Your Selection - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 52
Anny Valence


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura e boa Páscoa.



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Capítulo 53

Anny Valence

“A dor e o amor são as lanternas encantadas que iluminam a vida” – Júlio Brandão

Train – Drive By

O trem estava em movimento, quando finalmente conseguiram juntar todos os colchões dos vagões próximos. Abriram as janelas de emergência, porém a velocidade não lhes permitia saltar. Anny sentiu as mãos de Mitsuko impulsionando-a para frente, enquanto se envolvia com o colchão. A primeira a pular foi Robbyn, seguida de perto por ela mesma, Anny, com cabelos ao vento e o corpo girando no ar, até quicar contra a relva e então alcançar o impacto mais forte: caiu rolando para longe dos trilhos do trem. Os vultos de Mitsuko e Catarina saltaram apareceram alguns metros mais longe, e então Madame. O príncipe Louis, junto de seus irmãos, vieram por último. Os ruivos se envolviam com força, como uma bola própria para proteção mútua. Madame limpou a saia e olhou ao redor, uma imensidão de relva e o céu azul da França. Estavam quase na praia, conseguiam sentir as ondas de ar quente vindas do oceano. Porém não se aventurariam nas direções delas, pois as colônias de africanos contaminados estavam nas mediações. O que deveriam fazer era simples: caminhar toda a trilha que tinham percorrido até alcançar alguma cidade grande, onde poderiam buscar abrigo.

– Vamos seguir a trilha do trem. – decidiu Louis, jogando seu irmão menor para cima dos ombros. O pequeno Francis bocejou, fechando seus olhinhos lentamente. Johanna parecia mais disposta a ajudar, sem reclamar de ter de andar ou mesmo olhar feio para uma delas. A menina parecia mais perturbada com seus próprios problemas: a perda recente do pai, a confusão e a esperança furada de reencontrar sua mãe, a Rainha da França, e as irmãs mais velhas. Anny sentiu pena da pequena garotinha, embora suas longas tranças ruivas e seu modo arrogante de girar a cabeça não lhe dessem tanta pena assim. Louis sorria algumas vezes para trás, alterando com quem conversaria. Começou a conversar com Catarina, o que era de se esperar, entretanto mudou rapidamente para Robbyn, e Mitsuko, até chegar a Madame e enfim ela. Anny sentiu os ombros tremerem levemente.

Não deveria estar assim, entretanto, pois era óbvio que o príncipe já estaria fascinado por Catarina. Raramente ele tirava os olhos dela, normalmente lhe entregava seus irmãos para cuidar e Johanna até mesmo segurara a mão da selecionada em alguns momentos da caminhada. Tudo indicava que Catarina já fazia parte da família real francesa. Então o que ela, Mitty e Robbyn estariam fazendo ali? Apenas servindo como isca para os rebeldes e ajudando o príncipe a fugir de um lugar ao outro?

– Você sabe tudo sobre música? – o príncipe perguntou, após uma breve discussão de seus gostos e hobbies. Louis parecia quase completamente normal, como se o luto por seu pai já tivesse passado, eles não estivessem perdidos no meio do nada, sem comida ou água e rebeldes em todo o país o quisessem morto. Era quase maravilhosamente enlouquecedor pensar assim. Mas ele conseguia.

– Somente um pouco.

– Você gosta de... Evelyn Bickow?

– Não conheço. É uma cantora nova?

– Na verdade ela morreu há setenta anos. – o príncipe colocou as mãos nos bolsos. – Então... Paris Lux?

– Eu gosto de músicas de minha língua, russo. – os olhos do príncipe francês a seguiram por um momento e então ele pensou um pouco.

– Eu acho que Bastille é uma banda inglesa, você deve conhecer.

– Infelizmente não. – ela encolheu os ombros. – Eu... Essa banda tem alguma música famosa?

– Várias. – os olhos do príncipe novamente a seguiam, quase curiosos. – Você não conhece muito sobre músicas antigas. Bastille foi uma banda há quase trezentos anos.

– Eu prefiro cantores e bandas atuais. Como... Ed Vancou. Adoro ele e a banda. A voz dele também é super afinada e...

O sorriso do príncipe a tiraram de seus devaneios.

– O que foi? – ergueu as sobrancelhas, enquanto encolhia os ombros. – Estou falando demais, não?

