Your Selection - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 53
Príncipe Isao


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Capítulo 54

Príncipe Isao

“O amor é como a Lua: resiste a todos os sonetos e abençoa todos os pântanos.” – Rubem Braga

Ayaka Hirahara - Jupiter

As coisas acontecem na vida de Isao quase simultaneamente, e quanto mais grande, pior é a conseqüência. Um dia, ele ganhou uma águia de seu pai. Ela comeu chocolate e passou mal, morreu alguns dias depois, pois no meio do chocolate ela havia engolido o papel laminado que envolvia os pedaços. Ainda criança, Isao ganhou uma roupa linda, costurada por sua bisavó, uma herança de família que seu pai guardava com muito carinho. Enquanto brincava no farol, rasgou a roupa e a sujou com graxa e tinta preta. Mas Isao também ganhou um irmão.

E hoje é filho único.

– Tem certeza que não pode fazer nada por mim? – se colocou na frente do amigo, bloqueando a passagem. Syao ergueu os olhos, aqueles olhos puxados, característica dos asiáticos. E que infelizmente ele não tinha. E este era um dos motivos de seu pai o odiá-lo. – Poderia se ajoelhar diante de seu pai, com a Mãe.

– A Mãe não é um símbolo de poder quando o assunto é abrigar fugitivos de nossos aliados. – o príncipe chinês censurou. – Meu pai já foi muito amigável em deixá-lo passar uma noite. Chegou ontem e hoje já quer ficar? – Syao respirou fundo – Eu gostaria, Isao. Gostaria muito. Mas sou apenas um... Aprendiz. Não sou aquele que faz as escolhas.

– Mas será. E eu serei. Não é melhor confiar em um herdeiro jovem, que em um Rei velho?

– Isao, o que você está dizendo é imperdoável. – Syao endireitou os ombros – É quase como desejar a morte de seu próprio pai.

– E você não imagina o quanto eu desejo. – sorriu. – Mas a questão é que não posso voltar para casa agora. Não depois de tudo isso. Fiz um acordo com meus primos, para voltar com eles à União. Meu tio, o Czar, irá me criar, como meu pai te criou.

– Decidiu isso sem perguntar ao rei. Ele era a autoridade e você o ignorou. É traição, Isao. Isso tira seu direito ao trono.

– Se eu fosse chinês, isso tiraria meu direito ao trono. Mas faço parte de um sistema de governo europeu, que o Japão aderiu. Nosso castelo é feito de pedra e não de papel, como o seu. – tocou os ombros do amigo, seu companheiro de aventuras na infância. Já havia se metido em muita encrenca com Syao, mas também fora salvo de muitas outras por causa dele. Se havia alguém próximo, era Syao. E Syao iria ajudá-lo. – Por favor, Syao, só uma chance. Peça só uma vez.

O príncipe ponderou e então suspirou.

– Vou tentar. Mas não prometo. A decisão é de meu pai.

– Obrigado, muito obrigado. – sorriu. – Eu sabia que poderia contar com você.

– Eu disse que não prometo conseguir. – Syao ergueu as sobrancelhas e então passou pela porta, que até então Isaac estivera bloqueando. – Espere no jardim. As meninas estão lá.

– Quem diria. – foi o que respondeu, e então deixou que Syao partisse e ele mesmo começou a andar em direção ao jardim central do castelo chinês.

Isaac gostava daqueles corredores, da paz, das pessoas silenciosas e dos olhares gentis. Ninguém o censurava, todos sorriam quando lhes cumprimentava. Ali ele não era o príncipe ovelha-negra, mas sim um príncipe honrado do Japão, o qual merecia respeito e sorrisos amigáveis. Pois logo seria rei. E seu pai não. Talvez esse fosse o maior medo do Imperador, perder o trono sem conseguir domar seu filho. Caso assumisse hoje o trono, Isao faria de tudo para ir contra as vontades do homem, apenas para provar que a autoridade agora era sua.

Quando deixou seus primos, temeu que não os encontrassem mais. Porém chegou rapidamente a China e tudo se mostrou mais agradável. O Imperador lhe abrigou com braços abertos, com a condição de que fosse embora pela manhã, sem deixar vestígios. Mas para onde iria? Virou em frente ao jardim, onde suas selecionadas conversavam com as de Syao. Isao não conseguia mais pensar nelas como garotas lutando pelo seu amor. Eram suas amigas agora, Marina e Cosette. Ambas eram amadas por ele, com um amor igual. Marina e suas brincadeiras afiadas e Cosette com seus abraços quentes. Elas o mantinham vivo. Syao, por coincidência também tinha apenas duas meninas, embora fossem rígidas e não se referissem a ele pelo nome. O que era típico da China. Isao não podia imaginar como seria viver em um mundo como o de Syao, embora o seu próprio fosse terrível.

– Meninas. – cumprimentou-as em japonês, embora as selecionadas do príncipe chinês provavelmente não conseguissem entender o que dizia. Marina sorriu e ergueu as sobrancelhas, Cosette endireitou as costas. – Espero que estejam se dando bem.

– Muito bem. Elas falam inglês perfeitamente. – elogiou Cosette, embora Marina estivesse fazendo uma careta.

– Elas são boas. Só. – corrigiu, jogando a cabeça sobre seu ombro. – Sentimos saudade do nosso cachorrinho.

– Ele está aqui, calminha. – Passou o braço sobre os ombros de ambas, notando a surpresa das moças em frente. – Olá, meninas. – disse, agora em chinês. – Espero que a sortuda seja a merecedora do amor de meu amigo, Syao.

