Your Selection - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 54
Dominique Quebec


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura. Desculpe a demora.



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Capítulo 53

Dominique

“O destino é mais forte que a vida e do que a morte” – Vicente Avelino

Birdy – People Help The People

O silêncio poderia ser dividido em três partes. A primeira era a mais despercebida, vagando pelas cortinas e debaixo das camas, onde os pés não tocavam os chãos, pois estavam encolhidos sobre o colchão. Beliches se amontoavam, e o silêncio passava por eles, com solene lentidão. A segunda parte vinha das pessoas. Era o silêncio mais desconfortável. Suas mentes gritavam, porém as bocas permaneciam caladas, por horas e horas, a única coisa que podiam fazer era ouvir o primeiro silêncio misturado ao terceiro, que se provava ser a parte mais gritante de todo o silêncio. O nada. O silêncio do silêncio era aquele fino pio dentro de sua cabeça, que segue uma linha que nunca se desvia. Quando você começa a ouvir o silêncio, então tem certeza de que não poderia haver mais depressão que a do dormitório dois, do convento do leste de Londres, próximo aos campos de morangos.

A Inglaterra jazia no silêncio da morte. Cada alma gritante era apagada no ato, cortada pela lâmina fria do eterno silêncio.

Dominique enrolava o papel da carta entre os dedos. Já estava tão amassado que as pontas se encardiam e despedaçavam. As letras curvilíneas do príncipe Adam se desintegravam com deprimente ruído. Mas Dominique não se importava com isto. Quando o grito animalesco de uma dor ainda não experimentada por ela passou pelas paredes do dormitório dois do convento a leste de Londres, estremeceu e colocou a cabeça entre os joelhos, abraçando-se, como costumava fazer quando se lembrava de papai e do avião.

Já fazia quarenta e nove minutos que aquela voz ecoava variando os intervalos. A tortura era tamanha que mesmo as freiras haviam se limitado a trancar a porta do quarto e deixar que lá a menina morresse com o tempo. Um assassinato sem culpado. Mas esperá-la agonizar para então morrer era pior que conviver com sua morte na consciência. Mas Deus não permitia o assassinato, então era melhor esperar que ele a salvasse com seu tempo. As freiras chamavam aquilo de “Purgatório na Terra”, quando os sintomas da Praga entravam em estágio final e o doente só pode fazer esperar que a morte apareça. Por sorte o convento possuía um quarto almofadado especial para endemoniados e lá fora colocada a menina, para que não espalhasse a doença aos outros. Ou assim afirmavam.

Os olhos chegaram até a carta, onde conseguiu ler: Vejo-te sempre que rolo a cabeça para o lado, ou para o outro. Mas infelizmente não conseguia mais sentir aquele calor ao ler as palavras de Adam. não conseguia mais sentir calor algum, mesmo com os raios solares que passavam pelas janelas. Seu corpo pequeno conseguia se tornar ainda menor, a medida que os minutos rolavam e o silêncio aumentava. Os gritos se extinguiram quando a noite chegou. Finalmente, ela morreu. O corpo, entretanto, não seria enterrado. Mesmo morta, ela ainda podia contagiar alguém e por isso ficaria lá embaixo, no quarto almofadado, até que o convento ruísse. O que não estava tão longe.

Chamaram-nas para o jantar, porém ninguém estava com vontade de comer. Uma já havia ido embora. A primeira eliminação da seleção. Mordeu os lábios. Seria assim, até que Adam retornasse e reconquistasse a Inglaterra? Arrastou um pé após o outro, até a sala de jantar, onde o crucifixo e a imagem ensangüentada do Messias a incomodavam profundamente. Sua família acreditava que Jesus ressuscitara dentre os mortos, porém aquelas freiras insistiam que Jesus morreu por todo o mundo, mas não ressuscitou. Por isso sua imagem era retratada ma cruz.

Mal tocou em seu prato. O silêncio na mesa era praxe para as freiras, porém só a perturbava ainda mais. Quando finalmente puderam levantar, não comera mais de dois pedaços de ovo frito, uma salsicha e trezentos e vinte grãos de arroz. Uma das freiras se aproximou, era Martha, e entregou um envelope rosa claro, com o selo real da Família Real Inglesa e o nome “Dominique” muito bem escrito.

– Outra carta para a senhorita. – Martha disse, porém ignorou-a, pegando o envelope e levando-o consigo para o dormitório.

Somente quando estava deitada na cama é que conseguiu tomar coragem para romper o selo e ler a carta, cuja letra era tão caprichada. Entretanto não havia muito o que se ler. Decepcionada, passou os olhos dez vezes pela única frase que marcava a folha inteira, dobrada milimetricamente. Somente após passar os olhos pela décima oitava vez que percebeu o que queria dizer.

Estou chegando.

Sorriu, virando de lado, fechando os olhos e ouvindo o silêncio.

º º º

Estava esperando Adam há dois dias, deitada sobre a cama, sem se mexer ou pensar em muitas coisas. Preferia não se concentrar no mundo, manter-se na ignorância, pois assim sofreria menos. Uma a uma, as garotas começaram a visitar o quarto almofadado e os dois dias se tornaram quatro dias. Receberam a notícia da coroação de Adam e de possíveis alianças entre ele e o Imperador. Agora não era mais príncipe Adam e sim rei Adam. Mas ainda não conseguia pensar nisso com clareza. Só dormia, sonhava, acordava aos gritos e voltava a dormir. As freiras chamavam aquilo de Depressão e diziam que era o pior dos pecados pois a Depressão é falta de fé.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! o/ Amo todas vocês



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