– Ed Vancou é irmão de uma atriz que eu particularmente adoro. Ashley Vancou. – Louis olhou para a fila de selecionadas e então voltou a olhar para ela, curvando-se, chegando perto e então sussurrando. – Quando era menor, fantasiava que iria me casar com ela.

– Mas... – piscou, atônita. – Eu também! Sempre amei o Ed!

Louis soltou uma risada fraca e voltou a posição normal.

– Os irmãos Vancou são mesmo sortudos. – Louis suspirou – Mas você é tão linda quanto Ash.

Sentiu as bochechas ruborizarem, enquanto movimentava os braços ao lado do corpo, numa forma de se manter ativa sem ter de esconder o rosto entre os cabelos castanhos. Louis respirou fundo e olhou por cima do ombro, onde seu irmão menor dormia angelicalmente. A visão daquela cabecinha ruiva, com longos cílios laranja-entardecer e as sardas espalhadas pelas bochechas deixavam Anny com o coração amolecido. Adoraria ter um filho ruivo.

– Vossa Graça também é tão bonito quanto Ed.

Louis ergueu uma sobrancelha e sorriu, quase tão amável quanto a criança dormindo em suas costas. O príncipe tinha ombros estreitos, embora fosse forte, já estava carregando Francis há pelo menos duas horas. O príncipe tinha cabelos até as orelhas, entretanto as madeixas ruivas cresciam como feijão e já tocavam ligeiramente os ombros. A barba vermelha-fogo também crescia no queijo e nas maçãs do rosto, dando a entender que seria fechada e muito bem definida, aquelas barbas que normalmente crescem muito e deixam apenas a boca e o nariz de fora, entretanto o príncipe tinha olhos tão claros à luz do Sol e banhados por cílios longos e escuros que se destacavam na pele ligeiramente pálida e amarelada, como papel antigo. As sardas eram poucas nas bochechas, porém vinham em ondas no queixo, testa e nariz. Sobrancelhas grossas, arqueadas, queixo fino, sardas e manchas pelos ombros, braços e pernas. Os pelos ruivos de seu corpo formavam leves ondulações, como seus cabelos.

– Por favor, me chame apenas de Louis. – ele disse, voz melodiosa e tão calma que a fazia querer ouvi-lo cantar uma das canções de Ed Vancou. – O vilarejo mais próximo é de meu tio, o rei regente. Aposto que ele irá conseguir conter as agitações. Estou louco para ver meus primos. Só me lembro deles quando ainda eram crianças, René tem minha idade. A mais velha é Rosela e a caçula Franciella. Meu primo caçula é Jean-Pierre, ele tem um ano a mais que Francis, se não me engano. – Louis falava da família com brilho nos olhos. – Os quatro filhos de meu tio Joaquim sempre me visitavam nos aniversários, mas pararam após algum tempo, acho que depois dos meus doze anos, pois ficava difícil para tio Joaquim viajar com a esposa, doente. Minha mãe sempre disse que a Grã-Duquesa Estefanna era uma mulher forte.

– Aposto que eles estão do mesmo jeito que eram. – Anny tentou animá-lo, pois de repente o príncipe se tornara melancólico. – Eles são ruivos?

– Ah, sim. Minha família inteira por parte de pai. – ele sorriu – Tio Joaquim herdou o ruivo escuro, como minha mãe. Mas René tem cabelos mais claros. Bonito é o cabelo de Franciella. Laranja-fogo. – Louis sorria, ainda. – René irá adorar vocês. Ele sempre disse que quando tivesse minha seleção, era para chamá-lo pois ele me ajudaria a escolher a mais bonita. Na época éramos crianças e as meninas se baseavam por mais bonita ou mais feia. Mas acho que isso é um detalhe ridículo. – Louis deu de ombros – René sempre gostou de meninas mais atléticas,que pudessem cavalgar ao seu lado ou correr ladeira abaixo. Eu sempre fui mais frágil e me machucava facilmente quando brincávamos juntos. – o príncipe novamente tinha aquele brilho intenso.

– Você é muito ligado à família, não? – Anny disse, e de repente se sentiu tola. Era óbvio que Louis tinha uma forte ligação com sua família. Explicando desde a morte de seus pais, até seus irmãos e o modo como os protegia. Tudo indicava isso. Pensou que Louis a chamaria de burra.

