Your Selection - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 27
Catarina D'Aragon


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/593724/chapter/27

Capítulo 26

Catarina

“O pensamento evolui no tempo e no espaço, surgindo do espírito de cada época” – Leôncio Basbaum

Jeremy Camp – Innocence

Ela gritava. “Por favor, alguém”, e então gritava de dor. O sangue ensopava seu vestido caro, bordado a mão. O carro conversível estava com os bancos sujos e a barriga da mulher sobressaia, as pernas dobrando-se em espasmo enquanto ela tentava caminhar até o convento, aquele lugar onde nunca havia estado. “Mas está aqui, no meio da estrada, escondido. E não agüenta mais”. A bolsa se rompera, e logo o bebê nasceria. “Por favor!”, clamou, e talvez Deus tenha enviado sua voz até as freiras, pois elas apareceram. Archotes em mãos, vestidos negros. Rostos pálidos e assustados.

Nasceu. Catarina Cammélia D’Aragon. E então morreu, Isabella D’Aragon. E somente uma última prece: Não a deixe procurar pelo pai. O desejo da mulher foi honrado, as freiras nunca permitiram que Catarina pensasse em seu pai, embora não conseguissem impedir que ela pensasse em outras coisas, como a religião. A mente de Catarina estava cheia de idéias, questionamentos, que, quanto mais eram respondidos, mais dúvidas geravam. Suspirou, enquanto arrastava os pés pela relva, a água secando na pele, enquanto o vestido grudava ao corpo. Não tivera tempo para tirá-lo quando o príncipe a jogou dentro do riacho. Lembrava do modo como ele segurou seu braço, empurrando-a. Aquilo arrepiava sua nuca, eriçava todos os seus sentidos, os ossos tremiam dentro da pele, enquanto tentava se livrar daquela sensação de... Fragilidade? Fraqueza? Vulnerabilidade. Deu dois tapinhas nas bochechas, deixando-as mais rosadas do que o normal. Esqueça. Esqueça tudo. É idiotice se preocupar com isso, enquanto tem de encontrar o príncipe Francis.

As árvores se elevavam, enquanto ouvia as águas fortes do riacho correndo. Animais da floresta perseguiam-se, esquilos, coelhos, todos juntos. Pareciam não temê-la. “Nunca foram caçados”, pensou, enquanto igualava aquilo ao Jardim do Éden. Seria assim como Adão e Eva sentiam-se enquanto caminhavam por todo o jardim? Como se nada fosse uma ameaça? Os pássaros voaram por cima de sua cabeça e um grupo de borboletas contornou-a. Sorriu. Era tão bonito. Um pequeno paraíso, no meio do mundo. Os troncos subiam e escondiam o que estava a frente, enquanto arbustos prendiam seu vestido aos galhos e as folhas se grudavam aos seus sapatos.

– Francis! Príncipe Francis! – ouviu alguém chamar ao longe. Estavam procurando o príncipe, por isso não podia se encantar com a floresta. Teria tempo de ver tudo, caso o encontrasse. Francis era uma criança, uma criança não muito menor do que ela era quando saia para brincar com Antoine nas quedas d’água. Mas onde uma criança poderia ir, tão longe da diversão? Era difícil imaginar porquê Francis poderia ter saído correndo. O que levava a duas opções: ele caiu na água e foi levado pela correnteza, mas com certeza alguém teria ouvido seus gritos. Ou, ele não estava sozinho. A segunda opção lhe deu mais calafrios. “Pare, pare... A vida das outras pessoas não é como a sua. Elas não passam pelo mesmo”.

Ouviu o som de vozes, mas não as mesmas vozes gritando por Francis, e sim vozes graves, arranhadas. Pessoas sussurrando. Aproximou-se de um dos arbustos, o suficiente para vê-los. Três homens, armados, sentavam-se em rochas dispostas ao redor de uma fogueira apagada. Entre eles, um garoto ruivo e rechonchudo amarrado pelas mãos e pelos pés. A boca amordaçada e os olhos fechados. Inconsciente. “Príncipe Francis”, soube que era ele, enquanto analisava a cena. De repente sentiu uma mão sobre seu ombro e empalideceu.

Os sons, a árvore. Lembrou-se, pequena, subindo aquela árvore. E então algo a puxava para baixo, pela cintura. Dedos envoltos em luvas de couro. O modo louco como a olhava, o cheiro de álcool. Aquelas mãos sem ternura ou paixão, arrancando-a de suas roupas, enquanto a prendia contra o chão. Tocando suas pernas. Tocando sua cintura. Seus seios. Gritou, e uma mão surgiu sobre sua boca.

