Your Selection - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 24
Abigail Valentine Bloodworth


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/593724/chapter/24

Capítulo 23

Abigail

Um grande e forte amor só tem esses dois pólos: quando deixa de ser paixão, passa a ser ódio” – Medeiros e Albuquerque

Imagine Dragons – Bleeding Out

Quando o dia surgiu, a alvorada estava encantadora. O Sol por detrás das nuvens anunciava que estavam finalmente deixando as florestas congeladas e entrando em um território mais caloroso. As árvores tinham tons de dourado e laranja, o outono estava acabando, mas quem se importava com isso? O chão era o mar das folhas caídas, caindo ainda com destreza, por dentre galhos retorcidos. Não como os pinheiros, mas árvores de copas largas e realmente baixas. Os carros atravessavam uma estrada de asfalto, uma que ainda não havia sido interditada. Fazendas jaziam abandonadas, plantações não eram colhidas, animais viviam livremente, sem o perigo do abate, enquanto o céu despontava, branco. A terra pacífica também tinha seus baixos, onde as bombas um dia ameaçaram a vida dos inocentes fazendeiros. “Famílias inteiras desapareceram”, ou no campo ou em alguma cidade grande. Agora restavam as carcaças de suas casas, grandes casarões. Sua imponência não era imune à ação do tempo, e os esqueletos permitiam que seus fantasmas vagassem. Tocou a madeira, já rachada, de uma das paredes, enquanto caminhava pelo corredor. O telhado havia desabado, a geladeira estava vazia. E em cada canto, o ruído de uma ratazana.

– Está abandonado. – disse Nikolai, com sua lanterna apontada para uma das gavetas da cozinha. Ele às vezes era muito... Óbvio? Revirou os olhos, enquanto remexia os armários. Copos empoeirados, pratos de porcelana e talheres. Panos puídos, sacolas plásticas, ninhos de baratas. Encontrava tudo, menos algum resquício de que houvesse comida. As latas de conserva estavam todas vencidas. Há pelo menos cem anos. Caminhou até a janela, lacrada com tábuas de madeira. O vidro havia muito se partido, e quem quer que tenha morado lá se deu ao trabalho de fechar aquela janela antes de abandonar a casa. – Escutou isso? – Nikolai virou-se em sua direção, a lanterna apontando exatamente para seu rosto. Abigail desviou-se, a luz irritava seus olhos acostumados com a escuridão. – Desculpe.

– Não ouvi absolutamente nada. – respondeu.

– Então você ouviu. – ele caminhou até a porta da cozinha. – Tenho certeza que veio... De baixo – Nikolai apontou a lanterna para as vigas de madeira no chão. Enquanto se abaixava e começava a procurar qualquer coisa entre as caixas de papelão e os balcões. Abigail revirou os olhos, abaixando-se e procurando também. De repente algo cortou o ar, um grito agudo, quase sufocado. Nikolai virou-se para ela e trocaram um olhar que dizia “Ouviu agora?”. Respirou fundo. Realmente o som viera da cozinha, e definitivamente era de baixo. Mas... Onde? Olhou ao redor. Todos os lugares foram explorados. A não ser... Engatinhou até o fogão e abriu seu forno, revelando as grades de assar bolos e panos em decomposição, pelos e olhos brilhantes. Encaravam-na, na escuridão. Engoliu em seco. Nikolai juntou-se a ela e lançou a lanterna dentro do forno, revelando lá uma felina, os dentes a mostra, garras e o pelo castanho manchado. – Acho que atrapalhamos a soneca – ele sussurrou, enquanto a gata se levantava, revelando por baixo do corpo cerca de cinco filhotes. Ela se curvou e saltou em direção a Nikolai. O príncipe caiu sentado, com o bichano sobre suas pernas. – Abigail!

Abigail deu um tapa ligeiro na cabeça da gata, e ela saltou para o lado, desaparecendo pela cozinha. Voltou a olhar para os filhotes, todos imóveis. Nikolai agarrou um deles e mostrou-a a ela. Era parecido com sua mãe, marrom e manchado, entretanto sua língua estava para fora, e os olhos não se abriam. Quando Nikolai tentou acordá-lo, ele permaneceu imóvel.

– Está quente, mas não respira.

– O calor da gata o manteve quente. – ela disse. – Ele está morto, Nikolai.

