Your Selection - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 31
Ashley Dakotta Vancou


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Capítulo 30

Ashley

“Se muito ainda nos resta a combater, não é para evitar a derrota, mas para conseguir a vitória completa” – Getúlio Vargas

Karmin – I Told You So

O chá das cinco estava sendo servido no jardim real, que seguia por uma trilha em meio a um bosque muito bonito, que Ashley achou poder tirar fotos incríveis. Mais uma vez se lembrou de papai, rodando a aliança no dedo, enquanto caminhava atrás da menina de cabelos negros da Península. Passar o tempo com elas se tornara uma rotina cansativa e entediante. Adam raramente convidava alguém para um encontro, ele normalmente preferia sair com todas juntas. Hoje, seria como um desses dias. O príncipe estava já sentado em sua mesa de chá, com uma xícara, um livro de poesia e os olhos fixos nas linhas. Quando elas chegaram, seu sorriso logo mostrou que estava ensaiando as falar. Já havia se tornado comum que o príncipe nunca dissesse algo que realmente quisesse falar. Isso a irritava, pois Ashley não conseguia ver nele qualquer abertura para se aproximar. Ao contrário disso, outras meninas se tornavam cada vez mais íntimas, como Nicole e Dominique, ambas sentaram ao lado do príncipe, por pedido dele. As demais tomaram os outros lugares, e ela novamente estava afastada do príncipe, ao lado de outras garotas que provavelmente seriam dispensadas logo. “E eu também”, pensou.

Amber trouxera um livro, e lia-o com avidez. Ela mal tocava a xícara de seu chá. Amber era, entre todas, a mais problemática e misteriosa. Ashley não conseguira captar muito da essência da garota. Perguntava-se se todas elas teriam a mesma personalidade: quietas, educadas, gentis e honestas. Os seres humanos não podiam ter tudo isso, certo? Sempre há algo podre dentro deles. Ashley rodou novamente a aliança de papai.

– Senhorita Ashley, aceita uma xícara? – perguntou o mordomo, e ela concordou com um meneio. O líquido quente escorreu até o fundo da porcelana, com algumas gotas respingando para fora. Adam conversava baixo, às vezes apenas lendo ou meditando. Ele parecia uma pessoa tão solitária, e por escolha própria, que Ashley perguntava-se se realmente o queria. Viera para a Seleção, seguindo os planos de sua mãe. E agora não sabia se continuaria assim, ou se esperaria até a hora que Adam a jogaria para fora. Ashley não sentia mais o grande desejo de competir pela mão dele, de se tornar Rainha da Inglaterra ou mesmo de encontrar um amor. Ela só queria... Olhou para cima, suspirou. Ela só queria tirar algumas fotos.

A Inglaterra era uma ilha e a parte mais próxima da América dentro do círculo de proteção contra infectados da Praga. E quando os guardas surgiram anunciando que estavam invadindo a praia, a única coisa que fizeram foi encarar um ao outro, sem compreender muito bem o que isso queria dizer. Guardas levaram Adam rapidamente para fora do jardim, deixando-as com outros cinco guardas e Madame, que bebericava seu chá com os olhos bem abertos.

– Certo, senhoritas, vamos nos recolher para o abrigo e... – sua voz foi interrompida, quando a flecha perfurou suas costas, a ponta sobressaindo pelo peito do vestido azul celeste que usava. A mancha de sangue se espalhou rapidamente, enquanto a mulher caia de joelhos e enfim inerte no chão. Os guardas corriam de um lado para o outro, e a selecionadas também se levantavam, correndo. Amber já não estava ao seu lado, e vozes gritavam para que todas se protegessem em algum lugar longe da praia.

Ashley sentiu a lâmina da adaga sobre sua jugular, enquanto o metal frio arrancava-a de sua imersão. Respirou fundo, tentando controlar a adrenalina que emanava de seu peito. Uma mão agarrou seu braço com tanta força que exclamou em dor, enquanto era arrancada de seu lugar a mesa e jogada no chão. As botas eram velhas e manchadas de terra. Mais mãos agarrarem seus cabelos e puxaram sua cabeça para trás, a lâmina voltando para a jugular, se aprofundando na pele branca e macia, sentia o pulsar de seu coração, o ruído surdo nos ouvidos.

– Espere. Leve-a, servirá melhor viva.

