Your Selection - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 37
Príncipe Nikolai


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Capítulo 36

Príncipe Nikolai

“O silêncio, ainda que mudo, é freqüentes vezes tão venal como a palavra” – Marquês de Maricá

Kid Abelha – Lágrimas e Chuva

Parou atrás da porta branca. A mão se aproximando da maçaneta. Lentamente, colocou a orelha sobre a madeira. Ouvia o que acontecia do lado de dentro. O vento que levantava as cortinas, a janela estaria aberta? O inverno chegava mais tarde ao Japão, mesmo assim seria mais sensato manter a janela fechada. Talvez o quarto estivesse vazio, talvez alguém tivesse deixado a janela aberta antes de sair. Além do vento, ouvia apenas o silêncio. Mas tratando-se de Abigail, não era impossível que fizesse tanto silêncio. Ela talvez estivesse dormindo, por isso deixou a janela aberta. Ou então tomava banho.

Mordeu os lábios. Faria uma surpresa para ela. Respirou fundo, abrindo a porta sem levantar ruídos, sentiu-se um espião do governo, algo que costumava fingir ser, brincando com Mikhail, quando criança. Colocou o pé para dentro do quarto, o carpete amaciando seus sapatos. A janela realmente estava aberta, as cortinas esvoaçando e o vento frio adentrando. Caminhou até lá, calmamente, e fechou a janela com o mínimo de força possível. Virou-se, para a cama, e encarou-a. O livro aberto sobre o colo, travesseiros amontoados nas costas, dentro das cobertas. Olhos grandes e frios.

– Seu novo hobbie é invadir meu quarto sorrateiramente? – perguntou, continuando a leitura. “Ao menos ela não me expulsou”.

– Ouvi o som do vento e vim fechar a janela – era verdade, embora não completa.

– Ouviu colocando o ouvido na porta?

– Faz mal se expor ao frio. Principalmente quando estamos nos recuperando de uma pneumonia. – ignorava o comentário acusador de Abigail.

– Eu tenho sangue quente. Não sinto frio. – ela ergueu os olhos por um segundo – Você é tão atencioso.

– Eu cuido das minhas coisas. – piscou. Abigail ergueu os olhos do livro, novamente, as sobrancelhas franzidas.

– Bom saber que sou uma das suas “coisas”.

– Relaxe. Você é a coisa. – sorriu, mas ela apenas revirou os olhos.

– Suas iniciativas românticas são deprimentes.

Nikolai sentou-se ao lado das pernas dela, que se aninhavam nos cobertores. Abigail continuou lendo, ignorou-o. Isso o fez sorrir. O silêncio percorria o quarto, enquanto a admirava. Olhos fixos na leitura, um tanto vidrada. Os cabelos louros caindo sobre os ombros, escondendo as sobrancelhas. Uma das madeixas mais curta que as outras, como se ela tivesse cortado apenas aquela parte, na altura do queixo. Os dedos curtos e levemente roliços, segurando o livro com firmeza e delicadeza. Os lábios movendo-se a medida que lia, como se estivesse realmente sentindo tudo o que os personagens sentiam. Nikolai pensou que poderia encará-la, assim, por horas. E poderia mesmo. Somente ficar observando, enquanto ela lia. Só isso, já seria ótimo. Contemplá-la, como uma obra de arte. Inclinou-se e apanhou o livro de suas mãos, fechando-o. Ele não era um romancista, não admitia ser ignorado deste modo.

– Agora não pode mais ler.

– Lamento informar, mas memorizo todas as páginas que leio. – ela mostrou a língua, aconchegando-se nos travesseiros.

– Há algo que você não possa fazer? – perguntou, triste pela brincadeira não ter dado certo.

– Bom, eu não posso ler a sua mente. – ela cruzou os braços – Ou será que posso? – erguia uma sobrancelha, sugestiva – Você deveria estar se arrumando para o jantar com seu primo.

– Sim, eu deveria.

– Mas não vai.

– Não, não vou. E você também não.

– Pensei que desejasse vê-lo.

– Já vi Isaac. Como sempre, uma gracinha. Agora vim ver você, e decidi ficar.

– Por algum motivo, acho que você não decidiu isto agora – ela piscou – E o que teremos para o jantar?

– Uma toalha de mesa, vinho, um Nikolai bêbado...

– Não ficará bêbado novamente. – disse, firme, como se estivesse decidindo aquilo por ele.

– Tem medo que eu a beije novamente – sorriu – Sabe, Abigail, eu não preciso estar bêbado para beijá-la – insinuou fazer, mas recuou alguns centímetros depois, sorrindo. Ela erguia uma sobrancelha. – Onde está Blood?

Abigail puxou as cobertas para o lado, revelando o felino negro ronronando ao seu lado, docemente. Nikolai sentiu-se traído. Havia calor emanando debaixo das cobertas, calor humano e calor felino, juntos, misturando-se, de um modo que lhe provocou intensas ondas de ciúme.