Nikolai encarou o filhote e mordeu os lábios. “Ele está triste? Preocupado?”, não sabia desvendar o que era, enquanto o príncipe segurava seu filhote inerte, que logo esfriaria. Deveria estar morto de fome, a gata era tão magra que provavelmente não conseguia apanhar nenhuma ratazana e não se alimentava há semanas. Encarou o resto dos filhotes. Todos inertes e nenhuma das barrigas se movia.

– Estão todos mortos.

– Por quê? – ele sussurrou, colocando o filhote novamente no forno. – A mãe ficou aqui, mesmo com todos mortos?

– São pequenos, acho que nasceram mortos. – ela colocou uma mão sobre seu ombro. – Melhor sairmos, antes que a mãe volte.

De repente uma garra se prendeu ao dedo de Nikolai, enquanto ele colocava o filhote deitado ao lado dos irmãos. A garra arranhou-o de leve, e então um miado agudo, o mesmo que escutaram antes. A boca abriu-se, sem dentes, e a língua se agitou, procurando por leite. Agarrou o dedo de Nikolai, como se fosse sua mãe, e tentou arrancar de lá alimento. Nikolai sorriu e pegou-o. O filhote era incrivelmente preto, mas não abria os olhos e suas patas moviam-se lentamente, quase fracas demais.

– Ele irá morrer se não se alimentar – Abigail levantou-se, respirando fundo. Eles estavam dentro da casa da fazenda, enquanto as selecionadas e a família real dormiam nos quartos vagos. Não havia comida na cozinha, muito menos leite. Apenas junto das malas do rei, mas... Não podia ir até lá, esgueirar-se e buscar uma garrafa de leite. Nikolai pareceu ler sua mente, e levantou-se também. Entregou o filhote a ela com cuidado.

– Eu vou buscar comida. Mantenha-o entretido com seu dedo. – ele disse, e então correu pelo corredor, subindo as escadas e desaparecendo. Abigail abriu um leve sorriso, observando o felino que tinha em mãos. Os bigodes curtos, os pelos finos e lisos. Apertou uma das patinhas, enquanto sentia o rabo do gatinho enrolar-se em seu pulso, querendo contorná-lo, mas sem ter tamanho suficiente. Era tão bonito, e tão solitário. Encarou o forno, onde todos os irmãos dele estavam mortos, e então para o corredor, onde a mãe gata deveria estar. “Como ela pôde abandonar todos eles?”. Nikolai retornou, após quinze minutos, carregando uma lata. Ele tirou um dos copos do armário, lavou-o na pia e encheu-o de água. Jogou o pó dentro do copo e mexeu o líquido. – Leite em pó – ele disse, sorrindo, enquanto se aproximou dela e colocou o copo perto do focinho do gato. Ao sentir o cheiro, ele ergueu a língua e bebericou do leite. Nikolai segurou pacientemente, até que o gatinho virou o rosto em direção aos braços de Abigail e lá adormeceu.

– Não podemos deixá-lo aqui. Mesmo com a mãe. Irá morrer. – disse, e então notou o modo como Nikolai a olhava. Desviou o rosto, ruborizada. – O que foi?

– Você parece a mãe dele. Preocupada. – ele suspirou. – Acho que podemos ficar com ele. A gata não consegue sustentá-lo, certo? Então... – ele acariciou o pelo do animal. – Ele... É seu?

– Meu? – encarou-o. – Mas, Nikolai...

– Considere um presente.

– Eu o achei. – ergueu uma sobrancelha, entretanto ele apenas deu de ombros, deslizando a mão pelo gato, até chegar a sua cauda. Depois recomeçou os carinhos, até chegar ao cotovelo de Abigail. Então refez o caminho, até apertar-lhe a mão. – Não deveria flertar comigo enquanto um gato dorme nos meus braços, certo?

– Gato sortudo – ele sussurrou, inclinando-se e tocando seu rosto com uma das mãos, enquanto a outra acariciava o filhote. – Que nome dará a ele? – Nikolai pousou a testa sobre seu ombro.

– Eu não sei. Talvez... Blood.

– Blood? Tem certeza? – ele a encarou, de repente. Parecia surpreso, enquanto sua mão ainda acariciava seu rosto. Os dedos de Nikolai deslizavam por seu maxilar e pela bochecha, a maçã do rosto, até os lábios, quente. Estava quente. Desviou os olhos dele.

– É uma abreviação para Bloodworth. – disse, sentindo o hálito de Nikolai. Perto demais, não, perto demais. Virou o rosto. – Você vai sufocar o gato.

– Estou aquecendo ele com nosso calor – Nikolai sorriu, inclinando-se mais. “Ele é alto. Por mais que Mikhail seja mais alto, Nikolai ainda é alto”. Ele encostou sua testa a dela e sorriu. – Quer bater em mim?