A lâmina abandonou sua garganta, as mãos a agarraram pelos cotovelos e a levantaram, até que gemesse de dor, com as costas arqueadas. Uma mordaça foi colocada sobre sua boca, rostos mascarados, enquanto tentava desesperadamente se livrar. As pernas balançando, inutilmente, no ar. Ouviu uma risada abafada, e cordas prenderam seus tornozelos, junto com as mãos e a cintura, até estar imobilizada por completo. Encarou os olhos de seu seqüestrador, eram azuis como o céu, e cruéis.

Um saco negro cobriu sua cabeça, e então não conseguia mais ter noção de onde estava. Sendo carregada, foi levada. Tinha certeza que morreria, morreria ali mesmo, talvez enforcada. Mordeu os lábios, tentando não chorar, mais foi inevitável. Os soluços a tomaram, até que as lágrimas estivessem escorrendo, quentes, por suas bochechas. O saco deixava tudo muito abafado e Ashley só podia implorar que tudo acabasse logo. E não acabou. Horas passaram-se, ela não tinha noção de quanto, apenas que foi jogada sobre chão frio, como metal, e lá ficou, imóvel, deitada de bruços. Não havia luz, e o saco permanecia impedindo que sugasse ar novo. Poderia se sufocar a qualquer momento, quando finalmente puxaram-no. Sugou o ar, sentindo o frio do local. As mãos continuavam amarradas, os pés também. Os nós eram tão firmes que doíam a medida que se movia, por isso desistiu de fazê-lo. A única coisa que conseguia ver com a fraca luz do lugar eram joelhos, diante de seu rosto. As mesmas botas sujas e as mãos de seu seqüestrador.

– Uma belezinha do príncipe. – disse. – Sabe o quanto seria interessante usar algo que é do príncipe? Talvez me fizesse sentir como um príncipe, de verdade – ele riu, a mão escorregando por sua coxa, enquanto Ashley reprimia um grito. Tentou mover-se novamente, mas só conseguiu apertar mais os nós nos pulsos e tornozelos. Ele gargalhou. – Calma, passarinho... Eu não vou te machucar muito – e então gargalhou novamente, quase loucamente. Um maníaco. Só podia ser um maníaco. E iria abusá-la. Ashley não queria se sentir tão fraca, mas o que mais poderia fazer além de implorar para que alguém chegasse e a salvasse? Os dedos agarraram seu rosto e ele a obrigou a encará-lo, vendo pela primeira vez seu rosto. Os mesmos olhos azuis claros, porém o nariz era grande e deformado, os lábios rachados e a barba irregular, traços angulosos, ombros largos e a sujeira debaixo das unhas. Sentia nojo. Sentia nojo de si mesma por deixar que ele a tocasse. O homem riu. – Um anjinho... Está vendo, Denzel? Um anjinho. Olhos claros, cabelos louros. Pele branca como porcelana, as bochechas rosadas... Um anjinho ridículo. – ele gargalhou, erguendo-a pelo rosto. A dor era grande, enquanto os dedos dele se aprofundavam na pele de suas bochechas. – Um desperdício para um príncipe que já tem trinta e quatro meninas... – ele aproximou seu rosto medonho, cheirando-a – Você tem o cheiro da inocência. Um perfume tão doce... Que me dá vontade de provar... – e então riu, soltando-a. Ashley bateu contra o chão de metal, a nuca explodindo em dor, enquanto gemia. A mordaça ainda estava em sua boca e mordia-a com força.

– Quanto mais vai brincar com a garota? – perguntou alguém, longe demais para que Ashley conseguisse vê-lo, mas que provavelmente era outro monstro pronto para devorar sua alma, chamado Denzel. – Até a Praga sugar sua alma?

“Praga”. Ashley abriu os olhos, encarando as botas do homem a sua frente. Ele tinha a Praga! E estava tão perto! Tentou rolar para longe, embora fosse em vão, havia uma parede bem atrás de suas costas. O homem gargalhou, vendo-a tentar fugir, e a agarrou pelos ombros, colocando Ashley sentada. Estava com o rosto bem próximo ao dela, os olhos azuis faiscado.

– Você tem medo de mim, passarinho? Ah, não precisa ter medo. Que tal cantar um pouco, uma das canções que te ensinaram no castelo? Por que não diz que sou o cavaleiro mais belo que já viu, ou que meu nariz lhe dá volúpias de amor? – ele gargalhou, a voz grave e arrastada, como se estivesse bêbado. Então o cheiro de seu hálito alcançou as narinas de Ashley, e ela teve certeza de que ele estava bêbado.

