Your Selection - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 49
Yazirat Al Arab


Notas iniciais do capítulo

Capítulo curto (todos estão sendo curtos), mas com uma revelação! Boa leitura.



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Capítulo 49

Yazirat Al Arab

“O fato de alguém haver dito alguma coisa anteriormente, não quer dizer que a gente não vá mais investigar para não repetir” – Viana Moog

Abney Park – The Ballad of Captain Robert

Sobriamente, sabia que as ondas ainda batiam lá embaixo, sob os pés. Às vezes notava o leve movimento do navio, mas já se acostumara com isto nas horas de dormir ou simplesmente de caminhar. Não sentia enjôo, entretanto, e a comida estava ainda bem conservada. Todavia, o navio tinha de aportar para substituir muitos suprimentos, cordas e roupas. Inclusive o banho. Mas de todas as coisas que mais sentia falta, era a terra. Olhar para milhões de litros d’água salgada por dias e até semanas parecia algo enlouquecedor, e era outro motivo para a tripulação ancorar na extrema ponta da União Eurásia, onde os portos eram precários, com somente alguns pequenos botes de pescadores locais, tábuas quebradas ou em processo de decomposição. Havia o cadáver de um cruzeiro, agora esquelético e formando um recife artificial.

– Aqui – disse Vincent, esticando a mão para ajudá-la a descer do navio. Caminhar sobre o solo imóvel era algo incrível, como se não tivesse feito isso toda a vida. Ele sorria brevemente, ajudando Mama a descer. A mulher levava Soturna, a coruja, pois era noite e o animal odiava permanecer sozinho quando anoitecia. Víria saltou graciosamente até o lado deles e caminhou em direção aos pescadores que traziam novos peixes, recém-pescados, ou talvez apenas retornando de uma pescaria vã. Zafirah aprendeu a nunca duvidar dos talentos persuasivos da cantora, também a nunca discordar do velho Abernath ou olhar nos olhos do misterioso capitão Gilbert. Aprendeu a ser gentil com Albert e a aceitar as investidas românticas de Vincent. A cortas as cenouras para Mama e a acariciar a coruja soturna. O velho soldado de guerra era mais forte do que se imaginava.

– Ouvi rumores de que há um vilarejo nas proximidades. – comentou Albert, terminando de fechar o navio. O soldado permaneceria nele, guardando-o, enquanto os demais buscavam hotéis ou alojamentos onde pudessem permanecer durante os dois dias seguintes. Zafirah sentia-se já parte da família, embora não soubesse da maioria das coisas que faziam em terra. “O que piratas fazem quando vão para a praia?”, eles deslizam sobre a prancha. A piada soou ridícula, porém fez Mama dobrar-se de tanto rir, enquanto Vincent se vangloriava.

– Pessoal – Víria retornou, agitando as mãos. No tempo que passaram juntas, Zafirah preferiu permanecer em silêncio e a outra garota não recusou isso, aderindo a idéia. Sempre que seus olhares se cruzavam, desviavam rapidamente. – Aqueles senhores disseram que estão indo para a vila agora mesmo. Podemos segui-los. E têm peixe fresco.

– Então vamos segui-los – decidiu Gilbert, o líder da expedição. Víria enroscava-se a ele como uma trepadeira a uma parede. Zafirah nem imaginava porquê Vincent a havia namorado por alguns meses. Parecia artificial, quase uma inimiga declarada, sorrindo gentilmente enquanto todos a olhavam e mostrando as garras pelas costas. Mas o que poderia dizer? Ela nem a conhecia bem.

