedir que acontecesse. Tinha de impedir que o Japão fosse destruído pela União Eurásia.

Segurou a mão de Cosette e guiou-a para a direção que achava ser a correta. Não queria olhar para trás, não iria se queixar de fome, nem de dor, nem de sono ou cansaço. Conseguiria salvá-los, e faria isso de qualquer jeito. Preferia ver Cosette viva e em segurança que sua própria vida salva. Aos poucos, tudo se abaixou. A poeira se torno mais espessa, os sons voltaram ao normal e o túnel continuou infinitamente. Talvez horas, talvez dias, andaram sem cessar, pois não havia comida, nem água e nem cama. Não havia o que fazer, além de andar. E Cosette não reclamou, ela nunca reclamava. Sua mão estava bem presa a dele, e não a soltaria de forma alguma. Tudo seria em função de salvá-la, tudo. E se possível o Japão. E quem sabe a si mesmo. Ficou tempo demais pensando em sua própria condição e esqueceu que havia uma nação, um mundo para organizar, junto de outros reis.

– Isaac... – ela ofegou – Isaac...

– Sim? – não iria parar. Com certeza não iria parar.

– Meus pés doem. Vamos descansar por alguns minutos.

Parou, abaixou-se e olhou por cima do ombro. Parecia quase óbvio o que queria fazer, porém Cosette continuou imóvel, encarando-o. Talvez ela não quisesse usufruir de sua bondade, ou então fosse lerda mesmo.

– Suba, logo.

– Mas...

– Suba!

E ela subiu, com as pernas presas pelos braços, envolvendo seu pescoço e respirando em sua orelha. Poderia ter achado aquilo muito romântico, mas só conseguia pensar que iria se cansar em algum momento do percurso. Não importava. Não podiam estar tão longe da saída. Não podiam morrer ali dentro, presos. Morrer de fome e sede era algo que Isaac não podia aceitar. Não havia morrido até agora. Não morreria então. Era herdeiro de dois tronos, era responsável por uma guerra.

– Você pretende ir para a China? – perguntou Cosette após um momento em silêncio.

– Pretendo voltar. – respondeu, notando como aquilo era algo óbvio, sensato e responsável de se fazer. Era algo que deveria saber há muito tempo.

– Voltar para onde?

– Para minha casa – sorriu de lado, sentindo aquelas palavras saindo com um gosto tão suave. “Casa”. Por anos aquele lugar fora sua prisão, seu holocaustro. E agora era um lar. Tudo por causa dela, que salvou sua vida tantas vezes. A quem deveria ter ouvido mais, em vez de pensar que deveria proteger. Pois nunca foi capaz disto.

– Acha que seu pai o aceitará?

– Ele não pode me rejeitar agora. – respondeu. – E nem a você. Pois é a única concorrente na Seleção.

Notou que Cosette enrijeceu. Ela parecia envergonhada, talvez triste. Será que ela estava triste em saber que iria se casar com ele? Quer dizer, não havia pensado em nada até o momento, pois tudo parecia óbvio. E não se sentia triste em ter de fazer isto, na verdade sentia alívio. Então notou que ela desenhava círculos em seu braço com o dedão. E sentiu a pele arrepiar.

– Tudo bem? Mesmo?

– Claro – respondeu, não sabendo que aquilo tornaria tudo ainda mais simples. – Você não?

– Não é isto. – Cosette tossiu – É só que... Não sei... Você nunca demonstro nenhum sentimento amoroso em relação a ninguém.

– Disse que amava você e Marina.

– Mas era diferente. Estou falando de amor e casamento.

– Eu nunca amei ninguém deste modo, então não poderia dizer se a amo. Mas creio que não está tão longe, pois você já é minha família, já faz parte de mim, de quem sou. E quero que fique por perto para sempre, onde possa te olhar.

– Posso dizer algo um pouco estranho? – ela riu fraco.

– Diga. – sentiu-se mais leve com aquele diálogo, após uma caminhada silenciosa e pesada. Não estava vendo o tempo passar.

– Quero saber onde estão meus pais, como estão. Se a guerra os atingiu, se estão vivos ou mortos. – e de repente o mundo de Isao desmoronou novamente. Como não percebera antes isto? Cosette deveria estar sofrendo muito, sem o contato com sua família. Fechou os olhos e tentou não pensar em como havia se esquecido dela e de seus sentimentos.

– Estarão bem. A guerra está apenas na Ásia. E quando voltarmos, irei acabar com ela.

– Meus pais moram na França, na parte Oeste, mesmo assim pode ser que algo esteja acontecendo lá. Não consigo parar de pensar nisso. E meus irmãos e irmãs. – ela encostou a cabeça em seu ombro, suspirando – Queria estar com eles. – e então piscou – Quer dizer, adoro você, Isaac, mas há meses não falo com minha família. Queria te apresentar a papai, ou convidá-los para visitar o Japão. Eles sempre quiseram.

– Então iremos convidá-los. Não se preocupe, irei trazer todos que quiser para o Japão e construirei um castelo para eles, onde possam ver as montanhas e as cerejeiras florescendo. Poderemos morar lá, sem a interferência de meus pais, pois eu serei um homem completo, com uma esposa e filhos.

– Filhos – Cosette riu, sonhadora.

– Quantos quiser. Mas eu confesso que quero pelo menos cinco.

– Eu gosto de cinco. Quem sabe seis, sete...

– Quero criar um mundo bom para eles, e para suas irmãs e irmãos. Um lugar pacífico, onde todos fossem felizes. Sem guerras ou fome. – respirou fundo – Falando isso parece utopia. É impossível criar um mundo assim.

– Não é impossível. – ela sussurrou – Desde que haja harmonia na casa, todo o resto de resolve. E desde que estejamos juntos, tudo será pequeno. – e então beijou-lhe o rosto, no local onde o havia batido. Isao enrubesceu.

Estava tão encabulado que não notou quando a luz mudou e o túnel se abriu para uma floresta fechada e densa, onde os trilhos desapareciam. Havia fumaça no alto do céu, fumaça branca que anunciava uma lareira quente e o cheiro de comida fervendo. O som das vozes das famílias tradicionais chinesas e a paz.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo. Me perdoem por demorar tanto, e entendo caso estejam bravas comigo. Mas problemas se acumularam e eu tive de dar mais atenção para outras coisas. Enfim tudo está se resolvendo e espero conseguir concluir a Your Selection sem outras interrupções. Beijos da Meell.



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