Your Selection - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 40
Miep & Jon


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Capítulo 39

Miep

“A vida é uma lenda cheia de histórias que ninguém entende. Cada um conta a seu jeito. E o jeito de cada um é uma ilusão intransferível” – Alvaro Moreyra

Gosick – Unity

Enquanto caminhava pela relva, ela dançava conforme o vento passava. Os cabelos seguiam a direção da brisa, louro e liso. Escorria como se não tivesse peso, os olhos azuis fixos no horizonte, mãos cobrindo-se contra o Sol. Sorriso. Os céus anunciavam a primavera. Era fim do inverno, era tempo de flor. A França era belíssima em sua primavera, embora puxasse o casaco por cima dos ombros o tempo todo. Miep não se importava. O vestido a envolvia, como braços, enquanto o vento o forçava contra seu corpo. O calor dos raios solares a atingiram com fraqueza, mas intensificavam enquanto o Sol nascia. Primavera. Até mesmo o cheiro era diferente, enquanto admirava.

– Come, estás magra. – disse ele, sentado sobre a cerca que limitava as terras da Igreja. Lançou-lhe um olhar longo e suspirou, apanhando o pedaço de pão que Jon segurava. Jon era outro dos órfãos abrigados no templo da Igreja Evangélica Protestante. Eles dividiram um beliche no primeiro dia, e desde então Miep não conseguia tirar Jon de perto. E também não queria. O amigo era bem-vindo sempre que quisesse permanecer em sua companhia. Ele era alegre e lhe tirava dos devaneios da guerra. Começou. A guerra começou.

– Achas que o mundo acabaria? Hoje? – perguntou, subindo na cerca de madeira, ao lado dele. Jon lançou um pedaço de seu pão para os patos na lagoa, que logo correram atrás do alimento. Ele demorou um pouco, pensando, e por fim deu de ombros.

– Os irmãos dizem que Deus nos buscará antes do fim do mundo. Acreditas nele? Se acreditas, então nada teme. – ele encarou o horizonte – Mas mamãe era católica. E papai era ateu. Não sei se devo permitir-me acreditar nos irmãos.

– Escolhes tua fé, que importa teu pai ou mãe? – encarou-o. – A escolha não deve ser tua?

– Então acredito. – Jon abriu um sorriso, um daqueles sorrisos que iluminam vazio que carrega dentro de si, que fecham as portas deste buraco negro que lhe suga todos os sentimentos. O sorriso do Sol. Quente, acolhedor. Vivo. – Você acredita, Miep?

– Não. – murmurou – Se fosse para ir embora, então já teríamos ido. Há uma guerra antes.

– Talvez Deus ainda tenha planos para este mundo – Jon saltou da cerca. – Mas hoje é sábado, temos o dia inteiro para brincar. Quer mesmo dissertar sobre religião? Moramos em uma Igreja, temos a semana inteira para isso. Hoje é dia de correr. – ele esticou os braços, e depois as pernas, alongando-se. – Aposto correr mais que você.

– Apostas mal. – murmurou, saltando da cerca e correndo. Ouviu os gritos ofegantes de Jon, tentando acompanhá-la. Miep sempre foi a primeira nas corridas da escola, disso poderia se gabar. Um internato para meninas. Foi deixada lá quando seus pais se tornaram os braços do rei. E agora que estavam mortos, junto com o próprio rei, fora deixada em uma Igreja Evangélica Protestante, abandonada para sua própria sorte. E, com sorte, encontrou Jon. Outro deixado. Sentiu-o agarrar seu pulso, e puxá-la para trás com força de menino. Miep tropeçou nos próprios pés, caindo. O vulto de Jon foi rápido, e logo ele estava longe, correndo a toda velocidade e rindo. Gargalhando de sua desgraça. Miep trincou os dentes, levantando-se e correndo.

Não deixaria aquele pestinha escapar ileso da travessura! Correu mais que suas pernas conseguiriam agüentar, descendo o morro. Saltou entre as pedras que serviam de ponte pelo lago e chegou ao bosque, que rodeava a Igreja nos seus limites. Os patos fugiram assustados quando eles passaram correndo, agora mais perto de Jon, enquanto o menino pensava-se vitorioso. Mordeu os lábios. Mais um pouco, só mais um pouco. Se manter o ritmo, consegue. Os dedos de Miep roçaram, a manga da camisa de Jon. Esticou-se mais, até agarrá-lo, e puxou com toda as forças, entretanto ele caiu levando consigo a sua vítima. Ambos mergulharam lago adentro, os patos gritando, peixes saltando entre suas pernas. Jon exclamou uma gargalhada, e Miep permitiu-se rir também.

