Your Selection - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 35
Príncipe Louis


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Capítulo 34

Príncipe Louis

“Sei que a paz é mais difícil que a guerra” – Juscelino Kubitschek

Zaz – La Romance de Paris

De um lado para o outro, movia a cabeça, deixando-se ser embalado pela música, enquanto os cantores faziam a festa. Batia palmas e os pés no ritmo, enquanto a cantora seduzia a platéia da taverna com um grande sorriso e olhares esverdeados. Louis levantou-se da cadeira, puxando pela mão a primeira das moças que viera com ele do castelo. Os cabelos da garota esvoaçaram, rodando-a sobre os saltos, o vestido seguindo o movimento. Abraçou sua cintura, com o peito nas costas dela, a menina rindo e encolhendo-se. Girou-a no ar, os braços ao redor de seus seios, sustentando-a.

– Eu não sei dançar, eu não sei... – ela ofegava, enquanto girava-a de frente e colocava uma das mãos em suas costas, segurando sua mão. Encostou a bochecha sobre a bochecha dela e levou-a de um lado para o outro. Os sapatos ecoando no camarote. Soltou-a, buscando outra donzela pela mão. Beijou-a suavemente e a envolveu com os braços sardentos, os cachos ruivos já estavam balançando, enquanto girava-a cinco vezes e abraçava-a, rodando novamente.

– Eu... Não agüento. – ela suspirou, e Louis a soltou. Agarrou uma terceira, e depois uma quarta. De repente levava todas as moças para dançar, cada uma pegando um dos guardas, após dançar com ele, continuando a festa. Louis parou sua mão sobre o ombro nu de uma pele branca suave, os cabelos curtos castanhos viraram-se, e observou os olhos dela, antes de sorrir, as covinhas surgindo, as sardas expandindo-se.

– Milady De Aragão, permite-me a dança? – curvou-se, agarrando sua mão e puxando-a para a roda dos pés dançarinos.

– Tenho como recusar – ela respondeu, um pouco incomodada. Mas Louis sabia como lidar com aquilo. Segurou suas mãos, movendo o corpo no ritmo da música. Um romance em Paris, era disso que se falava. Ele queria conhecer Paris, nos anos dourados. Louis sempre amou a música francesa, aquela que faziam antes da guerra. Todos diziam que a França era a Terra do Amor, e Paris era a Cidade Luz. Depois que o castelo fora tomado pelos camponeses, os guardas o escoltaram até a taverna escondida no subterrâneo do vilarejo. Lá as pessoas bebiam e riam, e eles tinham um camarote onde se esconder. Mas ninguém disse que teriam de permanecer parados. Louis viu Johanna dançando com Francis de um lado, Madame Evangeline e o Chefe da Guarda Real, também juntos de outro lado. As selecionadas todas tinham um par. Catarina soltava-se, lentamente. Rodou-a de costas, como fizera com a primeira moça, e pousou o queixo sobre seu ombro, cheirando o perfume que ela usava. Mistura de álcool com cigarro, o que naquela taverna era típico. Mas Louis não se preocupou. O castelo estava tomado, ele estava se escondendo. Mas tudo podia esperar uma ou duas músicas, certo? Rodou-a, e Catarina gemeu, surpresa, os pés balançando, ela agarrava seus braços com força, e ele ria de todo o desespero da moça. Que garota escandalosa!

Soltou-a, enquanto caminhava até uma das garçonetes e tirava-a para dançar. Ela tentou recusar, mas quem dizia não ao príncipe? Logo estavam dançando juntos, e ele também chamou a gerente e o dono da taverna. O camarote estava cheio, com todos rindo e dançando, os cantores no palco se entusiasmavam com a festa e começavam outra música animada, sobre os amores da França. “Meu país é o território do amor!”, Louis pensou, enquanto agarrava Johanna pelas pernas e a levantava até seu colo, segurando-a. As pernas da irmã o envolveram pela cintura, enquanto ela ria, os cachos ruivos balançando. Rodou-a, já levemente embriagado de alegria. Louis adorava quando coisas assim aconteciam, o que era quase sempre. Tinha certeza que se papai e mamãe estivesse ali, estariam dançando. Com o canto do olho, viu uma das selecionadas dançando com Francis, e Madame dançando com o taverneiro. Catarina havia encontrado uma amiga para dividir a dança, e todos se animavam no andar debaixo da taverna. Bêbados abraçavam-se. O amor espelhado no ar, com pitadas de alegria e paixão francesa. O espírito fluía animadamente. Louis poderia dançar e dançar assim por horas.