– Este gato te conhece a menos tempo que eu e já está em tua cama. – suspirou – Você o mima demais.

– E você é um bobo por sentir ciúme de um gato – ela sorriu, maldosa. Nikolai sentiu-se encurralado. Por fim, deu de ombros e sentou-se ao lado dela, enfiando-se nas cobertas também. – Nikolai, você não acha que está indo longe demais com essa liberdade?

– Uhm, não. O gato pode, eu também posso. – sorriu, abaixando-se até pousar a cabeça sobre seu ombro. Abigail estava realmente quente. Ergueu a mão até sua testa e sentiu a temperatura. A verdade era que Nikolai não sabia sentir a febre, não sabia como fazê-lo, mas por algum instinto era isso que queria fazer. – Tenho que confessar uma coisa.

– Pois diga.

– Acabei com todas as chances que você tinha com meu irmão. Falei para ele tirar os olhos de você. Desculpe, mas minha natureza humana me faz egoísta.

– Tudo bem, Nikolai – ela suspirou – Eu nem sei mais o que via nele... Eu... Talvez no começo realmente preferisse ele. Mas agora acho que só o usei para me esconder de você. Para ter um motivo de dizer a mim mesma que não poderia ser você. Um modo de negar qualquer relacionamento romântico. Mas agora está tudo bem. – ela demorou-se um pouco – Eu conversei com algumas pessoas, sobre isso. E acho que me sinto bem. Tudo bem em destruir todas as chances que eu tinha com seu irmão, Nikolai. Eu já não luto por ele.

Moveu-se, estático. E então enrijeceu as costas. “Luta por quem?”, a pergunta ecoava em sua mente. Queria responder ele mesmo, queria que a resposta fosse a que ele mesmo formulava. Mas permaneceu em silêncio. Às vezes era exatamente isso que precisava, mas não tinha coragem ou condição de fazer. Agora, porém, faria. Pois não queria que Abigail pensasse que ele só queria falar e beijar. Ele não queria. Claro, queria falar. E queria mais ainda beijar. Mas não só isso, certo? Nikolai fechou os olhos fortemente. De repente seus pensamentos se tornaram incertos e safados demais.

– Então eu posso? – curvou-se, aproximando. Abigail não recuou, por isso tomou isso como uma carta verde, erguendo uma das mãos para segurar seu queixo, e impedi-la de fugir. Beijou-a. Lábios quentes, como ela inteira. Macios, delicados. Um paraíso pequeno demais para conter tanta vontade. Um ímpeto rugiu em seus ouvidos, suas moléculas gritavam para ir além, para beijá-la de verdade, para colocar as mãos em sua cintura, deitá-la na cama, e... O miado esganado de Blood o fez acordar dos devaneios obscuros de homem que de repente tomaram sua mente. – Maldito gato – resmungou, sorrindo, e ela também sorria.

– Blood, meu herói. – Abigail acariciou as costas do felino, que saltou para seu colo, feliz. – Agora é a vez dele, certo? Porque se você pode, ele também pode.

– Não é justo! Ele é um gato. – reclamou.

– Mas você também é. – Abigail piscou.

Aquilo o atingiu como uma bofetada na cara. Encarou-a, incerto, descrente, pálido, gélido. Meio-morto. “Ela flertou comigo. Ela me chamou de gato. Ela me beijou, ela...”, Nikolai ruborizou, virando-se para que ela não visse. Não esperava sentir medo quando isso acontecesse. Quer dizer, sempre teve domínio de tudo, e então de repente... Ele sempre sabia como ela iria reagir, sabia que ela viraria o rosto, que ela faria uma piada, ou simplesmente quebraria o clima com seu olhar frio. Mas... Ali havia mais calor do que queria imaginar! Ou melhor, mais calor do que já havia sentido em toda a vida, embora não tenha nunca sentido algo como o beijo de uma moça, ou um gato entre os braços. Pequenas sensações que só experimentava com ela. Sorriu. Virando-se de repente, e rugindo como leão, em direção a presa. Beijou-a, segurando seu rosto com ambas as mãos. O gato miou, mas quem se importava com ele? Abigail tocou seus cabelos, enrolou os dedos, alisou sua barba. Beijava-a, sentia-a. E queria mais. Isso era terrível, pois não sabia como começar, como terminar, não sabia quão rápido, quão lento. Queria, só isso. Lentamente, entreabriu os lábios, permitindo que se libertasse do consciente. As mãos de Abigail seguravam sua camisa, e isso era adorável! Escorregou os dedos por seus braços, sentindo a pele macia. Tão macia. Tão... Quente. Gostava daquela temperatura. Era como se ecoasse em sua mente “Terei esse mesmo calor todos os dias, quando acordar pela manhã”. O pensamento lhe dava mais vontade ainda de beijá-la. Sentiu o gato arranhando seu peito, enquanto Abigail se elevava, curvando as costas para cima, segurando seus cabelos e tomando domínio de tudo. “Eu pensei que sempre tinha controle, mas era ela quem me controlava. Sempre. Sou só um escravo de seu bel-prazer”. E adorava. Amava isso!