– Trapaça. – ele reclamou, embora tenha trapaceado primeiro. Jon era menino, e menino sempre tem razão. Ao menos é assim que eles pensam. Miep achava os homens um tanto simples demais. Às vezes tão banais e de raciocínio simplório que lhe era permitido rir deles. O vestido estava molhado, e sentia as meias grudando nos joelhos. Os sapatos pesavam e os cabelos agora eram uma bola amassada sobre os ombros. Jon atacou-a com dedos gordos, afundando sua cabeça no lago, espalhando as madeixas e bagunçando ainda mais sua visão. Quando retomou o ar, Miep espirrou-lhe água, e o menino se afastou, rindo. – Um caminho de ratos! – disse, e riu.

– E tu és um grande saco de farinha. – cruzou os braços, irritada. – Gordo.

Jon encarou-a, fechando o sorriso. Às vezes ele não percebia quando saia dos limites, e Miep não diria sempre. Jon era um rapaz risonho e desleixado, rechonchudo e guloso. Mas tinha ingenuidade e gentileza genuínas. Miep apreciava isto nele. Por mais que a irritasse, não tinha como sentir-se realmente brava. O pensamento de abandoná-lo lhe era impossível. Jon esticou o braço, e tocou seu rosto levemente, os dedos trêmulos de frio. Ele tirou uma madeixa de seus olhos e a colocou para trás das orelhas.

– É linda. – disse – Mesmo molhada. Não chora, Mie. Ou chorarei também.

– Bobo – virou, ruborizada, afastando-se da mão e levantando-se. Deixou o lago, retirando os sapatos e torcendo-os. Tirou também as meias e o casaco, agora inútil. A brisa fria da primavera atravessou seu corpo e estremeceu até os ossos. Mordeu os lábios, arrumando tudo para levar de volta a Igreja. Jon tirou os sapatos e as meias, seus cabelos escuros grudando na testa. Olhos castanhos escuros, quase tão escuros quanto carvão. E a pele morena do verão. Ele não era dali, viera de longe. “Miep”, um nome ousado para uma garota francesa. Mas Jon era comum. Jon se vinha de todos os lados. Miep amava esse nome. Jon. Soava tão calmo e acolhedor, como ele. Queria deitar em uma cama e fechar os olhos, certa de que a guerra não era nada e que o mundo acabaria hoje.

– Pâmela vai nos esfolar. – comentou Jon, enquanto a seguia de perto. Pâmela era uma das irmãs da Igreja, muito rigorosa, porém dócil. Miep não achava que ela fosse esfolar alguém, apenas bronquear. E broncas já não lhe eram problema agora. Não tinha pais para deixar orgulhosos, nem para temer. Na verdade nunca os tivera. Seus poucos encontros com os pais resultaram em elogios de suas boas notas no colégio interno, silêncio e alguns presentes dos países que eles visitavam juntos. Eles eram um casal apaixonado, vivendo uma história de amor, onde uma criança não tinha espaço. Nunca foram pais de verdade, mas Miep não os culpa por isso.

As poucas vezes que Jon falara sobre sua família, fora para dizer que estava com saudade deles, que sentia a falta da irmã mais velha passando a mão em sua cabeça, e do irmão mais velho abraçando-o sempre que voltava da caçada. O pai trabalhava em uma mina de carvão e a mãe era uma diarista. Os irmãos caçavam juntos na floresta, e assim a família se sustentava. Mas apenas ele sobreviveu ao incêndio, que coincidentemente foi no mesmo dia que o ataque ao castelo do rei, onde os pais de Miep morreram. Desde então, ficam juntos, Miep nunca contou sobre seus pais, mas Jon também nunca perguntou. Mentalmente agradece pela falta de curiosidade do amigo, pois realmente não queria falar deles. Não agora.

– Quando você vai receber a liberação para ir para sua casa de verão, na China? – perguntou Jon, uma das inúmeras perguntas que ele fazia sobre as residências que Miep tinha. Como única filha do casal e herdeira, ela tinha uma grande quantia em dinheiro e residências na conta. Jon havia um dia jurado que iriam morar juntos, agora que só tinham um ao outro, e Miep não recusou. Seria agradável ter a companhia do menino. Porém ela sabia que a liberação para deixar a Igreja não chegaria tão cedo. Não com a guerra, e não com seus meros nove anos de idade.