– Cale a boca – ouviu-o sussurrar, enquanto observava os três caçadores. – Eles pegaram o meu irmão. – Louis voltou a olhar para ela – Escute, volte agora mesmo para o acampamento e avise onde estamos. Chame os guardas. E tente não gritar, por favor.

Soltou-a, enquanto desaparecia arbusto adentro. O príncipe saltou, mãos abanando, enquanto os três homens assustados buscavam suas armas. Catarina viu o primeiro deles alcançar o príncipe amarrado e erguê-lo, uma faca próxima a garganta dele. “Vai matá-lo. Não pode matá-lo”, pensou. Mas ao mesmo tempo os fleches da floresta, o convento, as quedas d’água. Antoine e o caçador. Aquele homem que a agarrou da árvore. Era uma criança assustada, uma criança indefesa, como Francis. Mas não estava amarrada ou inconsciente. Via tudo. Ouvia tudo. E isso era uma tortura ainda maior. Louis correu em direção ao primeiro caçador, que mirou a arma, mas não fechou a disparar. O príncipe o agarrou pela barriga e o levou ao chão, enquanto fechava o punho em um soco no queixo. O segundo caçador virou-se e disparou em direção a Louis, entretanto errou, pois estava apavorado.

E o terceiro caçador continuava segurando Francis, os pés do menino roçando a relva. “Tenho de fazer algo, não posso simplesmente ficar aqui. Os tiros irão chamar a atenção dos guardas. Eu tenho de salvar o príncipe. Ele ainda tem esperança”. Jogou-se para fora do arbusto, buscando onde se apoiar, enquanto cambaleava. Viu o gemido surpreso do pistoleiro, e então ele virou em sua direção, atirando.

Correu, tropeçou, caiu. A terra enchendo sua boca. Mas não foi atingida. Levantou-se a tempo suficiente de ver Louis soltando o corpo inerte do primeiro caçador e partindo para cima do segundo. Agarrou seu braço e torceu-o, a arma caindo inutilmente na grama. Os pés dos dois moviam-se, tentando alcançar o revólver, enquanto Louis o segurava. Sem pensar duas vezes, Catarina levantou e correu, agarrando a arma e erguendo o braço. Apontava para o caçador que segurava Francis.

– Solte ele. Solte ele agora! – o desespero estava palpável em sua voz, enquanto ela tremulava na garganta. O caçador sorriu e agarrou os cabelos do príncipe, deixando a garganta a mostra e passando delicadamente a lâmina da faca de caça. – Eu disse para soltar! Eu vou atirar! Eu vou!

– Então atire, garota boba. – ele riu. Louis aproveitou que seu caçador estava observando a cena e pisou em seu pé, agarrou o pescoço do homem com ambos os braços, envolvendo-o, e jogou-o por cima de sua cabeça, em um arco perfeito no ar. O homem caiu de costas, gemendo, enquanto buscava ar. Louis chutou-o no rosto, pondo fim a sua agonia. O último caçador encarou a ambos, e então Francis.

– Quer que eu atire, mesmo? – ela perguntou, sentindo os dedos de Louis em seu cotovelo, e então seu peito em suas costas. O príncipe a envolvia, enquanto as mãos seguravam as delas. O dedo sobre o gatilho.

– Nós vamos atirar. – ele falou, a voz mais grave que o normal. Não era o menino que a jogou no riacho. Não era o príncipe que usava pijama e que brincava com seus irmãos menores. Havia raiva. Conseguia sentir o ódio descomunal ecoando dele. “Está disposto a matar”. – Um.

– Tudo bem, tudo bem – o caçador soltou o príncipe, que caiu desacordado, ainda. Os cabelos ruivos manchados de terra. O caçador jogou longe a faca e ergueu as mãos. – Não foi idéia minha. Forma eles. Eles me obrigaram...

– Conte sua história para o meu pai. – Louis soltou-a, e agarrou a nuca do caçador. Com apenas um movimento de mão, torceu-o e o homem caiu inconsciente. O príncipe jogou-se ao chão, de repente ofegante e fraco. Agarrou o corpo do pequeno e abriu sua camisa. Pousou a orelha sobre o peito do garoto. – Graças a Deus. Graças a Deus... – ele sorriu. – Ele não teve um ataque de asma. – sorriu, novamente, enquanto seus olhos se manchavam de vermelho. “Ele está chorando. Acabou de bater em três caçadores armados, e agora está chorando”. Louis ergueu o irmão, segurando-o com cuidado, enquanto a observava. – Obrigado, garota. Por distraí-los.

