Your Selection - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 4
Charlotte Florence Beauivor


Notas iniciais do capítulo

Querem saber de uma coisa? Ficou menor que os outros, mas esse Capítulo... Essa personagem... O Adam... Aiai... Boa leitura.



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Capítulo 3

Charlotte

”A vida é um bem preciso que se deve zelar com todas as cautelas e, em tal zelo, além do interesse de cada qual, há o interesse comum da coletividade” – Coelho Neto

Owl City – Fireflies

Não era lindo? O modo como você respirava, naquela noite, enquanto deitado na cama estava inconsciente e ao mesmo tempo vivo. Com sua mente proporcionando-lhe um sonho adorável. Charlotte deslizou os dedos pela lateral do rosto de Lucy, os cabelos louros da garota caindo sobre seu rosto, enquanto ela abria um sorriso ligeiro. Inocência emanava daquele corpo tão pequenino e magricela. Não era lindo?

Como a vida, em toda a sua magnitude, existia em mim e em você. Dentro de cada um de nós, um bem tão precioso, um milagre estupendo. E você tem consciência disto. Não como algo que acontece como o desenrolar de um sonho doce, mas a sua plena consciência, de tomar decisões, de pensar racionalmente. Era lindo como o ser humano podia ser tão grande e ao mesmo tempo tão pequeno. A vida era só um fiapo do universo, e mesmo assim tão valiosa quanto tudo que havia sobre a Terra e por baixo dela. Cada coração palpitante, cada ser que respira. Plantas, animais, crianças. Tudo era tão maravilhoso. Como podiam tirar a vida dos outros, como podiam gastar um presente tão precioso? Horrível! Horrível pensar em algo assim. Eliminou os pensamentos imediatamente, enquanto a mão quente e ossuda de Lucy fechava-se ao redor da sua.

– Obrigada – ela sussurrou, os lábios rachados e o nariz sujo amarelado indicavam que ela não tomava um banho fazia tempo, nem bebia água. Ou comida. As costelas dela batiam contra seu peito. Charlotte caminhou por mais algum tempo, antes de alcançar o caminhão, já cheio de pessoas. Uma mulher correu até a borda e jogou-se sobre ela, agarrando a menininha de seus braços.

– Lucy, Lucy, minha querida! – exclamou, lágrimas escapando pelos olhos. A mulher estava inchada, os lábios trêmulos, pequenas bolsas debaixo dos olhos indicavam que havia passado tempo demais acordada chorando. As íris avermelhadas e a pele caindo como papel revelavam sua situação precária, assim como Lucy. – Você... – a voz da mulher sumiu, enquanto direcionava uma mão a Charlotte – Obrigada, obrigada – então ela abriu a boca e gritou, soltando todas as dores. Chorou, e Charlotte deixou que ela chorasse, com a mão em seu rosto. Quando a soltou, sorriu-lhe e sussurrou novamente um obrigada.

Não era lindo? Como o bem que fazemos aos outros, também fazemos a nós mesmos. O coração de Charlotte enchia-se de quentura, mesmo com a neve caindo e os pneus derrapando pelo asfalto. Adam e Matt sorriram para ela, enquanto papai dirigia a caminhonete. Não era o melhor veículo para aquilo, mas servia. Todos os anos durante o inverno, levavam as pessoas mais necessitadas aos abrigos, para que não morressem congeladas. As mudanças climáticas se tornaram rigorosas, principalmente na Inglaterra. O frio inglês era bom, adorava como tinha de colocar roupa sobre roupa. Mas de repente ele se tornou russo, e quase insuportável.

– Qual o nome da menininha? – Matt perguntou, quando já estavam na estrada. Lembrou-se de Lucy e de como a havia encontrado desesperada, andando de um lado para o outro numa praça afundada em neve, chorando e chamando sua mãe. Esperava que aquela mulher fosse a pessoa que ela procurava.

– Lucy. – respondeu. Matt concordou com um meneio e voltou a comentar como se sentia animado com o começo do inverno. Charlotte não se sentia animada, mas sentia-se afortunada. Por ter condições de ajudar outras pessoas e por ter amigos que pensavam o mesmo. O abrigo ficava em um colégio, normalmente fechado para férias durante o inverno. As famílias ficavam no ginásio e todos os dias eram levados chocolate quente com biscoitos de chocolate, para que comessem. Também faziam fogueiras do lado de dentro, com muito cuidado, claro, e assavam tudo o que se podia imaginar. Cantavam músicas de Natal, mesmo não sendo Natal e riam por simplesmente estarem vivos.

Dias escuros. Charlotte ainda não havia nascido quando o frio inesperado chegou. Muitas pessoas morreram e foi quando a iniciativa de abrigar as famílias mais pobres cresceu no peito de seu pai. Um homem amoroso, querido e simpático. Tudo o que Charlotte tinha mais orgulho. Mamãe, que mesmo tendo condições de pagar trinta empregados, fazia questão de assar ela mesma os biscoitos nas cozinhas do colégio. Este ano, Charlotte ficou responsável pelas mantas. Havia comprado trezentas, mas as famílias normalmente se dividiam e também traziam mais coisas, com aquecedores a pilha.