Alcançaram a cerca e pularam-na. O frio aumentava a medida que o vento soprava por suas roupas molhadas. Mesmo sendo primavera, ainda era frio. E Miep não queria pegar um resfriado. Sentiu os ombros pesados, erguendo os olhos para Jon, ele deu de ombros. Estava colocando seu casaco de couro sobre ela, que incrivelmente não havia se molhado. Revirou os olhos. Não era nenhum bebê para precisar de cuidados. Não agradeceu, também, afinal aquilo não era nenhum favor, só a atrasava ainda mais. Juntos, caminhavam em direção a Igreja de arquitetura gótica, no meio de campo aberto, o céu sem nuvens e o Sol já traziam um pouco mais de calor ao cenário, e logo estaria seca.

Os cães resgatados de um abrigo que havia caído por causa das chuvas intensas corriam de um lado para o outro, e Jon moveu os braços, de modo que chamasse a atenção deles. Logo o menino estava totalmente cercado, línguas quentes e molhadas lambendo-o por inteiro. Miep não entendia como ele conseguia ter tanta afinidade com os animais, talvez fosse algo que vinha da pessoa, ou então os cães apenas gostavam mais de Jon. Quando ele estava por perto, ninguém conseguia pegar um deles, todos queriam apenas os carinhos de Jon. Aproximou-se, pegando um dos filhotes enquanto seguia. Jon abriu caminho, até estarem de frente um para o outro.

– Esses cães ainda te matarão sufocado. – disse, embora estivesse levemente irritada com eles. Não era normal pularem deste modo em todos que viam, então porquê Jon? O que ele tinha que atraía tanto assim? O menino pousou calmamente a mão sobre sua cabeça e acariciou-a.

– É meu dom. – Jon gabou-se. Afastou a mão dele de sua cabeça, ruborizada. Odiava quando Jon fazia isso. Seus dedos sempre se aprofundavam nas madeixas louras, e lhe arrancava arrepios. A Pastora Pâmela estava por perto, e logo veio cumprimentá-los, observando as roupas molhadas.

– Banha-se. – ela disse, de imediato. – Ou irão pegar uma gripe. – e então assobiou, chamando os cães. Apenas uma coisa tirava os animais de cima de Jon: comida. E Pâmela já havia servido as tigelas de todos. Miep e Jon adentraram a Igreja, a porta dupla de madeira escura abria-se com um chiado, e do lado de dentro o corredor se estendia até o piano, as escadas e a nave da Igreja. Outros órfãos vieram para lá, mas a maioria deles preferia ficar estudando ou cantando a passear pelo campo. Isso porque tinham todos mais de quinze anos. Deste modo, apenas ela e Jon ainda brincavam.

Jon tirou as calças e a camisa, jogando-os perto da porta. Miep não tinha certeza se poderia fazer aquilo, afinal Pâmela não gostaria nada de ter roupas molhadas no corredor. Entretanto também não podia caminhar pela Igreja pingando, então decidiu tirar o vestido e colocá-lo junto das roupas de Jon. Apostaram corrida até o banheiro, e como Miep perdeu, teve de tomar banho no chuveiro de água fria. Embora a água fosse fria, ela logo aquecia após alguns minutos. Jon ria, enquanto a garota se encolhia, arrepiada de frio.

Miep raramente olhava para Jon quando ele tomava banho ao seu lado. Não por timidez ou vergonha, mas porque ele tinha uma grande cicatriz contornando sua cintura, tão grande e profunda que quase parecia ter sido torturado. Nunca perguntou sobre aquilo, talvez para que Jon não tivesse de se lembrar de algo ruim no passado. Ela mesma tinha cicatrizes que não queria lembrar.

– Pode me passar o sabão? – ele pediu, a voz baixa e grave. Esticou-se e apanhou o sabão para ele, mas acabou derrubando-o. – Sua mão tem um furo? – Jon riu, abaixando-se para pegar a pedra branca e dura. Molhou-a na água e esfregou na pele morena. A cicatriz era branca, incrivelmente branca, e conseguia ver as veias dele, passando pelo local. Desviou os olhos de lá. – Não é bonito encarar as pessoas tomando banho. – ele resmungou.