– Com licença. – alguém da porta disse. Nikolai abriu um dos olhos, observando Isao, parado. Seu primo sorriu, acenando. Revirou os olhos, sentindo-se de repente irritado. Abigail soltou-o, recuando, e rindo. Agarrou um dos travesseiros e atirou-o em Isao. – Ei, ei, primo, desculpe, certo? Não queria chegar em um momento assim, mas é importante. – Isao assumiu uma postura rígida, como seu pai fazia sempre. – Precisamos conversar, de verdade.

– Isaac, a menos que seja um motivo de vida ou morte, eu te perdôo. Senão...

– Acredite, é um motivo de vida ou morte. – ele adentrou o quarto, fechando a porta e trancando-a. – Preciso ser rápido, antes que meu pai note que estou atrasado para o jantar. – ele engoliu em seco, aproximando-se da cama e se sentando na ponta. Nikolai arrumou-se, passando um braço ao redor de Abigail, e acariciando o gato com a outra mão. – Preciso conversar com você sobre meu pai, e minha mãe. Sobre seu pai, seu irmão, você e... O mundo. – ele respirou fundo.

– Prossiga, Isao.

– Eu não sei como dizer isso – ele fechou os olhos fortemente – Meus pais querem te matar. Sério, de verdade. Querem matar você e Mikhail. E você sabe muito bem porquê. Não me faça dizer em voz alta, por favor.

– Porque você é o terceiro na posição do trono?

– Sim. E tirando você e Mikhail do caminho, se torna fácil conquistar uma grande nação, depois a China, depois a França, e então o mundo. – Isao balançou a cabeça. – Preciso fazer algo. Preciso mesmo. Então eu conversei com Mikhail e nós fizemos um plano.

– Um plano? – Nikolai ergueu as sobrancelhas.

– Seu pai está voltando agora mesmo para a União, pois houve um chamado importante do seu castelão. Ele pegou um avião para a Rússia e já está em viagem. Mikhail preparou tudo. Há um navio esperando por nós no caís, perto do farol do castelo. Você tem de se arrumar, partirão hoje.

– Hoje?

– Antes do jantar.

Antes?

Isao respirou fundo.

– Meus pais pretendem matá-los durante o jantar. Veneno. Colocar veneno em sua comida, comer junto com você e fingir que não sabia de nada. Eu ouvi minha mãe e os criados conversando sobre isso.

– Sua mãe? Minha tia de sangue? – Nikolai encarou-o, abismado.

– Você não faz idéia do que o poder arruma para a mente humana. – ele sorriu – Mas estou ajudando, como posso. Talvez eu seja penalizado, com certeza meu pai vai descobrir depois que eu fiz tudo isso, mas não me importo. Ele não pode me matar, sou o único herdeiro legítimo que ele um dia terá. – Isao deu de ombros. – Agora vá. E avise suas selecionadas. – ele se virou para Abigail – Você avisa-as. Diga para deixarem tudo pronto e para irem ao Salão das Mulheres. Procurem por Marina e Cosette, elas dirão como chegar ao farol. Quando virem o navio, corram para ele. Mikhail já está no caís. Só falta você e as selecionadas. – ele disse para o primo.

– E você – Nikolai segurou seu ombro – Você vai conosco.

– Não posso. Sou um príncipe, do Japão. O que faria no mar?

– Fugiria. Pode ser nosso protegido. Meu pai não se importará de te ter conosco. Poderíamos criá-lo como nosso irmão. Foi isso o que sua família fez com o príncipe chinês, cresceram juntos, ele era um protegido. Você pode ser o nosso.

– Não acredito nisso. Meu pai jamais permitiria.

– Ele não precisa permitir, quando você já estiver conosco. Aceitar dói menos.

– Em meu pai, aceitar seria se rebaixar ao seu poder. E ele jamais se curvaria ao poder de um príncipe russo. – Isao suspirou – Meu pai acusaria a Rússia de seqüestro. Diria que vocês pretendem me matar, pois têm medo da minha pretensão ao trono. Ele inventaria qualquer coisa, e não se importaria em começar uma guerra.

Nikolai pensou um pouco.

– Então que ele venha enfrentar o inverno russo – sorriu – Prepare suas coisas, primo. Você vem conosco. Por vontade própria, ou amarrado em minha mala.


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Notas finais do capítulo

Preciso dizer que amo o Nikolai? Não? Okay...
Hahahahaha! Obrigada, minhas leitoras (e leitor), por tudo! *-* Amo muito vocês. Beijos da Sempre Meell Gomes.



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