– Quer dar uma de bom garoto? – Marina riu, porém Cosette deu-lhe um leve tapa no braço. A cabeça de Cosette não se aproximava tanto quanto a de Marina, talvez por ela ainda ser tímida. Isao gostava de quando Cosette vinha lhe abraçar, pois era mais sincero que os abraços de Marina, que vinham aos montes. Mas gostava do modo como Marina lhe cortava com palavras frias. Gostava de como ambas cuidavam dele. Gostava de ser o cachorrinho mimado.

– Eu sou um ótimo garoto. – piscou – Jasmine, Lydia, tenho que caminhar com minhas garotas agora. Está um ótimo dia para visitar o templo.

Levantou-se, e Marina o seguiu. Cosette se curvou e fez uma leve reverência, dando adeus. Sorriu consigo mesmo. As selecionadas de Syao pareceram felizes com a reverência, algo que uma Rainha deveria saber fazer. Captar a cultura, praticá-la. Pois alianças não são feitas apenas com homens em reuniões importantes, papeis, canetas e vantagens. Mas Marina não se importava com isso. Ela poderia conquistar um batalhão inteiro apenas sorrindo demoniacamente, como sabia fazer. Isao gostava disso em ambas.

É claro que seu pai iria pedir para que escolhesse Cosette, pois era a melhor para o papel de Rainha. Gentil, tímida, polida e detalhista. Não falava demais e sorria facilmente. Mas também não podia ignorar Marina. Mordeu os lábios, era impossível decidir entre elas. Saíram pelas portas dos fundos, onde os solados formavam filas. Alguns reverenciaram, outros apenas continuaram encarando o ar em frente. O templo se encontrava a algum tempo de caminhada do castelo. Isso daria tempo para conversarem. As árvores de cerejeira lhe lembravam de casa, crescendo ao redor da trilha em meio ao bosque. As folhas caíam, anunciando o final do outono. Logo o inverno estaria chegando. Pedras enfileiradas limitavam a trilha, a relva era verde-escura e os troncos das árvores ainda mais escuros. Os raios solares marcavam bem o lugar, embora não alcançasse suas cabeças. Segurava a mão de Marina e a de Cosette, andando entre elas. Sem pressa. Às vezes imaginava como seria se seus pais caminhassem assim com ele. Uma vez vira o Imperador Chinês e sua Esposa andarem com seu filho deste modo, quando criança. Perguntou ao pai se poderia fazer o mesmo. “Príncipes devem se comportar como príncipes, não como crianças.”. Às vezes gostaria de ter vindo ser criado junto de Syao, ao contrário do que fora.

– O que aconteceria se eu pisasse fora da trilha? – perguntou Marina, de repente, quebrando o silêncio, que Isao ainda não havia notado. Às vezes apreciava os momentos “parados no tempo” que tinha com elas. Apenas viver, sem pensar em mais nada ou sem precisar falar algo, se desculpar ou cumprir uma função, suprir as expectativas de todos e seguir as regras...

– Seria considerado uma afronta aos deuses. Eles te amaldiçoariam. – respondeu, sem muito interesse. Marina olhou para o bosque e deu de ombros. – Não faça isso, por favor. Não quero mais problemas para o Imperador.

– Tudo bem. – ela suspirou.

– Veja, aquelas aves. – Cosette puxou a manga de sua camisa, apontando para o alto. Uma ave de cabeça grande e bico ainda maior, asas com o dobro do tamanho e penas brancas voavam cruzando os raios solares. – São lindas.

– Chamam-se Pengs. – ele explicou – Os Pengs são aves sagradas para os chineses. Aquela tem duas asas e dois olhos, porém nos mitos os Pengs possuem uma asa e um olho apenas. Eles precisam de um parceiro para sobreviver. Essa é a simbologia do casamento, da união entre o esposo e a esposa. Um ajuda o outro.

Cosette encarou a ave que cortava os céus novamente e suspirou, encantada. Doce como mel, ela se derretia pouco a pouco, observando a fauna e a flora chinesa. Gostava de observá-la assim tão fascinada, por mais que soubesse tudo o que estava lá, o nome de todas as árvores, pássaros e os mitos importantes. Teve de aprender tudo, por ordens de seu pai. Talvez essa seja a única coisa a que deve agradecer.

Quando chegaram ao templo, a caminhada já o tinha desgastado, mas se obrigou a andar até os bancos onde borboletas brancas e rosadas sobrevoavam arbustos cheios de flores delicadas. Novamente os olhos de Cosette brilharam e ela se sentou ajeitadamente ao seu lado, com as pernas cruzadas, as mãos sobre os joelhos e a cabeça virando sempre que uma nova cor lhe chamava a atenção. Marina saiu a caça das borboletas e voltou com uma em mãos, segurando suas asas, sorridente.

– Olhe, que pequena.

– Está machucando! – Cosette prendeu a respiração.

– Não estou, só peguei ela. – Marina revirou os olhos, soltando a borboleta em seguida. Jogou-se ao banco, cruzando as pernas para cima dele e abrindo os braços relaxadamente. – Estamos vivos. Em meio a todo o caos, estamos vivos. Não é ótimo estar vivo?

E pela primeira vez, teve de concordar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Próximo capítulo provavelmente será sobre a Praga, pois todos já estão perguntando "Mas o que a Praga faz de tão ruim?". Vocês verão.



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