Sentiu dedos envolvendo seu braço. Puxavam-no com força, entretanto Louis estava mais preocupado em continuar a dançar. De repente a música parou e ele olhou para o guarda que o segurava. Todos congelaram, encarando os guardas reais que recém entravam na taverna, armados e cobertos de... Sangue.

– Rei Louis? – um dos guardas disse, formalmente. – Viemos buscá-lo.

– Rei? Sou Príncipe Louis. Meu pai é o rei.

– Lamento, Vossa Graça. Mas teu pai morreu no ataque rebelde. Seu tio está vindo para o castelo, salvá-lo dos camponeses. Serás coroado rei logo pela manhã, por isso é melhor que venhas conosco. – ele puxou seu braço novamente. Louis piscou, atônito. Johanna envolveu-o com seus braços, soluçando, enquanto as lágrimas da irmã molhavam sua camisa de botões azul suada. A energia e adrenalina ainda tomavam conta de seu coração, batendo forte. A pele arrepiava-se.

O rei estava morto. Seu pai estava morto.

– Onde está minha mãe? E minhas irmãs? Onde elas estão?

– Na Península. Após a notícia do ataque rebelde, elas não voltaram para a França, Majestade. Estarão a salvo com o Rei Carlos. A França precisa de tu, Vossa Graça. Terás tempo de luto para outrora. Agora, és rei. E há um reino a ser governado.

º º º

LaFee – Wo Bist Du (Mama)

Louis sabia que tinha de segurar Johanna, enquanto Francis grudava-se em sua perna esquerda. Caminharam até a carruagem, o silêncio reinando. Os guardas abaixavam suas cabeças, proferiam palavras de consolo ou saudação ao rei. Mas Louis não sentia-se como um rei. Sentia-se como um órfão de pai. Na carruagem com os irmãos, ambos agarraram-no com força, debulhando-se em lágrimas. Louis suportou. Não podia chorar em frente aos pequenos, tinha de ser forte. Um refúgio para eles. Abraçava-os, mas não conseguia transmitir todo o calor que eles precisavam. Louis odiava situações assim, quando a alegria simplesmente era uma falta de educação. Não podia fazer uma piada ou animar os irmãos, enquanto a morte do Rei Francisco ainda estivesse fresca na mente deles. Louis odiava quando tinha de se fingir de forte e inatingível. Odiava quando a responsabilidade de consolar sem poder alegrar caía sobre seus ombros.

– Eu quero minha mãe. – disse decididamente para o Comandante da Guarda Real. – Envie uma carta para ela, agora. Diga para voltar a França, onde precisamos dela.

– Senhor, seria mais sensato manter a Rainha na Península... – ele protestou.

Eu preciso da minha mãe, agora! – gritou, sentindo-se enraivecido. Mas não era assim que gostava de sentir-se, então respirou fundo. – Nós precisamos de nossa mãe. Não da rainha, mas da mamãe. Ela não é apenas um título de poder, ela também é uma viúva e uma mãe de cinco crianças. Acha que ela quer ficar longe de nós, justo agora? – os olhos do Comandante abaixaram-se suavemente.

– Perdão, Majestade. Assim será feito. – deixou-o apenas com seus irmãos jovens. Louis não sabia o que fazer. Não sabia o que dizer, como agir, como ser um rei ou um bom irmão. Deixou seu pai morrer, deixou Francis ser capturado por seqüestradores. Deixou Johanna sozinha na floresta enquanto ia procurar por Francis. Ele era mais irresponsável do que imaginara. E isso esmagava sua consciência. Como um garoto como ele poderia ser rei? Ainda não estava pronto para isso. Seu pai não lhe ensinou tudo, ainda tinha anos pela frente, ainda tinha sonhos, queria conhecer Paris, queria se apaixonar, queria viajar pelo mundo em um balão. Mas um rei não tem tempo para isso. Louis piscou fortemente, evitando as lágrimas. Desde quando se tornara tão egoísta? Apertou Johanna e Francis contra o peito. Eles eram tudo o que tinha por perto agora, e protegê-los-ia como conseguisse. Ninguém mais morreria. Jurou a si mesmo. Morreria defendendo-os, ou então não havia motivos para viver.