– Quero.

– Esse é o seu jeito de demonstrar o quanto me quer? – ele mordeu os lábios. – Ainda pensa no Mikha? - não esperou por resposta – Isso não importa. Porque eu oficialmente vou lutar por você. E acho que estou na vantagem. Mikhail pode estar em sua cabeça, mas eu estou no seu coração. E agora, irei beijá-la. – ele fechou os olhos, por algum motivo, Abigail não conseguiu mover-se, paralisada. Talvez de pânico, talvez de medo. Ou então porque queria ser beijada. – E você vai deixar.

Seus lábios encontraram-se levemente, apenas roçando, enquanto o filhote agarrava-se a sua blusa de frio. Abigail sentiu o calor subindo a garganta e estabilizando-se em seu rosto. A mão de Nikolai, que outrora a acariciava, agora segurava sua face, e a outra seu braço. Lá, encaixou seus lábios aos dela, e a beijou suavemente, sem pressa ou desejo. Apenas sentimento. Abigail sabia que se não parasse com aquilo, logo se tornaria algo além de sentimento, e isso não podia permitir. Virou o rosto, deixando que Nikolai beijasse sua maçã. Ele sorriu e beijou-a na bochecha, depois a testa e então abraçou-a com força, espremendo o gato contra ambos. Ele chiou, irritado.

– Eu disse, não? Estou oficialmente declarando guerra ao meu irmão. – sua voz era um sussurro, usada exatamente para deixá-la desconcertada. Abigail ainda não o encarava. – Por você. Porque eu não sou bom em bancar o melhor amigo. Teatro não é o meu forte.

– Você está asfixiando o gato. – cortou-o. Nikolai a soltou, e ela deu um passo para o lado, enquanto respirava fundo, ainda encarando o chão. Não falaria com ele. Não faria isso. Porque Nikolai a beijou enquanto ela segurava o gato, sem lhe dar uma chance de fugir. Isso era injusto. E era ainda mais injusto fazer uma guerra com Mikhail, sem ele saber. “Mikhail pode estar em sua cabeça, mas eu estou no seu coração. E agora, irei beijá-la”. Ele avisou. Então por quê não fiz nada para impedir? Era a chance que ele deu. Nikolai foi justo.

Nikolai pigarreou.

– Não vai dizer algo?

– Como? – ergueu os olhos para ele, e, por incrível que pareça, Nikolai estava encarando o chão, ruborizado. Abigail sentiu-se de repente uma pessoa terrível, enquanto o gato enfiava as garras ainda mais em sua blusa de frio. – Me desculpe. Eu... Não sei o que dizer.

– Bem. É a primeira vez que eu me declaro para uma garota. – ele riu – Também é a primeira vez que beijo uma garota sem ela me empurrar. Na verdade eu só beijei você. Espera... Isso faz de mim um... Idiota apaixonado? E você é o meu primeiro amor! – ele arregalou seus olhos, de repente incrivelmente espantado – Quer dizer que eu beijei uma garota primeiro que o Mikhail. E ela gosta dele. Isso faz de mim um badboy.

– Não, definitivamente não. – interrompeu-o. Nikolai abaixou os olhos para ela e sorriu, agarrando sua cintura e erguendo-a do chão, rodou-a pelo menos cinco vezes, antes de colocá-la no chão novamente. – Cuidado com o gato!

– Ele me adora. – Nikolai sorriu, embora estivesse encarando as escadas. – Parece que alguém nos pegou no flagra.

Abigail seguiu seus olhos, até encontrar quem os observava. A pessoa se levantou e subiu as escadas correndo, desesperada. Nikolai riu e cruzou os braços. Voltou sua atenção para ela.

– Agora você tem que ir até o Mikhail dizer que o ama e que quer ele.

– Não. – franziu as sobrancelhas.

– Não porque você tem vergonha ou não porque você não ama ele?

– E-eu não sou como você.

– Como eu? Que fala a verdade? – Nikolai sorriu – É, Abigail. Eu gosto de você. Isso deveria me deixar envergonhado? Acredite, esse gato me deixa mais envergonhado do que dizer meus sentimentos. E sabe o que é mais interessante? Eu posso te escolher. Mas você não pode escolher o Mikhail. Isso significa que, se eu quiser, posso me casar com você agora. E você não pode fazer nada, pois se inscreveu na Seleção para ser escolhida por um de nós. Uma pena não ser o seu favorito, certo?