– Desculpe – respondeu, ruborizando, e ensaboando os cabelos. Quando terminou, envolveu-se em uma toalha fina e nem um pouco macia, que fazia sua pele arder mais ainda. Jon havia amarrado sua toalha na cintura e caminhava em direção ao quarto deles, que dividiam com mais alguns outros colegas órfãos. Alguns estavam sentados sobre as camas, jogando xadrez ou cartas, outros liam e ouviam música em seus celulares. O beliche que dividiam estava logo na entrada do quarto, por isso Jon rapidamente agarrou uma cueca e a colocou, deixando a toalha de lado. Miep vestiu sua roupa de baixo e subiu até a cama.

Não tinha essas coisas que as garota chamam de “sutiã”, muito menos se importava em ter. Sabia que um dia viria a usar, mas no momento, era mais confortável se deitar apenas de calcinha. Jon subiu até a cama e se deitou ao seu lado, encarando o teto do quarto, agora tão próximo que poderiam bater a cabeça nele, caso não tomassem cuidado. Alguns dos órfãos chamavam-nos de “namoradinhos”, pois estavam sempre juntos e normalmente isso significa que há um romance, mas nada disso era verdade, Jon era seu amigo, e acima disso, ele não tinha vergonha de estar andando com uma garota. Tinham idades próximas, ele era apenas um ano mais novo. Os dedos de Jon roçaram os seus, se entrelaçaram-se.

– Que sono. – ele resmungou.

Miep sentiu o coração bater um pouco mais rápido, o calor subindo pela garganta. O dedo de Jon acariciava a parte de cima da sua mão, e ele estava de olhos fechados, respirando profundamente, enquanto a pele morena resplandecia calor. Puxou o cobertor e cobriu-se, de repente envergonhada por estar apenas de calcinha ao seu lado. Não era certo, não? Quer dizer, os outros órfãos nunca fazem isso, eles normalmente ficam com todas as roupas do corpo, e se trocam no banheiro.

O quarto entrou em silêncio, olhos encarando-os. Miep cobriu a cabeça, não queria ter de olhar para aquelas pessoas chatas. Queria que só ela e Jon estivessem na Igreja. Ou melhor, queria ir para sua casa na China, onde moraria sozinha com Jon. Será que conseguiria dar conta de tudo? Não sabia cozinhar, também não sabia passar roupa ou pagar as contas. Quanto dinheiro será que ainda restavam na herança? Será que conseguiria se manter com pizza e uma empregada todos os dias? Talvez Jon soubesse cozinhar, ele sempre sabia.

Fechou os olhos também, e adormeceu, sentindo o cheiro de sabão.

Miep não estava lá quando o castelo foi invadido pelos rebeldes. Mas no sonho, era como se estivesse. Lembrava-se de como era, as escadas, as paredes e o piso de mármore. Fogo bruxuleava em todas as direções, entretanto não sentia seu calor. Os gritos eram abafados pelas batidas na porta. Cada vez mais intensas, até que ela cedesse ao grupo de rebeldes, segurando um aríete. Miep não estava lá realmente, mas correu, amedrontada, gritando por papai e mamãe. Mas ninguém jazia no castelo, ninguém estava por lá, pelos corredores. Nem um guarda ou empregado, nem o rei ou a rainha. Ninguém estava no castelo, apenas ela. Sozinha, abandonada para morrer no incêndio. Como sempre, foi “deixada” lá, como fora deixada no internato e agora na Igreja. Uma parte do teto caiu diante dela, abrindo o espaço em direção ao precipício. Parou diante dele, os céus infindáveis desenhavam nuvens negras de tempestade, e somente um passo a separava de cair eternamente naquele fim de mundo. Queria gritar, mas a voz não lhe vinha na garganta. Sentia como se tivesse perdido completamente a capacidade de ouvir e falar. Entretanto o calor do fogo se aproximou, e logo estava ardendo, como o inferno. Olhou para trás, as chamas devoravam tudo. Vasos de plantas, cortinas, a escada... E vinham em sua direção, quase sugando a vida enquanto caminhavam. Miep não tinha escolha, sua única saída era pular. Pular para o abismo, a ser consumida pelo fogo. Mordeu os lábios, fechou as mãos em punhos e deixou o piso.