– Claro. – acenou com a cabeça, ainda atordoada. “Ele me abraçou. Segurou meus braços e a arma, junto comigo”. Por que não havia fugido? Como sempre fazia? Desde aquele dia na floresta, contato físico era algo que evitava com força.

– Qual o seu nome? – Louis perguntou, enquanto caminhavam em direção a floresta.

– Catarina D’Aragon.

– Aragão? Como o Reino de Aragão?

– Reino? – empurrou um galho de uma árvore, permitindo que Louis passasse com Francis nos braços.

– Sim. Durou de 1035 a 1707. Na Península Ibérica, durante a Reconquista. A língua oficial era o latim, foi um dos primeiros reinos cristãos. Era um território de condado franco, já que fazia fronteira com a França. Era um dos nossos territórios – ele sorriu – Mas foi anexado ao reino da Pamplona, ou Reino da Navarra, como alguns livros de história chamam, por volta de 945 depois de Cristo. Era um território de Ramiro Sanchez, ganho pela repartição dos territórios pelos filhos de Sancho III de Navarra. Era um condado feudal e foi responsável pela conquista da Saragoça em 1118. – Louis rolou os olhos pela floresta – Que lugar bonito.

– Sim. Mas o que mais o Reino de Aragão era? Quer dizer, Reino de Navarra?

– Ah, o Reino de Aragão se separou do Reino de Navarra em 1035, quando foi oficialmente declarado reino, com a união dos condados de Aragão, Sobrarbe e Ribagorza, ainda sob o comando de Ramiro Sanchez. Mas foi um reinado jovem, logo ele foi passado para Raimundo Berengário IV, Conde de Barcelona. Uma união de casamento entre a filha do rei de Aragão, que tinha apenas um ano, e o conde. O Reino de Aragão se expandiu, unindo os territórios com os territórios do conde de Barcelona, sendo chamado de Condado de Barcelona. O último rei da coroa de Aragão foi Fernando II de Aragão, que se casou com Isabella de Castela e unificou os reinos de Aragão e Castela. A unificação passou a se chamar Monarquia Espanhola. Os reis da Monarquia Espanhola tiveram um importante papel na descoberta das Américas, pois foram eles quem financiou a viagem de Cristovão Colombo, que buscava um caminho para as Índias. O Reino continuou até 1707, com fronteiras estabelecidas e um autogoverno próprio, tudo muito organizado, quando Felipe IV de Aragão e V de Castela, depois da Guerra da Sucessão, aprovou os Decretos do Novo Plano, tendo a Coroa a partir daquele momento e tornando-se definitivamente parte do Reino de Espanha. – ele alcançaram o local onde o riacho corria, com as carruagens e os guardas. Louis se virou para ela. – Eu te conto mais sobre o Reino de Aragão, se você me deixar cuidar do meu irmão agora.

– Claro, Vossa Graça.

Ele sorriu, os cachos ruivos balançando. As sardas se moviam com as bochechas e pequenas covinhas se formavam.

– Por favor, me chame de Louis. Até mais, Catarina de Aragão, obrigado por me ajudar a salvar o Francis.

E deixou-a, com sua cabeça cheia de história sobre o Reino de Aragão. Seu sobrenome tinha relação com um reino da Península? Ela viera da Península! E sabia falar latim, graças ao tempo que passou no convento, com as irmãs. Prendeu a respiração, enquanto se sentava sobre uma das toalhas esticadas na relva e alcançava um cachorro-quente feito pelas garotas que permaneceram no acampamento. “Fernando de Aragão se casou com Isabella de Castela, e assim ela se tornou Isabella de Aragão. Minha mãe se chamava Isabella D’Aragon, seria consciência? Gostaria de saber o nome de meu pai, talvez fosse Felipe, ou mesmo Fernando.”. “A filha deles poderia se chamar Catarina. Quero saber mais sobre a família a partir deste ponto. O casamento entre um Aragão e uma Castela, unificando dois reinos.”.

Enquanto pensava e refletia sobre o que Louis havia dito, mais meninas se aproximavam, todas querendo saber como o pequeno príncipe Francis estava. Os guardas o levaram de volta para o castelo, e a princesa Johanna foi levada também, junto com cinco guardas e uma das carruagens. Madame Evangeline as orientou para deixar o príncipe Louis descansar do susto que tivera, e neste meio tempo, Catarina havia terminado seu cachorro quente e bebia suco de maçã. Ao redor, as selecionadas conversavam sobre como o príncipe havia conseguido dominar três caçadores fortes e grandes. “Ele sabe lutar”, pensou Catarina.