– Solte ela, pai. – Denzel suspirou, abrindo a porta, de onde emanava luz. Ashley cegou-se por um instante. – Antes que alguém venha.

O homem riu e a soltou, relutante. Ambos deixaram a sala, fechando a porta. Ashley ouviu quando trancaram-na. Novamente, estava sozinha, amarrada e amordaçada. Respirou fundo, encarando fixamente a porta esperando alguém vir para torturá-la mais um pouco. Afinal era isso que significava ser raptada por criminosos, certo? Haviam entrado no castelo, haviam ultrapassado todas as barreiras impostas pelo governo. Quem sabe que tipo de rebeldes eles eram. E a estavam usando como isca, podia sentir isso. “Ela servirá mais viva a morta”, pensou no que haviam dito quando estava prestes a morrer degolada. Mesmo que fosse poupada de vida, não seria poupada de alma. Iriam consumi-la, incendiar-na-iam até que mais nenhuma sanidade restasse em seu corpo. Ashley soluçou, as lágrimas voltando a escorrer. Lembrava de papai e de mamãe, de seu irmão. Os vídeos que gravaram no Natal e na Páscoa, as festas de fim de ano que faziam todos juntos. O anel. Abriu os olhos, quase se sentiu uma boba por não ter pensado nisso antes. O anel possuía uma jóia, poderia tentar usá-la para cortar as cordas. Começou o trabalho, com muita dificuldade. Passar o anel como uma faca era demorado, seus dedos se contorciam, enquanto as cordas se mostravam firmes. Após duas horas, desistiu, cansada e com câimbras nas mãos. Era impossível fazê-lo. As cordas eram grossas demais, e o anel pequeno demais. Por fim, parou e apenas manteve-se inerte. Esperando. Esperando alguma coisa. Qualquer coisa. Mas nada acontecia. E por fim, adormeceu.

Estava de volta ao apartamento, com os enfeites de Natal, a lareira acesa, as meias e a árvore. Os presentes, os biscoitos, as almofadas todas enfileiradas. Tudo pronto para a festa. Sorriu, apreciando o lugar, e encarando as portas do elevador, esperando quando papai apareceria, com mamãe e Ed, seu irmão. Mas eles estavam demorando, e o elevador não subia. De repente as luzes apagaram-se, e as portas do elevador se abriram, revelando duas figuras negras, sombrias, adentrando o apartamento. Estavam sedentas por sangue, e Ashley podia sentir que era sede de seu sangue.

Acordou ofegante, com a mão sobre sua boca. A mordaça havia sido retirada, e o rosto diante de seus olhos era novo. Lábios finos, um rosto angelical, olhos azuis elétricos e cabelos negros como carvão. A mão sobre sua boca era macia, ao contrário do outro homem, mas por algum motivo aquele rapaz lembrava-o. Talvez fossem os olhos, ou o modo como se vestia. As botas sujas, a camisa preta. Ele a encarava.

– Shh... – sussurrou, ajudando-a se levantar. Atrás deles, a porta estava aberta e luzes vermelhas piscavam, sem levantar ruídos. Ele a puxou pelo corredor, e a conduziu, segurando com força seu pulso, até que se livrasse dele, puxando o braço com força. O rapaz se virou. – O que foi?

– O que pensa que está fazendo comigo? – devolveu o sussurro, sem saber porquê.

– Ora, estou te salvando!


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Notas finais do capítulo

Bem, vamos deixar algumas coisas esclarecidas, certo? Eu sei que algumas personagens não estão aparecendo nos capítulos junto com os príncipes. Sim, estou ciente disso. Mas são trinta e cinco garotas, e apenas seis vão ter os príncipes (isso se a Seleção chegar ao fim). Aquelas que vieram buscando uma linda e romântica história de amor envolvendo fotos e programas de reality show, bem, lamento informar que nem tudo são rosas. As personagens VÃO aparecer, basta ter calma. E eu não prometo que todas terão seu príncipe encantado, ou que sobreviverão até o final. Igualmente os príncipes.
Então, espero que tenham gostado da reviravolta com a Seleção da Inglaterra, e no próximo capítulo tentarei reavivar algumas personagens até então deixadas para trás. Beijos da Meell Gomes.



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