Em fila, seguiram o caminho que os pescadores tomavam. A trilha era notável entre as palmeiras e logo estavam de frente para uma construção precária do que seria a capela. A cruz no alto do telhado estava meio torta e as portas abertas revelavam mulheres rezando nos primeiros bancos (o que daria cinco fileiras). Crianças ainda corriam pelas ruas de terra, rindo e gritando uma com as outras, enquanto os pescadores da região distribuíam o peixe e vendiam a mercadoria fresca para os demais. Alguns pareciam muito fortes, mas a maioria tinha barba branca, costas encurvadas e braços flácidos. Viveram vidas esquecidas, viveram o anonimato. Jaziam em tumbas pobres, tão pobres que não se era possível nem mesmo comprar as lágrimas daqueles que os amavam. “Mais choraram em vida do que em morte”, assim pensou, enquanto observava as figuras mirradas e magricelas, lançando-lhes olhares quase amedrontados. Gente que nunca viu pele tão branca, nem pessoas tão gordas. Mama mordeu os lábios grossos, talvez desejando ter sopa para alimentar todos ali.

Víria, que tinha bons olhos, encontrou uma placa que dizia “estalagem”, pendurada sobre a porta estreita de uma casa de dois andares. Não haveria mais de cinco quartos, e estavam em sete. No interior, encontraram uma idosa de cabeça tão branca quanto a neve e olhos que sorriam no lugar da boca, há muito sem dentes. Ela se levantou quando os clientes entraram e virou a cabeça, um pouco contrariada.

– Quem são? – perguntou, com o ligeiro sotaque sulista.

– Viajantes. Viemos do mar. – explicou Víria sorrindo com uma doçura surpreendente. – Só precisamos de quartos para passar duas noites. Podemos pagar.

A velha encarou-a e mediu com seus olhos, extremamente desconfiada. Viveu a vida inteira num vilarejo perdido no tempo e tinha suas razões para permanecer hesitante, mas Zafirah achava que logo cederia os quartos, quando visse o dinheiro que Vincent carregava na cintura, dentro de uma bolsa de couro pequena. Por fim, a velha voltou a se sentar em sua cadeira de balanço.

– Estamos sem quartos.

A resposta tomou a todos de surpresa, inclusive Gilbert, que abriu a boca em um O visivelmente raro. A idosa tricotava, ignorando-os por completo, entretanto Víria se sentou sobre o balcão da estalagem, o que poderia ser extremamente atraente, se a velha fosse um velho. Sorriu ainda mais e lançou a pernas para dentro do balcão, com uma jovialidade invejável.

– Minha senhora, como não têm quartos? Não vejo outros viajantes por aqui.

– Estão reservados – a velha respondeu, sem erguer os olhos, extremamente indiferente.

– Pagamos o dobro.

– Ah, eles também. – ela sorriu, um sorriso sem dentes que deixou até mesmo Zafirah hesitante em insistir no assunto. Quem quer que estivesse hospedado naquele lugar, tinha uma grande afinidade com a idosa. Víria arqueou as sobrancelhas, ela não estava acostumada a ser contrariada, mas desceu do balcão sem hesitar, rodeando o corpo de Gilbert e caminhando em direção a porta.

– Vamos, o serviço deste lugar é péssimo – disse, por fim.

Ninguém poderia negar aquilo, entretanto do lado de fora também não conseguiriam outra estalagem, o vilarejo era muito pequeno e uma caminhada rápida já revelou que teriam de dormir no navio, com o soldado. Enquanto voltavam para a praia, um dos pescadores vinha junto, carregando nas costas as caixas vazias onde antes estivera seus peixes. Ele sorria, embora dentes lhe faltassem, e Víria logo se tornou amiga do senhor. Perguntou se teria quartos sobrando, mesmo que precisassem dormir no chão, todavia o velho disse que já estavam todos ocupados, mesmo ele sendo viúvo e sem filhos.

– Então quem dorme lá? – perguntou a ruiva, desconfiada. Não era possível que todos os quartos do vilarejo estivessem ocupados. Quem poderia comprá-los assim? Como um grande pacote de férias?

– Soldados, querida. – ele sorriu. – Soldados do Rei.


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Notas finais do capítulo

Gente, eu não vou desistir da fanfic, acalmem-se! Só estava comentando que estou em uma crise de escrita e minha qualidade está caindo muito, comecei a escrever meu livro e um bloqueio criativo me tomou em cheio.
Mas eu vou voltar a escrever como fazia, disso tenho certeza. Beijos da Meell Gomes.



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