– Eu disse que te contaria mais – ouviu, enquanto virava o copo sobre a boca. Encarou-o, a sombra ocultando-a. As selecionadas silenciaram ao seu lado, enquanto Louis se sentava. – Ah, cachorro quente, eu adoro cachorro quente. Posso?

– À vontade – Madame Evangeline empurrou para o príncipe um prato com o pão. Catarina esperou, enquanto ele preparava seu lanche e dava a primeira mordida. Os olhos claros de Louis reviraram e ele suspirou.

– Eu adoro cachorro quente – sorriu, enquanto limpava a mancha de ketchup do rosto. – Bom, estávamos falando sobre os Aragão, certo?

– Sim. Sobre Fernando de Aragão e Isabella de Castela. Eles tiveram filhos?

– Ah, sim, sim. Filhos – Louis deu mais uma mordida. – A primeira filha era Isabel de Aragão, casada com Afonso de Portugual, uma aliança de estratégia do rei Fernando de Aragão. Porém Isabel ficou viúva após os primeiros oito meses de casamento. Em seguida se casou com o primo, Miguel I de Portugual, com quem teve um filho chamado Miguel da Paz, em 1498. Ela morreu no parto do bebê.

– E o segundo filho?

– Espere. – ele deu outra mordida – O filho de Isabel morreu em 1500, dois anos após nascer, ele seria o herdeiro de Portugal, Castela e Aragão. Com a morte de Isabel e de seu filho, a coroa passou para o segundo filho de Fernando e Isabella, Príncipe João, que se casou com Margarida da Áustria, filha de um imperador e irmã de Felipe da Áustria. Ele morreu em 1497, um ano antes da sua irmã Isabel. A coroa novamente teve de ser passada então, quando Miguel da Paz morreu, para Joana, a terceira filha de Isabella e Fernando de Aragão. Ela era conhecida como Joana, a Louca. Casou-se com Felipe da Áustria, ela logo cedo mostrou sinais de loucura, que se intensificaram com os maus tratos do marido.

– Felipe a maltratava?

– Eles se casaram por interesse. – explicou Louis – Então provavelmente Felipe não gostava da mulher louca que tinha. Mas é triste, pois Joana não tinha culpa de sua instabilidade mental. Felpe aspirava ascender ao trono da Espanha, já que sua mulher havia herdado a coroa e ele era seu consorte. A quarta filha de Fernando e Isabella era Maria, também conhecida como Mary. Casou-se com seu cunhado viúvo, Manuel I de Portugal.

– Fernando e Isabella tiveram mais alguma filha?

– Sim. Uma última menina, sobrevivente, Catarina de Aragão. Foi a primeira esposa de Henrique VII da Inglaterra, que a expulsou da corte e se casou com a amante Ana Bolena.

– A expulsou da corte? O que Catarina fez? – ergueu as sobrancelhas. “Existia outra Catarina de Aragão”.

– Catarina teve seis filhos, três meninos e três meninas, ao longo de sua vida. Porém apenas uma menina escapou dos primeiros meses de vida, saudável. Todos os outros morreram. Henrique a acusou de estar amaldiçoada, pois Catarina era a viúva de seu irmão mais velho, Artur, Príncipe de Gales e o futuro Rei da Inglaterra. Catarina alegava nunca ter consumado o casamento com o irmão de Henrique, pois ele morreu alguns dias depois do casório, doente. Catarina não deu um filho homem para Henrique, e ele tinha medo de entregar o trono para Maria, a filha que conseguiu sobreviver a infância.

– Catarina se tornou viúva com alguns dias de casamento?

– Sim. Ela foi prometida a Artur, o herdeiro do trono inglês, com três anos de idade. Aprendeu latim, francês, espanhol, grego e depois de chegar a Inglaterra, inglês. Catarina amava as artes e trocava cartas com seu prometido, Artur. Dizem que eles se amavam, por mais que o casamento fosse por interesse. Catarina era bela, cabelos ruivos, olhos grandes e azuis, um rosto redondo e uma astúcia saudável. Ela aprendeu tudo com os melhores tutores, além de algumas artes femininas, como costura, dança e bordado. Catarina gostava de religião, história, clássicos, leis, heráldica e genealogia. Ela e Artur adoeceram alguns dias depois do casamento, Artur morreu, e ela se tornou viúva aos dezesseis anos, se recuperando da doença. Depois disso sua vida foi ser prisioneira, com seus pais tentando manter um acordo com o rei da Inglaterra, para casá-la com o segundo filho dele, Henrique. Quando o rei morreu, Henrique herdou o trono e se casou com Catarina. Catarina também foi a primeira embaixatriz da Europa. Ela doava dinheiro às universidades, incentivando os estudiosos e o povo a adorava. Era considerada uma boa rainha, gastando seu tempo com a religião, ações de caridade e ter filhos. Embora todos morressem. Quanto mais velha ficava, mais Catarina se aproximava da religião, e quando Henrique a acusou de ter consumado o casamento com Artur, achou na Bíblica uma passagem em Levitico que poderia ser interpretada como “o homem que se casa com a mulher do irmão, mesmo que não haja consumação, está amaldiçoado a não ter filhos”. Assim, Henrique entrou em um pedido para o Papa autorizar a separação com Catarina.