Acordou sobressaltada, sinos soavam altos. Os órfãos corriam para fora do quarto, enquanto abandonavam suas camas, todos vestidos de pijama ou roupas de baixo. O terror estampava seus rostos. Uma irmã adentrou o quarto e gritou para Miep sair de lá, entretanto sua voz se perdeu na surdez da garota. Não conseguia ouvir nada, assim como no sonho. Se é que deixara de sonhar. Os dedos ao redor dos seus apertaram-na firmemente, e então se lembrou de Jon. Virou-se para ele, o garoto dormia profundamente. Agarrou seus ombros e chacoalhou-o. Jon despertou, exasperado. Saltou da cama e ele a seguiu, praticamente adivinhando o que tinham de fazer. Os corredores da Igreja estavam infestados de pessoas, passos, gritos, porém Miep não conseguia notar nada disso, a única coisa que realmente soava em seus ouvidos era o sino. O incessante sino. Algo estava acontecendo. Algo terrível.

Sentiu a mão de Jon agarrar seu braço e puxá-la para longe da multidão, correndo na direção oposta a que todos estavam indo. De repente voltaram para o quarto e ele abriu janela. Colocou ambas as mãos sobre Suas pernas e a empurrou para fora. Miep demorou alguns segundos antes de cair no gramado. Jon saltou e a ajudou a se levantar. Tudo acontecia como um turbilhão, e ela ainda não conseguia ouvir as coisas. Aos poucos, as vozes, o som de seus passos e o sino se tornaram mais perceptíveis. Jon ainda agarrava firmemente seu braço, com tanta força que bloqueava a circulação do sangue.

– Para onde estamos indo? – perguntou, enfim, notando que realmente não sonhava. O amigo parou de correr e a empurrou para trás de uma caminhonete estacionada no cascalho.

– Lugar nenhum – ele respondeu, abaixando-se e se arrastando até debaixo do veículo. Miep não sabia se deveria, mas abaixou-se e se arrastou também. Juntos, eles ficaram em silêncio por algum tempo, antes de Jon virar a cabeça para ela. – Vamos ficar aqui e esperar.

Concordou, embora sem mover-se ou dizer. Jon não precisava de suas palavras para saber exatamente o que ela pensava. Ele sempre saberia. Era um de seus dons. As pessoas ainda saíam da Igreja, quando Miep viu o grupo de outras pessoas reunidas todas do lado esquerdo da estrutura. Seguravam tochas e armas. Armas de verdade. E gritavam. Uma voz entre todas sobressaía, gritando frases que os outros repetiam. Parecia ser o líder.

– Novamente a religião está no nosso caminho! Não precisamos dela, não precisamos de suas orações e seus santos! – gritava – Precisamos de poder e comida! Precisamos de dinheiro, trabalho e educação para nossos filhos! A Igreja sempre foi um empecilho, impedindo-nos de ver o que estava adiante! A religião é uma pedra, e precisamos tirá-la de frente da caverna, para podermos encarar o mundo real!

Miep não compreendeu metade das palavras daquele homem, mas quando a primeira tocha foi atirada na Igreja, entendeu que eles odiavam a religião e que iriam destruir o lugar. Aquilo não a irritou, também não a entristeceu. Não até que o primeiro pastor fosse morto, com um tiro na nuca. Um a um, os membros da Igreja Evangélica Protestante foram colocados de joelhos, um ao lado do outro, enquanto Um homem armado atirava em suas nucas, levando-os para o paraíso. Reprimiu um grito, enquanto Jon lançava um braço por cima de seu corpo e colocava a mão sobre sua boca. Silenciosamente, ele disse “Quieta”. Os órfãos encaravam a chacina, com terror, enquanto aguardavam sua vez de morrer. Todos. Nenhum foi poupado daquele massacre. Até mesmo os cães, um a um, mortos, ganindo e agonizando.

– A Revolução! – o grito explodiu quando a grama já era vermelha, e quando a Lua se enfureceu, escondendo-se atrás das nuvens de tempestade.

– A Revolução! – mais vozes juntaram-se a primeira, e então a estrutura da Igreja cedeu, estalando conforme o fogo a devorava. Jon não abandonou a mão sobre sua boca nem por um segundo, impedindo-a de falar ou mesmo de soluçar. As pessoas se afastaram de lá, caminhando em direção aos seus veículos. Jon levantou-se, saindo debaixo da caminhonete.

– Vamos, antes que nos encontrem – ele disse, agarrando sua mão e saindo correndo. Juntos, correram pelo campo, pelo caminho que já conheciam. Em direção à cerca, em direção ao mundo.


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Notas finais do capítulo

Miep e Jon: http://iv1.lisimg.com/image/3110685/600full-anastasia-bezrukova.jpg
Beijos da Meell.



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