– Você nunca faria isso.

– Será? – Nikolai sorriu. – É, eu não faria isso. – ele suspirou, virando-se para um armário e socando-o com força. Abigail se encolheu, de repente assustada. Nikolai estava tendo um ataque de raiva? – Mas que droga! – ele disse, virando-se para ela. – Você tinha que gostar dele?

Sorriu.

– Talvez ele só esteja na minha cabeça.

Nikolai a encarou.

– Bom dia, príncipe. Eu vou voltar para o meu quarto, antes que minha melhor amiga note que eu desapareci. – piscou e então correu em direção ao corredor, enquanto ria de si mesma e subia as escadas. Entrou no quarto e fechou a porta violentamente, soltando um barulho alto demais, que despertou todas as garotas do quarto. Mordeu os lábios e arrastou-se até onde Marie estava, coçando os olhos. Os cabelos louros desajeitados. – Bom dia, Marie.

– Bom dia, Abby... Isso é um gato? – ela encarou a criatura fofa e peluda em seus braços, antes te pegá-lo e abraçá-lo. – Que fofo. Qual o nome?

– Blood.

– Isso é tão a sua cara. – ela revirou os olhos – Você encontrou.

– Eu e o Nikolai.

– Os dois? – Marie a encarou – Juntos?

“O acordo. O maldito acordo”. Respirou fundo, e tentou manter-se calma. Marie ainda a encarava, como se esperasse que de repente dissesse tudo o que havia feito com Nikolai. Talvez um “Eu esqueci que temos um acordo e dei esperanças para o Nikolai” não fosse o que Marie queria ouvir. Então abriu um sorriso fraco e deu de ombros.

– Ele me chamou para conversar. Íamos explorar a casa.

– E falou de mim? Falou sobre mim?

– É claro. É o nosso plano, certo? Eu te ajudo com o Nikolai e você me ajuda com... Com o Mikhail.

Marie sorriu.

– Exatamente.

Sua melhor amiga estava sorrindo. Enquanto ela mentia. A única pessoa até hoje que havia se importado com ela dentro daquela Seleção, sem ser o próprio Nikolai. A garota que cuidou dela, que chamou um médico, que a suportou, mesmo quando era a pessoa mais insuportável. Sentia que estava traindo Marie, de algum modo. Traindo sua melhor amiga. Com quem dividia tudo. Ou quase tudo. E Marie só tinha ela. Como podia ser tão egoísta? Retribuiu o sorriso e deitou-se ao seu lado, com o gato entre ambas. Marie contou sobre um sonho que tivera, onde ela e Nikolai passeavam a cavalo em um bosque florido. Abigail não escutou, pois sua mente estava em outro lugar. Estava na cozinha, onde deixou-o. “Ele me beijou, e eu não fiz nada para impedir. Como se por um segundo tivesse esquecido Mikhail, Marie e tudo”. Mordeu os lábios. A razão gritava não. E todas as moléculas de seu corpo gritavam sim. E acabou cedendo. Mas era a última vez. Nikolai já a havia beijado duas vezes, sem permissão. E estava ganhando liberdade demais. Decidiu, então, que não lhe daria mais liberdade para isso. Não trairia mais sua amiga. Não mentiria para ela de novo. Suspirou. “Eu gosto da mesma pessoa que a minha melhor amiga.”.

– Então... – Marie disse, de repente, tirando-a de seus devaneios. – Eu não queria dizer isso, Abby, mesmo. Mas você mentiu para mim. E eu não gosto quando as pessoas mentem para mim.

– O quê?

Marie sorriu.

– “Parece que alguém nos pegou no flagra”.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bom, se fosse qualquer outro menino acho que iria demorar mais para uma declaração, mas estamos falando do Nikolai, certo? Ele não é como qualquer outro menino u.u E eu realmente adoro fazer eles se beijarem, acho tão fofo. Sou muito Nikail. E eles são um casal definitivo, daqueles que aparecem em histórias de amor e que, de algum modo, não podem ficar juntos. Garotas, esqueçam o Nikolai, ele já é da Abby. Agora, resta o Mikhail. Quem quer? u.u
Outra coisa: Notei que quase ninguém está comentando os trechos que gostou ou mesmo qualquer coisa sobre o capítulo. "Gostei" "Quero mais", sério? Vocês comentavam reviws enormes e de repente... Eu fiz algo? O que aconteceu? :/ Me falem.
Beijos da Meell.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Your Selection - Fanfic Interativa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.