– Henrique quis se separar de sua esposa porquê ela não lhe deu um filho?

– Catarina deu três filhos homens, mas nenhum deles sobreviveu. Apenas Maria, e ninguém queria uma mulher no trono da Inglaterra. Catarina se envolveu mais com a religião e com o conhecimento, e ensinou sua filha tudo o que sabia. Ambas eram muito próximas. O Papa não apoiou Henrique, e Catarina continuou sendo sua Rainha. Entretanto Henrique se colocou como acima das autoridades do Papa e criou uma nova igreja, a igreja anglicana. Henrique se interessou por Ana Bolena, uma dama de companhia de Catarina, oito anos mais nova que o rei. E assim, se apaixonou por ela. Catarina se tornou uma esposa de mentira, já que quem Henrique amava era Ana Bolena. Quando Henrique passou a ignorar o Papa, ele considerou o casamento anulado e expulsou Catarina da corte. Entretanto Catarina, seus servos e quase todo o povo inglês continuou considerando Catarina como a Rainha da Inglaterra. Ana Bolena não era amada como Catarina, e assim Henrique a mandou para diversas residências, uma mais humilde que a outra. Catarina foi proibida de se comunicar com sua filha, Maria.

– Que horror. Tudo porquê Henrique queria Ana Bolena.

– Sim. Em 1535, Catarina sentiu que seu fim estava chegando e escreveu cartas. Um testamento e uma carta para seu sobrinho Carlos I, pedindo para que ele protegesse sua filha Maria. Ela também escreveu uma carta para seu marido, Henrique, chamando-o de “meu querido senhor, rei e marido”. Ela também pediu para que Henrique fosse um bom pai para Maria, disse que o perdoava por tudo o que tinha feito com ela e que pedia para que Deus também o perdoasse. Quando ela morreu, um dia depois o rei foi informado, e muitos o acusaram de envenenar Catarina, pois no corpo dela havia uma mancha negra no coração. Mas isso é mentira, Catarina morreu de câncer, uma doença ainda não muito conhecida da época.

– E Maria? O que houve com Maria?

– Maria, Rainha da Inglaterra, Espanha, França, Duas Sicílias, Jerusalém e Irlanda. Arquiduquesa da Áustria, Duquesa de Borgonha, Milão e Brabante, Condessa de Habsburgo, Flandres e Tirol.

– Esse é o nome dela?

– Sim. Maria da Inglaterra. Foi rainha da Inglaterra de 1516 até o dia de sua morte.

– Que bom. Depois de tudo o que sua mãe passou...

– Maria foi a única filha sobrevivente de Henrique VII e de sua primeira esposa, Catarina de Aragão. O meio-irmão de Maria, Eduardo VI, tentou afastá-la da linha de sucessão ao trono, quando descobriu que estava com uma doença terminal. Quando Eduardo morreu, Joana Grey, uma prima em segundo grau, foi proclamada rainha, porém Maria levantou um exército em Anglia e depôs Joana, proclamando Maria como rainha. Joana foi decapitada e Maria se casou com Felipe da Espanha, tornando-se rainha consorte da Espanha. Maria ficou conhecida como “Maria Sangrenta”.

– Maria Sangrenta?

– Sim. Ela perseguiu os protestantes e restaurou o catolicismo romano. Em cinco anos, queimou 280 dissidentes religiosos. Maria foi uma criança precoce, conseguia tocar um instrumento chamado virginal, ou cravo, com apenas quatro anos e meio de idade. Com nove anos, ela sabia ler e escrever em latim. Grande parte de sua educação veio da mãe, Catarina, que encomendou livros sobre a educação de meninas e que consultou humanistas para receber conselhos sobre o assunto. Ela estudou francês, espanhol, música, dança e alguns dizem que grego. Henrique adorava sua filha e se gabava com seus embaixadores de que “Essa menina nunca chora”. Maria era branca como os pais, tinha cabelos ruivos e olhos azuis. Herdou as bochechas rosadas de seu pai, Henrique.

– Então Henrique gostava de Maria?