A carruagem parou diante do castelo. O jardim era apenas negrume e cinzas, as roseiras brancas, azuis e vermelhas foram queimadas. A placa que indicava a data de fundação e restauração fora quebrada ao meio e as grandes portas do castelo já não existiam. Divãs, mesas e lustres, jaziam no chão de mármore. As milhares de janelas estavam pintadas e quebradas, cortinas rasgadas, entretanto nenhum corpo. Tinham tirado todos os mortos do caminho, porém o sangue ainda estava lá. Nas paredes, no corrimão da escada. Pegadas, marcas de mãos e gritos ecoando ao longe.

– Onde estão os feridos?

– Montamos um hospital no jardim dos fundos. – informou o Comandante. – 130 servos foram mortos, 60 estão em repousou ou inconscientes. Os sobreviventes ilesos são cerca de 50, e estão ajudando a cuidar dos demais. Montamos guarda em todas as entradas e expulsamos os rebeldes com tiros.

– Tiros? – Louis ergueu as sobrancelhas. – Mas eles não tinham armas.

– Mataram o rei. – o homem disse, profundamente. – Desde que tenham ameaças suficientes para ferir a família real, então serão considerados criminosos. Não se preocupe, foram poucos mortos. Quando perceberam o contra-ataque, logo fugiram amedrontados. Como todos os camponeses fazem. – Príncipe Louis, sua coroação será feita na Península, para que não ocorra nenhum imprevisto. Partiremos amanhã, por isso não te preocupes com tua mãe, pois a encontrará sã e salva, junto com tuas outras irmãs. Teu tio já vem e cuidará do castelo enquanto estiver fora.

“Tio Joaquim”, lembrou-se. Não o via desde que era um garotinho. O pai havia confiado as terras do extremo leste para Joaquim cuidar, e agora elas eram maiores e mais produtivas que todo o oeste. Seu tio era um homem bom, desde que se lembrava, e tinha dois filhos homens, que seriam nomeados herdeiros do trono, caso ele ou Francis morressem. Louis entregaria o trono, sem se preocupar, desde que soubesse que sua mãe e seus irmãos iriam ficar bem. O Comandante pigarreou, tirando-o de seus devaneios.

– Vossa Graça, recebemos também uma carta da Inglaterra. Parece que não fomos os únicos atacados por rebeldes. – ele contou – A família real foi expulsa de seu castelo por americanos, ao que tudo indica, eles chegaram por mar em submarinos ou barcos pesqueiros, infiltraram-se na praia e atacaram enquanto a guarda estava desprevenida. A Família Real está bem, mas solicita que seus aliados enviem reforços para retomar o castelo dos americanos.

– Reforços? Não temos mais reforços. Nós estamos precisamos de reforços. – Louis suspirou. Odiava aquilo, ter de decidir as coisas, sem nenhum conselho de seu pai. “O que ele faria?”. Não podia abrir mão dos guardas que ainda protegiam seu castelo, mas também não podia simplesmente ignorar o rei inglês, eles eram aliados desde as Grandes Guerras, deveriam honrar este acordo. – Envie uma carta ao Rei Inglês e diga que o máximo que podemos fazer é enviar uma escolta para a Península, onde estarão seguros.

– Os americanos fecharam todos os aeroportos e a praia em direção ao continente. – O Comandante respondeu.

– Não se preocupe. A França tem ainda alguns brinquedos dos Velhos Tempos. Envie um helicóptero e peça ao rei para especificar detalhadamente o lugar onde se encontra, de preferência longe de qualquer cidade ou vilarejo. Um local deserto.

– Vossa Graça, resta-nos cinco helicópteros, não podemos abrir mão de um deles.

– Podemos. E vamos. O Rei Inglês salvou a vida de meu pai uma vez, durante a guerra. Irei honrar isso. – Louis disse, decididamente. – Envie o helicóptero, com mais seis guardas armados e dois pilotos treinados. Um paramédico e suprimentos.

– E quanto às selecionadas do príncipe Adam? Elas também estão fugindo. – o homem estalou a língua.