– Na verdade, eu me sinto responsável por tudo o que acontece com eles. Quando era menor, pulava as linhas entre os blocos de pedra no chão porque acreditava que, se pisasse, alguma coisa iria cair na cabeça de minha mãe. Escondia os charutos de meu pai para ele não fumar e mantinha minhas irmãs trancafiadas no sótão para brincarmos de casinha e não ter problema de alguém se machucar. Eu costumava ser bem próximo de Mirella, Cecília e Olesya. Mas elas cresceram e me esqueceram. Agora cuido de Johanna e Francis, mas não deixarei que eles me esqueçam.

– Você tem algum parente por parte de mãe?

– Ah, sim, tenho. Minha tia Rafaella. É esposa do rei da Inglaterra. Uma aliança de casamento entre nossas nações.

– Você é primo do príncipe Adam? – Anny nunca soube disso. Sempre soube que os príncipes russos eram primos do príncipe japonês. Mas Inglaterra e França?

– Bem, é complicado. Adam é filho da primeira esposa do rei inglês. Minha tia é a segunda esposa. Ela... Ela é estéril. O rei não se importou, pois já tinha um herdeiro. – Louis rolou os olhos para ela. – Estou te entediando?

– Imagine, claro que não. Adoro ouvi-lo. Digo, é bom conversar.

– Sim, eu gosto de conversar. Mas algumas horas são melhores que outras e isso me irrita. Porque acho que não tem momento ideal para se estar feliz ou triste. Meu pai morreu, mas ainda tenho minha mãe e mais cinco irmãos. E sou o herdeiro legítimo. Meu tio cuidará de tudo enquanto sou menor de idade, porém logo assumirei o trono. Devo ser um rei feliz, mesmo quando meu povo chora. Assim poderei confortá-los.

– É um bom modo de pensar. – Anny admitiu, embora não conseguisse acreditar naquilo. – Então você não se importa com a morte de seu pai?

Quando a pergunta saiu, sentiu novamente que havia dito a pior coisa que poderia. Porém o príncipe novamente não se importou com isso.

– Me importar com sua morte e senti-la é diferente de chorá-la e me enlutar. – Louis piscou – Vou explicar: eu me importo muito com a perda dele e sinto muito sua falta. Mas não irei chorar, não irei perguntar “Por que ele?”. Aconteceu, sim. Mas tenho minhas responsabilidades de agora e do futuro, o passado ficou e é uma marca pesada. Mas não posso viver nele. Amo meu pai. Mas amo Johanna e Francis. Amo minha mãe, Mirella, Cecília e Olesya. René, Rosela e Jean, Franciella e minha tia Rafaella. – Louis sorriu. – Tenho vários motivos para ignorar minha própria dor.

Anny permaneceu em silêncio, envergonhada. Para ele poderia ser fácil falar, porém ela se sentia tola. Pois nunca pensara deste jeito. Caso fosse o príncipe, do modo como Louis e o rei eram próximos, iria chorar até desidratar. Mas ele pensava nas outras pessoas, antes de si mesmo. Pensava que o passado podia machucá-lo, mas tinha de perdoar e seguir em frente. Ele não se culpava, não procurava vingança. Ele só queria o melhor para todos.

– Olhe! Ali tem um vilarejo! – Louis apontou para frente e saiu correndo, despertando Francis em suas costas. Johanna também correu atrás dos irmãos, e logo as selecionadas os estavam seguindo. Madame era a última na correria, com seus saltos altos. – Por favor! Alguém! – Louis gritava, janelas e portas se abriam, pessoas espiavam para o lado de fora, e então fechavam suas casas por completo – Por favor! Precisamos de comida e água!

Anny sentia o coração batendo forte no peito, entretanto não se limitou a correr o que todos corriam, correu mais. Queria alcançar Louis e Johanna, Francis e as casas. O vilarejo era pequeno e as pessoas talvez não estivessem envolvidas com as revoltas. Quando Louis finalmente chegou ao centro da praça, onde todas as casas se voltavam, colocou Fracis sentado sobre a fonte seca e gritou bem alto em francês:

ALGUÉM QUER AJUDAR O PRÍNCIPE DA FRANÇA? PRECISO DE ALMAS FRATERNAS QUE POSSAM ME TRATAR COM IGUALDADE, POIS SOMOS TODOS LIVRES!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Beijos da Meell Gomes.



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