– Sim. Entretanto Henrique estava desapontado com seu casamento que não gerou filhos e quando Maria já tinha nove foi mandada para a fronteira de Gales, em 1525, para presidir apenas no nome o Conselho de Gales e Bordas. Ela recebeu sua própria corte no Castelo de Ludlow e muitas outras coisas reservadas apenas ao Príncipe de Gales. Muitos eram a favor de fazê-la Princesa de Gales, entretanto isso nunca foi oficial. Maria passou três anos nas Bordas Galesas, visitando o pai regularmente, até voltar permanentemente para Londres em 1528.

– Mas Maria era amada pelos galeses, pelo pai e mesmo assim foi afastada do trono? Mesmo sendo a primogênita?

– Sim. Maria ainda era filha de Catarina e uma mulher. Henrique teve um outro filho, o que tentou afastar Maria da sucessão ao trono. Durante sua infância, Maria teve pelo menos 3 acordos de casamento cancelados. Ela crescia e se tornava uma jovem com um amplo conhecimento, um corpo proporcional e um rosto belo. Quando Henrique rompeu seu casamento com Catarina, a rebaixou como uma Princesa Viúva de Gales, em reconhecimento ao casamento dela com Artur. Maria foi então considerada uma filha ilegítima.

– Uma bastarda? – encarou-o.

– Sim, uma bastarda.

– Mas ela era filha de Catarina e Catarina se casou com Henrique.

– Sim, sim. Henrique teve uma filha com Ana Bolena, Isabel. Isabel se tornou a princesa da Inglaterra, enquanto Maria era rebaixada para uma “senhorita”. Maria nunca aceitou o rompimento de seu pai, era uma católica, e por isso não considerava Ana Bolena a rainha e nem Isabel a princesa.

– Assim como Catarina não aceitou o rompimento.

– Isso. Mas Maria era agora apenas uma protegida. Ela perdeu todos os seus direitos e todos os criados que a seguiam. Em dezembro, ela foi enviada para Hatfield, para servir sua meia-irmã, a Princesa Isabel.

– Ela se tornou uma criada? Da princesa Isabel? Queriam humilhá-la?

– Sim, por ordem do Rei Henrique. Como Maria se recusou a reconhecer Ana como rainha e Isabel como princesa, Henrique se enfureceu. Ela foi restringida de muitas coisas e adoecia facilmente. O médico real culpou isso pelos maus tratos que Maria sofria. Maria e o pai não se falaram por três anos inteiros, até que Maria ficou “inconsolável”, em 1536, quando sua mãe morreu. Catarina foi enterrada uma Catedral, Henrique não compareceu ao enterro e proibiu Maria de ir. Maria se enlutou profundamente. E ela era apenas uma adolescente.

– Tudo isso na adolescência? – Catarina colocou as mãos no rosto, sentindo-se fria. – Como alguém pode agüentar tudo isso tão jovem?

– Maria foi ensinada a ser uma mulher forte, por sua mãe. Quando Henrique disse que “Esta menina nunca chora”, ele não estava brincando. Maria raramente se mostrava como uma menina frágil, e seu luto foi silencioso. Quando Ana Bolena caiu em desgraça e foi decapitada, em 1536, Isabel foi rebaixada assim como Maria. Henrique se casou com Joana Seymour, duas semanas após a execução de Ana.

– Duas semanas?

– Sim. – Louis a observou, parecia pensar em algo, e então sorriu – Você gosta de história.

– Fui criada em um convento. Era o que eu tinha para estudar, história da criação, história de antes de Cristo e depois de Cristo. Tudo o que a Bíblica influenciou no mundo. – encolheu os ombros – Estou te irritando?

– De modo algum, eu amo história, também. – o príncipe se acomodou, deitado, apoiado em um cotovelo. – Isabel e Maria agora eram consideradas filhas ilegítimas. Joana, sua terceira esposa, pediu para Henrique reconciliar a paz com Maria. Joana parecia gostar da menina, mas Maria se recusava a reconhecer Henrique como Supremo Líder da Igreja Anglicana, já que ela era católica fervorosa como a mãe. Henrique tentou convencê-la a reconhecê-lo, a admitir que seu casamento com Catarina de Aragão era ilegal e que ela mesma era ilegítima.

– Maria reconhecer que era uma bastarda? Impossível.

– Sim, e foi isso o que Maria disse. Ela nunca admitiu nada contra sua mãe ou contra o casamento dela. Maria tentou se reconciliar com o pai dizendo que só o faria “Até onde Deus e minha consciência permitirem”.

Catarina soltou uma risada.

– Maria era sarcástica.

– Maria era uma pessoa muito interessante. – Louis sorriu – Mas acabou sendo forçada a assinar um documento, concordando com todas as exigências de Henrique.