– Tudo bem. Envie dois helicópteros. Um para a família real e outro para as garotas. Espero que elas sejam menos de vinte agora, pois não conseguiremos voar com trinta e cinco. – suspirou. – Faça isso, agora.

– Assim será, Vossa Graça – ele se curvou e deixou-o com Johanna e Francis. Louis olhou novamente para seu castelo. Sua casa. Destruída. “Assim será, Vossa Graça”. Por que ele não se sentia uma Graça? Estava fazendo tudo o que já tinha visto seu pai fazer. Mas mesmo assim não sabia se era o certo. Talvez seu Comandante tivesse razão em não querer abrir mão dos helicópteros, eram uma relíquia apenas francesa, todos os outros foram destruídos pela guerra. “Mas um dia eu precisarei de ajuda, e então a Inglaterra terá uma dívida a me pagar”, pensou, tentando encontrar ali razão. Enquanto sentiu os cotovelos de Johanna em seus ombros.

– Tenho fome. – ela disse, as lágrimas secas nas bochechas. Beijou a testa da irmã.

– Então iremos comer. – sorriu, embora não houvesse calor. Johanna voltou a abraçá-lo, e Louis conseguiu erguer Francis para ficar ao lado de sua irmã. Ambos o agarravam com força, e isso lhe trazia paz. Nas cozinhas, não encontrou servos, por isso procurou ele mesmo algo para comerem e encontrou pacotes de biscoitos, que saciaram a fome dos irmãos. – Logo estaremos com a mamãe, Cecília e Mirella. Então vocês poderão se sentir seguros.

– Já estamos seguros – Francis mastigava uma bolacha inteira, as bochechas grandes pareciam prestes a explodir, vermelhas e sardentas.

Louis queria acreditar naquilo, mas não conseguia. Era um péssimo irmão. Um péssimo rei. Um péssimo noivo. Suas selecionadas também deveriam estar com fome, e estavam assustadas com tudo ao redor. Tinha de lhes dar um pouco de conforto também. Chamou-as através de um servo que passava por perto, elas agradeceram as bolachas de chocolate, embora cabisbaixas. Quando não havia mais bolachas, Francis bocejou e se deitou sobre as pernas de Johanna, fechando os olhos para dormir. “Um anjinho. Tão inocente. Não sabe o que acontece, nem sabe o que fizeram com papai. Gostaria de ser assim”.

– Aquelas que quiserem ir embora, podem ir. – disse, em voz alta. – Não posso prometer que estarão seguras comigo. Viram o que pode acontecer. Meu pai morreu. O rei foi assassinado em sua própria cama. Aquelas que desistirem, não serão vistas como fracas, mas como sensatas. Podem voltar aos seus quartos, para tentar salvar alguns de seus objetos pessoais. Um carro virá no final da tarde, para levar todas que quiserem voltar para casa – suspirou. – Eu não posso prometer que terminarei minha Seleção. A guerra precisa de mais atenção. Me perdoem por ser tão irresponsável.

Abaixou a cabeça, sentindo-se terrível. Queria que todas fossem embora, ficassem seguras em suas casas, com suas famílias. Sabia que não conseguiria mais pensar em se apaixonar, ou em viajar em um balão pelo mundo. Uma a uma, elas saíram da cozinha, indo para seus quartos, procurar seus pertences não levados pelos rebeldes. Todas, menos quatro. Olhou-as. Não sabia o nome delas, na verdade mal conseguia prestar atenção em seus rostos, enquanto a visão se tornava borrada. Lágrimas. Suas íris marejavam, e estava se tornando difícil suportar. Deixo a cabeça cair sobre a de Johanna, e a irmã menor passou seu braço curto por suas costas, de forma acolhedora. Louis não se sentia envergonhado de ser confortado por Johanna, sentia-se simplesmente destruído demais para se importar com qualquer coisa.

Fechou os olhos, sendo levado para um lugar diferente. Seu mundo particular. Onde nada ecoava, e ele podia desfrutar do silêncio eterno. Antes que percebesse, dormia. Junto de Francis, sobre Johanna. E ela, com toda a paciência de mulher, envolveu-os e chorou.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: Príncipe Nikolai.
Pergunta: Quantos primos (homens) Louis tem?
Beijos da Meell.



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