Gostava de passar as noites no ginásio, cercada de vozes, apenas ouvindo-as. Vivas. Quentes. Mesmo com a neve lá fora. Lá dentro existia o calor da vida. Calor humano. Sentiu a mão de Adam sobre a sua. Um rapaz de cabelos claros e uma barba rala crescendo no queixo. Olhos incrivelmente castanhos acobreados, tão bonitos que ela poderia observar horas sem fim. Pele clara e um estilo próximo ao desleixado. Ele deixava os cabelos crescendo até a altura das orelhas, cacheados. Mamãe chamava aquilo de “Caminho de Ratos”, mas ninguém poderia negar que era um charme dele.

– Gosto de ver seu sorriso quando fazemos isso. Você fica mais... Radiante – seu hálito evaporou em uma baforada branca. A ponta do nariz extremamente vermelha e fria, enquanto seus dentes batiam, mas nada parecia realmente incomodá-lo, nem mesmo o frio. Os vidros do carro estavam fechados e o aquecedor ligado. Lá fora, as famílias iam com o vento em seus rostos e isso preocupava Charlotte. Deveria alugar um ônibus, e era isso o que faria no ano seguinte. – Fica mais viva.

– Me sinto mais viva quanto ajudo essas pessoas – respondeu, apertando sua mão. Por incrível que pareça, estava quente, e ela fria como gelo. Adam envolveu-a com a outra mão e assim transmitiu seu calor para seus dedos magros. Já fazia alguns meses que ele começara a segurar sua mão, às vezes durante o jantar, acariciando os dedos, às vezes enquanto andavam lado a lado, conversando sobre coisas banais. A verdade era que eles estavam saindo muito mais nesses últimos meses. Uma média de uma vez por dia, ou duas, caso ele visitasse a família com seu pai, um amigo de infância do pai de Charlotte.

– Você é tão bondosa. E gentil. – ele sorriu, encostando a cabeça no vidro da janela. – E bonita.

Ruborizou, sentindo o calor do sangue brotando nas bochechas. Ela era branca, branca como porcelana, e seu rubor era bem visível, principalmente quando estava com frio. Adam sorriu quando a viu e apertou mais forte sua mão. Aquilo era bom, sentir seus dedos entre os dela. Puxou o cachecol para cima da boca, enquanto sorria. Não sabia há quanto tempo havia notado o modo como Adam a observava de esgueira, ou como ele sorria para ela quando seus olhos se encontravam. O modo como ele passava as mãos nos cabelos, quando não sabia o que dizer, ou como ficava nervoso ao seu lado. Pouco a pouco, quebrou esta barreira. Havia conversado com papai sobre ele.

– Adam é um bom garoto. Gentil, forte. Bondoso. E é filho de meu melhor amigo. Uma pessoa honrada e de boa índole. Ele te respeita, Lotte. Hoje em dia, homens como ele são raros. Quero que você siga seu coração, filha, mas se quiser o meu conselho: se case com alguém como Adam.

Casar. A palavra era tão... Grande. Envolvia tantos sentimentos. Ficava imaginando como seria seu dia preferido de toda a vida e então concluía que o casamento teria de ficar na memória. Queria lembrar-se de tudo, dos convidados, do beijo, dos votos e das alianças, e do beijo. Ah, o beijo... Observou a boca de Adam, enquanto ele fechava os olhos e caia em devaneios. Eram lábios não muito desenhados, mas o que esperar de um homem? Pareciam macios, como nuvens. Charlotte nunca havia beijado e então imaginava a sensação. Deveria ser maravilhoso, ouvir os sinos tocando, anunciando o grande amor.

Só notou que Adam voltara a abrir os olhos após alguns minutos. Ele sorriu quando a viu ruborizar pela segunda vez e fechou os olhos. Mas o sorriso permaneceu. Ele era assim. Segurava sua mão, dizia que ela era bonita e boa. Observava-a. Mas nunca fizera mais que isso. Como se... Esperasse por permissão. Como se não quisesse invadir seu espaço. Charlotte decidiu que iria deixar claro que ele poderia abraçá-la, afinal era isso o que queria que ele fizesse. Com suas mãos naturalmente quentes, deslizando por seus ombros. Embora estivesse usando agasalho. Deslizou pelo banco, até encostar a bochecha no braço dele. Adam deu um espasmo, assustado, e abriu o braço, deixando-a se encaixar debaixo dele. Depois colocou-o por cima de suas costas, e Charlotte pôde ouvir seu coração, através das costelas. Ele não tinha só as mãos quentes. Era inteiramente quente. Um calor humano mais forte que os outros.

Sorriu, enquanto fechava as pálpebras, apreciando aquele momento. Era mágico, de algum modo era mágico. A primeira vez que um menino a abraçava assim. E seu pai dirigia aquela caminhonete.

Seus olhos abriram-se de imediato quando se lembrou daquilo, entretanto, quando olhou para ela, papai estava com os olhos fixos na estrada e um sorriso por trás da barba. Ele gostava de Adam, então não tinha problema, tinha? Adam era de boa índole, afinal, e era amigo de papai. Suspirou, talvez alto demais, enquanto aninhava-se novamente nele. Por alguma razão, seu peito martelava pesadamente contra a caixa torácica. E isso era tão agradável...

– Você vai se inscrever na Seleção, não? – ele sussurrou, baixo, para que apenas ela ouvisse.

– É claro. – devolveu o sussurro.

– Te espero no castelo.


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Notas finais do capítulo

O Adam fazia parte da ficha? Fazia. Era o príncipe, não. Mas a Meell Gomes quis que fosse u.u E então, alguém shippa #Chadam? #Adotte? Beijos a todos.