– Este homem me da nojo.

– A mim também. Não posso imaginar meu pai dizendo que sou ilegítimo e querendo me obrigar a assinar um papel onde diz que minha mãe é uma amaldiçoada, meus irmãos são todos ilegítimos e ele é o super-poderoso Papa da uma religião nova. – o príncipe suspiro – Mas Henrique era assim. Depois da reconciliação, Maria voltou para o seu lugar na corte e ganhou uma nova criadagem, com direito a sua favorita Susana Clarencieux, alguns dizem que Susana e Maria eram melhores amigas. Os passatempos preferidos de Maria eram jogos de cartas e tabuleiros, muitos dizem que ela era um gênio em estratégia, e que se fosse um homem, seria Napoleão ou algum outro famoso por suas estratégias em batalha. Muitas pessoas, incluindo amigos de Maria, fizeram uma revolta contra as mudanças religiosas de Henrique, e uma das exigências do povo era que Maria fosse considerada legítima novamente. A rebelião foi conhecida como Peregrinação da Graça, e acabou sendo brutalmente reprimida pelo rei. Joana, a esposa de Henrique, morreu ao dar a luz a seu filho, Eduardo. Maria foi eleita madrinha do meio-irmão e atuou como principal pranteadora do funeral da rainha, o que alguns dizem que significava que Maria e Joana eram amigas, por mais que Maria fosse filha de Catarina e Joana fosse a terceira esposa de Henrique.

– Maria me parece uma pessoa boa. Cuidou de Eduardo?

– Como uma madrinha cuida. – Louis deu de ombros. – Maria foi cortejada por Felipe em 1539, porém ele era luterano, e por isso foi impedido de casar com Maria. Henrique se casou com Ana de Cleves, porém logo dissolveu o casamento pois um parente próximo de Ana foi considerado traidor. Em 1542, Henrique executou sua quinta esposa, Catarina Howard.

– Ele executou?

– Sim. O rei convidou Maria para comparecer a sua festa de natal e a ser sua anfitriã, agora que ele não tinha uma esposa ou uma consorte. Henrique se casou em 1543 com sua sexta mulher, Catarina Parr, que conseguiu aproximar toda a família. Henrique colocou Maria e Isabel em sua linha de sucessão, atrás de Eduardo, através do Terceiro Ato de Sucessão. Porém ambas continuaram ilegítimas. Henrique morreu em 1547 e foi sucedido por seu filho Eduardo. Eduardo ainda era criança quando isso aconteceu, por isso a Inglaterra foi governada por regentes, que tentaram reintegrar a fé protestante, porém Maria continuou firme no catolicismo e ousou realizar a missa comum em sua capela particular. Ela pediu ao primo Carlos V que aplicasse pressões diplomáticas para que ela pudesse praticar sua religião. Maria permaneceu a maior parte do reinado de seu meio-irmão Eduardo em suas propriedades, raramente comparecendo à corte. Tentaram tirá-la da Inglaterra em 1550, mas foi em vão. As diferenças religiosas entre Eduardo e Maria continuaram, e ela compareceu a uma reunião de família com Eduardo e Isabel, em 1550 ainda, no natal, onde Eduardo aos treze anos a constrangeu diante de toda a corte.

– Eduardo tinha treze anos? Ele era pior que o pai!

– Eu acho que sim. Porém a humilhação de Maria acabou levando ambos às lágrimas. Ela e ele choraram. Por causa da diferença religiosa e do desafeto da família. Então acho que Eduardo não era totalmente mau. Maria recusou todas as tentativas de Eduardo fazê-la desistir do catolicismo. Eduardo morreu aos quinze anos, com uma infecção no pulmão. Ele não queria que Maria fosse sua sucessora, temendo que ela restaurasse o catolicismo na Inglaterra, entretanto o conselho afirmou que ele não poderia deserdar apenas uma das meia-irmãs, e assim ele deserdou ambas. Maria e Isabel. Eduardo nomeou como sucessora Joana Grey. Antes da morte de Eduardo, Maria foi chamada a Londres, para se despedir do irmão, entretanto foi avisado que tudo se tratava de uma forma de capturá-la e tornar mais fácil a ascensão de Joana ao trono. Então ela fugiu para Anglia e esperou, levantou-se de Anglia, apoiada pela maioria, e depôs Joana do trono, assumindo a Inglaterra, até o fim de seus dias.

– E ela queimou os protestantes. Ela era uma católica radical.

– Maria acreditava firmemente na sua religião, e tornou-se um pouco obcecada demais. Mas ela teve seus motivos. A mãe, o invalidez de seu nascimento, o pai e tudo mais. – Louis a estudou novamente – Você quer saber se Maria teve filhos?

– Eu não sei. Acho que irei te fazer perguntar pelo resto do dia. – riu, encolhendo-se. – Mas é tão interessante...

– Sim, é muito interessante. Tanto Catarina Aragão quanto Maria eram católicas e sofreram por esse motivo, Catarina que morreu acreditando ser a rainha da Inglaterra e amado Henrique, Maria que morreu, provavelmente, por causa de Isabel.

– Maria?

– Sim. Maria se casou com Felipe, e em setembro de 1554, ela parou de menstruar, ganhou peso e sentiu-se nauseada, todos na corte pensaram que ela estava grávida. Felipe foi considerado o sucessor do trono, caso Maria morresse no parto, e Isabel foi chamada para a corte, afim de presenciar o nascimento, que poderia ser a qualquer momento. Alguns dizem que Felipe pensava em se casar com Isabel, caso Maria morresse.

– Por que os homens nunca pensam nas mulheres?

– Ninguém sabe. Os meses passaram e nenhum sinal do bebê. Quando dois meses se passaram do nascimento do bebê, formando onze meses de gravidez, as especulações se tornaram altas, sobre uma falsa gravidez. Maria continuou apresentando sinais de gravidez até julho do outro ano, quando sua barriga começou a diminuir e ela voltou a sangrar. Muitos ridicularizaram Maria, dizendo que ela engravidou do “vento”, mas na verdade o que ela teve foi uma gravidez psicológica, quando a mulher e seu corpo se convencem de que estão esperando um bebê, mesmo sem estar realmente. Felipe partiu para a guerra contra os franceses após a desgraça da falsa gravidez, e Maria disse que foi um castigo divino, por ela ter tolerado hereges em seu reino. Maria caiu em uma profunda depressão, muitos ficaram comovidos com a dor da rainha e disseram que ela estava incondicionalmente apaixonada por seu marido e temendo que ele caísse em batalha. Isabel ficou na corte, aparentemente tendo feito as pazes com sua irmã. Felipe ficou preocupado com a falta de filhos, pois depois de Maria e Isabel, a próxima herdeira do trono seria Maria da Escócia, uma menina feita rainha da Escócia após alguns dias de vida, protegida pela França, que estava prometida a Francisco, ou como todos o conheciam, Francis. Felipe persuadiu Isabel e a convenceu de que tinha de se casar com Emanuel Feliberto, Duque de Saboia, a fim de garantir a sucessão católica e preservar o interesse Hanbsburgo na Inglaterra, porém Isabel se recusou.

– Rainha Maria da Escócia? Já ouvi falar dela. Um filme antigo, assisti. Ela fora criada em um convento.

– Sim. Maria da Escócia fugia de seus perseguidores ingleses. E passou parte da vida em um convento, para se esconder. Maria restabeleceu a doutrina católica e reatou os laços com a Igreja Católica Romana e o Papa, perseguindo, aprisionando e matando os protestantes e hereges. Entretanto ela afirma que nunca forçou seu povo a seguir sua religião. Maria ajudou muito na economia e no comércio da Inglaterra, que tinham caído com o reinado de Henrique e Eduardo. Ela morreu em 17 de novembro de 1558, aos 42 anos, pensando que estava grávida novamente. É provável que Maria tenha morrido com um cisto no ovário ou cancro do útero. Quem a sucedeu foi Isabel. E muitos dizem que Isabel poderia ter envenenado Maria, como um plano para se tornar rainha da Inglaterra e se casar com Felipe.

– E ela se casou? Isabel se casou com Felipe?

– Quem sabe... – Louis sorriu – Não te conto.

– Mas... Isso é cruel!

– Sim. Mas eu prometo te contar, caso aceite tomar chá comigo e com meus irmãos amanhã.

– Você quer me comprar. Porque sou curiosa e quero saber o final da história.

– Não existe final. – ele sorriu – A história ainda está acontecendo. E sim, eu estou te comprando.

O príncipe se levantou e bateu a grama das calças. Catarina o viu ir, enquanto começava a raciocinar tudo o que tinha escutado. Catarina de Aragão se casou com Henrique da Inglaterra, eles tiveram uma filha chamada Maria, e ela se tornou rainha. Seu nome era Catarina D’Aragon, e sua mãe era Isabella D’Aragon. Sorriu. “Talvez eu seja tatatatatatataraneta de Maria”.

Cat


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Eu praticamente viajei com esse capítulo e todas as citações históricas. E sim, eu pesquisei muito sobre a família Aragão u.u



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Your Selection - Fanfic Interativa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.